Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 18 de novembro de 2012

O dia do juízo. O fim do mundo. Dá para compreender?



Para a maioria dos leitores, as leituras bíblicas de teor apocalíptico sempre deixam  uma dose  maior de curiosidade e também a incerteza de terem compreendido, ou  não, o seu verdadeiro conteúdo. E permanece uma imagem indefinida de algo muito longínquo e, ao mesmo tempo, muito próximo...

No texto do Evangelho segundo Marcos, capítulo 13, temos um discurso de Jesus, em tom profético e apocalíptico, que para a maioria das pessoas é de difícil compreensão. Jesus fala do fim do mundo, da vinda do Filho do homem sobre as nuvens, com grande poder e força... Reunirá os eleitos... E garante, que passará o céu e a terra, mas as suas palavras não passarão!.. Disse ainda que isso tudo é um mistério intransponível! (Ninguém conhece quando essas coisas acontecerão – a não ser só Deus!).

Como sempre em situações semelhantes, muitas pessoas, simplesmente lêem e interpretam essas palavras ao pé da letra, alegando: como trata-se da Palavra de Deus, e essa Palavra não engana, então  será como está escrito!
Tem gente também, que não sabe o significado desses textos, mas “deixa prá lá”, não procura entender. E tem muitas outras pessoas, que tentam entender, estão curiosas em saber, mas as  explicações encontradas sempre deixam algo a desejar...

Não há dúvida que já ouvimos muitos comentários sobre esse texto. Porém, sempre podemos encontrar novos elementos, ideias e novas “luzes” que nos ajudam a compreendê-lo melhor.

Trago aqui,  no blog Indagações, o comentário de  Asun Gutiérrez Cabriada  sobre o texto do Evangelho segundo Marcos, citado acima.  É uma reflexão maravilhosa.
Não deixe de ler.
WCejnog

[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat:  http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom33B12port.pps    Trabalho muito bonito!]



No dia do juízo escurecerão as estrelas
não pela diminuição da sua ardente luz,
mas pela claridade que chegará da verdadeira Luz: JESUS

Beda, o Venerável


Na Bíblia há dois livros apocalípticos: O livro de Daniel e o Apocalipse de João.  Mas há alguns parágrafos de outros livros que têm esta mesma forma literária.
Por exemplo, o evangelho de hoje, que faz parte de um parágrafo maior (Mc 13,1-31) e que os biblistas chamam Discurso escatológico de Jesus.
Textos que serviram noutros tempos para assustar e para tratar de fundamentar uma imagem de Deus que causava medo e rejeição, em vez de atração e vontade de o escutar.

Hoje está claro que essa não é a imagem e o ser de Deus que Jesus nos transmite.A interpretação da Palavra tem de se situar no tempo  e na cultura em que foi escrita, e tem de se conhecer o gênero literário que se utiliza em cada livro da Bíblia.

A liturgia deste domingo propõe-nos uns textos que pertencem ao gênero apocalíptico, um dos mais estranhos para nós, frequente entre alguns grupos judeus e cristãos da época. Os seus destinatários eram, geralmente, grupos em crise aos quais se oferecia uma mensagem de ânimo e consolo.

 Entender este texto como simples ameaça de catástrofes e calamidades,  é não ter compreendido nada do pensamento de Jesus. Não se trata duma descrição angustiosa, mas cheia de esperança.

  
Evangelho segundo Marcos 13, 24-32.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas.
Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu.
Aprendei  a parábola da figueira:  quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta.
Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece:  nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai.


Comentário

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas.

Jesus é sempre Boa Notícia. As imagens que usa esta literatura apocalíptica estão cheias e transbordantes de vida. Para despertar a esperança, para afirmar a confiança em Deus.
Mais importante que o medo perante o futuro é o ânimo para o presente. Mais que um discurso sobre os últimos tempos é a indicação de como há que viver cada dia. Referem-se mais às atitudes que aos acontecimentos.
Não se trata tanto do fim do mundo natural mas do fim do mundo da tribulação, da tristeza, da doença, das desgraças, da morte... A vinda e a presença definitivas de Jesus é, para toda a humanidade, motivo do maior consolo e da maior esperança. 

Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu.

Temos a grande sorte e a imensa alegria de saber que  aquele que virá como Juiz é o mesmo em quem acreditamos, a quem escutamos, em quem confiamos, a quem tentamos seguir. Quem mais nos compreende e mais nos quer. A nossa vida está orientada para o nosso encontro feliz e definitivo com Jesus. Que virá, que está vindo já à minha vida, aos meus sonhos, ao meu coração, ao meu mundo...
Que trará, que está trazendo já a alegria, a verdade, a paz, as ocasiões para amar, uma canção de esperança... Esse é o anúncio que Deus nos promete em Jesus. E o que nos pede para anunciar ao mundo.
O seu triunfo definitivo implica também o nosso.

Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta.

Jesus convida-nos a viver em profundidade, com alegria e responsabilidade, a prestar atenção aos sinais dos tempos, porque o futuro palpita no nosso presente como a vida na figueira, aparentemente sem vida durante o frio inverno.
Mesmo que às vezes sintamos “outonos” na nossa vida,  temos a segurança de que cedo os ramos se porão tenros, brotarão os brotos.... Chegará o nosso Verão.


Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho;
só o Pai».

O importante não é saber “quando" e "como" acontecerão estas coisas do fim, nem para o cosmos nem para a humanidade nem para cada um de nós. O que acontecerá no fim do mundo, ou no momento da nossa morte,  vamo-lo construindo dia a dia.
Jesus convoca-nos. É a festa da nova humanidade.
Contamos com a feliz promessa de que “não passará esta geração sem que aconteça a Boa Notícia de Jesus”. É a festa da Confiança e da Esperança!


Vai ao seu encontro 

Deixa já esses cantos intermináveis,
esse passar e repassar as tuas contas...
A quem adoras nesse escuro e solitário canto do templo
com todas as portas fechadas?

Deus está onde o lavrador lavra a terra dura,
onde o caminheiro parte a pedra.
Está, com eles, debaixo do sol e da chuva,
e a sua roupa está coberta de pó.

Tira esse manto sagrado
e desce com Ele à terra poeirenta!

Falas de libertação.
Onde queres encontrar a libertação?
O próprio Mestre se uniu gozosamente à criação,
se uniu a todos nós para sempre.

Sai das tuas meditações.
Põe de lado as tuas flores e o teu incenso!
Que importa que as tuas roupas se rasguem ou fiquem sujas?

Vai ao seu encontro, põe-te junto d’Ele, a trabalhar,
com o suor do teu rosto!

Vou ao teu encontro, Senhor!

Rabindranath Tagore



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