Nas postagens anteriores do blog Indagações falamos
sobre o tema da Igreja Católica, com o propósito de desenhar claramente a
imagem que ela – a Igreja Católica – tem de si mesma.
Mas têm ainda outras questões que também devem ser
apresentadas. Por exemplo, como entender a existência, ao lado dela, tantas
Igrejas cristãs no mundo inteiro? Qual é
a relação da Igreja Católica com essas Igrejas e com as outras religiões? “Fora da Igreja não tem Salvação” – dizia-se
antigamente, e hoje - como se pensa?
Qual é a importância do ecumenismo? Como a Igreja Católica vê a sua
missão no mundo? Qual é a sua relação com este mundo?
Para essas perguntas a Igreja Católica tem as suas
respostas e entende as questões, mencionadas acima, do seu jeito. Mas, será que realmente conhecemos bem essas
suas posições a esse respeito? Como já
escrevi numa das postagens anteriores, acredito que somente quando conhecemos alguma coisa bem mesmo, então criamos
condições para verificar se as nossas opiniões realmente correspondem à verdade.
Com intuito de falar sobre os assuntos enumerados ainda pouco, trago aqui
os textos de autoria de Ferdinand Krenzer¹. Para começar, o texto abaixo analisa o fato da
Igreja Católica existir no mundo inteiro, mas, ao mesmo tempo, ao lado de
muitas outras Igrejas, sobretudo cristãs, que surgiram ao longo da história.
É interessante.
Não deixe de ler.
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Para poder
acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as
explicações é aconselhável ler desde o
início todos os seus textos sobre este
assunto (é uma série de 16 textos publicados, com o começo no dia 31 de agosto
de 2012 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2012/08/a-questao-da-igreja-por-que-as-criticas.html ).
(17)
Igreja e Igrejas no mundo
Todos os homens são chamados para
fazer parte da sociedade (comunidade)
que Jesus Cristo quer reunir. Isto significa que pode existir só uma
comunidade dos fieis, só uma Igreja, que deve
estender-se “no mundo inteiro” (é isso justamente que significa a
palavra “católica” = universal) e deve
permanecer por todos os tempos. Universalidade e unidade, catolicidade e
unidade da Igreja – são as características da Igreja, que se complementam.
É verdade que o Novo Testamento,
nas cartas de São Paulo e nos Atos dos Apóstolos, fala sobre várias Igrejas,
mas refere-se às Igrejas locais (por exemplo, no Corinto, Éfeso, em Roma). Durante séculos as Igrejas locais desse tipo elaboravam e preservavam características
específicas, como por exemplo os próprios costumes, próprios rituais,o próprio idioma. Todas elas, no
entanto, eram unidas pela única fé e se consideravam Igrejas particulares
dentro da Igreja universal, isto é, católica. Nesse sentido a expressão “Igrejas” é totalmente
justificada. Assim, por exemplo, surgiram os patriarcados no Oriente, chamados
“antigos” (em Constantinopla, em Jerusalém, em Antioquia), que, no entanto,
permaneciam unidos entre si e com o
sucessor de São Pedro, o papa. Com muita razão todos eles se chamam “Igrejas”.
Neste sentido também a Igreja
Católica Romana é uma Igreja particular, porque a Igreja Católica não se
identifica com a romana, ou – como se fala costumeiramente – com a Igreja
latina. Assim descreve-se apenas a Igreja particular do Ocidente, o patriarcado de Roma. O termo
“católico” expressa, então, não só a
expansão geográfica da Igreja pelo mundo
todo, mas também significa que as Igrejas locais e também as Igrejas
particulares deveriam manter entre si a unidade e não podem se isolar. Portanto, cada Igreja, tanto local
como particular, existe voltada para a Igreja universal e sem isso não teria
a razão de ser. Como cada bispo é responsável também pela Igreja universal
(católica), assim também cada Igreja particular traz os seus valores para o
tesouro de toda a Igreja - e isso se chama catolicidade. Neste sentido, na
Igreja de Cristo realmente existe pluralismo e diversidade, que surgem do seu
alcance mundial – da sua universalidade.
Precisamos reconhecer que a
diversidade de Igrejas particulares, às vezes, era pouco respeitada – e isso
por causa da necessidade de manter a unidade. Sobretudo no passado, nas terras
missionárias muito freqüentemente pouco
se levava em consideração a específica e
a mentalidade de outros povos, impondo formas européias ocidentais e romanas,
inclusive com a construção de igrejas no estilo europeu. O último Concílio,
Vaticano II, novamente colocou acento no fato que sobre a verdadeira
catolicidade pode se falar somente lá, onde todas as Igrejas particulares
trazem os seus valores para a Igreja universal; hoje estamos profundamente
convencidos de que também as sociedades eclesiais separadas de Roma têm idéias
importantes para serem incluídas dentro da realidade da “totalidade” católica.
“Católico”, “abrangente”,
“universal” – são os termos que sobretudo lembram que deve ser preservada integralmente
a verdade de Jesus Cristo. O perigo de isolamento
e de separação de pequenas parcelas da Igreja, sendo tratadas de maneira exclusiva , se entrelaça ao longo da história da Igreja. Exatamente assim aconteciam as “cismas”. A Igreja Católica está convicta de que
preservou, mesmo considerando apenas em termos humanos, de maneira imperfeita – tudo aquilo
o que é essencial na mensagem de Jesus Cristo: os mais importantes ofícios, todos os santos
sacramentos, a mesma fé (com a sua profundidade interior e as realizações
externas), laços e a liberdade, a graça Divina e o esforço humano, as normas
sólidas e as decisões pessoais baseadas na consciência, ascese e alegria
de vida. Todas essas formas, mesmo
demonstrando aparentes contrariedades – cabem dentro da dimensão da Igreja católica.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions
Du Dialogue, 1981, p. 161-162)²
Continua...
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¹ Krenzer Ferdinand
(nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
[N. Do T.]
² Obs.: As reflexões
do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o
leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os
temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados
neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição
no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma
pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
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