Uma reflexão muito concreta,
do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola,
nos faz obrir os olhos para a realidade da vida do ser humano no mundo de hoje.
Neste mundo, o nosso desafio é sermos cristãos autênticos. Será que entendemos o que isso quer dizer?
Foi publicada recentemente no site do
Instituto Humanitas Unisinos.
Não deixe de ler.
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Eis o texto:
Fonte:http://migre.me/eMpiz
A
crise econômica vai ser longa e dura. Não precisamos nos enganar. Não poderemos olhar para o
outro lado. Em nosso redor mais ou menos próximo iremos encontrando famílias
obrigadas a viver da caridade, pessoas ameaçadas de expulsão, vizinhos lutando
pelo desemprego, doentes sem saber como resolver os seus problemas de saúde ou
medicação.
Ninguém
sabe muito bem como a sociedade irá reagir. Sem dúvida, irão crescer a
impotência, a raiva e a desmoralização de muitos. É previsível que aumentem os
conflitos e a delinquência. É fácil que cresçam o egoísmo e a obsessão pela
própria segurança.
Também
é possível que a solidariedade cresça, por outro lado. A crise pode-nos fazer mais humanos.
Pode-nos ensinar a partilhar mais o que temos e o que necessitamos. Podem-se
estreitar os laços e a mútua ajuda dentro das famílias. Pode crescer a nossa
sensibilidade para com os mais necessitados. Seremos mais pobres, mas podemos ser mais humanos.
No
meio da crise, também as nossas comunidades cristãs podem crescer em amor
fraterno. É o momento de descobrir que não é possível seguir Jesus e colaborar
no projeto humanizador do Pai sem trabalhar por uma sociedade mais justa e
menos corrupta, mais solidária e menos egoísta, mais responsável e menos
frívola e consumista.
É
igualmente o momento de recuperar a força humanizadora que se encerra na
eucaristia, quando é vivida como uma experiência de amor confessado e
partilhado. O encontro
dos cristãos, reunidos cada domingo em torno de Jesus, há de converter-se em
lugar de consciencialização e de impulso de solidariedade prática.
A
crise pode sacudir a nossa rotina e mediocridade. Não podemos comungar com
Cristo na intimidade do nosso coração sem comungar com os irmãos que sofrem. Não podemos partilhar o pão
eucarístico ignorando a fome de milhões de seres humanos privados de pão e de
justiça. É uma piada darmos a paz uns aos outros esquecendo os
que ficam excluídos socialmente.
A
celebração da eucaristia vai nos ajudar a abrir os olhos para descobrir a quem
temos de defender, apoiar e ajudar em momentos como estes. Há de nos despertar
da “ilusão da inocência” que nos permite viver tranquilos, para nos movermos e
lutar apenas quando vemos em perigo os nossos interesses. Viver cada domingo
com fé pode nos fazer mais humanos e melhores seguidores de Jesus. Pode-nos ajudar a viver a crise com
lucidez cristã sem perder a dignidade nem a esperança.
(José Antônio Pagola)