Uma reportagem muito oportuna e esclarecedora sobre a
grave situação do povo indígena Awá. Esta etnia hoje necessita de apoio de toda
a sociedade brasileira para garantir a sua sobrevivência. Não se pode ficar
“cruzando os braços” diante desta situação. O apelo dos Awá-Guajá precisa ser
divulgado amplamente e com urgência.
A reportagem
foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Não deixe de ler!
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IHU - Notícias
Quinta, 21 de novembro de 2013
Expulsão de madeireiros das terras dos índios Awá pode levar a conflito armado
Operação de retirada de invasores das terras Awá,
uma das etnias mais ameaçadas do mundo, deve acontecer em dezembro. No interior
do Maranhão, funcionários da Funai recebem constantes ameaças
de morte.
A reportagem
Uma guerra está anunciada no interior do Maranhão.
Índios da etnia Awá-Guajá, apontados como os mais ameaçados do
mundo pela ONG Survival International, estão dispostos a
morrer em defesa de seu território, invadido por madeireiros.
A Fundação Nacional do Índio, Funai,
reconhece a situação. Cerca de 700 pessoas habitam ilegalmente as terras dos
indígenas, declarada dos Awá em 1992 e homologada em 2005. A equipe da fundação
no local informou que autoridades policiais e do Exército já estiveram no
região para determinar a estratégia da desintrusão – a retirada de não índios.
A operação, que deve acontecer em dezembro, pode se transformar em um conflito
armado.
"Os índios Awá-Guajá precisam de ajuda. Os
madeireiros vêm e destroem isso tudo e os índios não têm mais como viver. Eles
não têm resistência orgânica, eles não têm força de reação, eles só têm uma
flechazinha que eles fazem há mil anos. Eles precisam de nós", afirma José
Pedro dos Santos, da Frente de Proteção Etnoambiental Awá-Guajá da Funai,
em entrevista à DW Brasil.
Zé Pedro, como é conhecido, trabalha há 40 anos com esses índios na base
instalada a 20 quilômetros da sede do município maranhense de São João do Caru,
distante 400 quilômetros da capital São Luiz. Ele convive com ameaças constantes
de morte e, junto com o batalhão da polícia ambiental no local, tem armas
pesadas para se defender.
A situação dos Awá ganhou destaque internacional e
vai ocupar treze páginas da tradicional revista Vanity Fair,
que chega às bancas em dezembro, com imagens do fotógrafo brasileiro
Sebastião Salgado.
Guerra anunciada
"Os madeireiros ameaçam por telefone, mandam
recado, mas não vêm aqui. Usam ameaças veladas, divulgam na rádio que isso aqui
não tem razão de ser e que as forças federais não vão intimidá-los. Eles vão
enfrentar", garante José Pedro. A percepção de quem convive diariamente
com os Awá é a de que o problema é grave. "Os caras vão matar a gente
aqui. E matando a gente, eles matam os Awá-Guajá, não tenho dúvida",
alerta o funcionário da Funai.
A sede da Funai, em Brasília, não
confirma datas para a desintrusão da área indígena, mas assegura que a invasão
traz "graves prejuízos para a sobrevivência dos Awá". A missionária Madalena
Borges Pinheiro, do Conselho Indigenista Missionário
do Maranhão, também está na expectativa de que as ações de desintrusão ocorram
até o final do ano. Segundo ela, a questão territorial é o problema mais sério
enfrentado por esse grupo, que ainda mantém hábitos nômades.
Embora estejam fixados em quatro aldeias – Tiracambu,
com 59 índios; Awá, onde vivem 174; Juriti, com 60, e Cocal, com 106 –, os
índios dependem da caça, pesca e da coleta de frutas para viver. Além dos 399
índios acompanhados pela Funai, existem registros de outros Awá ainda não
contatados na mesma região. "Eles não falam português. Eles não são
lavradores. É uma nação que ainda não evoluiu dentro do contexto urbano",
explica o técnico da Funai.
Índios encurralados
Sarah Shenker, ativista da Survival International,
que há 40 anos acompanha a situação dos indígenas no Brasil, com atenção
especial aos Awá, explica que a questão territorial é fundamental para esse
grupo indígena. "A terra Awá está sendo devastada muito rapidamente",
denuncia. A entidade estima que um terço de toda a área já tenha sido queimada
ou desmatada. Ela própria esteve no local e constatou que o espaço é cada vez
menor para que os índios sobrevivam da caça.
Os problemas de sobrevivência da etnia começaram
logo depois do primeiro contato com não índios. A construção da Estrada de
Ferro Carajás, na década de 1980, abriu caminho para a chegada de madeireiros e
outros invasores. No entanto, o direito dos índios a essas terras – entre os
municípios de Centro Novo do Maranhão, Governador Newton Bello, São João do
Caru e Zé Doca – é reconhecido pelo governo brasileiro desde 1961.
Números decrescentes
Antes do contato, os Awá já foram mais de mil. Uma
mescla de fatores contribuiu para o encolhimento da população, explica
Sarah Shenker. "Quando a ferrovia atravessou a terra dos Awá,
muitos não indígenas massacraram famílias inteiras. Outros morreram de doenças
que não existiam quando viviam isolados", afirma.
Além disso, a exploração da floresta tem
encurralado os Awá. "A região toda respira madeira. E madeira
ilegal", assegura José Pedro dos Santos, da Funai. Segundo ele, entidades
ambientais e o próprio Exército têm ajudado a fechar algumas serrarias, mas a
área é muito grande para um controle pequeno. "É uma dimensão continental
de ações e as estradas são muito precárias, onde só os madeireiros andam, por
causa dos caminhões", contextualiza. "Mas nós estamos enfrentando,
mesmo correndo risco de vida. O idealismo de fazer é muito maior do que o medo
de ser agredido", diz em tom de apelo.
Conforme a missionária Madalena Pinheiro,
o argumento dos madeireiros e de ruralistas é de que a extensão de terra seria
muito grande para poucos indivíduos. Ela explica que essa afirmação não leva em
conta o modo de vida dos Awá e que existe muita pressão pela permanência de não
índios nas terras já demarcadas. "É preciso tirar quem se apossou de má
fé", enfatiza. No entanto, Madalena reconhece que os 399
índios contados pela Funai não têm força política e de
mobilização o suficiente para fazerem valer seus direitos.
Nômades e coletores
Os Awá não são guerreiros. "É um povo amoroso
e acolhedor", define a missionária que até ganhou um nome indígena, Matakina.
Segundo ela, apenas os mais jovens falam português, e apenas os homens. "É
uma questão social. As mulheres são encarregadas de preservar as
tradições", explica. Ela aprendeu awá – uma língua da família do
tupi-guarani – para trabalhar junto as comunidades, onde passa vários períodos
por ano.
Em seu dia a dia, os índios vivem em grupos
familiares e saem por vários dias para pescar e caçar. Quando abatem um animal
de maior parte, fazem a refeição em comunidade. Comem a carne assada –
moquiada, como se diz na aldeia – ou cozida inteira. "Os mais velhos
distribuem entre os mais novos", comenta. Apenas o cozido leva sal,
ingrediente que os Awá conheceram depois dos primeiros contatos, na década de
1970.
Ação internacional
Madalena conta que os Awá sofrem com a questão territorial, mas não entendem
exatamente o trabalho que entidades internacionais fazem em nome da etnia. Ela
própria elogia a atuação da Survival International e diz que sem pressão
internacional a solução para o problema é mais complicada. Conforme Sarah
Shenker, este é exatamente o papel da Survival e que
a ONG está pressionando o governo brasileiro por soluções.
O ensaio fotográfico feito por Sebastião Salgado
que será publicado pela Vanity Fair é uma parceria com a Survival
para que a situação dos Awá seja conhecida mundo afora. A entidade explica que
apoiou a logística da reportagem, mas que o financiamento do trabalho foi
discutido entre a revista e o fotógrafo. O trabalho anterior de Salgado,
Gênesis, foi financiado pela mineradora Vale (uma das
empresas responsáveis pela Estrada de Ferro Carajás), o que foi criticado por
ambientalistas do mundo inteiro.
Para José Pedro dos Santos, da Funai,
no entanto, esta é uma chance de socorro. Ele acompanhou a visita de Salgado
à aldeia Juriti e as conversas com os indígenas, antes das fotos. Segundo ele,
os próprios índios teriam pedido ao fotógrafo que mostrasse ao mundo a situação
deles e um dos índios teria dito: "Nós precisamos de ajuda ou vamos todos
morrer lutando."
FONTE:
IHU- Notícias
Gostei do seu post; é muito importante agir internacionalmente; é de esperar que a Survival e a FUNAI conseguiram entre tempo resolver esse grave problema, o seu post jà tem 4 anos. E porque na^chamar o CIMI? eles agem de maneira eficiente e respeitando o ser humano
ResponderExcluirclaude