Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Igreja católica. Qual delas?



O tema das últimas postagens do blog Indagações era a Igreja católica como instituição. Conhecer e entender a organização da Igreja, os pontos mais discutidos da doutrina cristã, os ritos litúrgicas e as práticas  pastorais podem ajudar a quem quer  que seja, a ter uma compreensão mais profunda das questões ligadas à fé e à Igreja. 

Também as observações e análises  críticas têm um grande valor, pois permitem abrir o caminho para a conversão e a correção dos erros. A Igreja - penso eu – não pode  e não deve ter medo de críticas. A sua atitude deve ser a do seu Mestre e Fundador, Jesus Cristo: “Se falei mal mostra-me em que, mas se falei bem, por que me bates?” (Jo 18,23). Se a acusação for injusta – pedir explicações, e se não existirem  motivos – questionar a mentira e violência... Porém, lembrando-se que Jesus é Filho de Deus, e os homens não são seus “substitutos”, mas apenas servos, testemunhas, as pessoas sujeitas a errar. Muitas vezes as críticas apontam os fatos que realmente existem, e, neste caso, resta o caminho de  reflexão, de avaliação, de reconhecimento dos erros e de correção dos mesmos.

Salta aos nossos olhos, por exemplo, principalmente contemplando a América Latina e Caribe, o fato de coexistirem hoje na Igreja católica dois modelos de igreja: uma, que tenta se “impor” –  é a Igreja oficial, hierárquica, Instituição; e outra, “marginalizada” pela primeira - uma Igreja do povo de Deus, das CEB’s, dos pobres e marginalizados... Esse fenômeno começou na década 90 do século XX.  

A Igreja hierárquica evita falar oficialmente disso. Muitos dos seus ministros simplesmente só trabalham  no “seu modelo”, ignorando o outro...  Isto está certo? Como entender essa situação?  

Para quem tiver o interesse conhecer um pouco mais sobre a questão apontada acima, trago para o blog Indagações uma entrevista publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos, em abril de 2011, sobre os dois modelos da igreja dentro da mesma igreja. Foi entrevistado Pablo Richard. Muito interessante!
Não deixe de ler.
WCejnóg



Dois modelos de igreja dentro da mesma igreja. 

Entrevista com Pablo Richard

Por ocasião da realização da Jornada Teológica da América Central e Caribe,(...),  dia 29 de abril, na Guatemala, Pablo Richard, teólogo chileno, radicado na América Central, concedeu uma entrevista sobre o Impacto do Concílio Vaticano II e a teologia latino-americana. A entrevista é publicada por Adital, 29-04-2011.

Eis a entrevista.

Já está acontecendo a Jornada Teológica da América Central e Caribe, você irá falar sobre o impacto do Concílio Vaticano II e da teologia na América Latina. Poderia fazer uma introdução sobre o tema?

O momento do Vaticano II e depois de Medellín (Colômbia) e Puebla (México), que foi quando lemos o Vaticano II a partir da América Latina, essa época da teologia da libertação das comunidades de base, da grande quantidade de gente que participativa, eu digo que isso foi uma época de graças, foi um bom tempo a que nós chamamos de Kairós - um tempo de graça - mas a partir dos anos 90, nascem dois modelos de igreja.

Um, onde continua esse tempo bom, digamos assim, esse Kairós que chamamos a Igreja povo de Deus, mas surge outro modelo de igreja que rejeitava o Vaticano II. Surgem novos movimentos como: Opus Dei, Legionários de Cristo, Arautos do Evangelho e a igreja volta outra vez aos setores mais dominantes, os setores mais opressores, incluindo a igreja, essa igreja de cristandade - como eu chamo - perdem os pobres, a igreja, essa massa oficial perderam aos pobres, hoje em dia as populações marginais.
Para uma igreja católica, existem 20 igrejas evangélicas, os sacerdotes saíram das comunidades e foram para as paróquias de maior poder. Inclusive, agora as pessoas ricas dizem: "finalmente, a igreja está nos ajudando outra vez, porque havia nos abandonado etc.". Então, eu faço uma comparação um pouco entre a igreja do povo, que continua o Vaticano II, Medellín e Puebla, todas essas reformas, e essa outra igreja "cristandade" que está adormecida durante esse período de grande auge da teoria da libertação.

Sobre a existência de dois tipos de igreja, essa divisão é boa ou ruim?

É algo excelente. Não são duas igrejas, são dois tipos diferentes dentro de uma mesma Igreja. Porque se gera um movimento de renovação fora da Igreja, não gera nenhum impacto, tem que ser feito dentro da Igreja.

Mas é bom porque essa tradição do Vaticano II, de Medellín-Puebla e da teologia da libertação, essa se mantém na Igreja dos pobres. E essa igreja tem sua estrutura, está organizada, tem seus princípios não são maliciosos por aí dispersos. Mas temos esta outra igreja de cristandade, essa igreja mais hierárquica, etc.

Agora o problema tem sido justamente o poder mais central da igreja, porque o Vaticano está destruindo o próprio Vaticano II, a teologia da libertação, as comunidades eclesiais de base têm sido pouco a pouco deslegitimadas, deixadas de lado... E nisto tem concentrado toda a sua força; na defesa de um aparato institucional de cristandade, essa palavra de cristandade surge quando a igreja no século IV uniu-se ao império romano, então nasce o Império Romano Cristão e nessa época a igreja se fez imperial e o império se fez cristão, surgiu toda uma estrutura.

Nós dizemos que esta igreja de cristandade toma, retoma esse modelo de igreja imperial e para mim essa igreja não foi um triunfo do cristianismo, foi um fracasso do cristianismo. Com Teodósio chega a ser a religião oficial e isso faz muito mal à igreja. Muitos o percebem como triunfo, que finalmente o império... Não, para mim o império cristão é o fracasso para o movimento de Jesus.
Hoje em dia esta igreja do Vaticano II recupera essa tradição do movimento de Jesus, mas reaparece esse modelo de cristandade, este modelo imperial. Então, nós dizemos que o Papa se parece mais com o Imperador Romano do que a São Pedro. O Papa usa todas as insígnias que usavam os imperadores romanos, incluindo as cores, dos cardeais, por exemplo, eram cores dos senadores romanos dentro do Império. É uma Igreja que se apóia mais no poder e no dinheiro para sobreviver.

Mas a igreja dos pobres é uma igreja que os pobres precisam para viver, tem muita gente que na igreja encontra a possibilidade de ser sujeito, de ser pessoa, no trabalho que fazemos nesse nível. Eu, pessoalmente, trabalho com as pessoas nas ruas, tenho isso na minha paróquia - a rua - com umas cem pessoas mais ou menos, trabalhamos com eles. Alguns são homossexuais, travestis, doentes da Aids, na violência, vamos formando pequenos grupos da igreja, nesta igreja - que vamos construindo na rua - as pessoas encontram a possibilidade de sobreviver. Essa igreja sobrevive dessa gente que a igreja hierárquica afasta.

Nós não pedimos dinheiro para nada, mas lhes damos a oportunidade de se reunir, de conversar.


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