Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Ser cristão, ter fé - é responder a Deus. Como assim?


“É fácil carregar a cruz no peito, difícil é ter peito para carregar a cruz!” – este ditado expressa bem a realidade da presença dos cristãos no mundo de hoje.  De um lado, vemos muitos cristãos que ostentam a sua pertença à religião em camisetas com imagens dos santos, da cruz ou com citações bíblicas, adesivos nos carros, no pescoço correntes e cordões com medalhas e cruzes, missas “shows”,  programas de Tv e rádio  no estilo “pop” – para atingir cada vez maior número de fiéis, “caminhadas com Jesus”, procissões – caminhadas de fé, propaganda de estatísticas informando o tamanho da multidão participante, retiros, bênções, cultos,  shows de música, etc.  Então, parece realmente que é fácil “carregar a cruz no  peito”...

Mas, por  outro lado, quando se vê o mundo, as sociedades (e a nossa sociedade), e o próprio ser humano, caminhando – parece – cada vez mais distantes do Projeto de Deus: injustiças, desigualdades, corrupção que não tem fim, egoísmo, hedonismo, pornografia, aborto e eutanásia cada vez mais “oficializados”  em diversas partes do mundo, crimes bárbaros, e tantas outras coisas que agridem até o bom senso e a lei natural ... Então, diante disso, podemos parar para pensar:  alguma coisa está errada.  O que está acontecendo?  Por que as coisas não  mudam?

Deus quer que todo ser humano seja livre e tenha uma vida em plenitude, que ele seja realizado e feliz.  Por isso a mensagem de Jesus Cristo é libertadora e é dirigida à toda humanidade e  a  cada um dos homens e mulheres neste mundo, a cada um de nós. Mas para isso acontecer o homem precisa aderir ao projeto de Deus. E mais, o convite que Deus  faz para nós,  seres humanos, não é um convite qualquer:  exige uma resposta e adesão concreta e comprometida.  A mensagem dele é exigente! Todos os outros caminhos  que o homem tentar  traçar sozinho, com toda a certeza, nunca poderão atingir esse objetivo. 

Aqui, surgem indagações:  Será que nós não nos enganamos, pensando que tudo está  “ok”, que fazemos a nossa parte, que “a vida  é assim mesmo”? A  nossa fé cristã é realmente uma resposta séria ao chamado e convite de Deus?  Ou, talvez,  não passa de uma farsa, para tranqüilizar a nossa consciência?  Porque como explicar que numa sociedade como a nossa, onde a imensa  maioria se diz cristã, tanta coisa anda tão errado? Nós, cristãos, não ficamos acomodados demais?  Não demonstramos com isso  que realmente não temos “peito para carregar a cruz”, ou seja, comprometer-se seriamente com a mensagem de Jesus,  e preferimos apenas “carregar a cruz no peito”? Talvez estejamos “pegando carona” com o mundo?   Por fim, em que  consiste, na  verdade, a fé verdadeira em Jesus Cristo, esse Jesus de Nazaré, que deu a sua vida por nós, e que, ressuscitado, nos ordenou:  Ide e ensinai - “ensinando a todos os povos a observar tudo o que vos ordenei" (Mt 28, 20)?  Será  que realmente fizemos uma opção pelo Projeto de Deus, revelada na mensagem de Cristo? Realmente optamos por Ele?
Essas perguntas são incômodas e até pesadas, mas são inevitáveis. Nós, cristãos no mundo de hoje, precisamos  refletir bastante sobre elas.

O texto abaixo, de Ferdinand Krenzer¹, completa as reflexões sobre a mensagem de Cristo e,  neste contexto, indica qual realmente deveria ser a resposta dos cristãos. Quem deseja entender um pouco melhor a sua fé cristã aqui terá uma grande ajuda.
Não deixe de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (começo no dia 03 de agosto de 2012 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html ). 


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Como participamos da nova vida?

No capítulo 10 (17-22) do Evangelho segundo Marcos tem um episódio muito conhecido, que fala de um jovem, que veio correndo e, ajoelhando-se à frente de Jesus, lhe perguntou: “Bom Mestre, o que hei de fazer para alcançar a vida eterna?”  Podemos perceber que esse jovem, na verdade, procura algo definitivo, permanente, o que fica e o que realize plenamente a vida. Jesus indica-lhe, primeiramente, os mandamentos.  O jovem responde que os tem observado desde a sua juventude. Parece, porém, que  ele não encontrou nisso a realização de suas expectativas e o sentido para a plena e verdadeira vida. E por isso continua perguntando. Mas agora aconteceu algo que tem o significado decisivo: “Tendo olhado para ele, Jesus simpatizou  com ele”.  Isto é o início dessa vida, início do verdadeiro sentido: que existe alguém que gosta de nós, nos ama e nos aceita. E essa é, para nós, a mais maravilhosa e empolgante notícia que possa existir.  Porque, o que poderia mais mexer conosco, do que saber que somos amados?

Se partirmos do pensamento que em Jesus torna-se visível quem é Deus para o ser humano, ai esse amor significa muito mais. Quando Deus nos aceita, ama, significa  que esse amor é definitivo e eterno, e  que Ele nos quer definitivamente e para sempre. Significa a  libertação da morte e da  solidão. A chave para a fé cristã é o fato que Deus nos ama.

Ai, o que Jesus, naquele contexto, disse depois ao jovem, era só a conseqüência: “Só te  falta uma coisa: vai, vende tudo que tens, distribui pelos pobres e terás um tesouro no céu; então vem e segue-me” (Mt 10,17-22).  Isto quer dizer:  espero que você responda a esse amor, se engaje nele, aposte tudo por ele. Para alcançar a vida eterna,  você deve doar a si próprio. Somente deste jeito você salvará a si mesmo. A vida cristã é uma resposta ao amor Divino. E  essa resposta, nós a chamamos de fé.  A fé autêntica é um “engajar-se” em Cristo.

Talvez agora compreendamos as palavras da Bíblia:  “Quem procurar preservar a vida, há de perdê-la, e  quem a  perder, há de conservá-la” (Lc 17, 33).  Quanto mais, pois, o ser humano quer preservar e concretizar a si próprio, tanto mais ele roda em volta de si, e tanto menos sai para fora de si.  “Onde o homem considera a auto-concretização como o fim e o sentido da sua vida, tanto mais se desencontra com esse  sentido. A auto-realização é, mais o resultado da realização desse sentido, o que ocorre somente quando o ser humano sai de si mesmo e se dirige para um outro ser, e, por fim, para Deus e para os outros”  (W. E. Frankl).

Agora podemos compreender que a cruz de Cristo – como também a cruz na vida  de um cristão – não podem ser apenas uma catástrofe de vida ou situação sem saída, mas  elas tornam-se como as estações intermediarias, que  levam ao fim definitivo, que  é a realização plena de vida, a ressurreição e a perfeição.

O que, portanto, devemos fazer da nossa parte? Exatamente o mesmo, o que exigia Jesus: “Completaram-se os tempos, está próximo o reino de Deus, convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). Convertei-vos – significa que a  sua vida precisa ser redirecionada para Ele.  Recorrer  a  Ele, acreditar nele. Nesta situação o ser humano percebe que precisa  tomar uma  decisão:  pode ir seguindo o chamado de Deus, ou, então, pode se fechar a esse chamado, rejeitá-lo.  Se, no  entanto, o homem decidir que quer  seguir esse chamado de Deus, ai, isso vai implicar em mudar o jeito de pensar e agir em tudo, abrangendo até as coisas cotidianas. Quem seguir o chamado de Deus, arcará com as conseqüências,  que vão se  refletir na sua vida diária, no trabalho, no seu comportamento em  sua casa, diante da esposa ou esposo, diante dos filhos, diante das outras pessoas, diante da sociedade em que vive, diante do hoje e amanhã.   

A falta de fé de muitos fiéis, consiste nisso, que como crianças foram, sim, batizadas, mas nunca conseguiram chegar a esse momento decisivo de sua vida: de realmente tomar essa decisão de seguir o chamado de Deus. 

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 309)²
Continua
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.
 
² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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