O Credo da fé cristã começa com a frase: “Creio em
Deus, Pai todo-poderoso, criador do Céu e da terra. (...)”. Nós, os cristãos, acreditamos
que Ele, que é criador de tudo e Pai de todos nós, é um espírito, incriado¹,
onipotente, onipresente e eterno. Este Deus infinito e incógnito, pela
encarnação do seu Filho, Jesus Cristo, mostra para a humanidade (e para cada
ser humano) o caminho do amor, que, aliás, é o único caminho certo que leva à
plenitude da vida. Esta é a vontade e o projeto de Deus. Nenhum outro caminho
levará a essa meta. Pobres os homens que, em sua ignorância e soberba, servindo-se
da sua liberdade, optam por outros caminhos!
Temos, portanto, o privilégio de conhecer esse Deus,
ainda que do jeito parcial e muito imperfeito que as nossas condições humanas nos permitem.
A revelação maior veio a nós
- e só foi possível - através da pessoa de Jesus, o seu Filho, que
se tornou um de nós, assumindo a nossa condição humana para falar a “nossa
língua”. A sua morte e ressurreição trouxeram-nos
a verdadeira libertação. Mas Deus, em si, que é Uno e Trino, quer
dizer, Santíssima Trindade – único Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito
Santo, continua infinito, insondável, eterno – MISTÉRIO. Acreditamos que Ele é PRESENÇA no universo, no
mundo e em nós. Acreditamos e temos a certeza disso (“a certeza da fé”)! Ao mesmo tempo sabemos que como criaturas somos “nada”, e Ele é TUDO! Mas, decisivo e
fundamental para nós é sabermos que Ele nos ama e nos convida para participarmos
da sua vida.
Como continuação das reflexões anteriores (últimas
seis postagens - começo no dia 03 de agosto de 2012
- http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html) trago agora aqui, para o blog INDAGAÇÕES, algumas
reflexões de natureza teológica, sobre essa questão: Deus em nós. Elas podem nos ajudar a refletir sobre algumas
perguntas, tipo: Como isso é possível? Onde a Bíblia fala que Deus é Santíssima Trindade? O que se
diz do Espírito Santo? Por que os cristãos chamam Deus de Pai?
Para começar, o texto abaixo, de
Ferdinand Krenzer², fala do Espírito Santo e da presença dele nos homens e na
Igreja. Assunto muito interessante. Não deixe de ler.
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(7)
A força interior da nova vida
A força interior da nova vida
Jesus não ficou conosco fisicamente. Mesmo assim não
decepcionou os seus. “Convém a vós que eu vá” – disse para os seus discípulos
ao se despedir deles, “porque, se não for, não virá a vós o Paráclito. Mas se
eu me for, vo-lo enviarei.” (Jo 16, 7). Esse Paráclito, no outro lugar é
chamado de Espírito de Deus, Espírito Santo. É ele que há nos levar à toda
verdade, que Jesus Cristo nos revelou (compare Jo 16, 13).
Podemos aqui usar uma imagem para entendermos melhor a ação
do Espírito Santo: como um marca-passo, que tem como função regular os
batimentos cardíacos, fortalecendo o coração fraco, e desta maneira manter no
patamar necessário a circulação sangüínea da pessoa, e com isso a própria vida,
assim também, do mesmo jeito, o Espírito em nós é essa força motriz, que é
indispensável. Por isso é chamado de
“ajuda”. São Paulo descreve o cristão simplesmente como o homem “repleto de
Espírito Santo e conduzido por Ele”.
“(...) Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus” (Rm 8, 14). Todos são
chamados de espirituais: “(...) vós, que sois animados pelo espírito...”
(Gal 6,1). E é por causa que Espírito de Deus habita naqueles que confessam o
Cristo, o Paulo chama-os de “templo de Deus” (compare 1 Cor 3, 17; 6, 19).
Morar juntos significa primeiramente estar perto um do outro,
estar presente um para o outro e ser responsável um pelo outro, mutuamente.
Significa, também, conhecer e amar-se, juntos
construir o próprio mundo e reservar-se mutuamente. Justamente sobre um jeito
de morar juntos, como descrito acima, fala a Bíblia, quando diz que Deus “mora”
em nós. Uma comunidade assim precisa ser
realizada continuamente, todo dia vivenciada e aprofundada. A presença de Deus
em nós não é algo imóvel, estático,
inerte, mas, ao contrário, é algo vivo,
dinâmico e crescente.
Como conseqüências da
atuação do Espírito santo a Bíblia conta: amor, alegria, paz, paciência, bondade,
mansidão, autocontrole (compare Gal 5, 22 ss.; Rm 14, 17). No entanto, o dom
mais lindo de todos é o amor (1 Cor 13). Experimentamos, portanto, a proximidade
do Espírito Santo nem tanto nas circunstâncias extraordinárias, mas justamente
no dia mais comum, na ajuda à pessoa necessitada, na fidelidade do cônjuge, no
resistir no tempo de tentações, na paciência necessária, no sofrimento, na estabilidade da fé, na inabalável
confiança que depositamos na palavra de Deus, no amor ao próximo, etc.
Alguém pode dizer: ser “humano”, fiel, caridoso – isso tudo
existe também fora do cristianismo. Neste caso, também ali deveria agir o
Espírito de Deus. – E assim realmente é. O Espírito Santo atua não só no
cristianismo. Qualquer bem, onde quer que as pessoas o façam, realiza-se com
a ajuda Divina.
Assim como age em cada indivíduo, assim, e de modo especial,
o Espírito Santo atua em toda Igreja. Ele conduziu não somente o Paulo. Ele
dirigiu também toda a Igreja primitiva (compare At 9, 1-19). Ele faz, com que a
Igreja permaneça sempre viva. Ele ao mesmo tempo é a “alma” da Igreja.
Sem convivência, sem nos unirmos com o Espírito Santo não
alcançaremos a meta que Deus traçou para nós. Somente com o Espírito tomamos o
caminho para Deus. Ele, quando nós nos abrimos a Ele, comunica-nos uma nova vida. E isso já é tudo o que
deveríamos fazer da nossa parte. A
partir daí Deus realmente estará em nós.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara,
Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 125-126)³
Continua
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¹ Deus existe por si
mesmo para si mesmo, e é o Criador incriado ,
que é independente de qualquer conceito, força ou entidade.
²
Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg,
Hesse, † 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
³ Obs.: As reflexões do Ferdinand
Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor,
ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais
difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são
tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma
polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”.
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