Falo por mim: não é fácil ter paciência e não olhar
para o relógio, quando a homilia do padre durante a Missa (ou outra celebração
qualquer) além de ser chata e demasiadamente longa, ainda trata todos os
presentes como se fossem crianças (precisam, por exemplo, repetir as palavras
do padre para ‘gravar’, ou outras
‘técnicas’ infantis), ou, então, como se falasse para os ‘invisíveis’ na assembléia, porque estes que estão ali, nos bancos,
com certeza têm pouco a ver com o que o
padre fala. Muitas vezes fico
realmente insatisfeito ao fim da homília
e a frase que vai se impondo com bastante insistência é: “falou muito e disse
nada!” Que pena! Por que não se
aproveita esse tempo? - E são poucos
os padres que ‘escapam’ desta minha
crítica, infelizmente.
Obviamente, tenho plena consciência de que falo
aqui em meu nome e represento também aqueles que eu conheço muito bem. Porém,
pode acontecer que haja pessoas que gostem disso tudo e não tenham objeção
nenhuma a esse respeito, pode ser. E cada um tem o direito para gostar ou não
gostar.
Pensando sobre esse assunto, trago hoje para o blog
Indagações-Zapytania um artigo de pe. Thomas Reese. O autor fala sobre a
questão de homilias, baseando-se em sua própria experiência, como sacerdote.
O artigo foi
publicado no mês de abril de 2015 nos EUA, e também, logo depois, no
site do Instituo Humanitas Unisinos
(IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU - Notícias
terça,
05 de maio de 2015
Papa Francisco diz
"não" a homilias chatas
"Eu normalmente
tento ressaltar o significado que o autor do texto bíblico tentou expressar, em
vez de pegar uma frase dele e discorrer sobre ela. Às vezes, requer-se um pouco
de exegese para se chegar à mensagem do autor, mas uma homilia não é uma
aula", escreve Thomas Reese,
jornalista, ex-editor-chefe da revista America, dos jesuítas dos EUA, de 1998 a
2005, em artigo publicado pela National
Catholic Reporter, 30-04-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o
artigo.
O Papa Francisco disse
a 19 novos sacerdotes no começo da semana passada para se certificarem de que
“as vossas homilias não sejam chatas”.
Esta exortação, feita em
26 de abril durante uma ordenação sacerdotal para Diocese de Roma, me fez
refletir sobre a minha própria experiência de pregação e escuta a homilias. Eu não me considero um grande homilista e
jamais iria me pôr a dizer a um outro sacerdote como pregar.
Quando era um jovem
padre, eu considerava o ato de pregação um
verdadeiro desafio. Nunca gostei de falar em público, e nunca fui bom nisso na
escola. Eu sequer posso contar uma piada ou uma história sem estragar tudo. A
aulas de pregação no seminário não foram tão úteis quanto poderiam ter sido.
Aos poucos, aprendi a pregar pregando.
Ficar de pé em frente a
uma igreja cheia é uma experiência assustadora. As pessoas aí estão todas à
espera de que eu diga algo profundo e inspirador, e eu não tenho certeza de que
possuo algo válido de ser dito. Não sou um homem santo; a minha fé não existe
sem um monte de dúvidas. “O que estou fazendo aqui?”, pergunto-me seguidamente.
O momento em que mais
oro é quando estou prestes a fazer uma leitura
bíblica. Eu me curvo diante do altar eu rezo: “Deus,
ajudai as pessoas a extraírem algo a partir disso. Elas necessitam de vossa
ajuda, pois minhas palavras não serão o suficiente”. É como um dos meus
professores dizia: “Deus pode até mesmo usar o queixo de um jumento” (Juízes,
15,16).
Quando era um jovem
padre, eu fiz uma promessa para mim mesmo de que jamais usaria as palavras numa homilia que não fizessem sentido
para mim. Consequentemente, eu em geral evito frases como: “salvar almas”, “a
graça de Deus” e “transubstanciação”, pois não tenho certeza do que elas
significam. São abstrações que não me tocam. Por outro lado, “amor, compaixão e
misericórdia” são palavras com as quais eu consigo me conectar.
Também prometi a mim
mesmo que jamais diria alguma coisa do púlpito que eu não acreditasse ou que
não quisesse, ao menos, acreditar. Eu não fingiria ser mais do que sou.
O Papa Francisco disse isso de uma forma
mais positiva, ao falar aos que estavam sendo ordenados para se certificarem de
que “as vossas homilias não sejam chatas, que as vossas homilias cheguem
justamente ao coração das pessoas porque saem do coração de vocês, para que
aquilo que vocês dizem a eles seja aquilo que vocês tenham no coração”.
Pregar exige
autenticidade. O Povo de Deus é muito paciente com os sacerdotes, mas
intuitivamente ele sabe quando as palavras não vêm do coração. Isso não
significa que o sacerdote está “descendo da montanha com uma inspiração de
Deus”. Pelo contrário, muitas vezes significa que o sacerdote está se debatendo
na montanha, como o resto do Povo de Deus.
Uma das coisas que
tínhamos de aprender no seminário era basear as nossas homilias nas leituras
bíblicas do dia. Antes do Concílio Vaticano II, o
padre poderia pregar sobre o catecismo ou outros tópicos não relacionados às
leituras, mas isso não mais é incentivado hoje.
Acho útil pregar com
base nas leituras bíblicas do dia, pois elas evitam com que eu fique pregando
sempre sobre a mesma coisa. Seguir a sequência de leituras da Igreja nos força
a refletir sobre todo o Evangelho, e não somente as partes de que gostamos.
Igualmente, a linguagem dos Evangelhos é simples, o que evita com que eu me
torne abstrato demais.
Ter um conjunto regular
de leituras também permite que os leigos leiam sobre as Escrituras no começo da
semana antes de virem à missa de domingo. Dessa forma, as Escrituras podem
falar-lhes diretamente antes de ouvirem as reflexões do sacerdote. Nenhum outro
exercício espiritual é mais frutífero do que rezar sobre as leituras das Sagradas Escrituras de
domingo antes de ir à missa.
Acho que as leituras bíblicas sempre inspiram alguns
pensamentos que eu posso partilhar, mesmo se eu esteja simplesmente repetindo o
que já se encontra nas leituras bíblicas.
Eu normalmente tento ressaltar
o significado que o autor do texto bíblico tentou expressar, em vez de pegar
uma frase dele e discorrer sobre ela. Às vezes, requer-se um pouco de exegese
para se chegar à mensagem do autor, mas uma homilia não é uma aula – as
leituras bíblicas têm de estar relacionadas com a comunidade.
Uma coisa que sempre me
rende cumprimentos é a introdução das primeira e segunda leituras de domingo.
Acho que ajuda as pessoas a escutarem as leituras se eu, antes de tudo,
explicar-lhes o contexto. Muitas vezes é útil saber o que estava acontecendo
antes da seção que está sendo lida e interpretada. Isso significa não apenas
repetir o que está na leitura, mas dispor o cenário de forma que, quando as
pessoas ouvem a leitura, elas entendam mais e melhor o que se passa.
Muitos defendem que um
padre não deveria usar um texto escrito no momento da pregação, devendo falar
sem notas ou texto. Dessa forma, dizem, a pregação é mais pessoal.
Eu concordo, porém não
consigo fazer isso exceto nos dias de semana, quando prego apenas por uns
poucos minutos. Centrar os olhos num texto e não olhar às pessoas é desastroso,
mas sem algo preparado para ler no domingo, eu me perco. Sempre leio-o várias
vezes antes, de forma que eu possa manter um contato visual com a comunidade
durante a pregação. Mesmo assim, não confio que a minha memória esteja boa o
suficiente para deixar o texto de lado.
Eu particularmente
preciso de um texto para me manter na linha de pensamento e fazer as transações
de um ponto para outro. Sem um texto preparado, eu acabo divagando e esquecendo
o que eu deveria ser dito. E mais, depois que termino de escrever a minha
homilia, posso me levantar e fazer outra coisa. Sem um texto escrito, acabo me
preocupando com ela até o momento em que termino de pregar.
Eu finalmente superei a
minha culpa por usar um texto escrito quando vi o padre jesuíta Walter Burghardt pregar. Ele era
considerado um dos maiores pregadores católicos nos EUA; Burghardt usava
um texto e o seguia até o fim. Aliás, eu o ensinei a usar um computador para
escrever as suas homilias, mas esta história fica para uma outra oportunidade.
O papa diz aos
sacerdotes para não serem chatos, enfadonhos. Eu acrescentaria: sejam breves e
claros.
Pregar não é fácil.
Graças a Deus que o povo é paciente e perdoa. Se você escutar a uma boa
homilia, certifique-se de cumprimentar o sacerdote. Precisamos deste incentivo.
Fonte: IHU - Notícias
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