Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O dono do mundo. – Artigo de Mario Corso.


Abaixo, um artigo muito interessante do psicanalista Mario Corso sobre as pessoas que se encontram em estado de loucura, hoje mais visíveis nas ruas e outros espaços públicos, com as quais a sociedade (e cada um de nós) precisa conviver e aprender a lidar. Trata-se de uma realidade que frequentemente constrange e desconcerta  a todos nós – escreve o autor.
O artigo foi publicado recentemente também no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Vale a pena ler!

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IHU - Notícias
Quarta, 30 de abril de 2014.

O dono do mundo
"Passeava com minha filha na Cidade Baixa e encontramos o dono do mundo. Pelo menos era o que ele gritava aos passantes, desde a calçada onde estava estirado: 'O dono do mundo sou eu, não são os americanos, não são os japoneses, não são os alemães, eu sou o dono...' . Além de reclamar para si a posse do planeta, xingava todos, delimitando sonoramente seu reino", escreve Mario Corso, psicanalista, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 29-04-2014.
Eis o artigo.
Passamos reto, pisando leve em seus domínios. Nós sabíamos do que se tratava, já trabalhamos com pessoas assim. Discutimos se ele estaria melhor num hospício.
A abertura dos manicômios trouxe para as ruas uma população que permanecia oculta. De uns anos para cá, aumentou o número de loucos de rua entre os mendigos habituais. Nossa reação automática é pensar que isso foi um erro, na rua eles estão sem ajuda, sem terapia, sem medicação. Estão misturados ao lixo, com que provavelmente estão identificados, ocupando um lugar de dejeto social.
O certo é que não estavam melhores antes, mesmo se internados numa das poucas boas instituições e se esse abrigo fosse dotado de bons profissionais. Os antigos manicômios eram museus de peças humanas falhadas, ocultas do nosso olhar. É duro reconhecer uma impotência, mas nós não temos uma resposta a não ser paliativa para certos desistentes da nossa sociedade. Nesses casos extremos, tratamentos que visem a abordagens corretivas são inúteis. Para ajudá-los, só nos resta acompanhá-los e tentar fazê-los sentir-se considerados, como outro cidadão qualquer.
Sua postura no mundo, sua doença – pessoalmente prefiro evitar essa palavra, pois não dá conta do problema – é recusá-lo em bloco. Eles desistiram de nós. Para tanto fundam um novo mundo, uma nova lógica. Nesse espaço imaginário, eles vencem. Querer convencê-los do contrário é tão contraproducente como impossível. É mais fácil convencer alguém são de que seria louco do que arranhar minimamente esses sistemas delirantes.
O único motivo para mantê-los institucionalizados seria para não tropeçarmos neles e nos deparar com as fronteiras sinistras da condição humana. A internação era boa para nós, pois a loucura nos constrange e desconcerta. Encerrados, eles definham ainda mais, são privados dos cenários do mundo e de nós. Eles não recusam nossa presença, é da nossa lógica que eles prescindem. Gostam de circular neste mundo, mesmo sabendo que perderam a guerra de impor seu sentido.
Se você duvida sobre minha opinião e testemunho (conheci muitos dos antigos hospícios), recomendo o livro Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex (Ed. Geração, 2013). Obra para estômagos fortes, conta histórias de internados. Esses mesmos que hoje estão nas ruas. Depois me diga o que é pior.
Fonte: IHU - Notícias 

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