Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

terça-feira, 2 de setembro de 2014

‘O ensino médio se reduziu a uma preparação para o vestibular’. - Entrevista com Viviane Mosé.



Achei bem interessantes e muito acertadas as colocações da filósofa Viviane Mosé sobre os desafios do Brasil em relação ao Ensino Médio, que ela expôs numa entrevista publicada no início do mes de agosto de 2014 no jornal O Globo. A matéria foi publicada também, postriormente, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler.

WCejnóg

IHU - Notícias
Terça, 05 de agosto de 2014

O ensino médio se reduziu a uma preparação para o vestibular’, diz educadora

Para a filósofa Viviane Mosé, educadores precisam refletir sobre as reais demandas dos alunos e adequar o ensino aos novos tempos. Ela participará do encontro internacional “Educação 360”, que será realizado nos dias 5 a 6 de setembro na Escola Sesc de Ensino Médio, no Rio, em parceria com o Sesc e a prefeitura do Rio e apoio do Canal Futura.
A entrevista foi publicada pelo jornal O Globo, 03-08-2014.

Eis a entrevista.

A sra. já disse que precisa haver uma revolução no ensino médio. Que revolução seria essa?

Se o ensino fundamental tem melhorado, o ensino médio permanece estagnado. Como trata da educação de adolescentes e jovens, é hoje o olho do furacão. Mesmo com oferta de vagas, com a melhora das condições físicas das escolas, muitos jovens abandonam os estudos, fenômeno que já aparece nos anos finais do ensino fundamental. A escola, do modo como está estruturada, não consegue atrair. Se esse fenômeno acontece em muitos países, em função da democratização do saber permitida pela internet, no Brasil se apresenta de modo ainda mais grave, já que o ensino médio se reduziu a uma preparação para o vestibular. Como as escolas públicas não conseguem competir com as particulares, jovens das classes populares não encontram nada na escola: nem acesso à universidade, nem ferramentas que o ajudem a viver melhor, nem acesso ao mercado de trabalho, nem espaço de encontro e experiências lúdicas. Muitas medidas paliativas têm sido tomadas, como as cotas para as escolas públicas nas universidades, mas nada disso resolverá o problema. O Brasil precisa repensar o ensino médio, que deve oferecer diferentes possibilidades, dependendo da vocação e do interesse do aluno.

O que torna um projeto educacional bem-sucedido?

Um projeto é bem sucedido quando as crianças aprendem e não abandonam a escola. Quando encontram na escola um espaço de crescimento não apenas intelectual, mas humano. A escola não deve se sustentar na administração de conteúdos, mas na aquisição de ferramentas para viver melhor. Os conteúdos estão disponíveis na rede, precisamos estimular a capacidade de ler e interpretar dados e sofisticar nossa habilidade de ler o mundo. Essa é uma escola que dá certo, pois permite que a pessoa continue aprendendo.

Qual o novo papel do professor?

Nós, professores, nos sustentávamos nos conteúdos que tínhamos e devíamos passar aos alunos. Hoje, esses conteúdos estão disponíveis, muitas vezes, com mais dinamismo e qualidade nas novas mídias. Então, nosso poder passa a ser o de preparar os alunos para lidar com as mídias. Isso significa incentivar a inteligência, o pensamento e, especialmente, a capacidade de filtrar dados e interpretá-los, para que não sejam levados por uma onda de informação manipulada ou de má qualidade. O professor não é mais quem sabe tudo, mas quem se interessa por tudo. A educação caminha para a formação de pesquisadores, e isso é muito favorável.

As escolas precisam olhar mais para as comunidades ao redor?

Elas devem se abrir para o mundo. Não podem mais se esconder por trás de altos muros. Os desafios do mundo devem ser questões presentes no cotidiano das escolas, não apenas questões acadêmicas abstratas. Mas esse mal, o isolamento, deve começar a ser vencido nas universidades, que nasceram dos conventos, com seus altos muros.

Muitos especialistas associam as manifestações do ano passado ao aumento do acesso à educação. Acredita nesta conexão?

De forma nenhuma. As manifestações são consequência do acesso às novas mídias, que rapidamente reúne pessoas. Mas essa reunião se deu em um momento em que as pessoas ainda não têm uma educação de qualidade, voltada para a vida, para as questões sociais. Sem rumo, elas se perderam, não produziram conquistas, desembocaram em violência. Em breve, teremos outro cenário: manifestações, sim, enormes, mas com direção, sentido, maturidade política e intelectual.

No encontro “Educação 360”, a senhora vai participar de uma mesa sobre as iniciativas de educação que partem do Brasil. As ações brasileiras guardam um diferencial comum?

Não há uma gente mais criativa que a nossa, eu penso. Depois de andar do Oiapoque ao Chui, tenho a honra de conhecer experiências incríveis e inéditas que dão muito certo. Muitas vezes, escolas muito pobres; em outras, mais ricas, sempre com criatividade e vontade, conseguem produzir uma educação de qualidade. Temos de valorizar essas práticas e compartilhá-las, precisamos adotar o modo brasileiro de educar que dá certo, e não importar modelos, o mundo inteiro repensa a educação.


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