“ Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22) - Comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez.

 “Todo o poder me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” (Mt 28, 18-19)

Pentecostes.

O comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez Cabriada sobre o texto Jo 20, 19-23 é muito interessante. Vale a pena ler!

WCejnog

Obs.: Os interessados podem  ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o  site das Monjas Beneditinas de Montserrat. www.benedictinescat.com/montserrat  Trabalho muito bonito!

“Recebei o Espírito Santo,
e soprou sobre eles” (Jo, 20, 22).

O Espírito de Jesus, o que animou (animus) a sua vida,
foi fazer o bem quando passou por aqui.
O Espírito transluz em nós segundo o nosso modo
de atuar cada dia: a que dedicamos o nosso tempo,
a quem amamos, que nos emociona,
que coisas não estamos dispostos a tolerar.
Mas também que lemos, que películas vemos,
onde e com quem rezamos...
E assim dia a dia, hora a hora, até ao último alento,
quando entregarmos o espírito.

José Luis Cortés

Comentário

Não recebemos  um espírito de escravos, para cair no temor, mas um espírito de filhos que nos faz clamar “Abbá, Pai!” (Ro. 8, 15)

João 20,19-23.

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,

 estando fechadas as portas da casa

onde os discípulos se encontravam,

com medo dos judeus, veio Jesus,

colocou-se no meio deles e disse-lhes:

- A paz esteja convosco.

Todos os evangelhos falam do temor que sentiram os que tinham seguido Jesus, depois da sua execução na cruz. O quarto evangelista, em particular, diz-nos que o temor é o contrário da fé. O medo revela falta de amor, impede viver a fé que transforma a vida.  

Vivo fechado? Tenho medo de algo ou de alguém?, Custa-me ver que o Espírito continua a actuar hoje?

Em todas as situações, Jesus se aproxima e nos oferece a sua paz. Paz que liberta do medo, da velha condição de “fechados” e prepara para assumir novos desafios.

O Espírito de Jesus recria as pessoas, transforma uma comunidade covarde e fechada numa comunidade valente, com as portas e janelas abertas.

Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado

Os discípulos ficaram cheios de alegria

ao verem o Senhor.

Jesus disse-lhes de novo:

- A paz esteja convosco.

O encontro com Jesus é fonte da maior alegria. Paz é a primeira palavra, o primeiro desejo de Jesus ressuscitado. Jesus oferece-nos a sua paz: integridade e coerência de vida, busca da justiça, confiança, harmonia pessoal e social. Para sublinhar que começou um tempo novo. O tempo do Espírito.

Como me aproximo das pessoas?

A minha saudação, como a de Jesus, transmite alegria, proximidade, paz..?

E acrescentou:

Assim como o Pai me enviou,

também Eu vos envio a vós.

O Enviado por excelência, nos envia a todos. O Espírito enche por dentro e lança para fora. Associa-nos à sua missão de libertação, esperança e vida.
Convida-nos a sermos a presença, o acolhimento e a companhia de Jesus no mundo; a mostrar o seu Espírito, comunicando às pessoas paz, luz, alegria e a segurança de que nunca estão sós nem abandonadas.

Para o conseguir, é necessário deixarmo-nos conduzir por Ele, superar nossos medos, sair da rotina e enfrentar os desafios dum mundo sempre em mudança, sempre novo.

Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:

- Recebei o Espírito Santo.

O dom do Espírito não é uma surpresa nem algo inesperado. Jesus tinha-o prometido em diversas ocasiões: Jo. 14,15.26; 15,26;16,7-15.

Pelo Espírito, os discípulos ali reunidos, homens e mulheres, com Maria, sentem-se livres e libertadores.  Boa ocasião para nos perguntarmos pelo “nosso espírito”.

Que experiência tenho da sua ação na minha vida?

Deixa-se que o Espírito de Jesus atue na comunidade dos crentes?

Mostro um cristianismo apagado, SEM ESPÍRITO, baseado mais sobre temores, normas e medos que sobre a alegria e a força da Vida Nova?

Que bem nos sabe o sopro de Jesus!

Imaginamos essas ocasiões nas quais necessitamos alento, ar, 

porque ficamos sem respiração.

Abrimos as janelas e respiramos ar...

Imaginamos os dias em que necessitamos a palavra de alento de alguém, 

a palavra que nos diz que não é nada,

que nos lancemos para a frente:

“Não te preocupes. Ânimo!  Muito ânimo!”...

Isso é Pentecostes no meio do medo e dos ferrolhos.

Pentecostes,  acontecimento onde resplandece em plenitude 

a Vida Nova do Ressuscitado.

Nossa Nova Vida

José Enrique Ruiz de Galarreta

Àqueles a quem perdoardes os pecados

ser-lhes-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos.

A missão dada supõe uma tarefa de reconciliação universal. Junto com o Espírito recebemos uma recomendação: viver perdoando e perdoando-nos.
Perdoar é uma maneira de dar vida. De libertar e nos sentirmos libertos.
Quem escuta e faz da vida o Evangelho descobre a revolução social do perdão.

Que faço para concretizar na minha vida pessoal a missão de reconciliação universal?

Vem

Espírito de Jesus, Tu que és o espírito dos pobres
e dos que lutam por eles, Vem!
Vem hoje visitar-me, vem já.

Atravessa as paredes de minha casa.

Rompe as muralhas que me separam dos pobres,

derruba as minhas portas trancadas, abre todas as janelas,

e deixa-me indefeso perante Ti, perante eles.

Afasta todas as pedras que ponho no teu caminho,

e aproxima-Te de mim para me ungires com o teu óleo,
o óleo dos pobres e da justiça.

Vem! Vem sem tardar, unge a minha alma e empapa-a,

Espírito de Jesus, Espírito dos pobres,
empapa a minha alma com o teu amor, Espírito Libertador.

E, depois, envia-me, envia-me aos pobres,
a levar-lhes a tua alegria e a tua dignidade,
a dar-lhes o que lhes devemos em justiça,
para fazer um mundo novo à tua medida:

O mundo do Espírito.

Karl Rahner