Continuamos o tema sobre a Igreja. Jesus Cristo reuniu Apóstolos e discípulos e
lhes ordenou a continuar a sua obra neste mundo – a pregar a Boa Nova a toda a
criatura. Assim nasceu a Igreja fundada por Ele. Esta Igreja, decorridos dois
milênios passou por muitas
transformações e mudanças. A Igreja Católica atravessou toda essa
história e até os nossos tempos continua firmando-se nas bases dos Apóstolos,
sentindo-se a fiel guardiã do depósito da fé cristã. Porém, nesses vinte
séculos, como fruto de divisões e cismas, também surgiram muitas outras Igrejas cristãs, que seguem
caminhos separados, mas acreditam na mesma missão e empenham-se na realização da mesma ordem de
Cristo.
Como entender esse processo? Todas elas pregam o
Evangelho de Cristo, e esse
Cristo desejava muito que fosse uma só Igreja, um só rebanho, um só pastor... O que pensar disso tudo?
Para refletir um pouco mais profundamente
sobre essas questões trago aqui mais um texto de autoria de
Ferdinand Krenzer¹. A leitura pode ser
muito útil para todas as pessoas interessadas em esclarecer as suas dúvidas
e/ou entender toda essa situação das Igrejas cristãs no mundo.
É interessante.
Não deixe de ler.
WCejnog
Para poder acompanhar
com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é
aconselhável ler desde o início todos os
seus textos sobre este assunto (é uma
série de 16 textos publicados, com o começo no dia 31 de agosto de 2012 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).
(18)
Várias Igrejas no
mundo, mas, mesmo assim, existem laços de união.
Muitas dificuldades
provenientes da diversidade das Igrejas
particulares e locais certamente, ao longo da história, levariam às mais
diferentes divisões, se não existissem
laços de união. Essa união só existe porque Jesus Cristo a prometeu para
sua Igreja, e ela tornou-se visível na profissão da mesma fé, como também no
ofício do bispo e do papa.
Falamos já da
diversidade na unidade da Igreja, agora precisamos falar da união na
diversidade. Sempre, onde surge a divisão e separação, deixa de existir a
catolicidade; quando a diversidade
transforma-se em partes separadas, ela atinge a Igreja e provoca danos, porque
na verdade , a Igreja deve ser sempre
uma. Já nas cartas apostólicas fala-se das divisões (por exemplo, 1 Carta aos
Coríntios). Obviamente, ali não se tratava ainda de Igrejas separadas, mas de
discussões dentro de uma Comunidade dos fiéis. Essas discussões, ao longo do
tempo, aumentaram e provocaram divisões entre as comunidades, ou até entre as
Igrejas particulares, e, em conseqüência, isso levou às grandes cismas
históricas.
No ano 1054 –
aconteceu a definitiva separação das Igrejas orientais, chamadas Igrejas
ortodoxas; no ano 1517 – houve a divisão nas Igrejas ocidentais. A partir dali
– quando se fala de várias “Igrejas” –
fala-se no sentido de diversas confissões, diversos credos.
Todas as Igrejas têm a
consciência que Jesus Cristo quis fundar uma só Igreja. Ele falou de uma
só Igreja, e queria edificá-la sobre o fundamento sólido – sobre a pedra. Já que a Igreja deve alcançar o mundo
inteiro, e ela é o Corpo de Cristo, só
pode ser uma única: “Mas quando
chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que
nasceu de uma mulher e foi submetido a uma Lei, para resgatar os que
estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a
adoção. E, como prova de serdes
filhos, Deus enviou a nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: “Abba,
Pai!” (Ef 4, 4-6). Por isso Jesus Cristo almeja que a Igreja seja
um rebanho e um pastor (Jo 10, 16) e reza para que essa unidade se realize: [...] Não rogo apenas por eles mas por todos
que crerem em mim por sua palavra. Que
todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que eles estejam em
nós e o mundo creia que tu me enviaste. [...]” (Jo 17, 20 ss).
Olhando para as
divisões e as cismas no cristianismo que existem atualmente, não se pode dizer
que essa fervorosa oração de Jesus Cristo está se realizando.
Portanto, a vontade
de Cristo não se realizou – e todos nós devemos assumir a culpa disso. As
divisões entre os cristãos contribuem para o fato que a mensagem de Cristo perde
a sua credibilidade para as pessoas que observam isso “de fora”. Os missionários testemunham, que nas regiões
em que eles trabalham, quando no mesmo
lugar trabalham representantes de várias e diferentes Igrejas cristãs, a
mensagem da Boa Nova é recebida com muito menos entusiasmo e enfrenta até
dúvidas e desconfiança. Até mesmo em nossas famílias sofremos por causa das
crescentes divisões. Na verdade, todos os cristãos deveriam trabalhar para
restaurar a verdadeira união (o que não é o mesmo que uniformidade). Por sorte,
na consciência de todos os cristãos está surgindo uma saudade da união; hoje,
olhem eles cada vez mais para o que une
e não para as coisas que os separam. Parece também que está se tornando
realidade uma das condições da verdadeira união: aumenta o respeito mútuo e
amor.
Mas não há como alcançar a união que Jesus Cristo
desejava, somente através do amor. Esse amor também deve impregnar as verdades fundamentais da fé. A união
externa só pode existir como resultado da união interna na fé. Duas afirmações,
onde uma nega diretamente a outra não
podem ser ao mesmo tempo verdadeiras. “O amor sem verdade é cego, por isso não
pode ser permanente” (card. Bea).
Novamente encontramos
aqui a necessidade de ter o Magistério na Igreja e o fundamento sólido de São
Pedro. Onde se dispensa essas duas coisas, ali – como ensina a história – as
discussões e separação tornam-se inevitáveis.
A unidade da Igreja
deveria ser também visível e concreta, já que a própria Igreja é algo visível. A “um Espírito” corresponde “um corpo”(Ef 4,4).
Visível também é uma Ceia do Senhor: “O
cálice de bênção que benzemos não é ele
a comunhão do sangue de Cristo? E o pão que partimos não é ele a comunhão do corpo de Cristo?” (1
Cor 10, 16). Por isso também não podemos
concordar com a opinião de que a unidade
da Igreja já existe de modo “invisível”, onde as diversas confissões, inclusive
junto com os seus – mutuamente se excluindo – credos de fé, constituiriam
os galhos da mesma árvore, que é a Igreja de Cristo.
É claro que algum
grau de união existe entre todos os cristãos: o desejo de união, o mesmo
batismo, as Sagradas Escrituras em comum, a vida na graça de Deus, a fé
verdadeira, o amor ao Deus Pai e a Jesus
Cristo. Ademais, em algumas Igrejas existe também o ofício de bispo, que vem dos Apóstolos.
Vemos, então, que o que une é maior e
tem maior abrangência do que aquilo que divide.
– Em muitos outros aspectos a unidade não é tão necessária, ao
contrário, deveríamos desejar nesse caso um pluralismo verdadeiro que possa
abranger: celebrações litúrgicas, a lei eclesiástica, etc.
Precisamos ainda
lembrar que a união entre cristãos realmente autênticos e comprometidos com a
fé – e não importa se eles são católicos
ou não – sem dúvida, é maior do que a união entre apenas católicos, que
aparentemente pertencem à mesma Igreja, mas na realidade uns são realmente religiosos e outros
indiferentes em relação à religião.
Infelizmente,
continua a divisão causada pelas diferenças em verdades fundamentais da fé, pela
falta de unidade visível entre os dirigentes e pelo modo diferente no
entendimento da Ceia Eucarística.
(KRENZER, F. Taka
jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 162-164)³
Continua...
___________________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os
textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse
autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o
português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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