Para finalizar o bloco de reflexões sobre a Igreja
católica, é preciso falar da relação Igreja – mundo. São muitas perguntas sobre
essa questão. Por exemplo, a Igreja deve ou não falar e agir quando se trata
dos acontecimentos da vida concreta da sociedade? Qual, realmente é o seu papel
em relação ao mundo? O mundo e a Igreja
representam posições
antagônicas, ou deveriam buscar o caminho em comum? Quais são, neste caso, os desafios? Qual é o papel dos cristãos no mundo?, etc.
Para analisar essas questões
trago aqui mais um texto de autoria de Ferdinand Krenzer¹. As
pessoas interessadas em conhecer um pouco melhor essa temática,
encontrarão aqui uma reflexão interessante.
Não deixe de
ler.
WCejnog
Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto. Ao todo são 22 pequenos textos publicados, com o começo no dia 31 de
agosto de 2012 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).
(22 )
Igreja e o mundo
A Igreja não é aglomeração de homens isolados do
mundo, que não se preocupam com os problemas da vida da
sociedade atual. Pelo contrário, ela é
constituída de pessoas, e vive assim como elas, no mundo: ela própria faz parte do mundo. A Igreja e o mundo
não devem ficar contra si como
adversários, porque, no fundo, eles se relacionam e se influenciam mutuamente.
Neste sentido a Igreja hoje sabe que deve ser também “secular”, isto é, no
mundo.
Mas, mesmo se a Igreja está neste
mundo, ela não é deste mundo. A sua tarefa é conduzir os homens a Deus pelas
coisas deste mundo. Portanto, onde se trata de coisas puramente “seculares”,
ela não tem direito de se julgar competente ou até de se misturar a elas. Existe uma verdadeira autonomia dentro de áreas da vida científica, política
e social. Sobretudo a Igreja não deve servir-se do poder mundano para, através
dele, querer cumprir a sua missão neste mundo. O Concílio Vaticano II, na Constituição Gaudium et Spes (Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo atual)
claramente rejeitou esse tipo de atitudes da Igreja, discernindo-as das suas
verdadeiras tarefas ao decorrer da história.
Por outro lado, e com razão, não
poucas vezes questionava-se (e ainda se questiona) que a Igreja separa-se do
mundo, parecendo querer ficar longe dos desafios e tarefas que precisam ser
assumidos e que desafiam a todos nós. Isso é verdade. A Igreja tem que se engajar
também socialmente, se realmente quer ser “a luz do mundo” e “o sal da terra” –
como exigiu Jesus Cristo dos seus seguidores. Afinal, diante de Deus somos
responsáveis por todas as áreas da vida humana. A técnica e tecnologia, por
exemplo, não pode ser usada para a
destruição do ser humano; a política não pode limitar ou tirar a liberdade do
homem e a sua dignidade pessoal; o sistema econômico deve garantir a todas as
pessoas no mundo a possibilidade de
levar uma vida normal e digna, etc.
Hoje critica-se a Igreja não só
porque ela se “mete” nos acontecimentos do mundo (seculares), mas também, por
outro lado, que ela fica calada e está se omitindo, enquanto deveria tomar a
voz e assumir posições claras diante desses fatos ou acontecimentos da nossa
sociedade. Neste sentido, praticamente todos reconhecem, até mesmo os
não-cristãos, que são válidos e
importantes, por exemplo, os insistentes apelos e exortações do Papa em relação
à justiça social e à paz no mundo. Não podemos, porém, esperar que a Igreja
possua elaboradas e prontas as propostas para solucionar todos os problemas do mundo. O progresso da humanidade
cria constantemente sempre novas situações e por isso a Igreja precisa estar atenta e
trabalhar seriamente, sempre apoiando-se na Sagradas Escrituras – que
contém a
Palavra de Deus revelada, para encontrar respostas adequadas. Aqui vemos como é grande e direta a responsabilidade dos
cristãos leigos, que sobretudo trabalham e “servem em favor do mundo”. Nesses
assuntos justamente eles são verdadeiramente competentes. Todo cristão deve,
neste sentido, levar e realizar a sua fé no seio do mundo atual. (Compare Lumen Gentium – Constituição dogmática
sobre a Igreja, nº 30).
O correto é quando a Igreja
desempenha as suas tarefas no mundo, entendendo a sua
missão como “serviço” para o mundo e para o ser humano. Nunca deveria visar o seu próprio interesse. “Os cristãos não devem [...] desejar
ardentemente nada, a não ser aquilo, que
possa com eficácia e generosidade servir ao homem dos nossos tempos” (Vaticano II). Resumindo as tarefas
mencionadas à uma curta fórmula, podemos dizer: a Igreja deve ajudar ao homem a encontrar a si
próprio e lhe mostrar o seu papel e desafio neste
mundo, e faz isso quando auxilia o
ser humano a estabelecer contato com
Deus.
Não deve mandar na Igreja nem a
ânsia de poder terreno, nem arrogância. A sua missão é transmitir ao mundo inteiro
a revelação de Deus, e deve realizá-la em todas as circunstâncias, tanto
favoráveis como difíceis. A missão da Igreja é puramente religiosa e
justamente por isso também é humanitária, no mais alto grau. Sem cessar, ela
deve se empenhar para poder propor uma solução melhor possível para os
problemas sociais, comparando com o que
fazem outros grupos da sociedade.
A Igreja pode fazer isso, porque
olha para o mundo e para o homem através do prisma da fé, o que lhe permite
orientar-se bem em situação. Obviamente, isso não significa
que a Igreja pretenda, através da legislação oficial, fazer das suas opiniões
as normas obrigatórias para todos.
Não só a Igreja ajuda a sociedade
pela sua missão, mas também vice-versa, ela tem consciência, de que está
recebendo em diversas formas a ajuda da parte do mundo atual graças ao
progresso da ciência e da tecnologia. Também por causa disso a Igreja esforça-se
para manter um diálogo vivo em cada área e superar a negativa distância que se
formou, principalmente, ao longo dos
último séculos.
(KRENZER, F.
Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 169-170)²
___________________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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