Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 25 de agosto de 2012

E nós, a quem iremos? (Jo 6, 68)



No Evangelho segundo João, no capítulo 6, temos a descrição do milagre de multiplicação de cinco pães e dois peixes. O povo, entusiasmado,  ao  ver  o poder de Jesus  queria  levá-lo para fazê-lo rei, mas Ele “retirou-se outra vez, sozinho, para o monte” (6, 15). Quando, no outro dia, a multidão novamente recorreu a Jesus, ele disse: “Em verdade vos digo: vos me procurais, não por terdes  visto os sinais mas por terdes comido o pão e  vos haverdes saciado. Esforçai-vos, não pelo alimento que  perece, e  sim pelo alimento  que permanece até a vida eterna (...)” ( 6, 26-27).

 Agora  vem o vasto texto, em que Jesus fala da Eucaristia. “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim já não terá fome e quem crê em mim jamais  terá sede.” (6, 35) – disse.  Certamente  Jesus ensinava sobre este tema também numa sinagoga em Cafarnaum (ver Jo 6, 59). Entre outras palavras, falou:  “É este o pão que  desce do céu. Quem dele comer, não morre. Eu sou o pão vivo descido do céu. Se alguém  comer deste pão, viverá para sempre. E o pão que darei é minha carne para a vida do mundo” (6, 50-51).  “Quem come minha carne e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele” (6, 56).  Este discurso  gerou uma forte reação  dos judeus. Até mesmo  “muitos dos seus discípulos se retiraram e já não o seguiam”(6, 66). Por isso a pergunta dirigida aos doze foi  categórica: “Também vós quereis ir?” (6, 67).

Este é um momento dramático e bastante tenso. Podemos imaginar que os doze, naquele momento,  certamente não conseguem entender todo o sentido das palavras do Mestre. Mas a resposta que veio da fé estava certa: “Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna...” (6, 68)  

Para entendermos melhor esse texto, proponho um comentário maravilhoso da Asun Gutiérrez Cabriada.  É uma reflexão muito enriquecedora e bonita.
Não deixe de ler.
WCejnog

[Os interessados pedem ler esse texto em PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom21B12port.pps
Trabalho muito bonito!]

 
“As palavras que Eu vos disse são espírito  e vida.”


Quando se experimentou a voar pela vida com Jesus,
onde podemos ir que encontremos as palavras
que são e produzem vida,
que entusiasmam e dão esperança,
que convidam e inquietam,
que fazem viver e não só subsistir?

José Alegre


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Jo 6, 61-69

Naquele tempo, muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram:
– Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?
Jesus, conhecendo interiormente que os discípulos murmuravam por causa disso, perguntou-lhes:
– Isto escandaliza-vos?  E se virdes o Filho do homem subir para onde estava anteriormente?
O Espírito é que dá vida.
A carne não serve de nada.
As palavras que Eu vos disse são espírito  e vida. Mas, entre vós, há alguns que não acreditam.
Na verdade, Jesus bem sabia, desde o início, quais eram os que não acreditavam e quem era aquele que O havia de entregar.
E acrescentou:
– Por isso é que vos disse: Ninguém pode vir a Mim, se não lhe for concedido por meu Pai.
A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele.
Jesus disse aos doze:
– Também vós quereis ir embora?
Respondeu-Lhe Simão Pedro:
– Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.  Nós acreditamos  e sabemos
que Tu és o Santo de Deus.


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Comentário
  
A “doutrina” de Jesus consiste em dar a outra face, perdoar aos outros e a si mesmo incondicionalmente,  servir e não querer ser servidos,  não julgar, dar, sem esperar nada em troca, não do que sobra mas do necessário,  preferir ocupar os últimos lugares, colaborar na construção dum mundo mais humano...
O que Jesus pede, viver como Ele viveu, é o que mais compromete e o que mais felicidade e liberdade proporciona. É a “exigência” do amor.
É lógica a surpresa e a rejeição dos que se já acostumaram a um deus feito à medida da sua história pessoal ou como lhes contaram.
O encontro com Jesus supõe uma opção pessoal, um processo contínuo e seletivo.
O resultado é para ser celebrado a partir da gratuidade, da confiança, da alegria, da esperança...
Seguir Jesus é uma questão de Amor e de Espírito.

Jesus opõe o “espírito” (que é a força, a alegria, a liberdade, a vida) à “carne”, que na Bíblia significa egoísmo, pessimismo, falsidade, covardia...  Nada relacionado com o corpo, como se costuma pensar insistindo equivocadamente na distinção entre alma e corpo. Distinção que procede da filosofia grega, não de Jesus.
Crer, compromete.  A fé não é um tranquilizante.

Seguir Jesus supõe aceitá-l’O a Ele e ao seu estilo de vida.  Como em toda a relação amorosa, ao imenso e incondicional amor que o Deus de Jesus nos tem,  deve responder o nosso amor.
O quarto evangelho só menciona os Doze nesta ocasião e em 20,24.

Para todos ecoa a pergunta direta e provocadora de Jesus. É importante a nossa resposta.
Uma resposta livre e pessoal que é escolha, opção de permanecer na segurança do chão ou de se lançar a voar com a confiança de que Alguém nos sustém e nos faz ver, viver e sentir a vida desde outra perspectiva,  outra sensibilidade, desde a plena confiança em Alguém que nunca falha.
O fundamental  não é “onde” ir, mas “a quem” ir.

As palavras que Jesus repete uma e outra vez como “felizes”, “amor”, “levanta-te”, “vem”, “paz”, “não  temas”, “segue-me”, “ama o teu próximo” “Abbá”... dão vida, são vida.
É a revolução do amor na qual se vê imersa a pessoa que experimentou o encontro pessoal com Jesus. Não é uma obrigação nem uma dívida mas a resposta de uma pessoa agraciada e agradecida que já não entende a sua vida sem Jesus.

E nós, a quem iremos? 
Mesmo que não tenhamos tudo claro, identificamo-nos plenamente com o abandono confiado e amoroso de Pedro.

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Na tua luz aprendo a amar.
Na tua beleza, a escrever poemas.
Danças no meu peito,
onde ninguém te vê,
mas às vezes vejo-te,
e essa visão transforma-se em minha arte.


Rumi

(Fonte:  Monjas  de St. Benet de Montserrat)

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