Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A Igreja e o mundo. Qual é a relação? Como deveria ser?


Para finalizar o bloco de reflexões sobre a Igreja católica, é preciso falar da relação Igreja – mundo. São muitas perguntas sobre essa questão. Por exemplo, a Igreja deve ou não falar e agir quando se trata dos acontecimentos da vida concreta da sociedade? Qual, realmente é o seu papel em relação ao mundo?  O mundo e a Igreja representam  posições antagônicas, ou deveriam buscar o caminho em comum? Quais são, neste caso,  os desafios? Qual  é o papel dos cristãos  no mundo?, etc.

Para analisar essas  questões  trago aqui mais um texto de autoria de Ferdinand Krenzer¹. As  pessoas interessadas em conhecer um pouco melhor essa temática, encontrarão aqui uma reflexão interessante.
Não deixe  de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto. Ao todo são 22 pequenos textos publicados, com o começo no dia 31 de agosto de 2012  - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).

 (22 )
Igreja e o mundo

A Igreja não  é aglomeração de homens isolados do mundo,  que  não se preocupam com os problemas da vida da sociedade atual. Pelo contrário, ela  é constituída de pessoas, e vive assim como elas, no mundo: ela própria  faz parte do mundo. A Igreja e o mundo não  devem ficar contra si como adversários, porque, no fundo, eles se relacionam e se influenciam mutuamente. Neste sentido a Igreja hoje sabe que deve ser também “secular”, isto é, no mundo.

Mas, mesmo se a Igreja está neste mundo, ela não é deste mundo. A sua tarefa é conduzir os homens a Deus pelas coisas deste mundo. Portanto, onde se trata de coisas puramente “seculares”, ela não tem direito de se julgar competente ou até de se misturar a elas.  Existe uma verdadeira autonomia  dentro de áreas da vida científica, política e social. Sobretudo a Igreja não deve servir-se do poder mundano para, através dele, querer cumprir a sua missão neste mundo. O  Concílio Vaticano II, na Constituição Gaudium et Spes (Constituição  pastoral sobre a Igreja no mundo atual) claramente rejeitou esse tipo de atitudes da Igreja, discernindo-as das suas verdadeiras tarefas ao decorrer da história.

Por outro lado, e com razão, não poucas vezes questionava-se (e ainda se questiona) que a Igreja separa-se do mundo, parecendo querer ficar longe dos desafios e tarefas que precisam ser assumidos e que desafiam a todos nós. Isso é verdade. A Igreja tem que se engajar também socialmente, se realmente quer ser “a luz do mundo” e “o sal da terra” – como exigiu Jesus Cristo dos seus seguidores. Afinal, diante de Deus somos responsáveis por todas as áreas da vida humana. A técnica e tecnologia, por exemplo,  não pode ser usada para a destruição do ser humano; a política não pode limitar ou tirar a liberdade do homem e a sua dignidade pessoal; o sistema econômico deve garantir a todas as pessoas no mundo a possibilidade de  levar uma vida normal e digna, etc. 

Hoje critica-se a Igreja não só porque ela se “mete” nos acontecimentos do mundo (seculares), mas também, por outro lado, que ela fica calada e está se omitindo, enquanto deveria tomar a voz e assumir posições claras diante desses fatos ou acontecimentos da nossa sociedade. Neste sentido, praticamente todos reconhecem, até mesmo os não-cristãos, que são  válidos e importantes, por exemplo, os insistentes apelos e exortações do Papa em relação à justiça social e à paz no mundo. Não podemos, porém, esperar que a Igreja possua elaboradas e prontas as propostas para solucionar todos os  problemas do mundo. O progresso da humanidade cria constantemente sempre novas situações  e por isso a Igreja precisa estar atenta e trabalhar seriamente, sempre apoiando-se na Sagradas Escrituras – que contém  a  Palavra de Deus revelada, para encontrar respostas adequadas.    Aqui vemos como  é grande e direta a responsabilidade dos cristãos leigos, que sobretudo trabalham e “servem em favor do mundo”. Nesses assuntos justamente eles são verdadeiramente competentes. Todo cristão deve, neste sentido, levar e realizar a sua fé no seio do mundo atual. (Compare Lumen Gentium – Constituição dogmática sobre a Igreja, nº 30).

O correto é quando a Igreja desempenha  as  suas tarefas no mundo, entendendo a sua missão como “serviço” para  o  mundo e para o ser humano. Nunca deveria visar  o seu próprio interesse.  “Os cristãos não devem [...] desejar ardentemente  nada, a não ser aquilo, que possa com eficácia e generosidade servir ao homem dos nossos  tempos” (Vaticano II). Resumindo as tarefas mencionadas à uma curta fórmula, podemos dizer:  a Igreja deve ajudar ao homem a encontrar a si próprio  e  lhe mostrar o seu papel e desafio neste mundo, e faz isso quando auxilia  o ser  humano a estabelecer contato com Deus.

Não deve mandar na Igreja nem a ânsia de poder terreno, nem arrogância. A sua missão é transmitir ao mundo inteiro  a revelação de Deus, e deve realizá-la  em todas as circunstâncias, tanto favoráveis  como difíceis.  A missão da Igreja é puramente religiosa e justamente por isso também é humanitária, no mais alto grau. Sem cessar, ela deve se empenhar para poder propor uma solução melhor possível para os problemas sociais, comparando  com o que fazem outros grupos da sociedade.

A Igreja pode fazer isso, porque olha para o mundo e para o homem através do prisma da fé, o que lhe permite orientar-se bem em situação. Obviamente, isso não significa que a Igreja pretenda, através da legislação oficial, fazer das suas opiniões as normas obrigatórias para todos.

Não só a Igreja ajuda a sociedade pela sua missão, mas também vice-versa, ela tem consciência, de que está recebendo em diversas formas a ajuda da parte do mundo atual graças ao progresso da ciência e da tecnologia. Também por causa disso a Igreja esforça-se para manter um diálogo vivo em cada área e superar a negativa distância que se formou, principalmente,  ao longo dos último séculos.

 (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 169-170)²


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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]
 

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