“Assim tereis ocasião de dar testemunho.“ (Lc 21,13) – Comentário de Asun Gutiérrez Cabriada. Muito bom!

“Tende cuidado; não vos deixeis enganar,  pois muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não os sigais.” (Lc 21,8).

É muito bom e interessante o comentário de Asun Gutiérrez Cabriada sobre o texto do Evangelho segundo Lucas (19, 1-10). É um texto muito  difícil para ser interpretado por causa do seu estilo apocalíptico, mas certamente possui importantes dicas para os cristãos que se encontram diante das situações de crise.­­­­­­ Não deixe de ler.

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[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: Benedictinascat/Montesserrat. Trabalho muito bonito!]

  

Em todas as religiões se absolutizam algumas coisas que não o são em absoluto. Para os seguidores e as seguidoras de Jesus, só Ele é o absoluto,  e Ele não considerou absolutos nem o templo nem as leis nem as tradições sem conteúdo. Para Jesus o verdadeiramente absoluto são seu Pai Deus e as pessoas, junto a tudo aquilo que as torna livres e felizes;  por isso o seu projeto será de libertação e de bem-aventurança,  um projeto que está sempre a começar.

Por isso, todos os nossos projetos devem ter a sua origem em Jesus e a Ele se devem dirigir. Assim, os nossos dias, semanas, meses, anos, épocas  devem funcionar com esse critério: partir de um encontro com Jesus e o seu projeto para acomodar os nossos, e não dar nada por terminado se não se chegou  ao encontro definitivo com Ele.

 Franch A.

O templo, principal lugar sagrado do judaísmo, tinha-se convertido em lugar de separação e divisão.

A própria distribuição do espaço tinha consigo a discriminação, pois estava marcada pelo limite e a proibição: os pagãos não podiam passar além do “átrio dos gentios”; as mulheres não podiam passar além do “átrio das mulheres”; só os varões judeus podiam entrar no “átrio dos israelitas”, salvo os que tivessem algum defeito físico; só os sacerdotes podiam entrar no “átrio dos sacerdotes”- o santo -; só o Sumo Sacerdote podia entrar uma vez por ano no “Santo dos Santos”.

Assim, a suposta proximidade de Deus trazia consigo separação em vez de encontro.

Além disso, o templo tinha-se convertido numa imensa fonte de rendimentos; graças aos peregrinos que acudiam ao templo, Jerusalém era uma cidade rica, em forte contraste com o campo empobrecido da Galileia e da Judeia.

Assim o templo de Jerusalém tinha associada a divisão entre a cidade e o campo, entre sacerdotes e leigos, entre homens e mulheres, entre puros e impuros, entre judeus e gentios. Divisão econômica, religiosa, sexista, moral e etnica.

Demasiada divisão no templo e à volta do templo.

Comentário

Naquele tempo, comentavam alguns

que o templo estava ornado

com belas pedras e piedosas ofertas.

Jesus disse-lhes:
– Dias virão em que,

 de tudo o que estais a ver,

 não ficará pedra sobre pedra:

 tudo será destruído.

Jesus prediz a ruína do templo aos que se extasiam da sua beleza e grandeza. Jesus não aplaude os que se dedicam a louvar a beleza das pedras e riquezas dos templos.

Para Jesus, a destruição do templo representa o fim da antiga aliança, o derrubamento duma forma de entender a religião de forma legalista, farisaica e cultual. Convida-nos a refletir sobre os costumes e situações, na nossa vida pessoal e comunitária, que é preciso dar por terminadas para poder começar outras novas.
A humanidade nova e a criação nova é o grande templo de Deus.

Cada ser humano e cada lugar de comunhão e encontro é o verdadeiro templo do Espírito de Jesus.

Eles perguntaram-Lhe:
– Mestre, quando sucederá tudo isto?

Que sinal haverá de que está para acontecer?
Jesus respondeu:
– Tende cuidado; não vos deixeis enganar,

 pois muitos virão em meu nome e dirão:

‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’.

Não os sigais.

Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas,

não vos alarmeis:

 é preciso que estas coisas aconteçam primeiro,

mas não será logo o fim.

Lucas utiliza uma linguagem apocalíptica, própria do seu tempo,  que não se pode entender de forma literal.
O importante não é saber “quando" e "como" sucederão estas coisas do final.
Jesus anima-nos a olhar em frente, a percorrer o Caminho que nos leva à felicidade verdadeira, construindo um mundo mais humano, mais cristão.
Olhar o amanhã não é esquecer-se do hoje, mas vivê-lo com maior compromisso, valentia, confiança, entusiasmo e esperança ativa e serena.

Jesus previne-nos e nos aconselha a estarmos atentos perante os que tratam de nos enganar pretendendo apoderar-se d’Ele, considerando-se possuidores da verdade e com direito a assustar, julgar e condenar. Recomenda-nos não ir atrás deles.

Disse-lhes ainda:

- Há-de erguer-se povo contra povo

e reino contra reino.

Haverá grandes terramotos e,

em diversos lugares,

fomes e epidemias.

Haverá fenómenos espantosos

e grandes sinais no céu.

Mas antes de tudo isto,

deitar-vos-ão as mãos

e hão-se perseguir-vos,

entregando-vos ás sinagogas e às prisões,

conduzindo-vos à presença de reis

e governadores, por causa do meu nome.

Assim tereis ocasião de dar testemunho.

Jesus é sempre Boa Notícia. Mais importante que o medo perante o futuro é o ânimo para o presente. Somos chamados a “dar razão da nossa esperança”.

A partir de Jesus, o nosso fundamento, sabemos que é possível melhorar o mundo;
é possível esperar contra toda a esperança.
A história não acabou, é possível transformar e melhorar a realidade.
Jesus está presente entre nós e, ao mesmo tempo, está à frente como meta,

como horizonte a que olhar.

Em que consiste, para mim, o fundamental da mensagem de Jesus?
De quem, a quem, e como dou testemunho?

Tende presente em vossos corações

que não deveis preparar a vossa defesa.

 Eu vos darei língua e sabedoria

 a que nenhum dos vossos adversários

poderá resistir ou contradizer.

Sereis entregues até pelo vossos pais,

irmãos, parentes e amigos.

Causarão a morte a alguns de vós

e todos vos odiarão por causa do meu nome;

mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá.

Pela vossa perseverança

salvareis as vossas almas.

Não se trata duma descrição angustiante, mas esperançadora.
Os que caminhamos por este mundo, no meio de cansanços e conflitos, sabemos que o nosso destino e o da humanidade está nas mãos e no coração do Pai e é um destino de plenitude e felicidade. A nossa vitória está segura.
O nosso Futuro está já em nós, no caminho que vamos construindo dia a dia. Jesus é o exemplo vivente do valor para viver.

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Tu

Tu conheces a minha alma,
Tu sabes tudo o que é preciso
fazer nela.
Fá-lo a teu modo.
Atrai-me a Ti, Deus meu.
Enche-me de puro amor a Ti.
Não permitas que jamais
me afaste do caminho do teu amor.
Mostra-mo com claridade.
Deixo tudo em tuas mãos.
Não terei medo de nada,
porque estarei sempre em tuas mãos
e jamais te deixarei
e jamais me deixarás.

Thomas Merton