Quaresma. Os textos bíblicos escolhidos para
este tempo convidam à reflexão.
No Evangelho segundo Lucas, capítulo 13,
temos um episódio muito interessante, onde Jesus explica que os acontecimentos
e acidentes que marcam a vida das pessoas não podem ser interpretados como castigo pelos seus pecados.
Jesus contesta a maneira como nós facilmente
tentamos compreender as coisas e até explicar a própria vida - do nosso jeito,
defendendo a nossa visão e condenando a dos outros: nós, sim, somos melhores,
justos, intocáveis... Se eles – os
outros - padecem, é porque merecem!... E acrescenta: “E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo!”...
Em seguida, Jesus
conta a parábola do dono da vinha, que cuida também da figueira plantada alí, esperando que ela dê frutos. Este é o jeito de Jesus falar de Deus: Deus é paciente, confia no
homem e espera que ele “dê frutos bons”... Convida-o sempre à conversão.
Como entender melhor esse texto? O
comentário abaixo, da autoria de M. Asun Gutiérrez Cabriada, é uma linda reflexão
sobre isso.
Não deixe
de ler.
WCejnog
[Os interessados pedem ler esse texto em
apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de
Montesserrat: http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/Dom3qC13port.pps Trabalho muito
bonito!]
Jesus começa a falar uma
linguagem nova.
Há que proclamar a todos
esta boa notícia.
O povo tem de se converter,
mas a conversão não vai consistir em se preparar para um julgamento,
mas em “entrar” no “reino de Deus” e acolher o seu perdão salvador.
mas a conversão não vai consistir em se preparar para um julgamento,
mas em “entrar” no “reino de Deus” e acolher o seu perdão salvador.
O povo deve escutar agora
uma Boa Notícia.
Com Jesus todo começa a ser
diferente.
O medo a um julgamento dá
lugar à alegria de acolher Deus, amigo
da vida.
Todo começa a falar da
proximidade de Deus.
Jesus convida à confiança total num Deus Pai.
Jesus convida à confiança total num Deus Pai.
A sua palavra se faz poesia.
José Antonio Pagola.
“Jesus: uma abordagem histórica”
Evangelho segundo Lucas (13, 1-9)
Naquele tempo, vieram contar a Jesus
que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das
vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal
castigo, esses galileus eram mais pecadores
do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos
arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo.
E aqueles dezoito homens, que a torre
de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos
os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não.
E se não vos
arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante.
Jesus disse então a
seguinte parábola:
«Certo homem tinha
uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse,
mas não os encontrou.
Disse então ao
vinhateiro:
Há três anos que
venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Por que
há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’.
Mas o vinhateiro
respondeu-lhe:
‘Senhor, deixa-a
ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe
adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo
ano».
Comentário
Naquele tempo, vieram
contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus,
juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que,
por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos
que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo.
Os dois acontecimentos e a parábola que refletimos hoje são
exclusivos de Lucas.
Jesus aproveita os acontecimentos
ocorridos para demonstrar que o anúncio da boa nova não pode fazer-se sem uma
atenção próxima a tudo o que acontece e para que o que o escutam compreendam
que as desgraças não são sanções pelos pecados.
Jesus ensina a ler a história e a
vida cotidiana a partir da ótica de Deus. O Deus de Jesus, Deus de amor e de
vida, respeita a liberdade humana em todos os acontecimentos, convidando sempre
à conversão, a uma vida mais evangélica e, portanto, a uma vida mais humana,
mais livre e mais feliz.
E aqueles dezoito homens, que a torre
de Siloé, ao cair, atingiu e matou?
Julgais que eram mais culpados do que todos os outros
habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não.
Julgais que eram mais culpados do que todos os outros
habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não.
Jesus vai contra a ideia, muito
presente no seu tempo, segundo a qual a doença, as desgraças, a pobreza são
consequência das ações cometidas pelos que sofrem essas situações.
Jesus rejeita a tradicional teoria
da retribuição: ao pecado corresponde-lhe o castigo.
Por desgraça, atualmente ainda há
restos desta mentalidade dos que se julgam “bons” e pensam que os outros
merecem castigo.
Por essa ideia deformada de um
Deus inquisidor, muitas pessoas vivem constrangidas, com consciência culpada e
culpabilizadora, totalmente contrária ao desejo e ao estilo de Jesus.
E se não vos arrependerdes,
morrereis todos de modo semelhante.
É um convite urgente e estimulante
à conversão, a uma mudança de sentido, de estilo de vida, de forma de pensar e
de atuar.
Um convite a nos libertarmos de tudo o que nos impede de amadurecer como pessoas e como crentes. Converter o nosso coração ao amor de Deus e ao próximo é um caminho pelo qual sempre podemos progredir.
Um convite a nos libertarmos de tudo o que nos impede de amadurecer como pessoas e como crentes. Converter o nosso coração ao amor de Deus e ao próximo é um caminho pelo qual sempre podemos progredir.
Em concreto, de que e a quê
necessito converter-me?
Jesus disse então a
seguinte parábola:
«Certo homem tinha uma
figueira plantada na sua vinha.
Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou.
Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou.
O dono da vinha não exige um fruto
que não se possa dar. Não pede impossíveis. Mesmo que não encontre os frutos
esperados, mostra-se paciente.
Deus está sempre disposto a dar uma
nova oportunidade e continua a confiar no ser humano que Ele criou para que dê
frutos de justiça e de bondade.
Disse então ao vinhateiro:
‘Há três anos que venho
procurar frutos nesta figueira e não os encontro.
Deves cortá-la. Por que
há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’.
Não se trata de uma ameaça, mas de
um convite a uma mudança de vida mais plena e feliz. Deus quer ver-nos crescer
e dar o melhor que temos dentro, sem ficarmos na mediocridade por medo de
arriscar, por costume, preguiça, rotina...
No meu caso, quanto terá que
esperar para ver o fruto?
Mas o vinhateiro
respondeu-lhe:
‘Senhor, deixa-a ficar
ainda este ano, que eu, entretanto,
vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo.
Talvez venha a dar frutos. Se não der,
mandá-la-ás cortar no próximo ano».
vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo.
Talvez venha a dar frutos. Se não der,
mandá-la-ás cortar no próximo ano».
Jesus compromete-se conosco, cuida
o nosso processo de conversão.
O amor semeia e espera, ajuda e espera, ensina e espera, confia e espera.
O amor compromete e compromete-se.
O amor compromete e compromete-se.
O amor incondicional e gratuito
oferece sempre uma nova oportunidade e espera uma resposta positiva da pessoa
amada.
Jesus acompanha-nos sempre com
carinho, paciência e dedicação e garante-nos o triunfo final, apesar das
dificuldades do caminho da vida. Repete-nos e demonstra que o nosso Deus é um
Deus de amor, não de castigo.
Anunciar a
quaresma,
anunciar a Páscoa
Anunciar a quaresma
é anunciar a Páscoa.
Aquela é caminho para esta,
aquela é porta para esta.
Anunciar a Quaresma
sem ter os olhos fixos
na formosura da Páscoa,
anunciar só a Quaresma
é tão absurdo
como anunciar uma festa
que logo a seguir não se celebra,
um dia de alegria
que acaba por não chegar.
Quem recebe o anúncio da Quaresma
está a receber o anúncio da
Páscoa.
Fidel Aizpurua
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