Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

“O método do papa Francisco não é o de repetir, mas de inovar e provocar inovações.” - O artigo de Frei Bento Domingues. Vale a pena ler!


Desde que o papa Francisco foi eleito para liderar a Igreja Católica, muitos de seus discursos, palavras, atitudes e ações são recebidos com grande entusiasmo por muitas  pessoas (e até pelas grandes multidões), na esperança de que tragam a renovação e mudanças concretas para a Igreja Católica,  como também para toda a humanidade. 

Mas, as mesmas palavras e  atitudes também incomodam ou até mesmo assustam outras pessoas (inclusive alguns setores dentro da Igreja), sobretudo as mais conservadoras. Não falta gente perguntando: será que  deve ser levado a sério o que o papa Francisco fala e pretende realizar? Será que isso tudo não seria  apenas uma ‘maquiagem’ para parecer que mudará alguma coisa, mas, na verdade, tudo continuará como antes? Alias, insinuações como esta com o objetivo de desvalorizar o papel do papa como lider religioso, são cada vez mais freqüentemente lançadas pelos poderosos Meios de Comunicação, que – todos  sabemos – estão a serviço do mercado global e dos ‘donos deste mundo’...

O que pensar sobre isso? – Eis a indagação.
Sobre isso trata o artigo  de Frei Bento Domingues,  publicado há um mês no site In Público, em Portugal. Achei interessante trazé-lo para o blog Indagações-Zapytania. Não deixe de  ler!

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O discurso do método do papa Francisco
08.12.2013 - in Público


1. O Papa está a tornar-se a referência dos que precisam de energia espiritual para resistir à idolatria do dinheiro, à tirania dos mercados, à especulação financeira, à economia que mata, às políticas que consideram os doentes e os velhos um estorvo e o desemprego uma fatalidade.
Como não há coragem, nem dentro nem fora da Igreja, para o mandar calar de vez, os seus adversários encomendaram a jornalistas e comentadores de serviço, a sua desvalorização: este Papa não diz nada de novo; repete o que está dito e redito, desde o séc. XIX, na Doutrina Social da Igreja, não passa de um populista.
Os desconsolados com o Papa Francisco não são contra a solidariedade. Sabem o que fazer para que nunca haja falta de pobres. Insuportável é o método do seu discurso e atuação: convocar toda a Igreja a olhar este mundo a partir dos excluídos, mudar o centro da sua missão para a periferia e organizar-se a partir daí.
Sonho, diz o Papa na Exortação Evangelli Gaudium, com a opção missionária capaz de transformar os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial num canal de evangelização e não apenas um instrumento da sua auto-preservação. Pertence ao Bispo promover uma comunhão dinâmica, aberta e missionária na sua diocese. Deverá estimular e procurar um amadurecimento dos organismos de participação propostos pelo Código de Direito Canónico e de outras formas de diálogo pastoral, com o desejo de ouvir todos e não apenas alguns, sempre prontos a lisonjeá-lo.
“Dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado. Compete-me, como Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe deu e às necessidades actuais da evangelização”  (n. 32).
O Papa pede o abandono de um critério pastoral muito cômodo e muito usado: “fez-se sempre assim”. Convida todos, sem contemplações, a serem ousados e criativos na tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades. Vai mais longe: ”Uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os alcançar, está condenada a traduzir-se em mera fantasia” (n.33).
2. Recorre ao Vaticano II para afirmar a  hierarquia das verdades da doutrina católica, dado que nem todas têm o mesmo vínculo com o fundamento da fé cristã. Isto é tão válido para os dogmas de fé, como para o conjunto dos ensinamentos da Igreja, incluindo a doutrina moral (n.36). Invoca S. Tomás de Aquino para dizer que na mensagem moral da Igreja há uma hierarquia nas virtudes e ações que dela procedem. A misericórdia é a maior de todas as virtudes.
Esta falta de hierarquia na pregação e na catequese gera distorções muito graves. É o que acontece quando se fala mais da lei do que da graça, mais da Igreja do que de Jesus Cristo, mais do Papa do que da palavra de Deus (n.37-38).




A defesa de uma doutrina monolítica não respeita a riqueza inesgotável do Evangelho. Impõe-se um constante discernimento para não atravancar o caminho com mensagens e costumes que já não são um serviço na transmissão do Evangelho: não tenhamos medo de os rever!
Realça, na linha de Tomás de Aquino, que os preceitos dados por Cristo e pelos apóstolos ao povo de Deus são pouquíssimos, para não tornar pesada a vida aos fiéis nem transformar a nossa religião numa servidão. A misericórdia de Deus quis que ela fosse livre. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. (n. 43-47)
3. É para chegar a todos, sem exceção, que a Igreja assume este dinamismo missionário. Mas, a quem deverá privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto os amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo os pobres e os doentes, aqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, aqueles que não têm como retribuir (Lc14, 14).
Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é o sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar, sem rodeios, que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Nunca os deixemos sozinhos! (n. 48)
Prefiro uma Igreja ferida e enlameada por ter saído pelos caminhos, a uma Igreja doente de tão fechada sobre si mesma, acomodada e agarrada às suas próprias seguranças. Mais do que o temor de falhar, devemos ter medo de continuar encerrados nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos tornam juízes implacáveis, em hábitos que nos deixem tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta. Jesus repete-nos, sem cessar:  Dai-lhes vós mesmos de comer (Mc 6, 37). (49)
Este resumo da primeira parte da Exortação E.G. mostra que o método deste Papa não é o de repetir, mas de inovar e provocar inovações.

Frei Bento Domingues, O.P.

Fonte:  www.publico.pt


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