Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O homem diante do Mistério de Deus. Fascinante!



Como continuação das reflexões anteriores,  o texto abaixo, de Ferdinand Krenzer¹, fala agora sobre o tema da Santíssima Trindade. Apesar de ser uma abordagem mais teológica o autor brinda-nos com uma reflexão maravilhosa. Pode ser útil para qualquer pessoa, que procura entender e aprofundar mais a sua fé cristã.
Não deixe de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012  - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html ).


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Deus Vivo:  Santíssima Trindade

Falamos do Espírito Santo. Mas quem é realmente o Espírito Santo, que Jesus Cristo nos promete? Quem é este, que continua conduzindo a Obra começada por Cristo, em cada cristão e em  toda a Igreja? Aqui, o termo “Espírito” não equivale à razão ou bom senso, como normalmente o entendia a tradição do Ocidente. Na língua hebraica esse termo possui algo mais dinâmico, e significa a força da vida. Somente o Espírito de Deus cria a vida. Já no início do Relato da Criação (Livro de Gêneses) lemos que o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gen 1, 2). Isso quer dizer que toda a força criadora vem dele. Assim como “nos últimos dias” o Espírito será derramado sobre toda a criatura humana (At 2, 17). Portanto é Ele que dá a nova vida. Ele é essa força que tudo leva na direção do bem (compare Rm 8, 18-30).

Toda a atuação de Jesus Cristo é a  atuação no Espírito Santo (compare Lc 4, 14-18). É por isso que Jesus Cristo pode dá-lo para nós como sendo o seu Espírito (Lc 24, 49;  At 2, 37ss; Rm 8, 9). Estar “no Espírito” e “em Cristo” – para o São Paulo significa o mesmo.

As expressões bíblicas deste tipo levaram o cristianismo a entender que o Espírito Santo não  é somente uma força impessoal de Deus, e, por outro lado, não pode ser simplesmente idêntico com o Cristo ou com o Pai, ou – o que seria pior – subordinado a Eles. Tornou-se óbvio, então, que devemos considerar o Espírito Santo como terceira e diferente Pessoa. Os Sínodos de Niceia e de Constantinopla (325 e 381), estabeleceram em suas fórmulas de fé (credo) a seguinte conclusão a respeito do Espírito Santo: Creio no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele falou pelos profetas.” (O Credo Niceno-Constantinopolitano ou Símbolo Niceno-Constantinopolitano).

Dizendo que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, queria-se afirmar que Ele não  é criado e que tem a mesma natureza Divina que o Pai e o Filho, portanto, e em conseqüência  disso, precisa ser  louvado  e adorado  como Deus.

Estamos aqui diante do maior mistério da fé cristã. De novo temos que quebrar todas as imagens de Deus, que nós próprios fizemos e, simplesmente, apostar naquilo que Jesus Cristo nos revelou sobre Deus.

A verdade fundamental da nossa fé é que existe um só Deus. A doutrina sobre a Santíssima Trindade (Deus Pai, Filho e Espírito Santo) de jeito nenhum questiona essa unidade e unicidade.  Mas, como conciliar uma coisa com outra?  Como entender esse conceito?

Mesmo que o termo “Santíssima Trindade” não aparece na Bíblia, constantemente esbarramos nesse mistério quando  analisamos as palavras e a atuação de Deus. Sem dúvida, essa verdade da fé não foi nos transmitida para ser o objeto de especulação, e nem  tampouco para atrapalhar a nossa fé. Deus se dirigiu a nós, deu-se a nós, e por causa disso tornou-se necessário que soubéssemos alguma coisa sobre a sua  riqueza e  sobre a sua vida interior. A fé no Mistério da Santíssima Trindade mostra até que ponto o ser humano está pronto para ouvir o próprio Deus que revela quem Ele é, ou, então, se apesar de tudo, o homem  prefere confiar na sua humana imaginação e diz “Sim” somente a esse Deus que ele próprio consegue  conceber. Um Deus assim seria, no final das contas, menor que a  razão que o consegue imaginar.

Os judeus contemporâneos a Jesus eram orgulhosos do seu monoteísmo, que os diferenciava de todas as outras nações. Para eles, grandiosa era a frase do Velho Testamento: “Eu sou Javé, teu Deus, que te libertou do Egito, do antro  de escravidão. Não terás outros deuses além de mim.” (Ex 20, 2ss; Mc 12, 29). Também Jesus afirma que Deus é um. Mas, ao mesmo  tempo, cuidadosa e gradativamente – para não ser acusado que prega vários deuses – alarga e aprofunda a visão de Deus.

Quando a Bíblia fala do Nascimento de Cristo, já são mencionados, lado a lado, Pai, Filho e Espírito Santo. Depois, novamente são mencionados quando é descrito o batismo de Jesus no rio Jordão (Mt 3, 13-17; Lc, 1,32). Após a sua ressurreição, Cristo mais uma vez coloca lado a lado todos os três nomes de Deus: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 18). Portanto, já na própria Bíblia fica claro que existe a diferença, como também existe a unidade, do Pai, Filho e Espírito Santo, a ponto que podemos professar sem receio: Um Deus em três Pessoas (compare Jo 16, 28).

Uma afirmação dessa  seria sem sentido somente no caso, se falasse que uno e trino no mesmo aspecto. Mas isso, exatamente, não é o caso. A unidade e trindade, que associamos em relação a Deus, indicam os pontos de vista totalmente diferentes. Existe um ser Divino em três Pessoas, ou, falando de outra forma – três Pessoas Divinas têm a mesma natureza Divina. (Esse conceito de natureza e pessoa foi introduzido nos  pensamentos filosóficos há muitos séculos atrás).

Como diante de um oceano imenso, cuja profundidade não temos como pesquisar e nem imaginar, estamos agora diante Deus – Ele não nos parece mais como infinita e inerte solidão, mas como TRINO.  Ai vem a pergunta: O que pode significar essa verdade para a nossa vida? 

 – Nós nos aproximamos a esse Deus insondável, e podemos perceber que Ele nos ama de maneira imponente, e  que Ele próprio é o AMOR  (1 Jo 4,8) – como diz o Apóstolo João.  Por isso a nossa existência humana também adquire um sentido muito mais profundo. Deus revela-se para nós como um ser continuamente fecundo e criativo; nele existe a COMUNIDADE, que vive numa mútua entrega de tal plena confiança, que constitui total UNIDADE. Nela existe amor perfeito e entendimento total, nela realiza-se um encontro intensivo e eterno. Talvez diante disso seja mais fácil para nós acreditarmos que esse Deus queria estar também perto  de nós, que nos ama. Agora entendemos melhor o fato que existe na nossa terra a comunidade, família, amizade e amor, que as criaturas são criativas, fecundas e vivas. Temos a  impressão que Deus Trino e Uno  tem derramado do seu ser sobre  todo o mundo e sobre todos nós.

O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus,  é destinado, de  acordo com a sua mais profunda necessidade, para viver em comunidade. Por esta razão, quando não tem o contato com Deus ou com as pessoas – fatalmente o homem ficará vazio, frustrado e só.

Nas Cartas Apostólicas freqüentemente se repetem palavras sobre a fé na Santíssima Trindade (2 Cor 3, 13; 1 P 1,2; 1 Jo 5,7ss).  A Igreja sempre foi fiel a essa transmissão bíblica durante todos esses séculos. Muitas orações dirige ao Pai pelo Cristo e no Espírito Santo. Terminam elas: “Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco e com o Espírito Santo vive e reina pelos séculos dos séculos”.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 126-128)²

Continua
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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