Hoje em dia ouvimos
muitos comentários, opiniões e críticas em relação à Igreja como instituição.
Nesse mar de discussões e questionamentos sobre a religião, a fé cristã e, particularmente,
sobre a Igreja, estamos nós cristãos – não só católicos, mas também de diversas
outras Igrejas – e muitas vezes não sabemos bem o que pensar, o que responder
ou como nos posicionar diante dessas opiniões, de modo especial daquelas de
cunho anti-religioso ou anticlerical.
Será que existe algum
outro jeito melhor para nós cristãos entendermos esses questionamentos e críticas do que tentarmos aprender mais sobre a nossa
fé, a religião no seu sentido mais profundo, e sobre a Igreja da qual fazemos parte; esclarecer o que “ficou”
não esclarecido anteriormente (a “fé
infantil e ingênua” deve virar “fé adulta e madura”), e tomar “em nossas
próprias mãos” toda a responsabilidade do nosso encontro pessoal com Jesus Cristo
Deus, o que necessariamente refletirá no nosso compromisso de sermos
instrumentos de Deus neste mundo? Se
fizermos isso, não haverá mais motivos para temermos qualquer questionamento ou
crítica. Em outras palavras: ninguém e nada poderá nos separar do amor de Deus. “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida,
nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades,
nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá
separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rom 8, 38-39).
Aliás, nós mesmos
devemos ser cristãos conscientes, devemos ser críticos e questionadores quando
nos deparamos com as coisas erradas que existem no mundo e nas instituições
humanas. Essas coisas também podem existir - e de fato existem - na Igreja, e existem em
nós e a nossa volta. No entanto, teremos essa capacidade de fazer uma crítica construtiva,
consciente e caridosa (que deve ser como uma
espécie de bússola, sempre nos orientando na única direção certa: Deus)
se tivermos uma fé esclarecida e
autêntica.
Considero muito
importante refletirmos sobre a Igreja, observando diversos aspectos, tentando
compreender melhor a sua razão de ser e sempre procurando as respostas para perguntas chaves: O que é a
Igreja? Por que existe? Até que ponto a
vontade de Deus está corretamente realizada pelos homens? Em que pontos ou sentidos
o elemento humano, dentro da Igreja,
tenta impor, e realiza na prática, “a
sua própria vontade” em nome de Deus? Como explicar que essa Igreja existe, apesar
de todos os "ventos e furacões" da história, desde o
Pentecostes até hoje?
Na minha opinião,
quanto mais conseguirmos “conhecer” a Igreja e apurar a nossa visão para ver claramente como ela deveria
ser por vontade do Cristo e como ela é -
ai sim, teremos a condição de nos
posicionarmos corretamente, sem medos e receios, diante das críticas e
questionamentos que a ela são dirigidos.
É sobre o tema da
Igreja que serão as próximas reflexões no blog Indagações. São os textos de autoria
de Ferdinand Krenzer¹, que podem nos ajudar a todos nós a compreendermos melhor
a questão da Igreja. O autor dirige essas reflexões para os cristãos de modo
geral, principalmente para os jovens.
Para começar, o
texto embaixo fala sobre os questionamentos e as críticas dirigidos à Igreja nos dias de hoje.
A leitura é muito
agradável e fácil.
Não deixe de ler.
WCejnog
(1)
A Igreja
Para muitas pessoas verdadeiras dificuldades em relação à fé
só começam com o problema de Igreja. Que
existe Deus – acreditam quase todos. Que Jesus Cristo trouxe-nos a revelação
Divina – muitos não têm dúvida e outros
tantos pelo menos gostariam de crer nisso.
Mas, que seria necessária a Igreja para
ter a fé – aí tem muita gente que não
aceita e nem consegue entender essa questão.
Acrescentemos aqui que a Igreja,
atualmente, passa por um período de intensos acontecimentos,
questionamentos e mudanças. E isso acontece não somente com ela. Em toda a
nossa sociedade estão acontecendo rápidas e profundas mudanças. Se a Igreja não
sofresse essas mudanças estruturais
poderíamos suspeitar, e com toda razão, que ela não acompanha o ritmo de
vida no mundo. No entanto - e sem dúvida
- a Igreja vem sofrendo essas mudanças de forma particular. Hoje, até mesmo os
fieis perdem a confiança na Igreja. Uns
querem e exigem que ela se adapte radicalmente aos tempos de hoje. Outros ficam frustrados, porque consideram exageradas
demais as adaptações que a Igreja fez até agora para acompanhar o espírito do
tempo.
Não vamos neste momento pensar
nas pessoas que rejeitam a Igreja para se sentirem livres do
compromisso real. Isso acontece também. Não queremos também, agora, nos debruçar sobre a crítica em relação aos sintomas
externos da Igreja, como a mediocridade
dos cristãos agarrados à tradição, atraso e uma posição negativa frente ao
mundo, falta de tolerância, burocracia e
administração deficientes, várias desilusões do passado, etc. Tudo isso precisa ser tratado com devida seriedade, mas o questionamento vai ainda mais longe e é mais profundo.
Cada vez mais freqüentemente
encontramos cristãos sérios e de muita fé, que rejeitam qualquer necessidade de
pertencer a alguma comunidade eclesial. Para eles a fé é a questão exclusivamente de convicções íntimas
e internas de cada pessoa, por isso ela não precisa de instrumentalização
externa como a casa de Deus, os ritos,
cerimônias, sacerdotes, paróquia, etc. Tudo isso para eles é dispensável.
Dispensável, portanto, é a qualquer “instituição”. Segundo eles o ser humano é cristão unicamente pela entrega de si ao
Cristo, na fé, e isso – como dizem –
pode funcionar perfeitamente sem
precisar de alguma instituição intermediária. “Cristo – sim, Igreja –
não” - assim muitos formulam a sua moderna compreensão do cristianismo. “Somos cristãos mas não eclesiais!”.
Por outro lado, justamente hoje
está surgindo fora da Igreja católica uma nova consciência de Igreja. Cada vez
mais forte torna-se a convicção que “nenhum homem fica sozinho quanto a sua
relação com o Evangelho”; que a Bíblia só pode ser entendida corretamente
dentro da Igreja. Aqui, uns enxergam na Igreja uma instituição muito necessária, mas apenas humana. Para outros (e
este é o ensinamento católico) a Igreja
com as suas raízes alcança a vontade de Deus: não surgiu por acidente, mas
existe por ordem de Cristo.
Para abordar o tema da Igreja
precisamo-nos servir da Bíblia. A Igreja é uma comunidade de pessoas que
acreditam, e por isso como tal só pode ser entendida pelo lado da fé e
pelo lado de Cristo.
O que queria Jesus Cristo?
Queria Ele trazer para nós a
notícia de Deus? Com certeza também isso. Mas de que jeito essa notícia pode chegar às pessoas
do século XXI? Sabemos que o próprio Jesus Cristo não escreveu nada. É óbvio
que aqui trata se de algo mais e não
somente de notícias; se fosse assim, por exemplo, para que existiria o batismo?
Sabemos que Jesus Cristo quis
salvar o mundo e o ser humano, quis levá-lo à harmonia com Deus. Mas, então,
para que preparou a Ceia e reuniu a sua volta os discípulos? É claro que as
suas pretensões eram maiores.
O ser humano por sua natureza tem
como destino viver em comunidade. Porém, o pecado destrói não só a sua comunhão com Deus, mas também
desune os homens entre si. Por causa
disso a obra de Cristo tem a importância não só para o indivíduo. Jesus Cristo faz
com que as pessoas novamente se unam e não somente com Deus, mas também entre
si. João diz que Cristo morreu “para
reunir numa unidade os filhos de Deus dispersos“ (Jo 11, 52). Entendemos
agora por que Ele constantemente fala do “Reino de Deus”. Jesus Cristo quer nesse Reino criar a comunhão
entre todos os seres humanos, de todos os povos e todos os tempos. Nele Deus será para
sempre para os homens o seu
Senhor e eles serão o seu povo. Nisso
resume-se toda a intenção de Cristo.
Jesus Cristo ensina-nos a rezar:
“Venha a nós o vosso Reino”. Quer dizer, o Reino de Deus ainda não está
realizado, mas “está chegando”. Será,
então, que tudo isso refere-se ao futuro? E sim, e não.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara,
Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 133-134)²
Continua...
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¹
Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg,
Hesse, † 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões do Ferdinand
Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor,
ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais
difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são
tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma
polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”.
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