Quando pensamos na quantidade de religiões que existem no mundo inevitavelmente surge a pergunta: todas essas religiões são a mesma coisa? A pergunta tem sentido. Diante de tantas afirmações e conceitos que elas apresentam, e não raras vezes completamente opostas, não é possível que a resposta seja positiva.
A tolerância religiosa que compreende o respeito mútuo, o conhecimento mútuo e a coexistência pacífica de todos – é uma coisa fundamental. Isso, porém, não nega a necessidade e o direito de cada pessoa de saber como são essas religiões e, com isso, poder elaborar a sua opinião sobre elas.
Na verdade, o que nos interessa nessas curtas reflexões é responder a uma questão fundamental para todo ser humano que busca um caminho certo, que o leve ao encontro com Deus. Esta questão se resume numa pergunta: Se todas as religiões não são igualmente boas, então qual delas é a mais certa, e por quê?
Para os cristãos não há dúvida de que a fé cristã se diferencia de todas as outras religiões e por isso reivindicam um tratamento distinto . Qual é essa reivindicação do cristianismo?
Sobre isso será a próxima postagem.
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O texto abaixo fala mais do tema das outras religiões:
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(...) Centenas de nomes santos, cultos, templos, milhares de respostas e concepções – desta forma se apresentam para nós as religiões. Constatamos logo, que muitas delas, em suas afirmações e teses são contraditórias entre si. Qual, então, é verdadeira? “Todas dizem que possuem a verdade, em qual delas, devo acreditar?” Eis a pergunta que freqüentemente podemos ouvir.
Não é para estranhar que muitas pessoas totalmente param de procurar chegando à conclusão que “cada um deve se salvar por si mesmo e do seu jeito”, pois todos temos, na verdade, um único Deus. Ou então, “não importa em que se acredita, importante que se tenha a fé”. Justamente esta última postura é própria a muitas pessoas de hoje, mas também era encontrada em antigas religiões pagãs, e numa forma semelhante também no budismo.
Para formular melhor o problema, vamos pensar nas seguintes perguntas: Será que o cristianismo constitui também apenas uma das formas de adorar Deus e da religiosidade ou ocupa um lugar especial? Será que a religião cristã também é apenas uma manifestação do esforço humano, mesmo muito sublime, de se comunicar com Deus?
Se quisermos falar sobre este tema, já com antecedência devemos rejeitar toda a arrogância em relação às demais convicções. Precisamos respeitar cada esforço que leva a adorar Deus, de acordo com o entendimento pessoal da pessoa; mesmo porque essa pessoa deseja servir a Deus com toda a sua vontade. No sentido subjetivo, o zelo religioso de um não-cristão muitas vezes pode ser mais intensiva que o de um cristão. Tudo isso exige o nosso respeito.
Queremos aqui, porém, falar da religião no sentido objetivo, isto é, como a religião se pronuncia sobre Deus e sobre o homem. Neste caso precisamos afirmar: sem dúvida em cada religião existem partículas da verdade.
Porém, mesmo uma análise superficial nos mostra que nem todas as declarações que as religiões formulam sobre Deus, que as vezes são até contraditórias, podem ser verdadeiras. Ou Deus é um, ou temos vários deuses; ou Deus é todo-poderoso, ou Ele mesmo depende das indefinidas forças ocultas do destino; ou Deus é um ser, que comanda o universo através da sua razão, ou é uma força impessoal, que domina tudo e se funde com o mundo, numa coisa só. As duas partes dessas afirmações nunca poderão ser verdadeiras. Nem tudo o que é “religioso”, só por isso deve ser bom e verdadeiro. Também aqui encontramos – como ensina a história – os enganos e erros: basta mencionar os cultos onde se sacrificava as pessoas, ou pensar sobre vacas sagradas ...
Deificação da natureza
Ao analisar a História das Religiões constatamos a existência de um lento processo de amadurecimento, no qual o conceito de Deus elaborado pelo homem torna-se cada vez mais claro e espiritual. Por isso ninguém estranha que as religiões das épocas remotas e também as religiões contemporâneas dos países não desenvolvidos tiveram e ainda têm uma concepção muito imperfeita sobre Deus. Não poucas vezes nessas religiões identifica-se Deus com as forças da natureza. É compreensível que os homens que sentem-se totalmente dependentes dessas forças ficam inclinados a adorar com tremor o sol, relâmpagos, fogo, mar e estrelas como deuses, oferecendo-lhes freqüentes sacrifícios.
Deus- apenas um super-homem?
Nos degraus mais altos desse processo as experiências da vida humana tornavam-se objeto da adoração: amor e morte, destino e vingança. Aqui deus é moldado à semelhança do homem. Enfim, os deuses deste tipo são os seres humanos colocados no céu, com todas as fraquezas e imperfeições.
Quando as imagens dos deuses são feitos na ”medida” do homem, ai também a imagem desse homem aparece imperfeito. O ser humano nesta situação deve sentir-se ainda mais miserável do que é na realidade. Assim sendo, todas as religiões deste tipo têm uma coisa em comum: escravizam o homem que torna-se um “nada” , que depende totalmente dos deuses. O sentimento humano predominante nessas religiões é o medo.
Com certeza também existem verdades profundas nessas religiões. Elas tiveram uma função importante naquelas épocas culturais. Não se duvida que os seus adeptos possuíam freqüentemente uma devoção sincera e profunda. Apesar disso, a sua concepção de Deus e do homem é fragmentada e errônea.
Esse tipo de religião podia ser a causar que não poucas pessoas consideram a religião como algo que serve somente para os fracos, que escraviza o ser humano. Essas religiões realmente faziam isso. Hoje, nós também não podemos simpatizar com afirmações deste tipo.
Podemos um pouco adiantar aqui, que o cristianismo é uma missão Divina totalmente diferente, “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou” (Gal 5, 1).
Devemos, no entanto, reconhecer que os próprios cristãos não poucas vezes deformam essa missão Divina. Pois se também eles, de acordo com o seu entendimento da fé, ficam diante de Deus tomados de temor servil e entendem a fé como apenas a soma de preceitos e proibições – ai o seu cristianismo é totalmente mal concebido. Não podemos negar que muitos cristãos cultivam justamente esse tipo de fé repleta de medo e que por isso, nós próprios, às vezes, colocamos o cristianismo no mesmo nível das religiões mencionadas acima e por esta causa muitos o podem rejeitar do mesmo modo como rejeitam essas outras religiões. (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 50-52)*
Continua...
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me do livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben” e, usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.
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