Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Viver sem esperança – pode?


Não são poucas ocasiões em que assistimos notícias chocantes sobre as vidas desperdiçadas: as pessoas matam as outras por motivos banais e, às vezes, sem motivo algum; crimes bárbaros, chacinas (colhendo a vida de muitos inocentes); suicídios, violência... Os  noticiários estão cheios de notícias desse  tipo.  E nós, ficamos perplexos e até certo ponto “perdidos” diante desse quadro – não sabemos o que pensar, como nos posicionar. A “construção” da  vida social e humana, parece,  não tem mais fundamentos sólidos – a casa corre risco de desabar. O próprio planeta Terra  começa a encontrar-se ‘em apuros’. Os homens começam a questionar praticamente tudo, propondo as mudanças  que não têm sentido. É esta a sensação.  É ‘prato cheio’ para quem  consegue ver só a matéria e a passagem do tempo. Estamos numa estrada errada, que não se sabe para onde vai levar a humanidade. Alias, até podemos  imaginar, sim. 

Um pensamento quase que persistente incomoda-me muito. No pleno século XXI, quando temos tanta possibilidade de averiguação crítica e científica acerca de muitas questões, quando fica evidente a diferença entre o caminho do mal (que leva a morte) e do bem (que valoriza a vida e da esperança), o homem moderno não faz escolhas certas, não trilha o caminho seguro. Prefere fingir que não sabe, ou então deixa se levar pelas doutrinas e orientações enganadoras. Quer apenas aproveitar a vida, dominar, comprar, consumir, sentir, degustar, e só isso. Eu me pergunto: por que o ser humano nos tempos de hoje não aproveita as vantagens que a razão e a inteligência lhe oferecem e não se lança com energia e determinação para ‘inventar’ um mundo melhor, onde todos possam ter a vida em plenitude? Por que os homens de hoje complicam tanto as coisas e a própria vida?  

Todos sabemos, naturalmente,  que alguns poucos elementos ou minorias que tem uma influência poderosa nas sociedades, esses sabem muito bem o que fazem e o fazem  com os objetivos bem definidos: são eles que apontam a direção para onde querem que a ‘massa’ humana os siga. 

 Sabemos que existem pessoas e organizações, do outro lado, que lutam pelo verdadeiro bem da humanidade, em favor  de todas as pessoas, sem exceção. Esses são muito importantes, mas não são muitos.     A imensa maioria está ‘na deriva’: assistindo, sofrendo, concordando, ou, simplesmente, se acomodando. São multidões! São homens e mulheres que  se iludem pensando que o que fazem é suficiente, mergulhados  no individualismo, egoísmo, ou refugiando-se nas crenças de caráter  intimista e individualista. Assim é fácil alimentar a indiferença, uma espécie de analgésico (para não dizer ‘droga’), para não se sentir ‘culpado’ pelo rumo que o mundo está tomando, ou para poder dormir tranqüilo. São também muitos que vivem  como ‘sonâmbulos” – andando na vida sem saber por que estão aqui ou vão pra lá, por que apóiam isso ou aquilo... 

A vida poderia ser melhor para todos – imagino eu. O mundo poderia ser melhor. Mas a humanidade precisa reassumir o caminho certo:  despertar, reconhecer que todos somos irmãos e irmãs que  moram na mesma casa – mundo, e que a  nossa vida aqui, na terra, é passageira. Deve sair do egoísmo e da hipocrisia, e parar de enganar-se, a si mesma.
Ressoam com força as palavras da Bíblia e mexem com todos nós:   "Eis que ponho diante de ti a vida ou a morte, a bênção ou a maldição, escolhe a vida para que vivas com tua descendência!..." (Dt 30:19).

Acho que construir o futuro melhor só será possível, reforçando as bases - os fundamentos - da vida.  Acredito que esses fundamentos sólidos são a esperança e a fé:  a fé em Deus que é Deus da vida, e a esperança (que deve ser certeza para todo cristão): “tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4, 13).  Sem elas nada será feito.

O texto abaixo nos ajuda a refletir mais sobre essa questão:
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(10)

(...) Quem não espera mais por nada nesta vida, esse congela, se perde no ceticismo. O ser humano só pode viver, se vê ainda alguma coisa  na sua frente, se ainda alguma coisa pode acontecer. Sempre estamos voltados para o futuro, porque o  presente é  apenas um breve momento, que não podemos reter   e  se torna passado  antes mesmo que a gente o levar a sério.  Apenas a esperança fornece ao homem as forças para conseguir levar em frente a sua  vida.  Como, então, isso procede  para as pessoas que já não esperam nada na vida?  Trata-se dos velhos, doentes que  não tem mais cura, as pessoas da margem social, consideradas miseráveis...  Elas também esperam, só que  o que?  Será que para todos eles a vida não teria o sentido?  Mas eles querem viver, e tem muito interesse nisso – como as pessoas com câncer -  mesmo quando as suas esperanças estejam a toda hora sendo destruídas.

Na literatura moderna o ser humano costuma ser apresentado – obviamente não sempre – como um ser indefeso, solitário, impotente, vivendo no medo e com apatia em relação à própria existência. A sua vida é uma vida sem saída – literalmente –porque ele não encontra  nem a porta e nem sequer algum caminho que o levaria para fora desse estado. O filósofo Sartre denomina esta situação como “sociedade fechada”. E o homem  que experimenta  essa  exclusiva fragilidade  e temporariedade  sente-se como  no “inferno”.

Nós também concordamos com esta colocação: se para o homem existe somente e apenas  isso que ele pode esperar nesta terra e nesta vida, aí  realmente  ele vai chegar a conclusão que a vida é um absurdo. Uma vida em que a pessoa não pode esperar mais nada é algo sem saída.

Por que, então, o homem participa desse jogo absurdo? Por que  simplesmente não sai do jogo, já que afirma  ele, com freqüência, que não concorda com atitudes absurdas? Mesmo se alguém  realmente “termina” com a sua vida – não vem logo o pensamento de que uma vida foi perdida? O ser humano, então, valoriza a vida, que – como dizem alguns - deveria rejeitar ou negar. 

A vida é muito preciosa  sobretudo para uma pessoa jovem. Como, então,  poderia ser verdade considerar a vida um absurdo?  Ninguém, pois, pode negar que freqüentemente o homem vivencia também situações positivas; não pode negar que a vida também tem os lados bons e o ser humano sente-se feliz.  Afirmar que o sentimento principal do homem é “nojo” e “rejeição” em relação à vida não pode ser verdade, porque o que o ser humano mais manifesta é justamente a alegria de estar vivo. Na intimidade do seu ser todo homem e toda mulher é otimista e  pressente algum sentido mais profundo  da sua vida. Uma afirmação, portanto,  que a  vida é um absurdo e não tem sentido é muito unilateral e arriscada. 

Não podemos consentir com a tese de que a vida do ser humano é um absurdo. No entanto, isso ainda não é nenhuma resposta  para a pergunta, por que e para que vivemos, e tampouco explica os profundos desejos e ‘saudades’ do homem. Também não nos satisfaz apenas afirmar que “o homem encontra-se na vida” e ponto final. Estaríamos simplificando demais o problema. Trata-se de uma das mais essenciais perguntas sobre a existência humana, e por isso não se pode desanimar na investigação.

Quem realmente acha que é possível viver uma vida sem sentido, esse deveria tentar, na prática, viver segundo essa concepção. A sua postura deveria ser respeitada. Apenas não diga que essa é a única verdade e deveria ser  assumida por todos.  Porque, de onde ele pode saber  que realmente não existe nenhum caminho que pode tirar o  homem da escuridão e desespero? De onde pode saber que, apesar de todas as frustrações, não existe alguma força que traz a confiança e enche de esperança?

Nós, cristãos,  somos convictos de que a resposta que a fé nos oferece, nos conduz muito além, e que traz frutos, e sobre ela podemos construir a nossa vida.(...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p.23)*
Continua...
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me  do  livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben”  e,  usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando  alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.

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