“É preciso conter a ganância egoística e garantir a saúde
do meio ambiente. Senão teremos vergonha de sermos seres humanos” – lemos no artigo,
que hoje trago para o blog Indagações-Zapytania.
É um excelente texto
de José Eustáquio Diniz
Alves sobre as questões
vitais, das quais depende a vida e o futuro do nosso planeta Terra. Nesta
altura, o nosso planeta chegou a depender das atitudes do seu principal ocupante,
administrador e, também, o seu maior inimigo – o ser humano.
O artigo foi
publicado no início do mês de junho de 2014 também no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU). Vale a pena conferir.
WCejnog
IHU – Notícias
Quinta, 05 de junho de
2014.
Dia Mundial do Meio Ambiente:
vergonha de ser humano
“Se a dinâmica
demográfica e econômica continuar sufocando a dinâmica biológica e ecológica a
civilização caminhará para o abismo e o suicídio. Porém, antes de o antropoceno
provocar uma extinção em massa da vida na Terra é preciso uma ação radical no
sentido de conter a ganância egoística e garantir a saúde do meio ambiente.
Senão teremos vergonha de sermos seres humanos”, escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor
em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas
– ENCE/IBGE. O artigo é publicado por EcoDebate,
04-06-2014.
Eis o
artigo.
A ONU
estabeleceu o dia 05 de junho como data comemorativa do MEIO
AMBIENTE. Entre os objetivos das comemorações estão: “a)
Mostrar o lado humano das questões ambientais; b) Capacitar as pessoas a se
tornarem agentes ativos do desenvolvimento sustentável; c) Promover a
compreensão de que é fundamental que comunidades e indivíduos mudem atitudes em
relação ao uso dos recursos e das questões ambientais; d) Advogar parcerias
para garantir que todas as nações e povos desfrutem um futuro mais seguro e
mais próspero”. O Dia Mundial do Meio Ambiente foi
estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas,
em 1972, marcando a abertura da Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano.
Mas nos últimos
42 anos, enquanto os indicadores humanos melhoraram (a despeito das
desigualdades sociais), a situação ambiental na Terra piorou
e pode estar caminhando para um colapso, caso não haja uma mudança de rumo. O
homo sapiens surgiu a cerca de 200 mil anos na África e se espalhou por todos
os cantos do Planeta. Na medida em que o número
de indivíduos da espécie crescia e as atividades antrópicas aumentavam o grau
de dominação e exploração da natureza, a biodiversidade e as áreas selvagens do
mundo caminhavam em sentido contrário, perdendo espaço e direitos enquanto as
civilizações humanas foram se tornando onipresentes em um meio ambiente
degradado.
As áreas de
florestas foram as primeiras a sofrerem com a demanda humana por madeira, lenha
e espaço para a agricultura e a pecuária. Segundo a Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO),
o ritmo do desmatamento, devido ao uso de áreas florestais para fins agrícolas,
foi de 14,5 milhões de hectares por ano entre 1990 e 2005. Entre 2005 e 2010 o
ritmo de destruição foi um pouco menor, sendo que o planeta perdeu, em média,
4,9 milhões de hectares de floresta por ano no período. Mas isto significou 10
hectares de desmatamento por minuto.
A destruição dos
habitats tem provocado a extinção de algo entre 10 a 30 mil espécies por ano.
Centenas de rinocerontes são abatidos covardemente todos os anos para fomentar
o comércio apenas do chifre, cujo preço no mercado negro vale mais que o ouro,
chegando a 50.000 euros por quilo. Os criminosos cortam os chifres dos animais
e vendem como remédio para diversos tipos de doença ou como porções
afrodisíacas na China e no Sudeste Asiático. Milhares de elefantes são mortos
cruelmente todos os anos para que alguns poucos humanos possam lucrar com o
comércio de marfim e outros tantos humanos possam lucrar com a compra e venda
de joias e objetos de decoração fabricados a partir das presas e do sacrifício
de um dos animais mais fantásticos do Planeta. Os Tigres, os Leões, as
Onças, os Gorilas e tanto outros animais que vivem na Terra
muito antes do homo sapiens estão ameaçados de extinção.
Para alimentar
uma população crescente de seres humanos mais de 60 bilhões de animais
terrestres são mortos todos os anos e a escravidão animal é responsável pelo
confinamento de 19 bilhões de galinhas, 1,4 bilhão de bovinos, 1 bilhão de
porcos, 1 bilhão de ovelhas e um número considerável de cabritos, búfalos,
coelhos, capivaras, javalis, avestruzes, gansos, perus, patos, etc., segundo
dados da FAO. O sofrimento imposto às outras espécies é imenso.
Além disto, o boi e a vaca, por exemplo, são animais ruminantes cujo processo
digestivo provoca uma fermentação que faz o animal liberar muito gás metano. O
metano é o segundo gás que mais contribui para o efeito estufa, sendo 21 vezes
mais poluente do que o gás carbônico (CO2). Cada animal bovino adulto
libera cerca de 56 quilos de metano por ano. Portanto, os 1,4 bilhão de bois e
vacas do mundo liberam algo em torno de 78 milhões de toneladas de metano por
ano, o que é uma contribuição significativa para o aquecimento global.
Enquanto a
pecuária amplia o domínio sobre a vida animal, a agricultura também desmata e
revolve as terras, ampliando o uso de fertilizantes e agrotóxicos. Especies invasoras
substituem a vegetação original. O CO2, o nitrogênio, o fósforo, o
potássio e o zinco, além de diversos produtos químicos, são importantes
elementos utilizados para aumentar a produtividade agrícola, mas criam uma rede
de poluição que provoca a degradação do solo, a perda de qualidade do ar e da
água e a extinção de espécies. O uso dos agrotóxicos neonicotinóides tem
provocado a morte das abelhas e o fenômeno caracterizado como Síndrome
do Colapso das Colmeias. Tudo isto vai reverter em perda de segurança
alimentar. O mau uso do solo provoca erosão, salinização e desertificação,
enquanto áreas férteis e produtivas diminuem, cedendo espaço para os aterros
sanitários receberem o crescente volume de lixo e resíduos sólidos.
Os rios foram
desviados, represados, assoreados e degradados. A poluição dos rios reduz a
disponibilidade de água doce, diminui o oxigênio e provoca a mortandade de
peixes. Cachoeiras e belezas naturais, como Sete Quedas,
em Guaíra no Paraná, foram inundadas por represas hidrelétricas. Lagos, como o
mar da Aral estão diminuindo ou secando para atender aos interesses da
irrigação. Dois bilhões e meio de pessoas vivem sem saneamento básico e jogam
seus esgotos diretamente em rios ou lagoas. A contaminação química e os
agrotóxicos matam indiscriminadamente a vida terrestre e aquática. Diversos
rios e lagos do globo estão sendo destruídos, contaminados ou desviados para
diversos usos. O rio Colorado nos Estados Unidos não chega mais ao mar porque
suas águas são consumidas antes. Os rios da China estão sendo represados e
poluídos, gerando um conflito hidropolítico com a Índia, Paquistão, Bangladesh
e Vietnã.
Aquíferos
fósseis estão desaparecendo e os aquíferos renováveis não estão conseguindo
manter os níveis de reposição dos estoques, reduzindo a capacidade de carga.
Segundo reportagem do jornal indiano Economic Times (ET),
há cerca de 50 anos, no norte da Gujurat, os agricultores obtinham água dos
poços escavados numa profundidade de 30 a 40 pés. Agora os poços tubulares
estão indo até 1.300 pés. Mesmo assim, está difícil a extração de água, pois
não há recarga suficiente dos aquíferos. Metade do abastecimento de água da
Índia em áreas rurais (onde vivem 70% da população do país) está contaminada
por bactérias tóxicas. Portanto, a maior parte da Índia rural está sob estresse
hídrico, afetando as vidas humanas e não humanas. A cidade de São Paulo, que
“não podia parar”, agora tem que reduzir as atividades e o consumo de água.
A maioria da
sujeira dos solos e dos rios corre para o mar. Assim, os oceanos do mundo estão
se tornando mais ácidos em consequência da poluição dos rios e da absorção de
26% do dióxido de carbono emitido na atmosfera, afetando tanto as cadeias
alimentares marinhas quanto a resiliência dos recifes de corais. Se a acidificação
dos oceanos continuar, é provável que haja alterações nas cadeias alimentares
bem como impactos diretos e indiretos sobre diversas espécies. A sobrepesca fez
com que 85% de todos os estoques de peixes fossem atualmente classificados como
sobre-explorados, esgotados, em recuperação ou totalmente explorados, uma
situação substancialmente pior do que há duas décadas.
O aumento das
emissões de gases de efeito estufa está provocando o aquecimento global, tendo
como consequência o derretimento das geleiras e das camadas de gelo, provocando
escassez de água potável e o aumento do nível dos oceanos. Os últimos dados
mostram que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera ficou
durante todo o mês de abril de 2014 acima das 400 partes por milhão (ppm), algo
que não acontecia há pelo menos 800 mil anos. A constatação foi anunciada pelo Instituto
Scripps de Oceanografia, da Universidade de San Diego,
que monitora a estação de Mauna Loa, no Havaí. Segundo as medições, a
concentração média de CO2 em abril foi de 401,33 ppm. E a
curva continua sua trajetória ascendente rumo a um ponto de não retorno.
Como
consequência, a elevação do nível do mar ameaça a existência de países como
Tuvalu e pode alagar áreas densamente povoadas. Dois estudos da NASA,
de maio de 2014, mostram que a contração das geleiras na Antártida ocidental se
tornou irreversível. A humanidade ultrapassou um patamar crítico. Somente a
geleira Pine Island, no oeste da Antártida, é responsável por 20% do total de
gelo da parte ocidental do continente e já iniciou um processo irreversível de
colapso.
A elevação do
nível do mar já prejudica os deltas dos principais rios do mundo. Artigo de James
Syvitski e co-autores, “Naufrágio dos deltas devido às atividades humanas”
(Sinking deltas due to human activities), publicado na Revista
Nature Geoscience, em 2009, mostra como o delta de vários rios
importantes do mundo estão afundando devido às atividades antrópicas, com
perdas de áreas férteis. Diversos animais e plantas, assim como inúmeros ecossistemas
vão sofrer com o aquecimento global, as mudanças climáticas e suas
consequências. Evidentemente muitas espécies vão se adaptar à nova realidade
climática, mas diversas outras vão desaparecer em decorrência da expansão
humana e dos resultados negativos das atividades antrópicas.
A humanidade
ocupa cada vez mais espaço no Planeta e tem investido de maneira
predatória contra todas as formas de vida ecossistêmicas da Terra.
O ser humano está reincidindo, de maneira recorrente, nos crimes do especismo e
do ecocídio. Se a dinâmica demográfica e econômica continuar sufocando a
dinâmica biológica e ecológica a civilização caminhará para o abismo e o
suicídio. Porém, antes de o antropoceno provocar uma extinção em massa da vida
na Terra é preciso uma ação radical no sentido conter a
ganância egoística e garantir a saúde do meio ambiente. Senão teremos vergonha
de sermos seres humanos.
Referências
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RJ, 13/06/2012
http://www.ecodebate.com.br/2012/06/13/do-antropocentrismo-ao-mundo-ecocentrico-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
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EcoDebate, RJ, 21/11/2012 http://www.ecodebate.com.br/2012/11/21/especismo-e-ecocidio-o-massacre-de-elefantes-e-o-comercio-de-marfim-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
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EcoDebate, RJ, 28/11/2012
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ALVES, JED. Especismo e ecocídio: 100 milhões de tubarões mortos por ano.
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ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a destruição da Amazônia. EcoDebate,
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ALVES, JED. Especismo e ecocídio: Gorilas ameaçados de extinção. EcoDebate,
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ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a extinção dos tigres. EcoDebate,
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ALVES, JED. Especismo e ecocídio: o sumiço das abelhas. EcoDebate,
RJ, 18/09/2013
http://www.ecodebate.com.br/2013/09/18/especismo-e-ecocidio-o-sumico-das-abelhas-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
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ALVES, JED. O naufrágio dos deltas devido às atividades humanas. EcoDebate,
RJ, 21/05/2014
http://www.ecodebate.com.br/2014/05/21/o-naufragio-dos-deltas-devido-as-atividades-humanas-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
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Vídeos mostrando os impactos negativos da
humanidade sobre o Planeta e a escravidão animal:
Ética e Direitos Animais – Sônia T. Felipe
http://www.youtube.com/watch?v=EK0hVSpHn_I
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A Carne é Fraca –
documentário completo
http://www.youtube.com/watch?v=g0VoeRNEKnE
http://www.youtube.com/watch?v=g0VoeRNEKnE
“Carne Sofriboi”, do
chargista Maurício Ricardo
http://www.youtube.com/watch?v=ygC8AJ4WviA
http://www.youtube.com/watch?v=ygC8AJ4WviA
Documentário “Linha de Desmontagem”
http://www.youtube.com/watch?v=BYHel1oZ62o
http://www.youtube.com/watch?v=BYHel1oZ62o
Se os abatedouros tivessem paredes de vidro – com Paul McCartney (dublado em
português)
http://www.youtube.com/watch?v=2VVy_V-XOv4
http://www.youtube.com/watch?v=2VVy_V-XOv4
Ser humano espécie invasora e praga sobre a Terra?
https://www.facebook.com/photo.php?v=710025515727565
https://www.facebook.com/photo.php?v=710025515727565
Como o ser humano destrói o planeta http://www.huffingtonpost.com/2014/03/27/everything-wrong-with-humanity-animation_n_5037496.html?utm_hp_ref=mostpopular
http://www.youtube.com/watch?v=WfGMYdalClU
http://www.youtube.com/watch?v=WfGMYdalClU
Video: Sobrevivendo ao Progresso “Surviving Progress”
(2011) Legenda em português http://vimeo.com/56217994
Fonte: IHU - Notícias
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