Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Igreja católica e as outras Igrejas. Qual é a relação entre elas?



Hoje, no mundo existem muitas Igrejas cristãs. Algumas são antigas, chamadas ‘históricas”; varias outras foram surgindo aos poucos, como fruto das cismas, divisões e novas concepções que apareciam dentro dessas religiões, e,  nas últimas décadas, observamos a “multiplicação” das “novas”  Igrejas, sobretudo Igrejas evangélicas e independentes.  Todas elas baseiam-se na Bíblia e pregam Jesus Cristo.

Sabemos que a Igreja católica tem forte convicção de ser autêntica guardiã da doutrina recebida de Jesus Cristo, realizando – mesmo que  de maneira imperfeita – desde o início até os dias de hoje,  a ordem de Cristo de pregar ao mundo inteiro o Evangelho da Boa Nova.

Não é de se estranhar que muitas pessoas fiquem desorientadas, quando se deparam com numerosas perguntas e questionamentos em relação a esse quadro, por exemplo:  Por que tantas Igrejas? Onde encontrar a verdade?  O que a Igreja católica afirma neste caso? Como é a sua relação com as demais Igrejas?  Qual é o seu ponto de vista?...  Sabemos que  nem sempre as respostas são claras e satisfatórias.

Para analisar essas questões  trago aqui mais um texto de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  A leitura pode ser muito útil para todas as pessoas interessadas em entender um pouco melhor esse assunto.
Não deixe  de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (é uma série de 16 textos publicados, com o começo no dia 31 de agosto de 2012  - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html  ).


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A Igreja católica  e as Igrejas

A pergunta concreta que todo mundo faz hoje em dia é: Onde  pode-se encontrar, de fato, a Igreja de Cristo? Muitos cristãos declaram, com toda a  sinceridade: se os meus pais fossem evangélicos, ou católicos, ou  ortodoxos – também eu seria evangélico, ou católico, ou ortodoxo... Também estaria convicto que pertenço à “verdadeira “ Igreja. Como, então, fica essa Igreja concreta, fundada por Jesus Cristo, em  relação às comunidades eclesiais (Igrejas), que existem hoje no mundo? Pois, nenhum cristão supõe, e nem admite, que a Igreja de Cristo – contrariando a promessa do seu Fundador – deixou de existir. Não podemos aceitar a afirmação do Lessing²: “o anel verdadeiro provavelmente se perdeu”. Por outro lado, várias Igrejas  que professam verdades de fé opostas e mutuamente não reconhecem a importância e  necessidade de vida  sacramental, não podem ser,  ao mesmo tempo,  a única Igreja de Cristo.
Sobre isso a Igreja católica se  pronunciou no Concílio Vaticano II: “Essa Igreja [...] está presente na Igreja católica, dirigida pelo sucessor de São Pedro e pelos bispos, que estão com  ele em comunhão; contudo, também fora desse seu organismo existem numerosos elementos de santificação e da verdade” (Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, nr 8). Com isso se diz que a Igreja de Jesus Cristo existe e pode ser reconhecida.
Agora surge uma outra pergunta: O que a Igreja católica pensa sobre os demais cristãos? Eles também pertencem à Igreja? Ou para eles nega-se a pertença à Igreja?
O texto citado acima, da Constituição Dogmática sobre a Igreja responde também a estas questões.  Esse decreto conciliar permite-nos a afirmar que a formulação desse texto foi proposital: A Igreja de Cristo “é” Igreja católica, mas complementa que “ela existe em...”. Quer dizer que a “eclesialidade”  e a Igreja católica não se sobrepõem; a  eclesialidade é um conceito mais amplo.

A “santificação” e a “verdade” constituem – sem dúvida – elementos da Igreja, mas podem ser encontradas – como diz o documento – também fora da Igreja católica. O mesmo Concílio reconheceu que uma riqueza imensa  dos valores cristãos existe também fora da Igreja católica. Ademais, é perfeitamente possível que alguns valores cristãos são realizados mais plenamente fora da Igreja católica do que nela mesma.
Continuando, o Concílio Vaticano II afirmou: “ Quanto aqueles homens que pelo batismo são cristãos mas não confessam integralmente a fé ou não estão em comunhão com o sucessor de São Pedro, a Igreja sabe que está ligada com  eles por numerosos motivos (Lumen Gentium, Nr 15). O Decreto conciliar tece o mesmo pensamento sobre o ecumenismo, dizendo: “A Igreja católica dirige-lhes (aos irmãos separados) um respeito fraterno e amor. Porque esses, que crêem em Jesus Cristo e receberam validamente o batismo, permanecem de  alguma forma, mesmo que imperfeita, em comunhão com a comunidade da Igreja católica [...]” (Nr 3). Isto quer dizer que existem níveis de realização da Igreja, e a ligação com ela pode ser menos ou mais intensiva. Em todo caso, os cristãos separados – como sublinha isso o próprio Decreto – “justificados pela fé, pelo batismo pertencem ao Corpo de Cristo, por isso possuem o nobre nome de cristãos, e os filhos  da Igreja católica os consideram irmãos em Cristo” (Nr 3). A Igreja católica sabe que o “Espírito de Cristo” e a sua graça estão presentes também nessas Igrejas.
Conforme o que foi dito acima, também fora da Igreja católica realiza-se a Igreja, apesar de que  – na nossa opinião – não do modo perfeito,  porque faltam alguns importantes elementos, com os  quais Jesus Cristo marcou  a sua Igreja. Por exemplo, alguns não possuem a plena doutrina dos Apóstolos, ou não têm o ofício histórico de bispo. Por outro lado, dissemos também que a Igreja católica não se considera, de jeito nenhum, como “perfeita”, mas ao contrário, considera-se como uma Igreja que “está a caminho”.
Alguns  podem  ficar surpresos com o que foi dito acima, porque baseando-se apenas naquilo que  ouvia, imaginava que a posição da Igreja católica fosse muito mais intolerante e autocrática. Talvez outros vão julgar essa posição da Igreja católica como arrogante demais. Peço, no entanto, que pensem uma coisa:  até mesmo aquelas mais  que 340  Igrejas membros, que têm representantes no Concílio Ecumênico de Igrejas³, declararam claramente que hão de considerar-se mutuamente como Igrejas, no sentido pleno desta palavra.
Por isso estão em vigor essas exigências. A convicção profunda – sabemos -  não é o sinônimo de intolerância. Uns e outros deveriam, talvez, reconhecer mais que cada uma dessas orientações tenta realmente procurar a vontade de Cristo, e que  as diferenças existem mais por causa disso e não  por causa dos interesses de grupos ou por causa de pura teimosia. Também a Igreja católica deseja muito que através de doutrina que ela apresenta e prega, possa-se concretizar aquela Igreja, que o próprio Cristo queria. Por causa do amor a todos os  cristãos deve ela preservar “para todos” – conforme a sua convicção – isso tudo que Jesus Cristo estabeleceu de forma definitiva.
No Decreto, mencionado anteriormente, os católicos são advertidos para respeitarem os demais cristãos, evitando qualquer ofensa, e para colaborarem com os irmãos separados, tentando, através do diálogo, conhecer e compreendê-los melhor, e também com alegria reconhecer os verdadeiros bens de todos os cristãos, que constituem a herança de todos.
Apesar de forte convicção que o caminho do cristianismo baseia-se na verdade inabalável, a fé cristã pode e deve ser humilde, precisando livrar-se de toda arrogância em relação aos irmãos separados, mas também em relação aos não-cristãos. Também a Igreja católica sabe perfeitamente que continuamente permanece bem atrás daquilo o que deveria ser segundo o desejo de Cristo. Por isso o caminho para a união começa  partindo da própria conversão interior.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 164-166) ⁴.

Continua...
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.[N. Do T.]

²  Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), escritor alemão  [N. Do T.]
³ O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) é a principal organização ecumênica em nível internacional, fundada em 1948, em Amsterdam, Holanda. Com sede em Genebra, Suíça, o CMI congrega mais de 340 igrejas e denominações em sua membresia. Estas igrejas e denominações representam mais de 500 milhões de fiéis presentes em mais de 120 países. [...]
Entre seus membros estão igrejas protestantes e ortodoxas, também algumas pentecostais e independentes. A Igreja Católica não faz parte desta organização, mas tem com ela um grupo de trabalho permanente e participa como membro pleno de alguns departamentos, como na Comissão de Fé e Ordem e na Comissão de Missão e Evangelismo. [N.Do.T.] -  Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conselho_Mundial_de_Igrejas.

⁴ Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]

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