Continuando falar sobre a
mensagem de Jesus Cristo (o tema deste bloco de reflexões), é muito importante
tentarmos entender agora que tipo da
libertação Jesus Cristo, o Filho de Deus Vivo, trouxe para a humanidade e o que
ela significa para o ser humano. Pensemos também, sobretudo, o que essa
mensagem libertadora de Cristo significa, hoje e aqui, para cada um de nós, cristãos nos tempos
atuais. Será que realmente conhecemos essa mensagem? Será que temos uma fé verdadeira e convicção
suficiente para abraçarmos e
correspondermos, sem medo, frente ao mundo que está ao nosso redor, à ordem de Jesus Cristo: “Ide , pois , e ensinai a todas as
nações ; batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo . Ensinai-as
a observar tudo o que vos ensinei . Eis que estou convosco todos os dias , até
o fim do mundo” (Mt 28,19-20)?
O texto abaixo, de
autoria de Ferdinand Krenzer¹, trata deste assunto de maneira simples e clara. Não
deixe de ler.
WCejnog
Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e
aproveitar ao máximo as explicações, é aconselhável ler desde o início todos os seus textos sobre este assunto (começo no dia 03
de agosto de 2012 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html ).
(4)
Jesus liberta
Jesus liberta
Às vezes ouvimos perguntas: O que
é verdade? Como podemos saber que com Jesus Cristo realmente mudou alguma
coisa? Será que é assim?
Precisamos aqui frisar que “o
domínio de Deus” é uma questão que mais diz respeito ao futuro, e que, no
momento, apenas começou a se realizar; mas, ao mesmo tempo, o reinado e o domínio de Deus já está
presente: ainda oculto e, agora, como se
estivesse germinando. Esse domínio de Deus começou em Jesus Cristo. Como uma árvore inteira já “está” presente na semente, assim também o que foi anunciado
– não é utopia. São Paulo diz: “Porque
em esperança estamos salvos, pois a esperança que se vê já não é esperança. Porque aquilo que alguém vê,
como há de esperar?” (Rm 8, 24). Isso significa que já, agora, neste
momento, através da fé estamos participando do reino de Deus, só que a plenitude desse reino ainda está para vir. É uma questão do futuro.
Lá, onde entre os seres humanos manifesta-se a bondade Divina, o perdão e o
amor, o seu reinado (domínio) já está atuando na realidade, segundo os
desígnios de Deus; mesmo quando os
homens, talvez, não pensam claramente em tudo isso, sobre Deus ou sobre Jesus.
Principalmente a morte na cruz
nos mostra que nesse domínio de Deus o que importa é, sobretudo, o ser humano.
Jesus não defende a lei de Deus com a força, ou com o poder, mas com a sua
doação – que vai até os limites de autodestruição. “Para nós, homens, e para a nossa salvação” –
lemos – Ele tornou-se um de nós. “O meu corpo por vós [...], o meu Sangue por
vós” – disse Ele durante a Última Ceia.
Esse “ser para os outros” constitui a essência e a missão de Jesus. Com a sua
vida e a sua morte Ele mostrou que o reino de Deus e o seu domínio chega, e se realiza, no amor.
É no fato da ressurreição de
Jesus tornou-se visível que esse “por vós” não era em vão e que em Jesus Cristo realmente começou o novo
futuro. Esse futuro não só promete, mas traz mesmo a libertação, a vida e a
paz. Até as algemas da morte agora são destruídas... Onde pela fé e pelo batismo o homem adere ao
Cristo – lá ele participa dessa nova vida. Torna-se “ nova criatura” (2 Cor 5,
17; Gal 6, 15; Col 3,10).
A partir de lá que terminou todo
absurdo. O ser humano, a partir dessa adesão ao Cristo, liberta-se da pressão,
do medo e da solidão, e da tentação de querer ser auto-suficiente.
Essa vida em liberdade visa,
sobretudo, as quatro coisas:
1)
Ser livre
do pecado (Rm 6, 18-23; Jo 8,
31-36).
Quando alguém procura
exclusivamente a si mesmo, o seu poder, o seu prazer, a sua satisfação, a sua
fama, o seu futuro, a sua fortuna – aí, justamente, torna-se escravo. Nessa
situação ele realmente não pode ser nem para os outros, e nem para Deus. No
momento quando ele afasta-se de Deus e do seu semelhante, ele afasta-se também
de si mesmo. Sente-se rasgado, dividido interiormente, nem ele próprio mais
sabe o que deseja. Existe nele uma dissonância entre o conhecer e o querer. E o
afastamento dos outros leva ao ódio, à mentira e à discórdia.
(Obs.: Uma abordagem maior desse ponto pode ser
encontrada nas postagens que falam sobre a grandeza e a miséria do ser humano, começo – dia 10 abril
de 2012:
2) Ser livre do medo e da solidão
Pelo fato que Jesus Cristo
realiza a aproximação e a conciliação do
homem com Deus, com isso Ele também leva os homens a se reconciliarem entre si. “(...) pois todos vós sois um em Cristo Jesus” Gal 3, 28).
E por isso “já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem
homem nem mulher”. Ele une e reconcilia. “Pois é Ele a nossa paz” (Ef
2, 14 ss).
Por isso o que Jesus propõe aos
homens pode chamar de “nova aliança”, porque todos estão reunidos n’Ele. As brigas e a separação entre
as pessoas são a conseqüência do pecado, que Ele derrota.
Jesus, que veio de Deus e é o
próprio Filho de Deus, quer estar a total e
plena disposição para a humanidade. Graças a isso, novamente torna-se
possível entre os homens a solidariedade e a reconciliação. Foi vencido com isso,
também, o isolamento e a solidão.
Como conseqüência, todos os que
acreditam em Cristo têm como compromisso mostrar ao mundo essa proximidade e
solidariedade de Deus com a humanidade, através da sua vida, tanto entre si
(fieis), como com todos os seus semelhantes.
Assim, todos que acreditam n’Ele têm o compromisso de viver de tal
jeito entre si (como fiéis), como também com todas as outras pessoas, que seja
visível para todos essa proximidade e a solidariedade de Deus com o ser humano.
3) Ser livre da morte
Em nenhum instante o ser humano
experimenta mais a sua fragilidade,
impotência e finitude (finidade?), do que quando morre. Mas, graças a Jesus Cristo a morte, para o
cristão, não é mais um inevitável absurdo. Nem a vida, nem
a morte podem separar um fiel do amor de Deus, que lhe é prometido em Jesus
Cristo (compare Rm 8, 34-39).
4) Ser livre da lei
Não se trata aqui de ser
arbitrário e fazer o que bem entender, o que seria a libertinagem e colocaria
no homem as novas algemas. Mas, quem na fé cristã só enxerga um catálogo de preceitos e deveres, entre as quais deve se mover como
um prisioneiro, esse não chegou ainda à verdadeira fé. Existe, sim, somente um
dever, que não escraviza, mas, ao contrário, liberta até dos próprios
interesses. Esse dever é amor, que exige uma entrega total a Deus e aos outros.
O amor verdadeiro procura um compromisso sério, mas, de jeito nenhum pode-ser considerado
como uma fonte de opressão para o ser
humano.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara,
Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 116-118)²
Continua
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¹
Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg,
Hesse, † 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões do Ferdinand
Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor,
ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais
difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são
tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma
polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”.
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