"O que a religião pode trazer para o debate é uma abertura ao espanto e à admiração, enquanto os cientistas descrevem como eles acham que as coisas funcionam.' (artigo)
Abaixo,
um artigo muito bom sobre a relação entre a ciência e a religião, e vicê-versa.
É de autoria do Bill Tammeus*.
A matéria foi publicada pelo National Catholic Reporter no mês de abril de
2014 e, posteriormente, também no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU) em
maio de 2014.
Vale
a pena ler!
WCejnog.
IHU - NOTÍCIAS
Segunda, 05 de maio de 2014
Religião e
ciência partilham as mesmas raízes: espanto e admiração
"Muito melhor do
que a arrogância de Hawking sobre capacidade humana de
compreender o infinito é a expressão simples de Mather de admiração
e o seu reconhecimento de que a forma deste universo é 'simplesmente muito mais
complicada do que nós, seres humanos, jamais iremos compreender
propriamente'", escreve Bill Tammeus, presbiteriano e ex-colunista sobre
religião do jornal The Kansas City Star, em artigo publicado
pelo National Catholic Reporter, 30-04-2014. A tradução de Isaque
Gomes Correa.
Eis o artigo.
Há algumas
semanas, John C. Mather, que ganhou o Prêmio Nobel de
Física, em 2006, deu uma palestra na Universidade Católica da América,
em Washington, D.C., sobre as origens e o futuro do universo.
Esta iniciativa fez bem
para a universidade, pensei. Que ótima mudança em relação a séculos atrás,
quando a Igreja Católica decidia unilateralmente quais eram os detalhes da origem, do futuro e da forma do
universo, às vezes tirando conclusões contrastantes às que os cientistas
estavam chegando.
Eu gosto de física,
embora descobri que para entender qualquer coisa nesse sentido é preciso saber
também de matemática. Tendo presente minha incompetência nesta área, fui para o
jornalismo, um campo onde erros matemáticos podem criar embaraços, mas
provavelmente não irão resultar na morte inadvertida do mundo.
No entanto, eu ainda não
desisti de meu gosto pela física. Ao longo dos anos, escrevi uma quantidade
razoável sobre ciência, em especial
cosmologia e física subatômica. Assim, quando fiquei sabendo que Mather iria
falar sobre tudo isso à luz das provas recentes que confiram a teoria do Big
Bang, fiz uma rápida pesquisa para ver se ele já tinha dito algo
publicamente sobre religião.
O que encontrei foi
animador, embora o achado não me diga muito sobre se Mather é
seguidor desta ou daquela tradição religiosa.
Encontrei uma entrevista
dele no site da NASA. Em resposta a uma pergunta sobre as coisas que as
pessoas questionam quando fala para grupos religiosos, Mather afirmou:
“Temos nossas tradições religiosas que vêm de milhares de anos, e às vezes eu
paro e penso: bem, se Moisés tivesse descido a montanha com
alguns comprimidos dizendo: ‘Olhem só:
há prótons e nêutrons, e eles são feitos de quarks’, as pessoas não iriam
entender. Então ele não falou nada. Estamos descobrindo como realmente é o
universo. Ele é completamente magnífico. Creio que minha resposta seja a de um
completo espanto e admiração pelo universo em que estamos, e a forma como ele
funciona é simplesmente muito mais complicada do que nós, seres humanos, algum
dia iremos compreender”.
Esta expressão humilde
de admiração é encontrada na raiz da religião. E é uma atitude muito mais
atraente do que aquela que o famoso físico Stephen Hawking apresentou em seu livro “Uma breve
história do tempo”. Aí, Hawking falou sobre a esperança de se
encontrar uma grande teoria unificada de todas as coisas e escreveu que “se
descobrirmos uma teoria completa (...), então conheceremos a mente de Deus”.
Muito melhor do que a
arrogância de Hawking sobre capacidade humana de compreender o
infinito é a expressão simples de Mather de admiração
e o seu reconhecimento de que a forma deste universo é “simplesmente
muito mais complicada do que nós, seres humanos, jamais iremos compreender
propriamente”.
Na verdade, esta é
exatamente a atitude que a religião – qualquer que seja a tradição – deve
defender. Nós humanos somos naturalmente curiosos a respeito do mundo em que
vivemos, e deveríamos nos colocar a explorar e tirar conclusões sobre como as
coisas parecem funcionar. Mas imaginar que temos condições de conhecer a mente
de Deus, de forma completa, é virar a virtude beneditina de humildade de ponta
cabeça.
Minha esperança é que as
instituições educacionais religiosas incentivem a exploração científica aberta
e honesta, e não uma ciência orientada pela agenda que tenta provar as
doutrinas religiosas. Fazer uso das capacidades científicas de alguém para
provar que a Terra tem apenas alguns poucos milhares de anos é
ir contra a ciência, é andar para trás. A boa ciência busca por provas desta ou
daquela hipótese e, então, tira conclusões – e não primeiro tira uma conclusão
e, depois, vai à caça de provas para ela.
O que a religião pode trazer para o debate é uma
abertura ao espanto e à admiração, enquanto os cientistas descrevem como eles
acham que as coisas funcionam.
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Bill Tammeus
* Bill Tammeus é o ex-colunista da seção da Fé no jornal Kansas City
Star. Ele veio para The Star em 1970 como repórter, passou quase 27 anos na
página editorial do jornal, principalmente a escrever a coluna diária
"Starbeams", e depois mudou sua coluna em março de 2004 para a seção
de Fé semanal. Formalmente se aposentou em meados de 2006, mas continuou com a seção
de Fé como colunista até meados de novembro de 2008. Além do seu blog diário,
Bill escreve colunas para o Presbyterian Outlook e na edição online da National Catolic Reporter.
Bill é ex-presidente da Sociedade Nacional de Jornais Colunistas.
Ele é um ancião na Segunda Igreja Presbiteriana em Kansas City. É casado com
Marcia Tammeus e tem seis filhos e sete netos. [ In: http://billtammeus.typepad.com/my_weblog/bills-brief-biography.html]
Fonte: IHU - Notícias
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