Fico pensando: a humanidade é o coletivo de todos os seres humanos. Fazemos parte dela. Cada um de nós, tendo a sua individualidade, olha para a sua vida e a sua existência, observa também os seus semelhantes e o mundo que o cerca, do seu ponto de vista (como se fosse um ‘cientista’ dentro do seu próprio laboratório particular) e tenta entender a si mesmo e o que tem ao redor. Acredito que justamente ali, no seu íntimo, cada um de nós realiza – conscientemente ou não – essas buscas, pesquisas e descobertas para responder às perguntas que nos norteiam. Ali também tentamos verificar a ‘validade’ das outras opiniões e doutrinas, dando ou não a nossa aprovação. Finalmente, na medida possível, formamos as nossas opiniões e conceitos, sempre prontos para ‘voltar’ ao nosso ‘laboratório’, se for necessário.
É deste jeito que eu imagino a humanidade procurando as ‘pegadas’ de Deus e buscando a sua presença: todos os homens e mulheres fazem isso, no seu íntimo. Agora, como isso acontece, que tipo de ‘cientistas’ somos nós, no nosso ‘laboratório’, a que resultados chegamos – isso depende da nossa inteligência, da nossa capacidade e da nossa aptidão. E, já que somos criaturas, os nossos ‘resultados’ dessa busca de Deus também, às vezes, são medíocres, infelizmente. Isso acontece quando o homem se enche de soberba, querendo se passar por Deus, ou ocupar o seu lugar. Assim é desde o início da humanidade: o ser humano quer “ser como deuses, conhecedor do bem e do mal”. (Gen3, 5).
Deus está em toda a parte, mas o homem somente o encontra onde o busca.
(Textos Judaicos)
Deus é puríssima essência. Para os que têm fé nele, Deus simplesmente é.
(Mahatma Gandhi)
Se você não acorda cedo, nunca conseguirá ver o sol nascendo. Se você não reza, embora Deus esteja sempre perto, você nunca conseguirá notar sua presença.
(Paulo Coelho)
(Paulo Coelho)
O texto abaixo aprofunda esta questão:
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(2)
(...) Sem abordar ainda a revelação cristã, vamos primeiramente tratar aqui como o ser humano pode experimentar Deus em sua vida e no mundo.
Para isso, o homem deve mobilizar todas as suas forças: a razão, a vontade e o sentimento. Trata-se aqui da decisão fundamental, da qual depende toda a nossa vida – e as decisões resultam da vontade.
O filósofo E. Bloch afirma: “Existe um tipo de conhecimento, que só é possível alcançar se existir o interesse”. É preciso, portanto, estar pronto também para encontrar Deus. Algumas pessoas, no entanto, têm interesse justamente para Deus não existir. E por quê? – Porque reconhecer a existência de Deus acarreta certas conseqüências. Poderia significar, por exemplo, a necessidade de mudar toda uma vida em curso, o que para muitas pessoas seria uma exigência indesejável. Muita gente, conscientemente ou inconscientemente, tenta proteger-se contra Deus, tanto os que acreditam, como os ateus.
O homem, então, precisa ter o interesse em encontrar Deus. Além disso, também, precisa demonstrar a prontidão para amar e confiar. Porque quem ama, enxerga mais - chega a conhecer com mais clareza. O amor e o conhecimento se ajudam mutuamente. É lógico que não é possível obrigar alguém a amar. O amor só é possível como o resultado da decisão livre. É por este motivo que até mesmo Deus pode ficar “despercebido” para o homem.
Existem numerosas barreiras que nos obstruem o caminho que leva a Deus. Primeiramente levanta-as o próprio ser humano: quanto mais se movimenta e roda em volta de si mesmo – tanto menos consegue ver o que está acontecendo bem perto dele. A realidade estreita-se cada vez mais para ele, porque ele passa a julgar tudo em função da sua utilidade. Não são poucas pessoas que vêem o seu próximo unicamente como o seu concorrente: aquele que pode deixá-las no prejuízo. Elas não conseguem ver o conjunto da vida com bastante nitidez, porque no seu horizonte tem lugar apenas para os seus interesses pessoais. Uma pessoa assim pode também perder de vista o próprio Deus. E o homem somente pode encontrar a Deus, quando para de pensar em si só, e quando procura a desvendar o que não entende.
Outras pessoas estão cansadas, sobrecarregadas e oprimidas com o peso da luta diária pela sobrevivência, e por isso não são capazes de tratar qualquer assunto à sério. No entanto, só alguém que vigia, pode encontrar Deus.
Enfim, existe ainda um grupo de homens e mulheres exageradamente envolvidos no trabalho profissional. Eles não tem tempo absolutamente nenhum para pensar sobre as questões deste tipo. Na sua vida não tem lugar para Deus. A escritora francesa F. Sagan disse uma vez ao repórter: “Deus – nunca penso sobre Ele”.
Das posturas vitais citadas acima encontramos alguma coisa em cada um de nós. Valeria a pena de nós nos livrarmos disso. Mais importante, talvez, seria deixar de lado as reflexões baseadas na teoria, e tomar a coragem para encarar diretamente essa “questão de Deus”. Conseguimos conhecer uma pessoa somente quando temos com ela o contato. Podemos experimentar a presença de Deus – quando passamos nos relacionar com Ele. (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p.30-31)*
Continua...
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me do livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben” e, usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.
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