Hoje trago para
o blog Indagações-Zapytania mais uma materia muito boa e importante sobre a
questão indígena no Brasil de hoje. A entrevista com Dom Roque Paloschi, o novo arcebispo de Porto Velho, que neste ano foi eleito
presidente do Conselho Indigenista Missionário - CIMI, é imperdível.
A materia foi poblicada no site do
Instituto Humanitas Unisinos (IHU) no mês de outubro de 2015.
Vale a pena ler!
WCejnóg
(Fotos - Fonte: Google)
IHU
- Nitícias
Sexta, 23 de outubro de 2015
Por Patricia Fachin
Questão indígena no Brasil: “falta uma posição mais decidida do governo central”. Entrevista especial com Dom Roque Paloschi.
“Em
todo o país os povos indígenas estão rodeados pelo latifúndio e pelas PECs, que
são subterfúgios para desmontar as conquistas”,
diz o arcebispo de Porto Velho
e presidente do
Conselho Indigenista Missionário - CIMI.
Entre os
“desafios fundamentais” da atuação do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, que há mais
de 40 anos intervém em defesa dos povos indígenas, um deles “é o de contribuir
para que a articulação e a mobilização dos povos em defesa de suas vidas sejam
fortalecidas e que a solidariedade da sociedade brasileira a estes povos seja
ampliada. Enfrentar as perseguições decorrentes dessa opção em defesa da vida
dos povos
indígenas também
se tornou um importante desafio, especialmente a partir da ‘CPI do Cimi’
criada pela Assembleia Legislativa e conduzida por fazendeiros e deputados do
estado de Mato Grosso do Sul”, diz Dom Roque Paloschi, novo presidente do Cimi, à IHU
On-Line.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Dom Roque
Paloschi enfatiza que
é preciso “ampliar as denúncias, nacional e internacionalmente, deste conjunto
de violências
e violações que
estão sendo cometidas contra os povos indígenas no Brasil, demonstrando quem
são e quais os objetivos dos responsáveis por este processo”.
Depois de dez anos à frente da Igreja de Roraima, Dom Roque
Paloschi também
foi nomeado pelo Vaticano como novo arcebispo de Porto Velho. “Vou para a nova missão
na Igreja de Porto Velho com a consciência de que preciso ser um irmão entre
irmãos e irmãs. Estamos no mês missionário (Mês de agosto) e fomos acalentando
em nossa Igreja essa consciência de que missão é servir. Peço a graça de Deus
de poder abraçar os caminhos da Igreja que está em Porto Velho com muita
humildade e docilidade”, conclui.
A entrevista.
IHU
On-Line - Como foi sua experiência como bispo de Roraima? Quais questões
centrais marcaram a sua atuação à frente da Igreja em Roraima?
Dom Roque Paloschi - Foram dez anos marcados pela rica experiência de
uma Igreja marcada pela perseguição, difamação e calúnias, mas que contou
sempre com a solidariedade das demais Igrejas Particulares do Brasil, através
do Regional
Norte I da CNBB e
de modo muito especial pela presidência da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil. Uma Igreja que passou pela grande tribulação, mas
foi também uma Igreja marcada pelo testemunho heroico e profético de muitos
missionários(as), mas também catequistas, animadores e jovens que não se
apequenaram diante da cruz.
A Diocese de Roraima procurou ficar ao lado dos povos indígenas,
na busca de seus direitos. Podemos destacar também a generosidade de muitas
famílias, religiosos e dioceses do Brasil ou de outros países, que acolheram o
convite e abraçaram a missão aqui entre nós. Certamente motivados pela Campanha
da Fraternidade de 2007 com
o lema: “Vida e emissão neste chão”. Creio também que outra questão importante
foi o empenho de todos os cristãos católicos na busca da autossustentação, numa
bela caminhada da Pastoral do Dízimo, além da Fundação da Fazenda
Esperança como
uma porta aberta para acolher tantas pessoas marcadas pela dependência química.
A Escola de Teologia Pastoral com o curso regular em Boa Vista todos
os sábados pela manhã e dois Seminários por semestre à noite, e desenvolvendo
em dois polos no interior com um fim de semana intensivo por mês, tem ajudado
nossos agentes de Pastoral a viver com mais paixão a missão e o ser católico.
Outro passo que estamos dando em âmbito de Diocese é a criação da Cáritas
Diocesana.
IHU On-Line - Como será sua transição de Roraima para Porto Velho,
agora como arcebispo? Quais questões imagina que serão mais urgentes para serem
tratadas em Porto Velho?
Dom Roque Paloschi - “Caminhando se abre caminho”. Vou para a nova
missão na Igreja de Porto Velho com a consciência de que preciso ser um irmão
entre irmãos e irmãs. Estamos no mês missionário e fomos acalentando em nossa
Igreja essa consciência de que missão é servir. Peço a graça de Deus de poder
abraçar os caminhos da Igreja que está em Porto Velho com muita humildade e
docilidade.
Peço a compaixão de Deus para não ser indiferente diante do grito de crianças machucadas já na sua tenra idade, o
grito de jovens dizimados
pela violência e pelas drogas, o grito de mulheres vítimas
da violência muitas vezes dentro da própria família. Enfim, o grito dos
crucificados de hoje.
Não tenho respostas prontas aos desafios que a Igreja
de Porto Velho precisa
enfrentar, não carrego nenhuma varinha mágica, mas carrego o sonho de
construirmos juntos caminhos de esperança e paz junto aos povos que vivem lá.
IHU On-Line - Quais são suas principais preocupações e desafios à
frente do Cimi hoje?
Dom Roque Paloschi - Os povos originários do Brasil enfrentam ataques violentos
por parte de setores político-econômicos ligados especialmente às grandes
corporações, nacionais e multinacionais, do agronegócio, da mineração, da
logística e da madeira, que buscam o controle das suas terras para explorá-las.
Esses grupos
político-econômicos não
se preocupam com a Vida, com o cuidado com a terra comum. Buscam cegamente o
lucro e o acúmulo privado.
O Cimi, junto e como aliado dos povos indígenas, em
defesa da vida destes povos, contrapõe-se a estes ataques. Muitos desafios
decorrem deste contexto. Um deles diz respeito à importância de se ampliar as
denúncias, nacional e internacionalmente, deste conjunto de violências
e violações que
estão sendo cometidas contra os povos indígenas no Brasil, demonstrando quem e
quais são os objetivos dos responsáveis por este processo.
Um desafio fundamental é o de contribuir para que a articulação
e a mobilização dos
povos em defesa de suas vidas sejam fortalecidas e que a solidariedade da
sociedade brasileira a estes povos seja ampliada. Enfrentar as perseguições
decorrentes dessa opção em defesa da vida dos povos indígenas também se tornou
um importante desafio, especialmente a partir da “CPI
do Cimi” criada pela Assembleia Legislativa e conduzida por
fazendeiros e deputados do estado de Mato Grosso do Sul.
IHU On-Line - Quais são os desafios atuais em relação à questão
indígena no país hoje?
Dom Roque Paloschi - Creio que a resposta anterior nos ajuda, mas os
povos indígenas enfrentam uma luta desigual, a força das grandes corporações
vem solapando os direitos conquistados com a Constituição Cidadã de 1988. Podemos dizer que em todo o
país os povos indígenas estão rodeados pelo latifúndio e
pelas PECs,
que são subterfúgios para desmontar as conquistas.
Sentimos que falta uma posição mais decidida do governo central. A força
do grande capital e do agronegócio procura
encaminhar os povos indígenas para o extermínio.
IHU On-Line - Qual é a atual situação dos índios Yanomami que
vivem em Roraima? Quais são as principais dificuldades que eles enfrentam?
Dom Roque Paloschi - O povo Yanomami não está fora do contexto dos demais
povos originários do Brasil, mas de modo particular eles enfrentam um avanço
cada vez mais acentuado do garimpo clandestino, com a consequência de que
muitas das doenças que chegam são fatais à saúde deste povo.
A saúde indígena está
deixando muito a desejar. Não se faz saúde indígena só removendo os doentes até
a capital, é fundamental as ações básicas nas malocas. Também a questão da educação
indígena passa
por um grande processo de discussão.
Fonte:
IHU – On-Line
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