Acho
muito interessante e oportuno o artigo de Luiz Fernando dos Santos* sobre a
ditadura do relativismo e pluralismo
filosófico no mundo contemporâneo. Muitas pessoas talvez não se dão
conta do real perigo que essa corrente filosófica e cultural representa para o
ser humano. No entanto, para quem se pergunta pelo futuro das gerações
vindouras, essa é uma questão vital e
merece uma análise e reflexão muito séria. De modo especial os cristãos precisam
fazer uma auto-crítica, porque a influência dessas ideologias (mencionadas
acima) também é capaz de deformar a sua
fé cristã, tornando-a estéril e alienada.
O
texto foi publicado na revista Ultimato – Opinião, no mês de setembro de 2014.
Vale
a pena ler!
WCejnóg
Ultimato-Opinião
11 de setembro de 2014.
Tolerância e Exclusividade: numa época de muitas escolhas a singularidade de Cristo faz sentido?
Por Luiz Fernando Dos Santos
“Quem tem o Filho, tem a Vida!”
(1Jo 5.12).
Vivemos em plena ditadura, a mais cruel das ditaduras e ninguém
se dá conta ou reclama. Estamos sob o regime ditatorial do relativismo, do
pluralismo radical, daquilo que os eruditos chamam de pluralismo filosófico ou
hermenêutico. Este é o mais perigoso e sério desenvolvimento da
pós-modernidade, é a postura de que qualquer noção de uma declaração ideológica
ou religiosa em particular é intrinsecamente superior a outra é necessariamente
errada.
O único credo absoluto é o credo do pluralismo! Nenhuma religião
tem o direito de se destacar a si mesma correta ou verdadeira. Mas, nenhuma
outra instituição tem o direito de defender verdades universais e absolutas.
Não há mais que se falar em ética, mas em muitas éticas, pois há muitas
verdades. Tudo depende da percepção, da conveniência e do subjetivo. Esta
hermenêutica radical é um processo de desconstrução dos princípios que regeram
e fundaram a cultura ocidental sobre os valores judaico-cristãos e até aqui, o
que apresentaram no lugar não passou de falácias e o homem não se viu numa
condição mais livre, mais feliz ou superior.
Antes pelo contrário, o que assistimos dia a dia é uma cultura
do efêmero, dos excessos, da ostentação, do consumismo. Encontramos todos os
dias personalidades desintegradas, pessoas sem identidade correndo atrás do
sentido da vida fazendo toda sorte de testagens. O ícone pop desta cultura e
quem sabe seu melhor intérprete talvez tenha sido mesmo o Raul Seixas e a sua
sociedade alternativa com sua metamorfose ambulante. Cada um deve fazer o que
“der da telha”, cada um deve viver em contínua transformação e mudança de
opinião sem jamais possuir nenhum princípio ou balizamento moral.
A ditadura do relativismo, como em toda ditadura, tem lá os seus
mecanismos de coerção. O primeiro deles é consumismo irresponsável e doentio. O
Consumismo traz a ideia de que não possuir e não consumir tal bem, Marca ou
modelo ‘é não-ser’, não existir socialmente, não poder interagir culturalmente.
O consumismo, através do marketing agressivo, gera enormes falsas necessidades
apelando para as fraquezas e vulnerabilidades mais expostas das pessoas, de
modo que elas desenvolvem verdadeiro pânico de se virem alienadas e não aceitas
em seu círculo social. E, para manter cativos os homens gera-se esta cultura
vertiginosa de um novo lançamento e uma nova moda (sempre descartável e
superficial) a cada semana.
O segundo mecanismo desta ditadura é a indústria do
entretenimento pelo entretenimento. As artes, as produções culturais, a TV, o
Cinema e a indústria fonográfica não possuem quase ou nenhum interesse em
comunicar qualquer sentido à realidade. Nem mesmo se prestam para fazer uma
leitura crítica do homem e do mundo. O que desejam é explorar o universo sensorial
do homem comunicando algum prazer, na maioria das vezes, explorando a
sensualidade através de paixões desgovernadas, bizarras e doentias. Há toda uma
indústria que banaliza a violência, a morte e desmistifica a sacralidade da
vida em todos os seus estágios, coisificando assim a existência humana e
embrutecendo toda uma geração. Mas, este tipo de entretenimento alienante
também aportou nas Igrejas Evangélicas. Não poucos púlpitos e programas de
cultos também exploram o bizarro e o dantesco manipulando emoções e carências
sem nenhum pudor e sem nenhum compromisso ético. Muito da subcultura cristã
gospel não produz coisa alguma além de música comercial com letras e melodias
que por pouco não são confundidas com mantras.
Neste contexto secularizado, de múltiplas escolhas, de
relativismo levado às últimas consequências como viver a nossa fé cristã?
Algumas pistas:
1. Jamais ceder à tentação de uma igreja “Avestruz”. Não
podemos, em face de tantos e complexos desafios da cultura contemporânea enfiar
a cabeça em um buraco e fingir que não temos nada a oferecer, nada a
compartilhar e assumir um papel irrelevante;
2. Não podemos nos deixar capitular à mentalidade da época e
assim assumir nosso lugar neste mosaico, neste caldeirão de “muitas verdades” e
nos contentar com um discreto papel coadjuvante;
3. Não podemos ser intolerantes e segregacionistas. Não podemos
assumir um papel arrogante e sairmos por aí simplesmente acusando, difamando e
destruindo reputações. Longe de nós tais coisas;
4. Precisamos sim em amor, com genuíno e desinteressado amor,
com lógica racional, apego à verdade e a Justiça, apresentar a exclusividade de
Cristo e sua Superioridade sobre as pessoas em primeiro lugar e só depois às
suas ideias;
5. Precisamos, na dependência do Espírito Santo, convencer de
que não somos os donos da verdade, absolutamente. Mas, servos dela.
O caos do relativismo é a grande chance dos cristãos e da Igreja
a partir de sua vida integral e íntegra, apresentar um sistema e um estilo de
vida que responda a todas as inquietações do homem e da sociedade. Neste mundo
plural a singularidade de Cristo faz todo o sentido!
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É pastor-mestre da Igreja Presbiteriana Central de Itapira (SP).
Fonte: Ultimato-Opinião
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