Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 11 de agosto de 2012

Jesus Cristo traz a libertação de verdade. O que isso quer dizer?



Continuando falar sobre a mensagem de Jesus Cristo (o tema deste bloco de reflexões), é muito importante tentarmos entender  agora que tipo da libertação Jesus Cristo, o Filho de Deus Vivo, trouxe para a humanidade e o que ela significa para o ser humano. Pensemos também, sobretudo, o que essa mensagem libertadora de Cristo significa, hoje e aqui,  para cada um de nós, cristãos nos tempos atuais. Será que realmente conhecemos essa mensagem?  Será que temos uma fé verdadeira e convicção suficiente para abraçarmos  e correspondermos, sem medo, frente ao mundo que está ao nosso redor,  à ordem de Jesus Cristo: Ide , pois , e ensinai a todas as nações ; batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo . Ensinai-as a observar tudo o que vos ensinei . Eis que estou convosco todos os dias , até o fim do mundo” (Mt 28,19-20)? 

O texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, trata deste assunto de maneira simples e clara.  Não deixe de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações, é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012  - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html ).


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Jesus liberta

Às vezes ouvimos perguntas: O que é verdade? Como podemos saber que com Jesus Cristo realmente mudou alguma coisa? Será que é assim?

Precisamos aqui frisar que “o domínio de Deus” é uma questão que mais diz respeito ao futuro, e que, no momento, apenas começou a se realizar; mas, ao mesmo tempo,  o reinado e o domínio de Deus já está presente:  ainda oculto e, agora, como se estivesse germinando. Esse domínio de Deus começou  em Jesus Cristo. Como uma  árvore inteira já “está” presente  na semente, assim também o que foi anunciado – não é utopia.  São Paulo diz:  “Porque em esperança estamos salvos, pois a esperança que se vê já não  é esperança. Porque aquilo que alguém vê, como há de esperar?” (Rm 8, 24). Isso significa que já, agora, neste momento, através da fé estamos participando do reino de Deus, só que a  plenitude desse reino  ainda está para vir. É uma questão do futuro. Lá, onde entre os seres humanos manifesta-se a bondade Divina, o perdão e o amor, o seu reinado (domínio) já está atuando na realidade, segundo os desígnios de Deus;  mesmo quando os homens, talvez, não pensam claramente em tudo isso, sobre Deus ou sobre Jesus.

Principalmente a morte na cruz nos mostra que nesse domínio de Deus o que importa é, sobretudo, o ser humano. Jesus não defende a lei de Deus com a força, ou com o poder, mas com a sua doação – que vai até os limites de autodestruição.  “Para nós, homens, e para a nossa salvação” – lemos –  Ele tornou-se um de nós.  “O meu corpo por vós [...], o meu Sangue por vós” – disse Ele durante a  Última Ceia. Esse “ser para os outros” constitui a essência e a missão de Jesus. Com a sua vida e a sua morte Ele mostrou que o reino de Deus e o seu domínio chega,  e se realiza, no  amor.

É no fato  da ressurreição de Jesus tornou-se visível que esse “por vós” não era em vão e  que em Jesus Cristo realmente começou o novo futuro. Esse futuro não só promete, mas traz mesmo a libertação, a vida e a paz. Até as algemas da morte agora são destruídas...  Onde pela fé e pelo batismo o homem adere ao Cristo – lá ele participa dessa nova vida. Torna-se “ nova criatura” (2 Cor 5, 17; Gal 6, 15; Col 3,10).
A partir de lá que terminou todo absurdo. O ser humano, a partir dessa adesão ao Cristo, liberta-se da pressão, do medo e da solidão, e da tentação de querer ser auto-suficiente.

Essa vida em liberdade visa, sobretudo, as quatro coisas:

1)      Ser livre do pecado  (Rm 6, 18-23; Jo 8, 31-36).

Quando alguém procura exclusivamente a si mesmo, o seu poder, o seu prazer, a sua satisfação, a sua fama, o seu futuro, a sua fortuna – aí, justamente, torna-se escravo. Nessa situação ele realmente não pode ser nem para os outros, e nem para Deus. No momento quando ele afasta-se de Deus e do seu semelhante, ele afasta-se também de si mesmo. Sente-se rasgado, dividido interiormente, nem ele próprio mais sabe o que deseja. Existe nele uma dissonância entre o conhecer e o querer. E o afastamento dos  outros leva ao  ódio, à mentira e à discórdia.
(Obs.: Uma abordagem maior desse ponto pode ser encontrada nas postagens que falam sobre a grandeza e a  miséria do ser humano, começo – dia 10 abril de 2012:

2)      Ser livre do medo e da solidão

Pelo fato que Jesus Cristo realiza  a aproximação e a conciliação do homem com Deus, com isso Ele também leva os homens a se  reconciliarem entre si. “(...) pois todos vós sois um em Cristo Jesus”  Gal 3, 28).  E por isso “já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem  nem mulher”.  Ele une e reconcilia. “Pois é Ele  a nossa paz” (Ef 2, 14 ss).

Por isso o que Jesus propõe aos homens pode chamar de “nova aliança”, porque todos estão  reunidos n’Ele. As brigas e a separação entre as pessoas são a conseqüência do pecado, que Ele  derrota.

Jesus, que veio de Deus e é o próprio Filho de Deus, quer estar a total e  plena disposição para a humanidade. Graças a isso, novamente torna-se possível entre os homens a solidariedade e a reconciliação. Foi vencido com isso, também, o  isolamento e a solidão. 

Como conseqüência, todos os que acreditam em Cristo têm como compromisso mostrar ao mundo essa proximidade e solidariedade de Deus com a humanidade, através da sua vida, tanto entre si (fieis), como com todos os seus semelhantes.

Assim, todos que acreditam n’Ele têm o compromisso de viver de tal jeito entre si (como fiéis), como também com todas as outras pessoas, que seja visível para todos essa proximidade e a solidariedade de Deus com o ser humano.

3)      Ser livre da morte

Em nenhum instante o ser humano experimenta mais a sua  fragilidade, impotência e finitude (finidade?), do que quando morre.  Mas, graças a Jesus Cristo a morte, para o cristão,  não  é mais um inevitável absurdo. Nem a vida, nem a morte podem separar um fiel do amor de Deus, que lhe é prometido em Jesus Cristo (compare  Rm 8, 34-39).

4)      Ser livre da lei

Não se trata aqui de ser arbitrário e fazer o que bem entender, o que seria a libertinagem e colocaria no homem as novas algemas. Mas, quem na fé cristã só enxerga  um catálogo de preceitos  e deveres, entre as quais deve se mover como um prisioneiro, esse não chegou ainda à verdadeira fé. Existe, sim, somente um dever, que não escraviza, mas, ao contrário, liberta até dos próprios interesses. Esse dever é amor, que exige uma entrega total a Deus e aos outros. O amor verdadeiro procura um compromisso sério, mas, de jeito nenhum pode-ser considerado como uma fonte de opressão  para o ser humano.

 (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 116-118)²
Continua
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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