“Porque Deus
tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3,16)
Abaixo, uma reflexão atual e muito interessante do
padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola sobre a Festa da Exaltação da Santa
Cruz. É importante indagar sobre o sentido dessa festa nos dias de hoje.
O texto foi publicado no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Vale a pena ler.
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IHU
- Notícias
Sexta, 12 de setembro de
2014
Olhar com fé o crucificado
A leitura que a
Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 3,
13-17 que corresponde a Festa da Exaltação da Santa Cruz, ciclo
A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o
texto.
A festa que hoje
celebram os cristãos é incompreensível e até disparatada para quem desconhece o
significado da fé cristã no Crucificado. Que sentido pode ter celebrar uma festa que se
chama “Exaltação da Cruz” numa sociedade que procura apaixonadamente o
conforto, a comodidade e o máximo bem-estar?
Mais de um
perguntará como é possível continuar ainda hoje a exaltar a cruz. Não ficou já
superada para sempre essa forma mórbida de viver exaltando a dor e procurando o
sofrimento? Temos de continuar a alimentar um cristianismo centrado na agonia do
Calvário e das chagas do Crucificado?
São sem dúvida
perguntas muito razoáveis, que necessitam uma resposta clarificadora. Quando os
cristãos olham o Crucificado, não exaltam a dor, a tortura e a morte,
mas o amor, a proximidade e a solidariedade de Deus que quis partilhar a nossa
vida e a nossa morte até ao extremo.
Não é o
sofrimento que salva, mas o amor de Deus que se solidariza com a história
dolorosa do ser humano. Não é o sangue que, na realidade, limpa o nosso pecado,
mas o amor insondável de Deus que nos acolhe como filhos. A
crucificação é o acontecimento em que melhor nos revela o Seu amor.
Descobrir a
grandeza da Cruz não é atribuir não sei que misterioso poder ou virtude à
dor, mas confessar a força salvadora do amor de Deus quando,
encarnado em Jesus, sai a reconciliar o mundo consigo.
Nesses braços
estendidos que já não podem abraçar as crianças e nessas mãos que já não podem
acariciar os leprosos nem abençoar os doentes, os cristãos “contemplam” Deus
com os Seus braços abertos para acolher, abraçar e sustentar as nossas pobres
vidas, quebradas por tantos sofrimentos.
Nesse rosto
apagado pela morte, nesses olhos que já não podem olhar com ternura as
prostitutas, nessa boca que já não pode gritar a Sua indignação
pelas vítimas de tantos abusos e injustiças, nesses lábios que não podem
pronunciar o Seu perdão aos pecadores, Deus nos revela como em nenhum outro
gesto o Seu amor insondável à Humanidade.
Por isso, ser fiel ao Crucificado não é procurar cruzes e sofrimentos,
mas viver como Ele numa atitude de entrega e solidariedade, aceitando se
necessário a crucificação e os males que nos podem ocorrer como consequência. Esta
fidelidade ao Crucificado não é de dor, mas de esperança. A uma
vida “crucificada”, vivida com o mesmo espírito de amor com que viveu Jesus, só
lhe espera a ressurreição.
Fonte: IHU - Notícia
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