Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 2 de novembro de 2013

“Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa.” (Lc 19,5) – Comentário de Asun Gutiérrez Cabriada. Muito bom!


É muito bom o comentário de Asun Gutiérrez Cabriada sobre o episódio do Evangelho segundo Lucas (19, 1-10), onde Jesus aborda Zaqueu e pede para se hospedar na sua casa. Penso que cada um de nós pode aproveitá-lo para fazer uma boa meditação.
Não deixe de ler.
WCejnog

Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: Benedictinascat/Montesserrat. Trabalho muito bonito!


[No Brasil, as leituras correspondem à Festa de Todos os Santos e Santas transferida do dia 01 para o dia 03 de novembro.]


Zaqueu não tem mais que dois méritos:
é curioso e baixinho.
Nada mais. O resto corre por conta de Jesus.
Não procura Jesus, Jesus procura-o.
Não se esforça por mudar, Jesus muda-o.
O que compete a Zaqueu é responder,
e não pode menos que responder,
porque Jesus lhe roubou o coração.
Sentiu-se reabilitado,
recuperou a consciência da sua dignidade,
foi tratado como uma pessoa, como um filho.
Zaqueu responde como um filho, como uma pessoa.
E vai a viver dignamente,
porque Jesus lhe devolveu a dignidade.
Sentir-se filho, sentir que Deus gosta de mim...
E começar a viver como filho, como Deus espera de mim.
A conversão não é abrandar o juiz.
A conversão é responder ao amor de meu Pai.


José Enrique Galarreta 

 Comentário
Naquele tempo, Jesus entrou em Jericó
e começou a atravessar a cidade.

O texto, exclusivo de Lucas, situa-se no final da “secção da viagem”. O caminho da Galileia a Jerusalém sublinha a dimensão universal da Boa Notícia e vai preparando os acontecimentos da morte e ressurreição de Jesus. Nesse contexto entra Jesus em Jericó, cidade comercial e rica.
Na história de Zaqueu se entrelaçam os principais temas de Lucas: a viagem, a riqueza, a inversão de valores, o encontro, o hoje da salvação, o desejo de ver, a busca da verdade, da saúde integral, do sentido da vida, a identidade e missão de Jesus... 

Vivia ali um homem rico chamado Zaqueu,
que era chefe de publicanos.
Procurava ver quem era Jesus,

Zaqueu é chefe de cobradores  de impostos e rico. Está ao serviço das forças de ocupação e, segundo o sistema de impostos da época, é alguém que empobrece o seu povo para seu próprio proveito. É desprezado pela sociedade judaica, considerado um pecador público. A sua ficha não podia ser pior.
A Jesus, basta-lhe a curiosidade de Zaqueu para tomar a iniciativa do encontro.

mas, devido à multidão,
não podia vê-lo, porque era
de pequena estatura.
Então correu mais à frente
e subiu a um sicómoro, para ver Jesus,
que havia de passar por ali.

Somos às vezes um obstáculo para que os outros possam ver Jesus?
Zaqueu, atento à proximidade de Jesus, quer vê-l’O.
Perante a dificuldade de realizar o seu desejo, não se dá por vencido e, apesar dos obstáculos e dificuldades, vai em frente, em busca duma solução para o conseguir.

Quero conhecer Jesus? Que faço para o conseguir?

Quando  Jesus chegou ao local,
olhou para cima e disse-lhe:
– Zaqueu, desce depressa,
que Eu hoje devo ficar em tua casa.

Jesus, como em tantas ocasiões, não pede nem necessita do arrependimento prévio de Zaqueu. Não lhe exige conversão nem lhe dá conselhos morais.
Jesus autoconvida-se para casa, para a mesa de uma pessoa rejeitada pela maioria, uma má pessoa para os que se atrevem a julgar.

Os fariseus excomungam Zaqueu. Jesus vai a comer com ele. Difícil imaginar Jesus rejeitando, proibindo..., sentar à sua mesa as pessoas divorciadas e casadas de novo nem a ninguém que queira conhecê-lo e aproximar-se d’Ele, mesmo que, a princípio, só seja por curiosidade como Zaqueu.

Jesus sabe e demonstra que as pessoas não melhoram com a intransigência e críticas negativas, nem ameaçando-as com proibições, excomunhões e castigos, mas aceitando-as, acolhendo-as e confiando nelas.

 Ele desceu rapidamente 
e recebeu Jesus com alegria.

Jesus não se contenta em passar, quer ficar, alojar-se na nossa vida e, com o seu olhar e a sua Palavra, incluir-nos, a todos, no projeto amoroso do Pai.

O encontro e o convite de Jesus produz sempre alegria, transforma e muda a vida.
Enche-me de alegria o meu encontro com Jesus? Como o demonstro?

Ao verem isto,
todos murmuravam, dizendo:
– Foi hospedar-sSe
em cada de um pecador.

O texto convida a refletir sobre a própria atitude com os outros. Sou pessoa de bom coração, misericordiosa, acolhedora..? Ou, pelo contrário, atrevo-me a criticar, julgar, rejeitar com facilidade, como as pessoas farisaicas que se crêem melhores que as outras e com direito a murmurar, julgar, excluir, condenar..?

A comunhão de mesa implica comunhão de vida. Comer com um pecador é ir contra a lei, tornar-se impuro. Escândalo e provocação para os que lhes importa mais o cumprimento da lei que as pessoas, para os que se consideram melhores que os outros e não sabem descobrir a misericórdia de Deus tornada presente em Jesus.
Escandaliza-me a atitude de Jesus e a das pessoas que actuam como Ele?

Entretanto, Zaqueu apresentou-se
ao Senhor dizendo:
– Senhor, vou dar aos pobres
metade dos meus bens e, se causei
qualquer prejuízo a alguém,
restituirei  quatro vezes mais

Jesus não exclui ninguém. O chamamento de Jesus ao rico é o convite a deixar de o ser, a deixar de açambarcar e a começar a repartir e a partilhar.

Zaqueu não desaproveita a ocasião da sua vida e entra na lógica do Reino. Recobra a sua verdadeira estatura, a sua dignidade, e manifesta a sua decisão de mudança.

O encontro com Jesus não pode deixar ninguém indiferente, muda a vida tornando-a mais austera, mais solidária, mais generosa, mais humana, mais feliz.

Disse-lhe Jesus:
– Hoje entrou a salvação nesta casa,
porque Zaqueu também é filho de Abraão.
Com efeito, o Filho do homem veio
procurar e salvar o que estava perdido.

Uma ocasião mais na qual Jesus mostra, com a sua palavra e com a sua atuação, o retrato de um Deus que acolhe, liberta, transforma a vida.

De que necessito ser salvo? Comunico a salvação de Jesus?

Como a Zaqueu,  Jesus me procura, sai ao meu encontro, olha-me, chama-me pelo meu nome, quer alojar-se em minha casa para a encher e encher-me de luz, alegria, libertação e paz. 

És ...

És um Deus de vida e esperança.
Não é inofensivo aproximar-se de Ti.
Não é uma cortesia inocente deixar-te entrar, abrir-te a porta,
Mostrar-te a casa e dar-te assento na sala.
Hóspede inquieto e perigoso, terno e brincalhão, inteligente e eficaz!
Zaqueu assinou um cheque em branco.
Acredito em Ti. Acredito que és capaz de dar a volta à cabeça, ao coração e à vida, a todas as vidas de todas as pessoas.
Capaz de reformar todos os planos e desviar todas as rotas.
De abrir novos caminhos. De oferecer horizontes inéditos.
Acredito que és capaz de te fixar em quem está no sicómoro;
de te fazeres convidado a comer por surpresa;
de te hospedares em casa de um pecador;
de repetir, hoje, a história.
No te faças rogar.
Olha-me como Tu sabes olhar e faz-te convidado a comer em minha casa.

  
Ulibarri Fl.                                                        


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