Neste
momento, em que a notícia principal ainda
é o “Habemus Papam” – o Papa Francisco, é muito bom podermos saber mais
detalhes em relação à situação atual da Igreja Católica, como também em relação
à própria pessoa do novo pontífice.
O
artigo de Rodrigo Coppe Caldeira, que trago hoje para o blog Indagações, foi
publicado ontem no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), e pode ser muito
útil para quem estiver interessado em compreender melhor o atual momento
histórico, em que se encontra a Igreja Católica.
Não
deixe de
ler.
Quinta, 14 de março de 2013
O insondável caminho de Francisco
"A
Igreja Católica demonstra que seus caminhos são insondáveis. A escolha de Bergoglio é
certamente uma ruptura na tradicional escolha de papas europeus. Mostra que a
instituição religiosa se atenta para os desafios globais, que se
avolumam", escreve Rodrigo Coppe
Caldeira, historiador, professor do departamento de Ciências da Religião da
Pontifícia Universidade Católica de Minas, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo,
14-03-2013.
Segundo
ele, "o olhar se volta para o hemisfério sul do planeta, onde se encontra
a maioria dos católicos e também aqueles mais necessitados materialmente. Um
arcebispo jesuíta latino-americano, que escolhe ser o papa Francisco".
Eis
o artigo.
A
escolha pelos cardeais de Jorge
Mario Bergoglio como papa surpreendeu o mundo. Como no conclave
de 1978, que elegeu o polonês Karol
Wojtyla como sucessor de Pedro, o cardeal argentino, arcebispo
de Buenos Aires, surge como uma surpresa.
Naquele
momento, Wojtyla apareceu
como um terceiro nome para o papado, que tinha como seus principais candidatos
o conservador Giuseppe
Siri (candidato da Cúria Romana) e o arcebispo de Florença, Giovanni Benelli. Se
pudermos encampar as informações que circularam esses dias na imprensa mundial
por ocasião do conclave que se seguiu à renúncia de Bento XVI, é
possível especular que uma conjuntura semelhante se sucedeu.
Muitos
nomes foram apontados como favoritos. Nos últimos dias, despontaram Angelo Scola, de
Milão, e Odilo Scherer,
de São Paulo. Disse-se que Scola era o candidato do papa emérito Bento XVI,
enquanto Scherer,
aquele que representaria os interesses curiais. Nem um nem outro.
Mais
uma vez, a Igreja Católica demonstra que seus caminhos são insondáveis. A
escolha de Bergoglio é
certamente uma ruptura na tradicional escolha de papas europeus. Mostra que a
instituição religiosa se atenta para os desafios globais, que se avolumam.
O
olhar se volta para o hemisfério sul do planeta, onde se encontra a maioria dos
católicos e também aqueles mais necessitados materialmente. Um arcebispo
jesuíta latino-americano, que escolhe ser o papa Francisco. Nenhum
outro cardeal na história bimilenar da igreja escolhido como papa usou esse
nome.
Giovanni
di Pietro di Bernardone
(1182-1226), o São Francisco de Assis, viveu para testemunhar o Evangelho na
sua radicalidade. Anunciou Jesus com palavras, mas sobretudo com ações, dando
em testemunho sua própria vida, simples e humilde. Filho de uma rica família,
deixou as regalias da burguesia ascendente para viver no meio dos pobres.
A
dúvida que resta nessas primeiras horas do novo pontificado é se o nome foi
escolhido tendo como referência Francisco
de Assis ou Francisco
Xavier (1506-1552). Xavier,
espanhol de Navarra, foi um dos pioneiros da Companhia de Jesus fundada por Inácio de Loyola
(1491-1556) e é considerado o grande evangelizador da Ásia.
Não
seria um risco dizer que Bergoglio,
como pastor da igreja de Buenos Aires, mescla os dois carismas. Como contumaz
defensor da caridade e da ajuda aos pobres, Bergoglio, porém, não provém de
correntes progressistas do catolicismo argentino nem tem vínculos, o que era de
se esperar, com a Teologia da Libertação.
Com
grande sensibilidade política, entrou em choque com os governos Kirchner. Néstor
Kirchner o via como o "verdadeiro representante da oposição". Reagiu
fortemente contra a legalização do casamento homossexual na Argentina e foi
tido como "inquisidor" pela presidente Cristina.
De
personalidade simples e discreta, entende que a atividade ordinária da igreja é
a missão. Falando sobre a evangelização num de seus discursos antes da eleição,
afirmou que se "deve evitar a doença espiritual de uma igreja
autorreferencial" e que "se a igreja permanece fechada em si mesma,
autorreferenciada, envelhece". Sinal de que está disposto à escuta,
necessidade premente da igreja universal.
Sua aparição na sacada da Basílica de São Pedro, terminado o conclave, chamou atenção por reação contida e discreta. Mas suas palavras deixaram claro a que veio. Relembrou o papa emérito e pediu aos milhares de fiéis na Piazza di San Pietro uma oração por ele. Humildemente, exortou a todos para que rezassem por ele e fez referência a um "caminho de igreja que nós começamos".
Sua aparição na sacada da Basílica de São Pedro, terminado o conclave, chamou atenção por reação contida e discreta. Mas suas palavras deixaram claro a que veio. Relembrou o papa emérito e pediu aos milhares de fiéis na Piazza di San Pietro uma oração por ele. Humildemente, exortou a todos para que rezassem por ele e fez referência a um "caminho de igreja que nós começamos".
Com
76 anos e saúde frágil, a questão que resta é se o seu papado terá o tempo
necessário para concretizar as intuições que inicialmente desperta.
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