Há quem afirma e defende a tese que a vida não tem sentido, já que tudo termina impiedosamente no momento da morte. Para alguém que pensa assim, na verdade, nada importa. A questão é deixar a vida passar: sem se importar, sem pensar, sem se iludir, até o fim. Aproveitar o que se dá e não importa mais. E, se for preciso, até decidir sozinho quando dar o fim à sua vida – será a decisão coerente...
É, precisamos reconhecer que esta é uma opção ‘corajosa’, mas, também conformista. Não é para desprezar ninguém por isso. Quem está convencido disso - tem direito de julgar e optar assim.
Acredito que uma posição desse tipo é inaceitável para quem vê a vida como um milagre, um presente, uma dádiva ,apesar de todas as dificuldades, e não como “nonsense” – absurdo. Por quê? Porque a vida é um movimento e um processo maravilhoso e misterioso. Participamos dele assim como tudo em nossa volta participa dele também. Nem que fosse só pelo privilégio que temos de podermos estar aqui, viver, já seria um motivo suficiente para não reclamar. Mas a vida é muito mais que isso. E é por isso que tem sentido, sim. Basta nos deixarmos invadir pela beleza, inteligência e maravilha do mundo visível que nos cerca, sem falar da fascinante dimensão psíquica, emocional e espiritual que emanam da natureza humana. Contemplamos o bem, a virtude, a inteligência, a liberdade, e notamos que quando eles faltam – surgem os males e mazelas. Faz parte da vida. Mais ainda, o valor da vida e o sentido da existência tornam-se sagrados, para quem os contempla à luz da Fé, pois grande é a convicção e a certeza de que tudo é obra de Deus. E a Fé tem a sua fonte n’Ele.
O texto abaixo, da autoria de Ferdinand Krenzer, realça este assunto da seguinte forma:
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(...) Decepção com a vida leva algumas pessoas a dizer: o homem é fruto de contradição e de incerteza. O objetivo e o sentido da vida consiste em reconhecer que não existe nenhum sentido e nenhuma meta de chegada. A existência humana é um absurdo. Com a última respiração esse fantasma se dilui e vai desaparecendo. Apenas é preciso reconhecer isso e olhar com heroísmo bem dentro dos olhos desse absurdo. Somente assim o homem passa no teste da vida. – Aqui temos resumidos, com muita exatidão, os pensamentos dos sistemas filosóficos modernos.
Escritor Francês Albert Camus expressa esse absurdo vida no seu livro O Mito de Sísifo, usando uma comparação: Já que o Sísifo estava envolvido demais com as coisas deste mundo, os deuses o puniram obrigando-o a empurrar constantemente uma pedra para o topo da montanha. Sísifo faz um esforço enorme, mas tudo em vão. Faltando pouco, já bem perto do topo, a pedra o vence e rola novamente pela encosta, até a base da montanha. O Sísifo recomeça, e assim, muitas vezes, até enfim a morte interrompe esse processo.
Isto demonstra simplesmente a situação do ser humano. Ele se vê colocado para viver e condenado para pegar o seu destino em suas próprias mãos. Mas uma existência assim não tem sentido, é um absurdo, como o é a vida humana de modo geral. O homem nunca vai alcançar a sua meta, tudo, o que realizou, era em vão. A morte simplesmente sela esse absurdo.
“Tudo é absurdo” – esta possibilidade é bem conseqüente e até fascinante. Uma postura assim merece o nosso respeito. Pelo menos é lógica, mas sob uma condição: que o mundo que nos rodeia, que nós experimentamos todo dia, é a única realidade. Neste caso, de fato, a nossa vida não tem chance de se desenvolver. Ficará misteriosa, frágil, cheia de esperanças não realizadas – se realmente existe apenas e exclusivamente este mundo do cotidiano. Quem quer abranger o seu destino apenas com a medida tirada do ambiente que nos cerca, este realmente precisa apoiar-se nas experiências adquiridas durante a sua vida, ou, no máximo, nas experiências dos outros seres humanos. Fica sujeito a julgar tudo apenas olhando de um só lado. Nesta perspectiva, os atos do homem ficarão assim como a morte os encontra: lei e anarquia, lágrimas e alegria, esforço e preguiça, virtude e malandragem – tudo isso não tem mais valor algum, transforma-se em nada...
Mas, será que esta opinião é convincente? Podemos ter a certeza de que tudo nesta vida, e a própria vida, existe em vão e constitui um absurdo?
Será que vendo o universo e o nosso mundo, a natureza, as infinitas formas e a beleza dos seres que existem nela, e o próprio ser humano - é suficiente dizer que tudo é um absurdo? Será que não tem outra explicação? Não ficamos impressionados com tanta beleza e inteligência que marca o mundo? (...)
Continua ...
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p.21)*
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me do livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben” e, usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.
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