Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O caminho da Fé. - Texto de Ferdinand Krenzer. Muito bom!



Hoje trago aqui o texto de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  É interessante.  Não deixe  de ler.
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O caminho  para a Fé

Todo cristão, às vezes, enfrenta dúvidas em relação a sua fé. A fé recebida através do batismo não  é algo o que não se possa perder. Como diz São Paulo, “Este tesouro nós o trazemos  em vasos de barro, para que apareça claramente que este extraordinário poder provém de Deus e  não de nós.”(2 Cor 4,7), isto é, os vasos podem se quebrar. Isso depende de muitas circunstâncias, mas, sobretudo, do fato de que o ser humano é um ser limitado. As coisas materiais facilmente podem nos ofuscar  a visão de Deus. Por isso deveríamos nos esforçar persistentemente a superar essas influências e levar o nosso olhar, sem deformações, na direção do  que  é essencial – na direção de Deus.

Pode acontecer que o que é visível, o que atrai os nossos  olhos e mente, impõe-se-nos como algo mais importante do que o próprio Deus, nosso Criador.  Às vezes aqui também se manifesta a preocupação com as consequências de levar uma vida de acordo com a fé, porque  essas nos atrapalhariam no caminho: “Ah!,  eu precisaria desistir de tantas coisas! Não, isso não farei”,  ou então falta-nos tempo e tranquilidade para realmente repensar todas essas perguntas. Resumindo, existem muitos elementos que  funcionam como “freios” e que sâo capazes de se colocar e impôr na área entre o conhecimento e a vontade – de um lado, e a própria vida – do outro. (...) É bom lembrarmos que o conhecimento intelectual é apenas uma das faculdades do  ser humano. A verdade é que a aceitação da fé é  algo mais do que somente a aceitação racional. Sim, a aceitação da fé é um acolhimento feito pelo ser humano inteiro. A fé é algo mais que o saber ou conhecimento, pois ela flui da  própria essência da pessoa: participam dela todas as forças espirituais. Portanto, basear-se no conhecimento sobre a fé é apenas uma ajuda parcial no caminho para alcançar uma fé sólida. (...)
Pensemos  agora no caminho, que nos leva muito mais diretamente à certeza da fé.

A Fé é Graça

Nunca se esqueçam rezar pedindo a fé, porque, no final  das contas – como costumamos de sublinhar – ela é uma Graça, um dom.  O fato de alguém ter a verdadeira fé não acontece tão simplesmente; ela não nos vêm pronta para as nossas mãos.  São poucas as pessoas, como São Paulo que resistia à fé, que a fé lhe é dada pela Graça num instante repentino e iluminado ou em uma concreta experiência de vida, como algo que o dominou e venceu. A maioria dos homens têm que lutar por ela, têm que se preparar internamente para ela.

Todavia, existem também pessoas que simplesmente não são capazes aceitar esse dom. São todos aqueles contentes de si, que dizem que nada lhes falta, que nunca experimentam a falta de Deus ou nunca sentem “saudade”.  Para a Graça de Deus encontar  no ser humano um lugar para si,  é  necessário que o homem, antes de tudo, entenda e sinta  esse “vácuo” como um tipo de  carência. Na oração, pois, a alma do homem abre-se como uma vasilha destinada apenas para ser “preenchida”.

Crer para alcançar a fé

Lucas, no capítulo 24 (13-35) do seu Evangelho conta como Jesus encontrou os discípulos de Emaús. “Seus olhos, porém, estavam como que vendados e não o reconheceram” (24, 16), apesar de que Ele estava andando ao seu lado, explicando-lhes as Escrituras  e dizia: “Então não era necessário que o Cristo padecesse todas essas coisas e entrasse na glória?” (24, 26). Os seus olhos continuaram não enxergando;  ai,  “estando com eles à mesa, tomou o  pão, rezou a bênção, partiu e lhes deu...” – e nesse momento “abriram-se os  olhos deles e o  reconheceram, mas Ele desapareceu”. Os seus olhos se abriram – este é o jeito que aponta para a Graça de Deus, que traz a ajuda de fora, e sem a  qual a fé não  é possível. No entanto, isto se realiza durante a “partilha do pão com Ele”. Na prática, da fé o ser humano chega a certeza da fé.
Portanto, a fé é algo que devemos praticar para com isso entendermos as últimas conexões, e chegarmos à certeza da fé!  Não levarão  a esta certeza da fé as reflexões teóricas; elas são apenas os pontos de  apoio e exercícios preeliminares. A fé é algo mais que o conhecimento. Ela abrange não só o intelecto, mas o ser humano inteiro. O homem, por sua vez,  deveria deixar que essa fé possa o alcançar em tudo o que  ele é. Assim, o ser humano inteiro deve adentrar para o centro da fé; deve começar a  praticar essa fé, mesmo que, eventualmente, no início isso fosse só para “testar”, “como se fosse” - caso  contrário, vai conhecê-la apenas fragmentada ou muito parcial. Deste jeito, com uma visão fragmentar, a  pessoa não consegue ver  nenhum quadro por inteiro, e por isso também não fica convencida.

Por sua vez, ao praticar e vivenciar a fé, experimentamos quais  são os frutos que ela nos traz e como, graças a ela, tudo recebe um sentido. A fé nos permite dissipar as  numerosas dúvidas vitais e perceber a grande  importância de viver na sua luz. Por fim, sentimos como a nossa própria vida recebe o seu último sentido. E essa comprovação da fé na prática da vida diária - como se fosse a prova  real de um problema - traz ao ser humano (quando isso para ele é possível  e conforme a  ideia de fé que ele tem) uma certeza mais profunda e  mais autêntica, e também mais humana e sublime, do que certezas que todas as especulações exclusivamente intelectuais podem lhe forncer.

Assim sendo, mesmo quando alguém, como todo ser humano, experimenta e vivencia a fé “como uma lâmpada,  que resplandece nas trevas até despontar o dia” (2P 1,19), ele vai poder dizer com a certeza bem madura: “Eu sei em  quem acreditei”.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 361-362)²
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.

Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]

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