Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

“Fora da Igreja não tem salvação” – frase polêmica, ou mal interpretada? Qual é o sentido?



Quando o tema  é a Igreja católica, torna se imprescindível abrir  espaço para falar também  sobre as questões polêmicas e as afirmações mal esclarecidas ou mal entendidas. Uma questão deste tipo é, sem dúvida,  a frase “Fora da Igreja não tem salvação”.

Imediatamente surgem várias perguntas, tipo: Como e quando  surgiu esta frase? O que ela realmente pretendia -  e talvez ainda  hoje possa – expressar? Trata-se de um erro ou, talvez, de interpretação equivocada?

Para analisar esta questão trago aqui mais um texto de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  É uma reflexão esclarecedora.
Não deixe  de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (é uma série de 16 textos publicados, com o começo no dia 31 de agosto de 2012  -  http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).



(21)
“Fora da Igreja não tem salvação”...?

Esta frase  refere-se ao tema “exclusividade da salvação na Igreja” e, infelizmente, freqüentemente induz ao erro.  O  que realmente isso quer dizer?

Deus quer que todos os homens sejam salvos  (1Tim 2,4).  O homem, no entanto, não consegue chegar a Deus apenas com as próprias forças. Conhecemos apenas “um único mediador entre Deus e os homens,  um homem:  Cristo Jesus , que se entregou para redenção de todos”(1 Tim 2,5).  Ele é, ao mesmo tempo, a ponte, que leva a Deus:  não  existe outro caminho de  salvação,  que passe fora dessa ponte.  Por isso também ninguém pode ser salvo  apenas “por sua própria conta”. Todos que alcançaram a salvação, salvam-se  exclusivamente por Cristo, mesmo se nunca nada ouviram dele.  Ele próprio disse sobre ele mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6), e já que Jesus Cristo continua vivo na sua Igreja e salva o seu povo através dela, então  “não tem como se salvar fora dessa Igreja”.

O mesmo diz Martinho Lutero (em alemão Martin Luther, 1483-1546): “Fora da Igreja ninguém consegue chegar ao Senhor nosso Jesus Cristo” (Grande catecismo, art. 3).  O próprio Jesus Cristo  acentua a  necessidade da fé e do batismo para ser salvo ( ver Jo 3,5;  Mc 16, 16), e  com isso indica a  necessidade da Igreja para a qual entramos justamente pelo batismo. Por isso, já o São Cipriano de Cartago (+258) formula a frase “Fora da Igreja não há salvação”.

Porém, isso não significa – e mais uma vez é  necessário reforçar este fato – que se alguém, sem a própria culpa e devido às diversas circunstâncias da vida, permanece fora da Igreja, esteja  rejeitado para sempre.  É verdade da fé na Igreja católica que nenhum homem será condenado sem a própria culpa. A maioria dos homens que está fora da Igreja, nunca se  deparou com a mensagem direta de Cristo  a eles dirigida, portanto eles não têm culpa nisso. O judeu, o islamita, ou hinduísta, que acreditam e levam a vida de  acordo com a sua fé, e  com coração sincero procuram Deus, podem alcançar a salvação eterna. O mesmo se refere aos homens que não chegam ao conhecimento de Deus, e  até os ateus que  se esforçam para viver de maneira correta e conforme a voz da sua consciência.

No entanto, todos os que permanecem fora da unidade visível da Igreja e recebem a salvação eterna – a recebem  através da Igreja.  Pelo fato de procurarem a vontade de Deus, eles são orientados para o Cristo, para a Igreja, e através disso alcançam a salvação. Por isso, invés falar que “fora da Igreja não tem salvação”, seria melhor dizer de maneira positiva: “todos são convidados à salvação pela Igreja”. Isso expressa o sentido correto da afirmação sobre a “exclusividade da salvação na Igreja”.

Se a questão  é assim – podem dizer alguns – para que, então, ainda falar de missões? Se também as pessoas que nada sabem de Jesus Cristo e de sua Igreja, podem se salvar, tem sentido  – surge esta pergunta - ainda fazer qualquer trabalho missionário? 

 Jesus Cristo queria ter uma sociedade organizada, em que as pessoas receberiam a sua Graça existente nos santos Sacramentos, e da qual ficariam privados  os  homens que estivessem fora dessa sociedade. A Igreja é uma oferta Divina para todos; a fé cristã proporciona a chance de encontrar mais luz e força no caminho da vida. Por causa disso Jesus Cristo ordena: Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome  do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a  observar tudo quanto vos mandei. E  eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo”(Mt 28, 19-20). Por isso não deveríamos falar que é indiferente pertencer ou não à Igreja, e que só o que  importa  é se salvar (compare Decreto “Ad Gentes”, do Concílio Vaticano II).

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 167-168)²

Continua...
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]

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