“É fácil carregar a cruz no peito, difícil é ter
peito para carregar a cruz!” – este ditado expressa bem a realidade da presença
dos cristãos no mundo de hoje. De um lado,
vemos muitos cristãos que ostentam a sua pertença à religião em camisetas com
imagens dos santos, da cruz ou com citações bíblicas, adesivos nos carros, no
pescoço correntes e cordões com medalhas e cruzes, missas “shows”, programas de Tv e rádio no estilo “pop” – para atingir cada vez maior
número de fiéis, “caminhadas com Jesus”, procissões – caminhadas de fé,
propaganda de estatísticas informando o tamanho da multidão participante,
retiros, bênções, cultos, shows de
música, etc. Então, parece realmente que
é fácil “carregar a cruz no peito”...
Mas, por
outro lado, quando se vê o mundo, as sociedades (e a nossa sociedade), e
o próprio ser humano, caminhando – parece – cada vez mais distantes do Projeto
de Deus: injustiças, desigualdades,
corrupção que não tem fim, egoísmo, hedonismo, pornografia, aborto e eutanásia
cada vez mais “oficializados” em
diversas partes do mundo, crimes bárbaros, e tantas outras coisas que agridem
até o bom senso e a lei natural ... Então, diante disso, podemos parar para
pensar: alguma coisa está errada. O que está acontecendo? Por que as coisas não mudam?
Deus quer que todo ser humano seja livre e
tenha uma vida em plenitude, que ele seja realizado e feliz. Por isso a mensagem de Jesus Cristo é
libertadora e é dirigida à toda humanidade e a cada
um dos homens e mulheres neste mundo, a cada um de nós. Mas para isso acontecer
o homem precisa aderir ao projeto de Deus. E mais, o convite que Deus faz para nós, seres humanos, não é um convite qualquer: exige uma resposta e adesão concreta e
comprometida. A mensagem dele é exigente!
Todos os outros caminhos que o homem
tentar traçar sozinho, com toda a
certeza, nunca poderão atingir esse objetivo.
Aqui, surgem indagações: Será que nós não nos enganamos, pensando que
tudo está “ok”, que fazemos a nossa
parte, que “a vida é assim mesmo”? A nossa fé cristã é realmente uma resposta séria
ao chamado e convite de Deus? Ou,
talvez, não passa de uma farsa, para
tranqüilizar a nossa consciência? Porque
como explicar que numa sociedade como a nossa, onde a imensa
maioria se diz cristã, tanta coisa anda tão errado? Nós, cristãos, não
ficamos acomodados demais? Não
demonstramos com isso que realmente não
temos “peito para carregar a cruz”, ou seja, comprometer-se seriamente com a
mensagem de Jesus, e preferimos apenas
“carregar a cruz no peito”? Talvez estejamos “pegando carona” com o mundo? Por
fim, em que consiste, na verdade, a fé verdadeira em Jesus Cristo,
esse Jesus de Nazaré, que deu a sua vida por nós, e que, ressuscitado, nos
ordenou: Ide e ensinai - “ensinando a todos os
povos a observar tudo o que vos ordenei" (Mt 28, 20)? Será que realmente fizemos uma opção pelo Projeto
de Deus, revelada na mensagem de Cristo? Realmente optamos por Ele?
Essas perguntas são incômodas e até pesadas, mas
são inevitáveis. Nós, cristãos no mundo de hoje, precisamos refletir bastante sobre elas.
O texto abaixo, de Ferdinand
Krenzer¹, completa as reflexões sobre a mensagem de Cristo e, neste contexto, indica qual realmente deveria ser a
resposta dos cristãos. Quem deseja entender um pouco melhor a sua fé cristã
aqui terá uma grande ajuda.
Não
deixe de ler.
WCejnog
Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e
aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável ler desde o início todos os seus textos sobre este assunto (começo no dia 03
de agosto de 2012 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/para-entender-o-cristianismo-qual-e-sua.html ).
(6)
Como participamos da nova vida?
Como participamos da nova vida?
No capítulo 10 (17-22) do
Evangelho segundo Marcos tem um episódio muito conhecido, que fala de um jovem,
que veio correndo e, ajoelhando-se à frente de Jesus, lhe perguntou: “Bom
Mestre, o que hei de fazer para alcançar a vida eterna?” Podemos perceber que esse jovem, na verdade,
procura algo definitivo, permanente, o que fica e o que realize plenamente a
vida. Jesus indica-lhe, primeiramente, os mandamentos. O jovem responde que os tem observado desde a
sua juventude. Parece, porém, que ele
não encontrou nisso a realização de suas expectativas e o sentido para a plena
e verdadeira vida. E por isso continua perguntando. Mas agora aconteceu algo
que tem o significado decisivo: “Tendo olhado para ele, Jesus simpatizou com ele”. Isto é o início dessa vida, início do
verdadeiro sentido: que existe alguém que gosta de nós, nos ama e nos aceita. E
essa é, para nós, a mais maravilhosa e empolgante notícia que possa existir. Porque, o que poderia mais mexer conosco, do
que saber que somos amados?
Se partirmos do pensamento que em
Jesus torna-se visível quem é Deus para o ser humano, ai esse amor significa
muito mais. Quando Deus nos aceita, ama, significa que esse amor é definitivo e eterno, e que Ele nos quer definitivamente e para
sempre. Significa a libertação da morte
e da solidão. A chave para a fé cristã é
o fato que Deus nos ama.
Ai, o que Jesus, naquele
contexto, disse depois ao jovem, era só a conseqüência: “Só te falta uma coisa: vai, vende tudo que tens,
distribui pelos pobres e terás um tesouro no céu; então vem e segue-me” (Mt 10,17-22). Isto quer dizer: espero que você responda a esse amor, se
engaje nele, aposte tudo por ele. Para alcançar a vida eterna, você deve doar a si próprio. Somente deste
jeito você salvará a si mesmo. A vida cristã é uma resposta ao amor Divino.
E essa resposta, nós a chamamos de fé. A fé autêntica é um “engajar-se” em Cristo.
Talvez agora compreendamos as
palavras da Bíblia: “Quem procurar preservar a vida, há de
perdê-la, e quem a perder, há de conservá-la” (Lc 17, 33). Quanto mais, pois, o ser humano quer preservar
e concretizar a si próprio, tanto mais ele roda em volta de si, e tanto menos
sai para fora de si. “Onde o homem considera a auto-concretização
como o fim e o sentido da sua vida, tanto mais se desencontra com esse sentido. A auto-realização é, mais o
resultado da realização desse sentido, o que ocorre somente quando o ser humano
sai de si mesmo e se dirige para um outro ser, e, por fim, para Deus e para os
outros” (W. E. Frankl).
Agora podemos compreender que a
cruz de Cristo – como também a cruz na vida
de um cristão – não podem ser apenas uma catástrofe de vida ou situação
sem saída, mas elas tornam-se como as
estações intermediarias, que levam ao
fim definitivo, que é a realização plena
de vida, a ressurreição e a perfeição.
O que, portanto, devemos fazer da
nossa parte? Exatamente o mesmo, o que exigia Jesus: “Completaram-se os tempos, está próximo o reino de Deus, convertei-vos
e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). Convertei-vos – significa que a sua vida precisa ser redirecionada para Ele. Recorrer a Ele,
acreditar nele. Nesta situação o ser humano percebe que precisa tomar uma decisão: pode ir seguindo o chamado de Deus, ou, então,
pode se fechar a esse chamado, rejeitá-lo. Se, no
entanto, o homem decidir que quer seguir esse chamado de Deus, ai, isso vai
implicar em mudar o jeito de pensar e agir em tudo, abrangendo até as coisas
cotidianas. Quem seguir o chamado de Deus, arcará com as conseqüências, que vão se
refletir na sua vida diária, no trabalho, no seu comportamento em sua casa, diante da esposa ou esposo, diante
dos filhos, diante das outras pessoas, diante da sociedade em que vive, diante
do hoje e amanhã.
A falta de fé de
muitos fiéis, consiste nisso, que como crianças foram, sim, batizadas, mas
nunca conseguiram chegar a esse momento decisivo de sua vida: de realmente
tomar essa decisão de seguir o chamado de Deus.
(KRENZER, F. Taka
jest nasza wiara, Paris, Éditions Du
Dialogue, 1981, p. 309)²
Continua
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¹ Krenzer Ferdinand (nascido em 22
de maio de 1921 em Dillenburg,
Hesse, † 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões do Ferdinand
Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor,
ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais
difíceis desta doutrina.
Os
textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse
autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o
português). O título original: “Morgen
wird man wieder Glauben”.
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