Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 3 de novembro de 2012

Cristianismo - várias Igrejas no mundo. Estão unidas?




Continuamos o tema sobre a Igreja.  Jesus Cristo reuniu Apóstolos e discípulos e lhes ordenou a continuar a sua obra neste mundo – a pregar a Boa Nova a toda a criatura. Assim nasceu a Igreja fundada por Ele. Esta Igreja, decorridos dois milênios passou por muitas  transformações e mudanças. A Igreja Católica atravessou toda essa história e até os nossos tempos continua firmando-se nas bases dos Apóstolos, sentindo-se a fiel guardiã do depósito da fé cristã. Porém, nesses vinte séculos, como fruto de divisões e cismas, também  surgiram muitas outras Igrejas cristãs, que seguem caminhos separados, mas acreditam na mesma missão  e empenham-se na realização da mesma ordem de Cristo.
Como entender esse processo? Todas elas  pregam o  Evangelho de Cristo,  e esse Cristo desejava muito que fosse uma só Igreja, um só rebanho, um só pastor...  O que pensar disso tudo?

Para refletir um pouco mais profundamente sobre  essas questões  trago aqui mais um texto de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  A leitura pode ser muito útil para todas as pessoas interessadas em esclarecer as suas dúvidas e/ou entender toda essa situação das Igrejas cristãs no mundo.
É interessante.  Não deixe  de ler.
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Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações é aconselhável  ler desde o início todos os seus  textos sobre este assunto (é uma série de 16 textos publicados, com o começo no dia 31 de agosto de 2012  -  http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).


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Várias Igrejas no mundo, mas, mesmo assim, existem laços de união.

Muitas dificuldades provenientes da  diversidade das Igrejas particulares e locais certamente, ao longo da história, levariam às mais diferentes divisões, se não existissem  laços de união. Essa união só existe porque Jesus Cristo a prometeu para sua Igreja, e ela tornou-se visível na profissão da mesma fé, como também no ofício do bispo e do papa.

Falamos já da diversidade na unidade da Igreja, agora precisamos falar da união na diversidade. Sempre, onde surge a divisão e separação, deixa de existir a catolicidade;  quando a diversidade transforma-se em partes separadas, ela atinge a Igreja e provoca danos, porque na  verdade , a Igreja deve ser sempre uma. Já nas cartas apostólicas fala-se das divisões (por exemplo, 1 Carta aos Coríntios). Obviamente, ali não se tratava ainda de Igrejas separadas, mas de discussões dentro de uma Comunidade dos fiéis. Essas discussões, ao longo do tempo, aumentaram e provocaram divisões entre as comunidades, ou até entre as Igrejas particulares, e, em conseqüência, isso levou às grandes cismas históricas.

No ano 1054 – aconteceu a definitiva separação das Igrejas orientais, chamadas Igrejas ortodoxas; no ano 1517 – houve a divisão nas Igrejas ocidentais. A partir dali – quando se fala de várias “Igrejas” –  fala-se no sentido de diversas confissões, diversos credos.

Todas as Igrejas  têm a  consciência que Jesus Cristo quis fundar uma só Igreja. Ele falou de uma só Igreja, e queria edificá-la sobre o fundamento sólido – sobre a  pedra. Já que a Igreja deve alcançar o mundo inteiro, e ela  é o Corpo de Cristo, só pode ser uma única:  “Mas quando  chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho,  que  nasceu de uma mulher e foi submetido a uma Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a  adoção. E,  como prova de serdes filhos, Deus enviou a nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: “Abba, Pai!”  (Ef 4, 4-6).  Por isso Jesus Cristo almeja que a Igreja seja um rebanho e um pastor (Jo 10, 16) e reza para que essa unidade se realize: [...] Não rogo apenas por eles mas por todos que  crerem em mim por sua palavra. Que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. [...]”  (Jo 17, 20 ss).

Olhando para as divisões e as cismas no cristianismo que existem atualmente, não se pode dizer que essa fervorosa oração de Jesus Cristo está se realizando.

Portanto, a vontade de Cristo não se realizou – e todos nós devemos assumir a culpa disso. As divisões entre os cristãos contribuem para o fato que a mensagem de Cristo perde a sua credibilidade para as pessoas que observam isso “de fora”.  Os missionários testemunham, que nas regiões em que eles  trabalham, quando no mesmo lugar trabalham representantes de várias e diferentes Igrejas cristãs, a mensagem da Boa Nova é recebida com muito menos entusiasmo e enfrenta até dúvidas e desconfiança. Até mesmo em nossas famílias sofremos por causa das crescentes divisões. Na verdade, todos os cristãos deveriam trabalhar para restaurar a verdadeira união (o que não é o mesmo que uniformidade). Por sorte, na consciência de todos os cristãos está surgindo uma saudade da união; hoje, olhem eles  cada vez mais para o que une e não para as coisas que os separam. Parece também que está se tornando realidade uma das condições da verdadeira união: aumenta o respeito mútuo e amor.

Mas não há  como alcançar a união que Jesus Cristo desejava, somente através do amor. Esse amor também deve impregnar  as verdades fundamentais da fé. A união externa só pode existir como resultado da união interna na fé. Duas afirmações, onde uma nega diretamente a  outra não podem ser ao mesmo tempo verdadeiras. “O amor sem verdade é cego, por isso não pode ser permanente” (card. Bea).

Novamente encontramos aqui a necessidade de ter o Magistério na Igreja e o fundamento sólido de São Pedro. Onde se dispensa essas duas coisas, ali – como ensina a história – as discussões e separação tornam-se inevitáveis.

A unidade da Igreja deveria ser também visível e concreta, já que a própria Igreja  é algo visível.  A “um Espírito” corresponde “um corpo”(Ef 4,4). Visível também é uma Ceia do Senhor: “O cálice de bênção  que benzemos não  é ele  a comunhão do sangue de Cristo? E o pão que partimos não  é ele a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Cor 10, 16). Por isso também  não podemos concordar com a  opinião de que a unidade da Igreja já existe de modo “invisível”, onde as diversas confissões, inclusive junto com os seus – mutuamente se excluindo – credos de fé, constituiriam os  galhos  da mesma árvore, que  é a Igreja de Cristo.

É claro que algum grau de união existe entre todos os cristãos: o desejo de união, o mesmo batismo, as Sagradas Escrituras em comum, a vida na graça de Deus, a fé verdadeira, o  amor ao Deus Pai e a Jesus Cristo. Ademais, em algumas Igrejas existe também o  ofício de bispo, que vem dos Apóstolos. Vemos, então, que o  que une é maior e tem maior abrangência do que aquilo que divide.  – Em muitos outros aspectos a unidade não é tão necessária, ao contrário, deveríamos desejar nesse caso um pluralismo verdadeiro que possa abranger: celebrações litúrgicas, a lei eclesiástica, etc.

Precisamos ainda lembrar que a união entre cristãos realmente autênticos e comprometidos com a fé – e não  importa se eles são católicos ou não – sem dúvida, é maior do que a união entre apenas católicos, que aparentemente pertencem à mesma Igreja, mas na realidade uns  são realmente religiosos e outros indiferentes  em relação à religião.

Infelizmente, continua a divisão causada pelas diferenças em verdades fundamentais da fé, pela falta de unidade visível entre os dirigentes e pelo modo diferente no entendimento da Ceia Eucarística.
 
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 162-164)³
Continua...
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]

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