“<Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo?
Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a
ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou você está com inveja porque sou
generoso>? Assim, os últimos serão os
primeiros e os primeiros serão os últimos.” (Mt 20, 13-16)
Na
parábola sobre os trabalhadores na vinha Jesus fala da bondade de Deus. No entanto, as
suas palavras conflitam, e muito, com os esquemas dos valores dos homens.
Claramente, a lógica de Deus mostra-se diferente, se não oposta, à lógica dos
homens – e isso choca! E nós, muitas
vezes, temos muita dificuldade em entender e aceitar essa lógica de Deus, porque ela
desnuda aos nossos próprios olhos o nosso egoismo, mediocridade e o nosso vício
de julgar os outros pelo que têm e produzem, e não pelo que são.
O
comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez Cabriada (cristã, leiga)
sobre o texto Mt 20, 1-16 (Parábola dos trabalhadores na vinha) é
muito bem feito e interessante. É uma excelente oportunidade para procurarmos
entender melhor a mensagem de Jesus Cristo.
Vale a
pena conferir!
WCejnog
Obs.:
Os interessados podem ler esse texto em
apresentação de PPS, acessando o site
das Monjas Beneditinas de Montserrat. www.benedictinescat.com/montserrat
Trabalho muito bonito!
Pensamos ainda em cumprimentos com
esforço, em renúncias impostas, em obrigações.
Não pensamos em libertação, em
dignidade de ser filhos, em plenitude
de vida.
Não pensamos em Boa Notícia mas em
Nova Lei, mais pesada e exigente que a
antiga.
Continuamos a pensar que nos têm
que pagar pelo que servimos.
O reino é uma questão de
agradecimento, não de paga.
O Reino é uma questão de coração.
Há que ter coração, e tentar
construir um mundo em que as relações humanas não se baseiem na justiça seca, mas na com-paixão e na fraternidade.
José Enrique Ruiz de Galarreta
Comentário
Naquele tempo, disse
Jesus aos seus discípulos
a seguinte parábola:
“O reino dos Céus pode
comparar-se
a um proprietário, que
saiu muito cedo
a contratar
trabalhadores para a sua vinha.
Ajustou com eles um
denário por dia
e mandou-os para a
vinha.
Parábola exclusiva de Mateus.
Conta a história do dono de uma
vinha que procura jornaleiros no mercado.
A cena era familiar para os
ouvintes. Muitas fazendas eram cultivadas por jornaleiros, que começavam a jornada laboral ao nascer do sol.
O facto de que voltasse a
contratar jornaleiros à hora de terça, até às nove da manhã, poderia parecer normal; voltar a fazê-lo quatro vezes mais já é
insólito, surpreende e desperta a atenção dos ouvintes.
E é assim, diz o texto, que sucede no Reino.
E é assim, diz o texto, que sucede no Reino.
Como todas as parábolas questiona,
incomoda e surpreende.
Saiu a meia manhã, viu
outros
que estavam na praça
ociosos
e disse-lhes:
«Ide vós também para a minha vinha,
«Ide vós também para a minha vinha,
e dar-vos-ei o que for
justo». E eles foram.
Voltou a sair por
volta do meio dia
e pelas três horas da
tarde, e fez o mesmo.
Saindo ao cair da tarde,
Saindo ao cair da tarde,
encontrou ainda outros
que estavam parados e
disse-lhes:
«Porque ficais aqui
todo o dia sem trabalhar?».
Eles responderam-lhe:
«Ninguém nos contratou».
Ele disse-lhes:
«Ide vós também para a
minha vinha».
A narração faz que a atenção caia
sobre as pessoas que o dono da vinha encontra sem fazerem nada, ociosas.
Pergunta-lhes o motivo da sua inactividade. Que classe de pessoas são? Gente
que se levantou tarde e perdeu a sua oportunidade? Pessoas não tidas em conta
na sociedade, com as quais ninguém conta?
O que vemos é que o único dono da vinha tem trabalho para todos e a todas as horas. E que na vinha há lugar e trabalho para todos.
A vinha - comunidade de Jesus - na qual só podem trabalhar umas poucas pessoas, na qual exista qualquer tipo de descriminação, tem pouco a ver com a vinha que Jesus quer e apresenta na parábola.
Ao anoitecer, o dono
da vinha disse ao capataz:
«Chama os
trabalhadores e paga-lhes o salário,
a começar pelos
últimos
e a acabar nos primeiros».
Vieram os do entardecer
Vieram os do entardecer
e receberam um denário
cada um.
Cada pessoa tem a sua hora, o seu
dia, a sua idada, a sua circunstância..., de ver e aceitar o seu encontro com
Jesus.
O dono da vinha não paga por
trabalho realizado, nem por horas, nem por trabalhar a toque de caixa, mas
pela disponibilidade, pela atitude, a abertura e acolhimento ao seu convite.
Quando vieram os
primeiros,
julgaram que iam
receber mais,
mas receberam também
um denário cada um.
Depois de o terem recebido,
Depois de o terem recebido,
começaram a murmurar
contra o proprietário,
dizendo:
«Estes últimos trabalharam só uma hora
«Estes últimos trabalharam só uma hora
e deste-lhes a mesma
paga que a nós,
que suportámos o peso
do dia e o calor».
As únicas pessoas que protestam são as que sabem desde o
princípio o quanto vão receber.
Não se queixam de ter sofrido uma
injustiça - receberam o denário acordado -, queixam-se daquilo que os
outros recebem.
Incomoda-os comprovar que o Senhor
é bom com todos.
É a atitude das pessoas que se crêem justas, com mais méritos que os outros;
Incomoda-os a bondade de Deus,
relacionam-se com Ele em termos mercantilistas, tentando comprar a sua salvação.
“Deus fez o ser humano à sua
semelhança, mas o ser humano empenha-se
em fazer Deus semelhante a ele” (Voltaire).
Mas o proprietário
respondeu a um deles:
“Amigo, em nada te
prejudico.
Não foi um denário que
ajustaste comigo?
Leva o que é teu e
segue o teu caminho.
Eu quero dar a este
último tanto como a ti.
Não me será permitido
fazer
o que quero do que é
meu?
A parábola vai ao coração da
mensagem de Jesus: o amor livre e gratuito do Pai e a forma de atuar das
pessoas que se crêem justas perante Ele.
O texto apresenta, uma vez mais, o
retrato de um Deus que é bondade e misericórdia. Sobressai o valor da justiça –
paga-se o salário acordado - e o da bondade e da generosidade – dá-se mais que
o esperado -.
Estão presentes esses valores na
minha vida e na minha relação com os outros?
Não é um convite a “chegar tarde" ou a trabalhar menos, mas a
evitar a tentação de projectar sobre Deus as nossas expectativas, os nossos
cálculos e as nossas medidas.
Os caminhos e os planos de Deus são diferentes dos nossos e sempre surpreendentes (Primeira leitura).
Ou você está com inveja
porque sou generoso?»
A bondade de Deus transborda a justiça.
Jesus mostra na sua vida a bondade e atuação de Deus.
Como se portou o dono da vinha com os últimos, assim se porta o Pai/Mãe com todos, sobretudo com as pessoas empobrecidas, excluídas, excomungadas, despejadas..
Exemplo e modelo para a nossa
forma de atuar.
Deus é bondade, pura gratuidade,
pura graça mais além de todo o interesse, de toda a lei. Ainda bem que não atua segundo os nossos
méritos, nem segundo a nossa lógica, mas segundo a sua bondade.
Tento a pôr barreiras à generosidade e bondade de Deus?
Agradeço a bondade de Deus e
contagio-a?
Sou propenso aos ciúmes e à inveja?
Sou propenso aos ciúmes e à inveja?
Penso que mereço mais prémio e
recompensa que os outros?
Louvo e valorizo as ações e
qualidades das pessoas?
Contra todas as aparências, só a bondade e a gratuidade podem mover o mundo.
Assim, os últimos
serão os primeiros
e os primeiros serão os últimos.
e os primeiros serão os últimos.
“Os últimos e os primeiros” pode dar-nos uma
pista da diferença entre as nossas maneiras de julgar e valorizar e a maneira de julgar e valorizar de Deus.
É a mudança radical de situação
que traz consigo a chegada do Reino, que propõe um novo modelo e sistema de
relação e convivência humana, baseado, não no rendimento e na correspondente
compensação, mas na gratuidade, na bondade e no amor.
A quem considero os últimos na
sociedade, no meu círculo, nas igrejas?
Coincide com o critério e a atitude
de Jesus?
A
tua maneira
Saíste, Senhor, na madrugada da
história a procurar obreiros para a tua vinha.
E deixaste a praça vazia – sem
desemprego -, oferecendo a todos trabalho e vida
- salário, dignidade e justiça.
Saíste a meio da manhã, saíste ao meio
dia e à primeira hora da tarde voltaste a percorrê-la.
Saíste, por fim, quando o sol
declinava, e aos que ninguém tinha contratado levaste-os para a tua vinha,
porque se te revolveram as entranhas vendo tanto trabalho na tua fazenda, vendo
a tantos desempregados que queriam
trabalho
- salário, dignidade e justiça -
e estavam condenados todo o dia a
não fazer nada.
Ao anoitecer cumpriste a tua
palavra.
A todos deste salário digno e justo,
segundo o coração e as
necessidades te ditavam.
Os que menos esperavam foram os
primeiros a ver as suas mãos cheias;
e mesmo que alguns murmurassem, não mudaste a tua política evangélica.
e mesmo que alguns murmurassem, não mudaste a tua política evangélica.
Senhor, sê, como sempre, justo e
generoso, compassivo e rico em misericórdia,
inimigo de preconceitos e classes,
e generoso nos teus dons.
Graças por me dares trabalho e
vida, dignidade e justiça à tua maneira... não à minha.
Ulibarri Fl.
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