Sexta-Feira
Santa. Paixão de Jesus Cristo.
Reflexão
publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), pode servir para
meditação neste momento todo especial da Semana Santa. Trago-a também para o
blog Indagações.
Não
deixe de ler.
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Notícias
Quinta, 28 de
março de 2013
Sexta-Feira Santa.
Paixão do Senhor
Qual é o poder deste crucificado? A
atração irresistível da Verdade! Verdade que não vem juntar-se a “verdades”, ao
que já existe no homem, mas que desvela o que nele, embora oculto, é capaz de
torná-lo plenamente humano: o amor, pois amor e verdade se casam. Onipotência
de um amor poderoso o bastante para renunciar ao poder e, amorosamente, ir ao
encontro da fraqueza.
A reflexão é de Marcel Domergue,
sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras da
Sexta-Feira Santa (29 de março de 2013). A tradução é de Francisco O. Lara,
João Bosco Lara e José J. Lara.
Eis o texto
Referências
bíblicas:
1ª leitura: Is 52,13-53,12
Salmo: Sl
30
2ª
leitura: Hb 4,14-16.5,7-9
Evangelho:
Jo 18,1 a 19,42
“Eis o
homem”
A ninguém passam despercebidas as semelhanças que existem entre a profecia do Servo (1ª leitura) e
os relatos da Paixão. Os evangelistas tinham, com certeza, Isaías em mente, ao
redigirem o texto. Tem-se a impressão de que Jesus segue um modelo pré-fabricado. Os
exegetas se perguntam quem seria este Servo
sofredor de Is 52-53. Seria Davi perseguido por Saul? Ou Jeremias, o profeta
perseguido? Ou o povo de Israel,
hostilizado pelos pagãos? É forçoso responder: são estes e muitos outros mais,
ou seja, todos os que foram, são e serão um dia levados a bradar “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
(Mc 15,34). Jesus assume
as dores e angústias de todos os perseguidos da história, de todos os que
sofreram, sofrem e sofrerão por não importa qual motivo.
“Eis
o homem”, diz Pilatos:
eis o homem todo e todos os homens! Em Isaías, à vista do estado miserável a
que foi reduzido o Servo
sofredor, as testemunhas o tomam primeiramente por um pecador
castigado por Deus,
um “leproso” a
ser evitado. Mas, bruscamente (Is 53,4), elas se voltam em outra direção: o que
ali vemos, somos nós mesmos! Este homem é a revelação do nosso mal, da nossa
desgraça conhecida ou ignorada. Ele carrega o pecado do mundo e forçoso é
voltarmos nosso olhar para aquele que trespassamos. Nele se manifestam todas as
dimensões de nossa sempre disfarçada perversidade bem como “a largura, a altura e a
profundidade do amor” de um Deus
que quis ser até este extremo Emanuel,
o
“Deus-conosco”.
Falência da justiça
A Paixão é um processo. A Bíblia está cheia de alusões ao processo que Deus move contra os
homens: é o tema do julgamento. Aqui, porém, assistimos ao processo que os
homens movem contra Deus.
Aliás, um duplo processo: dos judeus (que O conhecem) e dos pagãos (que não
sabem onde se encontra a verdade). Os dois inimigos, que materializam na
Escritura o imemorial conflito entre homem e homem, participam agora da
condenação à morte do Justo.
Primeira conivência, primeiro acordo, compartilhamento perverso na injustiça.
Esta primeira cumplicidade reverterá depois, tornando-se aliança no amor entre
judeus e não judeus, por obra do Espírito
que Jesus “emite” no momento mesmo
de sua morte: “paredoken
to pneuma” (Jo 19,30). Mas, antes disso, eis que a justiça é
escarnecida pelos homens! Jesus
prossegue em seu caminho... Renuncia também Ele à justiça: os culpados não
serão punidos, mas salvos. Tudo é subvertido pela Paixão de Cristo. E nós
ficamos definitivamente isentos do regime da justiça, em virtude da qual
poderíamos ser condenados. A Paixão é sentença de absolvição para todos os
pecadores!
Da justiça ao amor
Não é possível inventariar tudo o que nos revela a Paixão segundo S. João. No seio mesmo
de sua humilhação, Jesus
é nela Mestre
e Senhor:
no Jardim das
Oliveiras, os guardas caem por terra ante a revelação de sua
identidade (18,6); Ele não julga diretamente o guarda que o esbofeteia, mas
convida-o a julgar-se a si próprio (18,23); avalia, pelo contrário, a falta de Pilatos,
comparando-a à "de
quem o entregou" (19,11). Eis como é exercido o julgamento
cujo veredito é sempre de perdão: não se trata de ignorar a culpa, mas, sim, de
absolvê-la! Desviar os olhos do que foi trespassado é passar ao largo do
perdão. Jesus é
Senhor
e até mesmo Rei (18,23-38).
Ora, todo Rei exerce o poder. Qual é o poder deste crucificado? A atração
irresistível da Verdade! Verdade que não vem juntar-se a “verdades”, ao que já
existe no homem, mas que desvela o que nele, embora oculto, é capaz de torná-lo
plenamente humano: o amor, pois amor e verdade se casam. Onipotência de um amor
poderoso o bastante para renunciar ao poder e, amorosamente, ir ao encontro da
fraqueza. Retornamos assim ao início do relato de S. João: “Tendo amado os seus que estavam no
mundo, amou-os até o fim” (13,1).