Quando o tema
é a Igreja católica, torna se imprescindível abrir espaço para falar também sobre as questões polêmicas e as afirmações
mal esclarecidas ou mal entendidas. Uma questão deste tipo é, sem dúvida, a frase “Fora da Igreja não tem salvação”.
Imediatamente surgem várias perguntas, tipo: Como e
quando surgiu esta frase? O que ela
realmente pretendia - e talvez
ainda hoje possa – expressar? Trata-se
de um erro ou, talvez, de interpretação equivocada?
Para analisar esta questão trago aqui mais um texto
de autoria de Ferdinand Krenzer¹. É uma reflexão
esclarecedora.
Não deixe de
ler.
WCejnog
Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto (é uma série de 16 textos publicados, com o começo no dia 31 de agosto
de 2012 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).
(21)
“Fora da Igreja não tem salvação”...?
Esta frase refere-se ao tema “exclusividade da salvação
na Igreja” e, infelizmente, freqüentemente induz ao erro. O que
realmente isso quer dizer?
Deus quer que todos os homens
sejam salvos (1Tim 2,4). O homem, no entanto, não consegue chegar a
Deus apenas com as próprias forças. Conhecemos apenas “um único mediador entre
Deus e os homens, um homem: Cristo Jesus , que se entregou para redenção
de todos”(1 Tim 2,5). Ele é, ao mesmo
tempo, a ponte, que leva a Deus:
não existe outro caminho de salvação,
que passe fora dessa ponte. Por
isso também ninguém pode ser salvo
apenas “por sua própria conta”. Todos que alcançaram a salvação,
salvam-se exclusivamente por Cristo,
mesmo se nunca nada ouviram dele. Ele próprio
disse sobre ele mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao
Pai senão por mim” (Jo 14, 6), e já que Jesus Cristo continua vivo na sua
Igreja e salva o seu povo através dela, então
“não tem como se salvar fora dessa Igreja”.
O mesmo diz Martinho Lutero (em
alemão Martin Luther, 1483-1546): “Fora da Igreja ninguém consegue
chegar ao Senhor nosso Jesus Cristo” (Grande catecismo, art. 3). O próprio Jesus Cristo acentua a
necessidade da fé e do batismo para ser salvo ( ver Jo 3,5; Mc 16, 16), e
com isso indica a necessidade da
Igreja para a qual entramos justamente pelo batismo. Por isso, já o São
Cipriano de Cartago (+258) formula a frase “Fora da Igreja não há salvação”.
Porém, isso não significa – e
mais uma vez é necessário reforçar este
fato – que se alguém, sem a própria culpa e devido às diversas circunstâncias
da vida, permanece fora da Igreja, esteja
rejeitado para sempre. É verdade
da fé na Igreja católica que nenhum homem será condenado sem a própria culpa. A
maioria dos homens que está fora da Igreja, nunca se deparou com a mensagem direta de Cristo a eles dirigida, portanto eles não têm culpa
nisso. O judeu, o islamita, ou hinduísta, que acreditam e levam a vida de acordo com a sua fé, e com coração sincero procuram Deus, podem
alcançar a salvação eterna. O mesmo se refere aos homens que não chegam ao
conhecimento de Deus, e até os ateus que
se esforçam para viver de maneira
correta e conforme a voz da sua consciência.
No entanto, todos os que
permanecem fora da unidade visível da Igreja e recebem a salvação eterna – a recebem através da
Igreja. Pelo fato de procurarem a
vontade de Deus, eles são orientados para o Cristo, para a Igreja, e através
disso alcançam a salvação. Por isso, invés falar que “fora da Igreja não tem
salvação”, seria melhor dizer de maneira positiva: “todos são convidados à
salvação pela Igreja”. Isso expressa o sentido correto da afirmação sobre a
“exclusividade da salvação na Igreja”.
Se a questão é assim – podem dizer alguns – para que,
então, ainda falar de missões? Se também as pessoas que nada sabem de Jesus
Cristo e de sua Igreja, podem se salvar, tem sentido – surge esta pergunta - ainda fazer qualquer
trabalho missionário?
Jesus Cristo queria ter uma sociedade
organizada, em que as pessoas receberiam a sua Graça existente nos santos
Sacramentos, e da qual ficariam privados os
homens que estivessem fora dessa sociedade. A Igreja é uma oferta Divina
para todos; a fé cristã proporciona a chance de encontrar mais luz e força no
caminho da vida. Por causa disso Jesus Cristo ordena: Ide, pois, fazei discípulos
meus todos os povos, batizando-os em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. E eis que estou convosco todos os dias até o
fim do mundo”(Mt 28, 19-20). Por isso não deveríamos falar que é indiferente
pertencer ou não à Igreja, e que só o que
importa é se salvar (compare
Decreto “Ad Gentes”, do Concílio Vaticano II).
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions
Du Dialogue, 1981, p. 167-168)²
Continua...
___________________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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