Hoje, no mundo existem muitas Igrejas cristãs.
Algumas são antigas, chamadas ‘históricas”; varias outras foram surgindo aos
poucos, como fruto das cismas, divisões e novas concepções que apareciam dentro
dessas religiões, e, nas últimas
décadas, observamos a “multiplicação” das “novas” Igrejas, sobretudo Igrejas evangélicas e
independentes. Todas elas baseiam-se na
Bíblia e pregam Jesus Cristo.
Sabemos que a Igreja católica tem forte convicção
de ser autêntica guardiã da doutrina recebida de Jesus Cristo, realizando –
mesmo que de maneira imperfeita – desde
o início até os dias de hoje, a ordem de
Cristo de pregar ao mundo inteiro o Evangelho da Boa Nova.
Não é de se estranhar que muitas pessoas fiquem desorientadas,
quando se deparam com numerosas perguntas e questionamentos em relação a esse
quadro, por exemplo: Por que tantas
Igrejas? Onde encontrar a verdade? O que
a Igreja católica afirma neste caso? Como é a sua relação com as demais
Igrejas? Qual é o seu ponto de vista?... Sabemos que
nem sempre as respostas são claras e satisfatórias.
Para analisar essas questões trago aqui mais um texto de autoria de
Ferdinand Krenzer¹. A leitura pode ser
muito útil para todas as pessoas interessadas em entender um pouco melhor esse
assunto.
Não deixe de
ler.
WCejnog
Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto (é uma série de 16 textos publicados, com o começo no dia 31 de agosto
de 2012 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).
(19)
A Igreja católica e as Igrejas
A pergunta concreta que todo
mundo faz hoje em dia é: Onde pode-se
encontrar, de fato, a Igreja de Cristo? Muitos cristãos declaram, com toda
a sinceridade: se os meus pais fossem
evangélicos, ou católicos, ou ortodoxos
– também eu seria evangélico, ou católico, ou ortodoxo... Também estaria
convicto que pertenço à “verdadeira “ Igreja. Como, então, fica essa Igreja concreta,
fundada por Jesus Cristo, em relação às
comunidades eclesiais (Igrejas), que existem hoje no mundo? Pois, nenhum
cristão supõe, e nem admite, que a Igreja de Cristo – contrariando a promessa
do seu Fundador – deixou de existir. Não podemos aceitar a afirmação do Lessing²:
“o anel verdadeiro provavelmente se perdeu”. Por outro lado, várias Igrejas que professam verdades de fé opostas e
mutuamente não reconhecem a importância e
necessidade de vida sacramental,
não podem
ser, ao mesmo tempo, a única Igreja de Cristo.
Sobre isso a Igreja católica
se pronunciou no Concílio Vaticano II:
“Essa Igreja [...] está presente na Igreja católica, dirigida pelo sucessor de
São Pedro e pelos bispos, que estão com ele em comunhão; contudo, também fora desse
seu organismo existem numerosos elementos de santificação e da verdade” (Constituição
dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium,
nr 8). Com isso se diz que a Igreja de Jesus Cristo existe e pode ser
reconhecida.
Agora surge uma outra pergunta: O
que a Igreja católica pensa sobre os demais cristãos? Eles também pertencem à
Igreja? Ou para eles nega-se a pertença à Igreja?
O texto citado acima, da
Constituição Dogmática sobre a Igreja responde também a estas questões. Esse decreto conciliar permite-nos a afirmar
que a formulação desse texto foi proposital: A Igreja de Cristo “é” Igreja
católica, mas complementa que “ela existe em...”. Quer dizer que a
“eclesialidade” e a Igreja católica não
se sobrepõem; a eclesialidade é um
conceito mais amplo.
A “santificação” e a “verdade” constituem – sem dúvida – elementos da Igreja, mas podem ser encontradas – como diz o documento – também fora da Igreja católica. O mesmo Concílio reconheceu que uma riqueza imensa dos valores cristãos existe também fora da Igreja católica. Ademais, é perfeitamente possível que alguns valores cristãos são realizados mais plenamente fora da Igreja católica do que nela mesma.
A “santificação” e a “verdade” constituem – sem dúvida – elementos da Igreja, mas podem ser encontradas – como diz o documento – também fora da Igreja católica. O mesmo Concílio reconheceu que uma riqueza imensa dos valores cristãos existe também fora da Igreja católica. Ademais, é perfeitamente possível que alguns valores cristãos são realizados mais plenamente fora da Igreja católica do que nela mesma.
Continuando, o Concílio Vaticano
II afirmou: “ Quanto aqueles homens que pelo batismo são cristãos mas não
confessam integralmente a fé ou não estão em comunhão com o sucessor de São
Pedro, a Igreja sabe que está ligada com
eles por numerosos motivos (Lumen Gentium, Nr 15). O Decreto conciliar
tece o mesmo pensamento sobre o ecumenismo, dizendo: “A Igreja católica
dirige-lhes (aos irmãos separados) um respeito fraterno e amor. Porque esses,
que crêem em Jesus Cristo e receberam validamente o batismo, permanecem de alguma forma, mesmo que imperfeita, em
comunhão com a comunidade da Igreja católica [...]” (Nr 3). Isto quer dizer que
existem níveis de realização da Igreja, e a ligação com ela pode ser menos ou
mais intensiva. Em todo caso, os cristãos separados – como sublinha isso o
próprio Decreto – “justificados pela fé, pelo batismo pertencem ao Corpo de
Cristo, por isso possuem o nobre nome de cristãos, e os filhos da Igreja católica os consideram irmãos em
Cristo” (Nr 3). A Igreja católica sabe que o “Espírito de Cristo” e a sua graça
estão presentes também nessas Igrejas.
Conforme o que
foi dito acima, também fora da Igreja católica realiza-se a Igreja, apesar de
que – na nossa opinião – não do modo
perfeito, porque faltam alguns
importantes elementos, com os quais
Jesus Cristo marcou a sua Igreja. Por
exemplo, alguns não possuem a plena doutrina dos Apóstolos, ou não têm o ofício
histórico de bispo. Por outro lado, dissemos também que a Igreja católica não
se considera, de jeito nenhum, como “perfeita”, mas ao contrário, considera-se
como uma Igreja que “está a caminho”.
Alguns podem ficar surpresos com o que foi dito acima,
porque baseando-se apenas naquilo que
ouvia, imaginava que a posição da Igreja católica fosse muito mais
intolerante e autocrática. Talvez outros vão julgar essa posição da Igreja
católica como arrogante demais. Peço, no entanto, que pensem uma coisa: até mesmo aquelas mais que 340 Igrejas membros, que têm representantes no
Concílio Ecumênico de Igrejas³, declararam claramente que hão de considerar-se
mutuamente como Igrejas, no sentido pleno desta palavra.
Por isso estão em vigor essas
exigências. A convicção profunda – sabemos - não é o sinônimo de intolerância. Uns e outros
deveriam, talvez, reconhecer mais que cada uma dessas orientações tenta
realmente procurar a vontade de Cristo, e que as diferenças existem mais por causa disso e
não por causa dos interesses de grupos
ou por causa de pura teimosia. Também a Igreja católica deseja muito que
através de doutrina que ela apresenta e prega, possa-se concretizar aquela
Igreja, que o próprio Cristo queria. Por causa do amor a todos os cristãos deve ela preservar “para todos” –
conforme a sua convicção – isso tudo que Jesus Cristo estabeleceu de forma
definitiva.
No Decreto, mencionado
anteriormente, os católicos são advertidos para respeitarem os demais cristãos,
evitando qualquer ofensa, e para colaborarem com os irmãos separados, tentando,
através do diálogo, conhecer e compreendê-los melhor, e também com alegria
reconhecer os verdadeiros bens de todos os cristãos, que constituem a herança
de todos.
Apesar de forte convicção que o
caminho do cristianismo baseia-se na verdade inabalável, a fé cristã pode e
deve ser humilde, precisando livrar-se de toda arrogância em relação aos irmãos
separados, mas também em relação aos não-cristãos. Também a Igreja católica
sabe perfeitamente que continuamente permanece bem atrás daquilo o que deveria
ser segundo o desejo de Cristo. Por isso o caminho para a união começa partindo da própria conversão interior.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions
Du Dialogue, 1981, p. 164-166) ⁴.
Continua...
___________________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.[N.
Do T.]
² Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), escritor
alemão [N. Do T.]
³ O Conselho Mundial de
Igrejas (CMI) é a principal organização ecumênica em nível
internacional, fundada em 1948, em Amsterdam, Holanda. Com sede em Genebra,
Suíça, o CMI congrega mais de 340 igrejas e denominações em sua membresia.
Estas igrejas e denominações representam mais de 500 milhões de fiéis presentes
em mais de 120 países. [...]
Entre seus membros estão igrejas
protestantes e ortodoxas, também algumas pentecostais e independentes. A Igreja
Católica não faz parte desta organização, mas tem com ela um grupo de trabalho
permanente e participa como membro pleno de alguns departamentos, como na
Comissão de Fé e Ordem e na Comissão de Missão e Evangelismo. [N.Do.T.] - Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conselho_Mundial_de_Igrejas.
⁴ Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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