Para a maioria dos leitores, as
leituras bíblicas de teor apocalíptico sempre deixam uma dose
maior de curiosidade e também a incerteza de terem compreendido, ou não, o seu verdadeiro conteúdo. E permanece
uma imagem indefinida de algo muito longínquo e, ao mesmo tempo, muito
próximo...
No texto do Evangelho segundo
Marcos, capítulo 13, temos um discurso de Jesus, em tom profético e
apocalíptico, que para a maioria das pessoas é de difícil compreensão. Jesus
fala do fim do mundo, da vinda do Filho do homem sobre as nuvens, com grande
poder e força... Reunirá os eleitos... E garante, que passará o céu e a terra,
mas as suas palavras não passarão!.. Disse ainda que isso tudo é um mistério
intransponível! (Ninguém conhece quando essas coisas acontecerão – a não ser só
Deus!).
Como sempre em situações
semelhantes, muitas pessoas, simplesmente lêem e interpretam essas palavras ao
pé da letra, alegando: como trata-se da Palavra de Deus, e essa Palavra não
engana, então será como está escrito!
Tem gente também, que não sabe
o significado desses textos, mas “deixa prá lá”, não procura entender. E tem
muitas outras pessoas, que tentam entender, estão curiosas em saber, mas
as explicações encontradas sempre deixam
algo a desejar...
Não há dúvida que já ouvimos
muitos comentários sobre esse texto. Porém, sempre podemos encontrar novos
elementos, ideias e novas “luzes” que nos ajudam a compreendê-lo melhor.
Trago aqui, no blog Indagações, o comentário de Asun Gutiérrez
Cabriada sobre o texto do Evangelho
segundo Marcos, citado acima. É uma
reflexão maravilhosa.
Não
deixe de ler.
WCejnog
[Os interessados
pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas
Beneditinas de Montesserrat: http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom33B12port.pps Trabalho
muito bonito!]
No dia do juízo
escurecerão as estrelas
não pela diminuição da sua ardente luz,
mas pela claridade que chegará da verdadeira Luz: JESUS
não pela diminuição da sua ardente luz,
mas pela claridade que chegará da verdadeira Luz: JESUS
Beda, o
Venerável
Na
Bíblia há dois livros apocalípticos: O livro de Daniel e o Apocalipse de João. Mas há alguns parágrafos de outros livros que
têm esta mesma forma literária.
Por
exemplo, o evangelho de hoje, que faz parte de um parágrafo maior (Mc 13,1-31) e que os
biblistas chamam Discurso escatológico de Jesus.
Textos
que serviram noutros tempos para assustar e para tratar de fundamentar uma
imagem de Deus que causava medo e rejeição, em vez de atração e vontade de o
escutar.
Hoje
está claro que essa não é a imagem e o ser de Deus que Jesus nos transmite.A
interpretação da Palavra tem de se situar no tempo e na cultura em que foi escrita, e tem de se conhecer
o gênero literário que se utiliza em cada livro da Bíblia.
A
liturgia deste domingo propõe-nos uns textos que pertencem ao gênero
apocalíptico, um dos mais estranhos para nós, frequente entre alguns grupos
judeus e cristãos da época. Os seus destinatários eram, geralmente, grupos em
crise aos quais se oferecia uma mensagem de ânimo e consolo.
Entender este texto como simples ameaça de
catástrofes e calamidades, é não ter
compreendido nada do pensamento de Jesus. Não se trata duma descrição angustiosa,
mas cheia de esperança.
Evangelho segundo Marcos 13,
24-32.
Naquele tempo, disse Jesus
aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol
escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as
forças que há nos céus serão abaladas.
Então, hão-de ver o Filho do
homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos,
para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra
à extremidade do céu.
Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as
folhas, sabeis que o verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecer
estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta.
Em verdade vos digo: Não
passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os
conhece: nem os Anjos do Céu, nem o
Filho; só o Pai.
Comentário
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a
lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos
céus serão abaladas.
Jesus é
sempre Boa Notícia. As imagens que usa esta literatura apocalíptica estão
cheias e transbordantes de vida. Para despertar a esperança, para afirmar a
confiança em Deus.
Mais importante que o medo perante o futuro é o ânimo para o presente. Mais que um discurso sobre os últimos tempos é a indicação de como há que viver cada dia. Referem-se mais às atitudes que aos acontecimentos.
Mais importante que o medo perante o futuro é o ânimo para o presente. Mais que um discurso sobre os últimos tempos é a indicação de como há que viver cada dia. Referem-se mais às atitudes que aos acontecimentos.
Não se
trata tanto do fim do mundo natural mas do fim do mundo da tribulação, da
tristeza, da doença, das desgraças, da morte... A vinda e a presença
definitivas de Jesus é, para toda a humanidade, motivo do maior consolo e da
maior esperança.
Então, hão-de ver o Filho do homem vir
sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir
os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à
extremidade do céu.
Temos a
grande sorte e a imensa alegria de saber que
aquele que virá como Juiz é o mesmo em quem acreditamos, a quem
escutamos, em quem confiamos, a quem tentamos seguir. Quem mais nos compreende
e mais nos quer. A nossa vida está orientada para o nosso encontro feliz e
definitivo com Jesus. Que virá, que está vindo já à minha vida, aos meus
sonhos, ao meu coração, ao meu mundo...
Que
trará, que está trazendo já a alegria, a verdade, a paz, as ocasiões para amar,
uma canção de esperança... Esse é o anúncio que Deus nos promete em Jesus. E o
que nos pede para anunciar ao mundo.
O seu
triunfo definitivo implica também o nosso.
Aprendei a parábola da figueira: quando os
seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo. Assim
também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está
perto, está mesmo à porta.
Jesus
convida-nos a viver em profundidade, com alegria e responsabilidade, a prestar
atenção aos sinais dos tempos, porque o futuro palpita no nosso presente como a
vida na figueira, aparentemente sem vida durante o frio inverno.
Mesmo
que às vezes sintamos “outonos” na nossa vida,
temos a segurança de que cedo os ramos se porão tenros, brotarão os
brotos.... Chegará o nosso Verão.
Em verdade vos digo: Não passará esta
geração sem que tudo isto aconteça.
Passará o céu e a terra, mas as minhas
palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem
os Anjos do Céu, nem o Filho;
só o Pai».
O
importante não é saber “quando" e "como" acontecerão estas
coisas do fim, nem para o cosmos nem para a humanidade nem para cada um de nós.
O que acontecerá no fim do mundo, ou no momento da nossa morte, vamo-lo construindo dia a dia.
Jesus
convoca-nos. É a festa da nova humanidade.
Contamos
com a feliz promessa de que “não passará esta geração sem que aconteça a Boa Notícia de Jesus”. É a festa da Confiança e da Esperança!
Vai ao seu encontro
Deixa já esses cantos intermináveis,
esse passar e repassar as tuas contas...
Deixa já esses cantos intermináveis,
esse passar e repassar as tuas contas...
A quem adoras nesse escuro e
solitário canto do templo
com todas as portas fechadas?
com todas as portas fechadas?
Deus está onde o lavrador
lavra a terra dura,
onde o caminheiro parte a pedra.
onde o caminheiro parte a pedra.
Está, com eles, debaixo do
sol e da chuva,
e a sua roupa está coberta de pó.
e a sua roupa está coberta de pó.
Tira esse manto sagrado
e desce com Ele à terra poeirenta!
e desce com Ele à terra poeirenta!
Falas de libertação.
Onde queres encontrar a
libertação?
O próprio Mestre se uniu gozosamente à criação,
se uniu a todos nós para sempre.
O próprio Mestre se uniu gozosamente à criação,
se uniu a todos nós para sempre.
Sai das tuas meditações.
Põe de lado as tuas flores e
o teu incenso!
Que importa que as tuas
roupas se rasguem ou fiquem sujas?
Vai ao seu encontro, põe-te
junto d’Ele, a trabalhar,
com o suor do teu rosto!
com o suor do teu rosto!
Vou ao teu encontro, Senhor!
Rabindranath Tagore
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