É mais uma questão que nem sempre fica bem esclarecida para nós. Principalmente, porque poucas vezes nos debruçamos sobre ela para fazer uma boa reflexão e procurar uma resposta suficiente. E depois, quem crê em Deus tem, muitas vezes, uma sensação de que ‘sabe’ muito (ou ‘quase’ tudo) sobre Ele; e quem não acredita – esse ou não quer saber, ou sustenta que é impossível saber qualquer coisa sobre Deus, e – então – é melhor nem ‘esquentar a cabeça’.
Podemos saber tudo sobre Deus? É obvio que qualquer pessoa vai responder que não, que não é possível. Nunca poderemos saber tudo sobre Deus. E menos ainda saber como Deus é. Somos criaturas, mesmo que as mais inteligentes neste mundo – somos criaturas e limitadas. Quem pensa que podemos saber bastante – é muito iludido. Podemos saber sobre Deus alguma coisa: “sentir” a sua presença, descobrir os seus “rastros” no universo, na natureza e nas condições da nossa existência humana - na medida em que os nosso sentidos e a razão nos permitem. Podemos saber bastante sobre a vontade e o Projeto de Deus, porque a nossa leitura do mundo que nos cerca e das nossas ânsias pode ser feita, agora, à luz da revelação que veio através de Jesus Cristo. Para nós, cristãos, a Encarnação do Filho de Deus, Jesus Cristo, que foi morto na cruz e ressuscitou, é fundamental e diz respeito a toda a humanidade. Ele veio a nós e falou a “nossa” língua, nos deu mais informações e detalhes, o suficiente para ter a certeza de que precisamos ‘caminhar’ nesta vida com Deus, realizando a sua vontade e o seu projeto, e um dia teremos com Ele um encontro definitivo. E isso é tudo que sabemos sobre a vontade de Deus, através dos nossos conceitos humanos (não temos outros). No entanto, não sabemos nada (ou quase nada) sobre como Deus é - não Deus da nossa imaginação e dos nossos conceitos, mas Deus Verdadeiro. Por isso, a única atitude correta do ser humano diante de Deus deveria ser a humildade.
Uma vez Jesus disse: “A Deus ninguém nunca viu. O Filho Unigênito que está no seio do Pai foi quem no-lo deu a conhecer” (Jo 1,18). Jesus nos revelou quem é Deus por meio da sua humanidade e nos fala do Pai e do Espírito Santo (Jesus nos fala como quem vive entre nós e fala nossa língua). Só assim foi possível a comunicação. O que importa para nós, na verdade, é saber a outra coisa sobre a qual o apóstolo João refletira muito, e depois deixou por escrito na sua carta: “A caridade procede de Deus e quem ama nasce de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1 Jo 4, 7b-8). E como conseqüência disso é justamente um novo sentido da vida humana: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para sermos chamados filhos de Deus. E de fato o somos” (1 Jo 3,1).
Precisamos, às vezes, “parar” talvez um pouco mais, para pensar sobre isso... É fundamental para a nossa vida.
WCejnog
O texto embaixo ajuda-nos na reflexão sobre este tema:
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(...) Podemos saber tudo sobre Deus? De jeito nenhum. Simplesmente tomamos conhecimento que alguém como Ele deve existir, mas não é possível compreendê-lo. Deus supera toda a imaginação humana. Sim, é mais fácil dizer o que Ele não é, do que o que é. Por isso, hoje, alguns sugerem para não falar nada sobre Ele. Mas, não seria isso um grande desentendimento? Não significaria reconhecê-lo sem importância? Nós, humanos, estamos interessados exatamente em tudo o que ainda é desconhecido ou pouco explorado.Ou devemos nos ocupar somente com as verdades banais, sem significado?
(...) Podemos saber tudo sobre Deus? De jeito nenhum. Simplesmente tomamos conhecimento que alguém como Ele deve existir, mas não é possível compreendê-lo. Deus supera toda a imaginação humana. Sim, é mais fácil dizer o que Ele não é, do que o que é. Por isso, hoje, alguns sugerem para não falar nada sobre Ele. Mas, não seria isso um grande desentendimento? Não significaria reconhecê-lo sem importância? Nós, humanos, estamos interessados exatamente em tudo o que ainda é desconhecido ou pouco explorado.Ou devemos nos ocupar somente com as verdades banais, sem significado?
Pensando bem, quando falamos de Deus deveríamos ‘perder a voz’. Sabia disso a velha teologia, quando dizia que sobre Deus podemos formular somente opiniões negativas: tudo o que é humano e imperfeito tem que ser estranho para Ele. Assim, chegamos a dizer: Deus é ilimitado, infinito, inconcebível, insondável. – Por outro lado, essa teologia mostrou sobre Deus tudo que para nós parece perfeito e no grau superlativo: Deus é todo-poderoso, todo-ciente, todo-presente... Aqui se deduz sobre o Criador pelas criaturas, porque Ele próprio há de possuir em perfeição tudo isso, o que nos foi dado.
Mas, será que isso não é apenas uma tentativa de falar de Deus através das imaginações do ser humano? Bem, isso só tem valor quando temos consciência de que as nossas especulações e conclusões sobre Deus são insuficientes. É verdade que aplicamos aqui os conceitos humanos, mas, infelizmente, não dispomos de outros. E mais, nisso tudo temos que saber que todas as nossas idéias sobre Deus contêm mais dissimilaridade do que similaridade que pode existir entre Deus e homem (analogia). Apesar de tudo, essas opiniões não são falsas, porque apontam na direção certa, mesmo se não abrangem toda a realidade divina. Deus sempre ainda continuará diferente daquele que toda a nossa sabedoria humana poderia imaginar. Ele continuará mistério insondável. Atrás de cada nome que lhe atribuimos, Deus ao mesmo tempo se manifesta e se esconde.
Por isso a Bíblia se serve, com simplicidade, de um número muito grande das mais impressionantes imagens para dizer sobre Deus algo, que nunca conseguiríamos conhecer com a nossa razão. Muitos desses quadros e imagens tem características humanas, por exemplo, quando disseram que Deus tem coração, que pensa sobre nós, que alguma coisa O entristece, que está irado, que cuida de nós, etc. Essas expressões, já de antemão, supõem que devem ser entendidos como mistério. Os autores bíblicos sabem que os conceitos e ideias desse tipo são apenas meios auxiliares. Eles apenas apontam para Deus, que continua em si e sempre será insondável. Aqui não se trata, de jeito nenhum, da imagem infantil e ingênua de Deus. Trata-se aqui mais da expressão, conceitos e ideias, que nos querem tornar Deus mais próximo. (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p.36-37)*
Continua...
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me do livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben” e, usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.
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