“Não fará Deus justiça aos Seus eleitos que lhe
gritam dia e noite?” (Lc 18,8)
Trago para
o blog Indagações mais uma reflexão curta, porém, muito concreta, que pode nos ajudar
muito a entender o ensinamento de Jesus Cristo. De autoria do padre e
teólogo espanhol José Antônio Pagola, foi publicada no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Não
deixe de ler.
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IHU Notícias
Sexta,
18 de outubro de 2013.
Continuamos
a acreditar na justiça?
A
leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas (18, 1-8) que corresponde ao 29º Domingo do Tempo
Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola
comenta o texto.
Eis o texto
Lucas
narra uma breve parábola indicando-nos que Jesus contou-a para explicar aos
seus discípulos “como tinham que orar sempre sem desanimar”.
Este tema é muito querido ao evangelista que, em várias ocasiões, repete a
mesma ideia. Como é natural a parábola foi lida quase sempre como um convite
para cuidar da perseverança da nossa oração a Deus.
No
entanto, se observamos o conteúdo do relato e a conclusão do mesmo Jesus, vemos
que a chave da parábola é a sede de justiça. Até quatro
vezes se repete a expressão “fazer justiça”. Mais que modelo de oração, a viúva
do relato é exemplo admirável de luta pela justiça no meio de uma sociedade
corrupta que abusa dos mais fracos.
O
primeiro personagem da parábola é um juiz que “não teme a Deus nem lhe importam
os homens”. É a encarnação exata da corrupção que denunciam repetidamente os
profetas: os poderosos não temem a justiça de Deus e não respeitam a dignidade
nem os direitos dos pobres. Não são casos isolados. Os
profetas denunciam a corrupção do sistema judicial em Israel e a estrutura
machista daquela sociedade patriarcal.
O
segundo personagem é uma viúva indefesa no meio de uma sociedade injusta. Por
um lado, vive o sofrimento dos atropelos de um “adversário” mais poderoso que
ela. Por outro, é vítima de um juiz a quem não lhe importa em absoluto a sua pessoa
nem o seu sofrimento. Assim vivem milhões de mulheres de todos os tempos
na maioria dos povos.
Na
conclusão da parábola, Jesus não fala da oração. Antes de qualquer coisa, pede
confiança na justiça de Deus: “Não fará Deus justiça aos Seus eleitos que lhe
gritam dia e noite?”. Estes eleitos não são “os membros da Igreja”, mas os pobres
de todos os povos que clamam pedindo justiça. Deles é o reino de Deus.
Então
Jesus faz uma pregunta que é todo um desafio para os Seus discípulos: “Quando
vier o Filho do Homem, encontrará esta fé na terra?”. Não está
pensando na fé como adesão doutrinal, mas na fé que alenta a atuação da viúva,
modelo de indignação, resistência ativa e coragem para reclamar justiça aos
corruptos.
É
esta a fé e a oração dos cristãos satisfeitos das sociedades do bem-estar?
Seguramente, tem razão J. B. Metz quando denuncia que na
espiritualidade cristã há demasiados cânticos e poucos gritos de indignação,
demasiada complacência e pouca nostalgia de um mundo mais humano, demasiado
consolo e pouca fome de justiça.
Fonte:IHU - Notícias
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