A resposta que Jesus dá aos saduceus (que não acreditavam na
ressurreição) continua muito importante
também para os cristãos de hoje e para muitos de nós, pois comunica-nos a
verdade e, com isso, ajuda-nos a discerni-la das nossas ‘imaginações’ humanas e dos nossos ‘desejos’
em relação a vida eterna em Deus, que nos espera após a morte.
Sobre este tema (Lc 20, 27-38) trata o comentário de Asun Gutiérrez Cabriada, que trago hoje para o blog Indagações. O texto é muito bom. Não deixe de ler.
[Os interessados podem ler esse texto
em apresentação de PPS, acessando o site
das Monjas Beneditinas de Montesserrat: Benedictinascat/Montesserrat. Trabalho
muito bonito!]
Crer no céu é para mim resistir a aceitar que a vida de
todos e de cada um de nós é só um pequeno parêntesis entre dois imensos vazios.
Apoiando-me em Jesus, intuo, pressinto, desejo e creio que Deus está a conduzir para a sua verdadeira plenitude o desejo de vida, de justiça e de paz que se encerra na criação e no coração da humanidade.
Apoiando-me em Jesus, intuo, pressinto, desejo e creio que Deus está a conduzir para a sua verdadeira plenitude o desejo de vida, de justiça e de paz que se encerra na criação e no coração da humanidade.
Não me resigno a que Deus seja para sempre um "Deus
oculto", do qual não podamos conhecer jamais o seu olhar, a sua ternura e
os seus abraços.
Não posso sequer imaginar de não me encontrar nunca com
Jesus.
Não me resigno a que tantos esforços por um mundo mais humano e feliz se percam no vazio.
Não me resigno a que tantos esforços por um mundo mais humano e feliz se percam no vazio.
Quero que um dia os últimos sejam os primeiros e que as
prostitutas nos precedam. Quero conhecer os verdadeiros santos de todas as
religiões e todos os ateísmos, os que viveram amando no anonimato e sem esperar
nada.
Um dia poderemos escutar estas
inacreditáveis palavras que o Apocalipse põe na boca de Deus: «Ao que tiver
sede, eu lhe darei a beber grátis da fonte da vida». Grátis! Sem o merecer.
Assim saciará Deus a sede de vida que há em nós.
José Antonio Pagola
Comentário
Naquele tempo,
aproximaram-se de Jesus
alguns saduceus – que
negam a ressurreição
– e fizeram-lhe a
seguinte pergunta:
Jesus está em Jerusalém, nos últimos dias da sua
vida terrena. Os saduceus representam a casta sacerdotal, à qual pertenciam a
maioria dos sumos sacerdotes. Eram conhecidos pelo seu conservadorismo social e
religioso. Serviam-se da religião para explorar o povo. Faziam parte, como os
fariseus, dos círculos piedosos. Não acreditavam na ressurreição porque pelo
seu conservadorismo rejeitavam toda a evolução do judaísmo.
Apresentam a Jesus, a quem consideram uma ameaça,
um arrevesado e inacreditável caso. Não só queriam desacreditá-lo, mas também
tentavam justificar uma forma de vida, muito afastada do que Ele vivia e
anunciava. A pergunta não é importante.
O que tem importância é a resposta de Jesus.
Mestre, Moisés deixou-nos escrito:
‘Se morrer a alguém um irmão,
que deixe mulher, mas sem filhos,
esse homem deve casar com a viúva,
para dar descendência a seu irmão’.
Ora havia sete irmãos. O primeiro
casou-se e morreu sem filhos.
O segundo e depois o terceiro
desposaram a viúva;
e o mesmo sucedeu aos sete,
que morreram e não deixaram filhos.
Por fim, morreu também a mulher.
De qual destes será ela esposa na
ressurreição, uma vez que os sete
a tiveram por mulher?
A pergunta baseia-se na lei do levirato - levir
significa cunhado - lei discriminatória que só tem em conta os antepassados
varões. Lei de varões para varões. Jesus não entra no tema. Fala da vida depois
da morte, algo muito mais importante que o caso que lhe apresentam.
Creio na vida depois da morte? Penso nela? Como a imagino? Procuro esquecer ou negar o tema, como os saduceus?
Creio na vida de cada dia? Que faço para melhorar as
condições de vida das pessoas empobrecidas, dos que sofrem tanta injustiça e
falta de solidariedade?
Disse-lhes Jesus:
-
Os filhos deste mundo casam-se
e dão-se em casamento.
Mas aqueles que forem
dignos
de tomar parte na vida
futura
e na ressurreição dos
mortos,
não se casam nem se dão em
casamento.
Na verdade, já não podem
morrer,
pois são como os anjos, e,
porque nasceram da
ressurreição,
são filhos de Deus.
E que os mortos
ressuscitam,
até Moisés o deu a
entender
no episódio da sarça
ardente,
quando chama ao Senhor
‘o Deus de Abraão, o Deus
de Isaac e
o Deus de Jacob’.
As promessas de Jesus relacionam-se sempre
com a plenitude de vida.
Jesus assegura que a vida depois da morte
não é uma continuação da vida que conhecemos, por isso diz que todo o tipo de
instituições, de parentescos, de estados de vida, de relações humanas, darão
lugar à nova e libertadora realidade que nos espera em Deus.
Jesus na sua resposta deixa de lado uma
míope e literal interpretação da lei. Afirma que a ressurreição não é um
simples reviver, é nascer para a vida à qual aspiramos e ansiamos, é acabar com
todo o tipo de limitações e ataduras, para viver plena e definitivamente livres
e felizes.
Uma vida em plenitude, uma nova criação, que não podemos captar a partir das nossas categorias finitas de espaço e tempo, mas que podemos vislumbrar e ansiar apoiados na força da fé e da esperança. É um tema que ultrapassa a nossa inteligência. Temos a possibilidade de crer ou não crer.
Uma vida em plenitude, uma nova criação, que não podemos captar a partir das nossas categorias finitas de espaço e tempo, mas que podemos vislumbrar e ansiar apoiados na força da fé e da esperança. É um tema que ultrapassa a nossa inteligência. Temos a possibilidade de crer ou não crer.
Não é um Deus de mortos,
mas de vivos,
porque para Ele todos estão vivos.
Deus é Fonte de Vida e Libertação. Crer n’Ele é
acolhê-l’O como fonte, fundamento e meta da nossa vida.
A fé na ressurreição não nos tira da história, pelo
contrário, faz que nos encarnemos profundamente nela, trabalhando, criando
novas formas, para conseguir uma vida
digna para todos, livre de escravidões e injustiças.
É no meio da vida onde devemos descobrir e mostrar o
nosso Deus, como Alguém que a sustem, a impulsiona e nos chama a viver, a dar
vida e a fazer viver.
DEUS DE VIDA E NÃO DE MORTE
Sim,
eu nunca acreditarei em:
no Deus que ame a dor,
no Deus que ponha luz vermelha às alegrias humanas,
no Deus que se faz temer...,
porque Tu és um Deus de vida e não de morte.
no Deus que ponha luz vermelha às alegrias humanas,
no Deus que se faz temer...,
porque Tu és um Deus de vida e não de morte.
Sim,
eu nunca acreditarei em:
no Deus árbitro que julga com o regulamento na mão,
no Deus que manda para o inferno...,
porque Tu és um Deus de vida e não de morte.
no Deus árbitro que julga com o regulamento na mão,
no Deus que manda para o inferno...,
porque Tu és um Deus de vida e não de morte.
Sim,
eu nunca acreditarei em:
no
Deus que adoram os que são capazes de condenar um ser humano,
no Deus que condena a sexualidade,
no Deus que crie discípulos desertores das tarefas do mundo...,
porque Tu és um Deus de vida e não de morte.
no Deus que condena a sexualidade,
no Deus que crie discípulos desertores das tarefas do mundo...,
porque Tu és um Deus de vida e não de morte.
Sim,
eu nunca acreditarei em:
no
Deus que ponha a lei acima da consciência,
no Deus que não saia ao encontro de quem o abandonou,
no Deus incapaz de tornar novas todas as coisas...
porque Tu és um Deus de vida e não de morte.
no Deus que não saia ao encontro de quem o abandonou,
no Deus incapaz de tornar novas todas as coisas...
porque Tu és um Deus de vida e não de morte.
Arias, J
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