Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 18 de agosto de 2012

Deus em nós. Dá para entender?

O Credo da fé cristã começa com a frase: “Creio em Deus, Pai todo-poderoso, criador do Céu e da terra. (...)”. Nós, os cristãos, acreditamos que Ele, que é criador de tudo e Pai de todos nós, é um espírito, incriado¹, onipotente, onipresente e eterno. Este Deus infinito e incógnito, pela encarnação do seu Filho, Jesus Cristo, mostra para a humanidade (e para cada ser humano) o caminho do amor, que, aliás, é o único caminho certo que leva à plenitude da vida. Esta é a vontade e o projeto de Deus. Nenhum outro caminho levará a essa meta. Pobres os homens que, em sua ignorância e soberba, servindo-se da sua liberdade, optam por outros caminhos!

Temos, portanto, o privilégio de conhecer esse Deus, ainda que do jeito parcial e muito imperfeito que as nossas condições humanas  nos permitem.  A revelação maior veio a nós  -  e só foi possível -  através da pessoa de Jesus, o seu Filho, que se tornou um de nós, assumindo a nossa condição humana para falar a “nossa língua”. A sua morte e  ressurreição trouxeram-nos a  verdadeira  libertação.  Mas Deus, em si, que é Uno e Trino, quer dizer, Santíssima Trindade – único Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, continua  infinito, insondável,  eterno – MISTÉRIO.  Acreditamos que Ele é PRESENÇA no universo, no mundo e em nós. Acreditamos e temos a certeza disso (“a certeza da fé”)!  Ao mesmo tempo sabemos que como criaturas  somos “nada”, e Ele é TUDO! Mas, decisivo e fundamental para nós é sabermos que Ele nos ama e nos convida para participarmos da sua vida.

Como continuação das reflexões anteriores (últimas seis  postagens - começo no dia 03 de agosto de 2012  - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html) trago agora aqui, para o blog INDAGAÇÕES, algumas reflexões de natureza teológica, sobre essa questão: Deus em nós. Elas podem nos ajudar a refletir sobre algumas perguntas, tipo: Como isso é possível? Onde a Bíblia  fala que Deus é Santíssima Trindade? O que se diz do Espírito Santo? Por que os cristãos chamam Deus de Pai? 

Para começar, o texto abaixo, de Ferdinand Krenzer², fala do Espírito Santo e da presença dele nos homens e na Igreja. Assunto muito interessante. Não deixe de ler.
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A força interior da nova vida

Jesus não ficou conosco fisicamente. Mesmo assim não decepcionou os seus. “Convém a vós que eu vá” – disse para os seus discípulos ao se despedir deles, “porque, se não for, não virá a vós o Paráclito. Mas se eu me for, vo-lo enviarei.” (Jo 16, 7). Esse Paráclito, no outro lugar é chamado de Espírito de Deus, Espírito Santo. É ele que há nos levar à toda verdade, que Jesus Cristo nos revelou (compare Jo 16, 13). 

Podemos aqui usar uma imagem para entendermos melhor a ação do Espírito Santo: como um marca-passo, que tem como função regular os batimentos cardíacos, fortalecendo o coração fraco, e desta maneira manter no patamar necessário a circulação sangüínea da pessoa, e com isso a própria vida, assim também, do mesmo jeito, o Espírito em nós é essa força motriz, que é indispensável.  Por isso é chamado de “ajuda”. São Paulo descreve o cristão simplesmente como o homem “repleto de Espírito Santo e conduzido por Ele”.  (...) Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são  filhos de Deus” (Rm 8, 14). Todos são chamados de espirituais:  “(...) vós, que sois animados pelo espírito...” (Gal 6,1). E é por causa que Espírito de Deus habita naqueles que confessam o Cristo, o Paulo chama-os de “templo de Deus” (compare 1 Cor 3, 17; 6, 19).

Morar juntos significa primeiramente estar perto um do outro, estar presente um para o outro e ser responsável um pelo outro, mutuamente. Significa, também,  conhecer e amar-se, juntos construir o próprio mundo e reservar-se mutuamente. Justamente sobre um jeito de morar juntos, como descrito acima, fala a Bíblia, quando diz que Deus “mora” em nós. Uma comunidade assim precisa  ser realizada continuamente, todo dia vivenciada e aprofundada. A presença de Deus em nós não  é algo imóvel, estático, inerte,  mas, ao contrário, é algo vivo, dinâmico e crescente.

Como conseqüências  da atuação do Espírito santo a Bíblia conta: amor, alegria, paz, paciência, bondade, mansidão, autocontrole (compare Gal 5, 22 ss.; Rm 14, 17). No entanto, o dom mais lindo de todos é o amor (1 Cor 13). Experimentamos, portanto, a proximidade do Espírito Santo nem tanto nas circunstâncias extraordinárias, mas justamente no dia mais comum, na ajuda à pessoa necessitada, na fidelidade do cônjuge, no resistir no tempo de tentações, na paciência necessária, no sofrimento,  na estabilidade da fé, na inabalável confiança que depositamos na palavra de Deus, no amor ao próximo, etc.

Alguém pode dizer: ser “humano”, fiel, caridoso – isso tudo existe também fora do cristianismo. Neste caso, também ali deveria agir o Espírito de Deus. – E assim realmente é. O Espírito Santo atua não  só  no cristianismo. Qualquer bem, onde quer que as pessoas o façam, realiza-se com a  ajuda Divina.

Assim como age em cada indivíduo, assim, e de modo especial, o Espírito Santo atua em toda Igreja. Ele conduziu não somente o Paulo. Ele dirigiu também toda a Igreja primitiva (compare At 9, 1-19). Ele faz, com que a Igreja permaneça sempre viva. Ele ao mesmo tempo é a “alma” da Igreja.

Sem convivência, sem nos unirmos com o Espírito Santo não alcançaremos a meta que Deus traçou para nós. Somente com o Espírito tomamos o caminho para Deus. Ele, quando nós nos abrimos a Ele, comunica-nos uma nova vida. E isso já é tudo o que deveríamos fazer da nossa  parte. A partir daí Deus realmente estará em nós.

 (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 125-126)³

Continua
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¹ Deus existe por si mesmo para si mesmo, e é o Criador incriado , que é independente de qualquer conceito, força ou entidade.

²  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

³ Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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