Desde que o papa Francisco foi eleito para liderar a Igreja Católica,
muitos de seus discursos, palavras, atitudes e ações são recebidos com grande
entusiasmo por muitas pessoas (e até
pelas grandes multidões), na esperança de que tragam a renovação e mudanças
concretas para a Igreja Católica, como
também para toda a humanidade.
Mas, as mesmas palavras e atitudes também incomodam ou até mesmo assustam outras pessoas (inclusive alguns setores dentro da Igreja), sobretudo as mais conservadoras. Não falta gente perguntando: será que deve ser levado a sério o que o papa Francisco fala e pretende realizar? Será que isso tudo não seria apenas uma ‘maquiagem’ para parecer que mudará alguma coisa, mas, na verdade, tudo continuará como antes? Alias, insinuações como esta com o objetivo de desvalorizar o papel do papa como lider religioso, são cada vez mais freqüentemente lançadas pelos poderosos Meios de Comunicação, que – todos sabemos – estão a serviço do mercado global e dos ‘donos deste mundo’...
Mas, as mesmas palavras e atitudes também incomodam ou até mesmo assustam outras pessoas (inclusive alguns setores dentro da Igreja), sobretudo as mais conservadoras. Não falta gente perguntando: será que deve ser levado a sério o que o papa Francisco fala e pretende realizar? Será que isso tudo não seria apenas uma ‘maquiagem’ para parecer que mudará alguma coisa, mas, na verdade, tudo continuará como antes? Alias, insinuações como esta com o objetivo de desvalorizar o papel do papa como lider religioso, são cada vez mais freqüentemente lançadas pelos poderosos Meios de Comunicação, que – todos sabemos – estão a serviço do mercado global e dos ‘donos deste mundo’...
O que pensar sobre isso? – Eis a indagação.
Sobre isso trata o artigo de Frei
Bento Domingues, publicado há um mês no
site In Público, em Portugal. Achei interessante trazé-lo para o blog
Indagações-Zapytania. Não deixe de ler!
WCejnog
O discurso do método do papa Francisco
08.12.2013 - in Público
1. O Papa está a tornar-se a referência dos que precisam de energia
espiritual para resistir à idolatria do dinheiro, à tirania dos
mercados, à especulação financeira, à economia que mata, às políticas que
consideram os doentes e os velhos um estorvo e o desemprego uma fatalidade.
Como não há coragem, nem dentro nem fora da
Igreja, para o mandar calar de vez, os seus adversários encomendaram a
jornalistas e comentadores de serviço, a sua desvalorização: este Papa não diz
nada de novo; repete o que está dito e redito, desde o séc. XIX, na Doutrina
Social da Igreja, não passa de um populista.
Os desconsolados com o Papa Francisco não
são contra a solidariedade. Sabem o que fazer para que nunca haja falta de
pobres. Insuportável é o método do seu discurso e
atuação: convocar toda a Igreja a olhar este mundo a partir dos excluídos, mudar
o centro da sua missão para a periferia e organizar-se a partir daí.
Sonho, diz o Papa na Exortação
Evangelli Gaudium, com a opção missionária capaz de transformar os
costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial num
canal de evangelização e não apenas um instrumento da sua
auto-preservação. Pertence ao Bispo promover uma comunhão dinâmica,
aberta e missionária na sua diocese. Deverá estimular e procurar um
amadurecimento dos organismos de participação propostos pelo Código de
Direito Canónico e de outras formas de diálogo pastoral, com o
desejo de ouvir todos e não apenas alguns, sempre prontos a lisonjeá-lo.
“Dado que sou chamado a viver aquilo que
peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado. Compete-me, como
Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu
ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe deu e às
necessidades actuais da evangelização” (n. 32).
O Papa pede o abandono de um critério
pastoral muito cômodo e muito usado: “fez-se sempre assim”. Convida
todos, sem contemplações, a serem ousados e criativos na tarefa de repensar os
objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas
comunidades. Vai mais longe: ”Uma identificação dos fins, sem uma
condigna busca comunitária dos meios para os alcançar, está condenada a
traduzir-se em mera fantasia” (n.33).
2. Recorre ao Vaticano II para afirmar
a hierarquia das verdades da doutrina católica, dado que nem
todas têm o mesmo vínculo com o fundamento da fé cristã. Isto é tão válido para os dogmas de fé,
como para o conjunto dos ensinamentos da Igreja, incluindo a doutrina moral
(n.36). Invoca S. Tomás de Aquino para dizer que na mensagem moral da Igreja há
uma hierarquia nas virtudes e ações que dela
procedem. A misericórdia é a maior de todas as virtudes.
Esta falta de hierarquia na pregação e na
catequese gera distorções muito graves. É o que acontece quando se fala mais da
lei do que da graça, mais da Igreja do que de Jesus Cristo, mais do Papa do que
da palavra de Deus (n.37-38).
A defesa de uma doutrina monolítica não respeita a riqueza inesgotável
do Evangelho. Impõe-se um constante discernimento para não atravancar o caminho
com mensagens e costumes que já não são um serviço na transmissão do
Evangelho: não tenhamos medo de os rever!
Realça, na linha de Tomás de
Aquino, que os preceitos dados por Cristo e pelos apóstolos ao povo de
Deus são pouquíssimos, para não tornar pesada a vida aos fiéis nem
transformar a nossa religião numa servidão. A misericórdia de Deus quis que
ela fosse livre. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não
é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os
fracos. (n. 43-47)
3. É para chegar a todos, sem exceção, que a Igreja
assume este dinamismo missionário. Mas, a quem deverá privilegiar? Quando se lê
o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto os amigos e
vizinhos ricos, mas sobretudo os pobres e os doentes, aqueles que muitas vezes
são desprezados e esquecidos, aqueles que não têm como
retribuir (Lc14, 14).
Não devem subsistir dúvidas nem explicações
que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, os pobres são os
destinatários privilegiados do Evangelho e a evangelização dirigida
gratuitamente a eles é o sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que
afirmar, sem rodeios, que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os
pobres. Nunca os deixemos sozinhos! (n. 48)
Prefiro uma Igreja ferida e enlameada por
ter saído pelos caminhos, a uma Igreja doente de tão fechada sobre si mesma,
acomodada e agarrada às suas próprias seguranças. Mais do que o temor de
falhar, devemos ter medo de continuar encerrados nas estruturas que nos dão uma
falsa proteção, nas normas que nos tornam juízes implacáveis, em hábitos que
nos deixem tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta. Jesus repete-nos,
sem cessar: Dai-lhes vós mesmos de comer (Mc 6,
37). (49)
Este resumo da primeira parte da Exortação
E.G. mostra que o método deste Papa não é o de repetir, mas de inovar
e provocar inovações.
Frei Bento Domingues, O.P.
Fonte: www.publico.pt
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