Hoje trago aqui o texto de autoria de Ferdinand Krenzer¹. É interessante. Não deixe de ler.
WCejnog
******************
O caminho para a Fé
Todo cristão, às vezes, enfrenta dúvidas em relação
a sua fé. A fé recebida através do batismo não
é algo o que não se possa perder. Como diz São Paulo, “Este tesouro nós o trazemos em vasos de barro, para que apareça
claramente que este extraordinário poder provém de Deus e não de nós.”(2 Cor 4,7), isto é, os vasos
podem se quebrar. Isso depende de muitas circunstâncias, mas, sobretudo, do
fato de que o ser humano é um ser limitado. As coisas materiais facilmente
podem nos ofuscar a visão de Deus. Por isso
deveríamos nos esforçar persistentemente a superar essas influências e levar o
nosso olhar, sem deformações, na direção do
que é essencial – na direção de
Deus.
Pode acontecer que o que é visível, o que atrai os
nossos olhos e mente, impõe-se-nos como
algo mais importante do que o próprio Deus, nosso Criador. Às vezes aqui também se manifesta a
preocupação com as consequências de levar uma vida de acordo com a fé, porque essas nos atrapalhariam no caminho:
“Ah!, eu precisaria desistir de tantas coisas!
Não, isso não farei”, ou então falta-nos
tempo e tranquilidade para realmente repensar todas essas perguntas. Resumindo,
existem muitos elementos que funcionam
como “freios” e que sâo capazes de se colocar e impôr na área entre o
conhecimento e a vontade – de um lado, e a própria vida – do outro. (...) É bom
lembrarmos que o conhecimento intelectual é apenas uma das faculdades do ser humano. A verdade é que a aceitação da fé
é algo mais do que somente a aceitação
racional. Sim, a aceitação da fé é um acolhimento feito pelo ser humano
inteiro. A fé é algo mais que o saber ou conhecimento, pois ela flui da própria essência da pessoa: participam dela
todas as forças espirituais. Portanto, basear-se no conhecimento sobre a fé é
apenas uma ajuda parcial no caminho para alcançar uma fé sólida. (...)
Pensemos agora no caminho, que nos leva muito mais
diretamente à certeza da fé.
A Fé é Graça
Nunca se esqueçam rezar pedindo a fé, porque, no
final das contas – como costumamos de
sublinhar – ela é uma Graça, um dom. O
fato de alguém ter a verdadeira fé não acontece tão simplesmente; ela não nos vêm
pronta para as nossas mãos. São poucas as
pessoas, como São Paulo que resistia à fé, que a fé lhe é dada pela Graça num instante
repentino e iluminado ou em uma concreta experiência de vida, como algo que o
dominou e venceu. A maioria dos homens têm que lutar por ela, têm que se
preparar internamente para ela.
Todavia, existem também pessoas que simplesmente
não são capazes aceitar esse dom. São todos aqueles contentes de si, que dizem
que nada lhes falta, que nunca experimentam a falta de Deus ou nunca sentem
“saudade”. Para a Graça de Deus
encontar no ser humano um lugar para
si, é
necessário que o homem, antes de tudo, entenda e sinta esse “vácuo” como um tipo de carência. Na oração, pois, a alma do homem
abre-se como uma vasilha destinada apenas para ser “preenchida”.
Crer para
alcançar a fé
Lucas, no capítulo 24 (13-35) do seu Evangelho
conta como Jesus encontrou os discípulos de Emaús. “Seus olhos, porém, estavam
como que vendados e não o reconheceram” (24, 16), apesar de que Ele estava andando
ao seu lado, explicando-lhes as Escrituras
e dizia: “Então não era necessário que o Cristo padecesse todas essas
coisas e entrasse na glória?” (24, 26). Os seus olhos continuaram não
enxergando; ai, “estando com eles à mesa, tomou o pão, rezou a bênção, partiu e lhes deu...” –
e nesse momento “abriram-se os olhos
deles e o reconheceram, mas Ele
desapareceu”. Os seus olhos se abriram – este é o jeito que aponta para a Graça
de Deus, que traz a ajuda de fora, e sem a
qual a fé não é possível. No
entanto, isto se realiza durante a “partilha do pão com Ele”. Na prática, da fé
o ser humano chega a certeza da fé.
Portanto, a fé é algo que devemos praticar para com
isso entendermos as últimas conexões, e chegarmos à certeza da fé! Não levarão
a esta certeza da fé as reflexões teóricas; elas são apenas os pontos
de apoio e exercícios preeliminares. A
fé é algo mais que o conhecimento. Ela abrange não só o intelecto, mas o ser
humano inteiro. O homem, por sua vez,
deveria deixar que essa fé possa o alcançar em tudo o que ele é. Assim, o ser humano inteiro deve adentrar
para o centro da fé; deve começar a
praticar essa fé, mesmo que, eventualmente, no início isso fosse só para
“testar”, “como se fosse” - caso
contrário, vai conhecê-la apenas fragmentada ou muito parcial. Deste
jeito, com uma visão fragmentar, a
pessoa não consegue ver nenhum
quadro por inteiro, e por isso também não fica convencida.
Por sua vez, ao praticar e vivenciar a fé,
experimentamos quais são os frutos que
ela nos traz e como, graças a ela, tudo recebe um sentido. A fé nos permite
dissipar as numerosas dúvidas vitais e
perceber a grande importância de viver na
sua luz. Por fim, sentimos como a nossa própria vida recebe o seu último
sentido. E essa comprovação da fé na prática da vida diária - como se fosse a
prova real de um problema - traz ao ser
humano (quando isso para ele é possível
e conforme a ideia de fé que ele
tem) uma certeza mais profunda e mais
autêntica, e também mais humana e sublime, do que certezas que todas as
especulações exclusivamente intelectuais podem lhe forncer.
Assim sendo, mesmo quando alguém, como todo ser
humano, experimenta e vivencia a fé “como uma lâmpada, que resplandece nas trevas até despontar o
dia” (2P 1,19), ele vai poder dizer com a certeza bem madura: “Eu sei em quem acreditei”.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions
Du Dialogue, 1981, p. 361-362)²
___________________
¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
[N. Do T.]
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas
mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário