Abaixo, o artigo de dom
Flávio Giovenale, bispo de Santarém (PA) e presidente da Cáritas Brasileira, publicado no Correio Braziliense no dia 10
de dezembro de 2013.
É muito importante a sociedade brasileira tomar conhecimento dos fatos abordados neste texto. Sem dúvida, informações como estas precisam ser divulgadas muito mais.
É muito importante a sociedade brasileira tomar conhecimento dos fatos abordados neste texto. Sem dúvida, informações como estas precisam ser divulgadas muito mais.
Não deixe de ler!
WCejnog
*******************
Flávio Giovanelli Bispo
de Santarém e presidente da Cáritas Brasileira
Eis o artigo
No Dia Internacional
dos Direitos Humanos (10 de Dezembro de 2013), a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira lançaram a campanha
mundial contra a fome, a pobreza e as desigualdades.
Com o tema "Uma
família humana, pão e justiça para todas as pessoas", queremos
sensibilizar e mobilizar a sociedade sobre essas realidades responsáveis por
grandes mazelas no mundo e no Brasil.
A campanha faz parte de uma mobilização mundial
da Caritas Internationalis, que articulou as 164 organizações membro para
esse grande movimento em favor da vida, dos direitos humanos e da justiça
social.
O papa Francisco, em
sua primeira exortação apostólica, chamou a atenção ao dizer que "não se
pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que
passam fome. Isso é desigualdade social. Assim como o mandamento ‘não matar’
põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, também hoje devemos
dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social". Esta
economia mata. Dessa forma, o Santo Padre reafirma a opção da Igreja pelos
empobrecidos e a urgente necessidade de pararmos e prestarmos atenção à
realidade que está em nossa volta.
A Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) diz que, hoje, 842 milhões de pessoas sofrem com a
fome no mundo, ou seja, um em cada oito seres humanos não tem acesso a uma
alimentação adequada e de qualidade.
O Relatório da Riqueza Global, lançado este ano
(2013) pelo banco suíço Credit Suisse, afirma que, se a riqueza produzida
no mundo em 2013, que foi de US$ 241 trilhões, fosse distribuída em partes
iguais entre as pessoas adultas do planeta, cada um iria receber US$ 56.600.
Não podemos mais admitir esses dados: os 10% mais ricos controlam 86% da riqueza global, enquanto apenas 32
milhões de adultos, em um mundo com 7 bilhões de habitantes, possuem 41% da
riqueza mundial. Além disso, dois terços dos adultos da humanidade - 3,2
bilhões - só conseguem dividir 3% da riqueza mundial.
O Brasil, como muito se tem divulgado, é a sexta
economia mais rica do mundo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), mas 57 milhões de pessoas vivem em estado de pobreza, ou
seja, sobrevivem com meio salário mínimo. Mesmo com programas de distribuição de renda promovidos pelo governo
federal, como o Bolsa Família, 20% dos mais ricos ainda detém 63,8% da renda
nacional, enquanto os 20% mais pobres acessam apenas 2,5% de toda a riqueza que
é produzida pelo país. O "Atlas de Exclusão Social: os ricos
no Brasil" mostra que o país tem mais de 51 milhões de famílias, mas
somente 5 mil apropriam-se de 45% de toda a riqueza e renda nacional.
É fato que o Brasil tirou milhões de brasileiros da extrema pobreza, mas em que condições? É aceitável definir a pobreza a partir de uma quantidade de dólares ou reais por dia? Trata-se da superação efetiva das necessidades básicas ou apenas evitar a morte pela fome? A produção agropecuária mundial pode garantir alimentação para 12 bilhões de seres humanos. Como somos pouco mais de 7 bilhões, há evidente desperdício e impedimento de que muitos tenham acesso aos alimentos. Vivemos em um país que teima em fazer reforma agrária ao inverso: aumenta a quantidade de terra sob controle de uma minoria e diminui a destinada aos pequenos proprietários, que são produtores de mais de 70% dos alimentos da nossa população.
A campanha mundial contra a fome e a pobreza,
no Brasil, vai promover processo de escuta e diálogo com os grupos, comunidades
e paróquias, com o intuito de identificar como os próprios empobrecidos
enxergam a questão da pobreza e da miséria no país.
Não vamos retratar a fome, a pobreza e a miséria
apenas como números que colocam o ser humano em uma condição de estatística.
Vamos retratar a verdadeira face dessa realidade e quem nos contará essa
história serão os próprios rostos da pobreza, da fome e da miséria no Brasil. A
expectativa é que, em setembro de 2014, um documento sistematizado com o
resultado de todos esses diálogos seja lançado para a sociedade brasileira.
Alimentados e animados pela frase do nosso grande mestre fundador, dom Helder Câmara, que nos ilumina dizendo que "o verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos", vamos alicerçados na esperança e na confiança do Santo Padre, o papa Francisco, seguindo a nossa missão.
Fonte: caritas.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário