Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

“Eu sou o pão da vida” – disse Jesus. E nós, cremos?


Para completar a reflexão “E nós, a quem iremos?” (última postagem –  do dia 25 de agosto) apresento aqui, no blog Indagações, mais um comentário de  Asun Gutiérrez Cabriada, que pode nos ajudar a compreendermos um pouco mais  o conteúdo das outras frases do Evangelho de João (Jo 6, 41-51).  Pensemos nas perguntas: Por que os judeus murmuravam de Jesus quando Ele disse: “Eu sou o pão que  desceu do céu”? O que significa acreditar de verdade nessas palavras de Jesus? E nós – acreditamos?

É uma reflexão enriquecedora e proveitosa.
Não deixe de ler.
WCejnog

[Os interessados podem ler esse texto em PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: 

Era lógico que os contemporâneos de Jesus,
especialmente os seus vizinhos e os seus parentes, resistissem à mensagem.
E é lógico que nós resistamos a sair  das nossas concepções mítico-mágicas.
Jesus  supera de tal medida as nossas religiõezinhas razoáveis ou míticas
que sintamos vertigem ao crer n’Ele.
Porque há que crer num homem, não numa divindade disfarçada,
há que crer que a ação de Deus é verdadeiramente feita carne,
não vestida de carne.

José Enrique Galarreta.
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Jo 6, 41-51.
Naquele tempo, os judeus murmuravam de Jesus por Ele ter dito:
«Eu sou o pão que desceu do céu».
E diziam:
– Não é Ele Jesus, o filho de José? Não conhecemos o seu pai e a sua mãe? Como é que Ele diz agora: ‘Eu desci do Céu’?
Jesus respondeu-lhes:
Não murmureis entre vós.  Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou,  não o trouxer; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia. Está escrito nos livro dos Profetas:  ‘Serão todos instruídos por Deus’.  Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim. Não porque alguém tenha visto o Pai; só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai.  Em verdade, em verdade vos digo:  Quem acredita  tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná  e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu para que não morra quem dele comer.
– Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.
Quem comer deste pão viverá eternamente.
E o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo.

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COMENTÁRIO

Começavam a ter força alguns dos movimentos gnósticos. O evangelista quer deixar firmemente assente a humanidade de Jesus frente a estes grupos que não a admitiam. É mais fácil e cómodo crer num Deus longínquo, de outro mundo, que em alguém encarnado na humanidade que nos questiona e nos compromete.

Que sejamos capazes de descobrir em Jesus, filho de José e Maria, o  único “pão” que alimenta o nosso espírito e nos dá a força para caminhar.
Que a fé que professamos não seja impedimento para conhecer e seguir Jesus.
Tenho facilidade para murmurar?  Jesus continua a recomendar-nos: Não murmureis”.

É a fé que nos anima, que dá sentido à nossa vida cristã.  A fé  é conhecer Jesus, tratar de ser e de atuar como Ele.  Não é uma questão de ideias, mas de relação pessoal.
Jesus não ensina fórmulas nem doutrinas, mas revela o modo de estar perante Deus, o modo de estar perante os outros, o modo de viver no mundo. 
A fé é um dom que requer resposta, acolhimento  e pôr em prática esse dom na vida. A fé é um dom e uma tarefa.
 
“Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.” -  Nesta auto-apresentação,   Jesus manifesta-se como a resposta às esperanças  e  necessidades do ser humano.  Jesus é o “pão” que alimenta e fortalece a vida autêntica.  A expressão “vida eterna” não significa só uma vida de duração ilimitada. Trata-se de uma vida vivida em profundidade e qualidade nova. Uma vida plena, que vai mais além de nós mesmos. Uma vida que nenhum mau acontecimento pode truncar. Nem a morte.

O alimento perecível  é para sobreviver. Jesus é o alimento para viver.

Creio que Jesus é vida. Creio que a humanidade de Jesus me leva a ter presente as necessidades, a fome e a sede das pessoas que as sofrem  e a partilhar o “pão do céu”: 
alimento, alegria, utopia, solidariedade, paz, vida...

O convite a comer não se refere aqui ao ato físico de levar um alimento à boca para o mastigar e digerir. Jesus vai mais além e pede aos que O escutam que se nutram interiormente d’Ele, que assimilem a sua palavra e a sua pessoa.
Para poder ser, como Ele, alimento e vida para o mundo.

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Repartiremos a terra, a beleza, o amor,
tudo isso tem sabor de pão,
forma de pão, germinação de farinha,
tudo nasceu para ser partilhado,
para ser entregue, para se multiplicar.

Por isso, pão, se foges da casa do homem,
si te escondes, te negam,
se o avarento te prostitui, e o rico te açambarca,
lutaremos por ti com os outros homens
com todos os famintos,
por todos os rios, pelo ar te iremos buscar,
toda a terra a repartiremos para que tu germines.
Iremos coroados com espigas
conquistando terra e pão para todos,
e então também a vida terá forma de pão,
será simples e profunda, inumerável  e pura.
Todos os seres terão direito à terra e à vida,
e assim será o pão de amanhã o pão de cada boca,
sagrado, porque será o produto
da mais longa e dura luta humana.
                                                       
Pablo Neruda

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