Ninguém
duvida hoje em dia que a questão de Educação no Brasil é muito importante para a
vida e o futuro da nossa sociedade, e de modo especial contemplando as novas
gerações. No entanto, o nível de ensino nas escolas, a pedagogia “moderna”, a
administração e a situação de segurança de muitos estabelecimentos de ensino (tanto
públicos como particulares) deixam ainda muito a desejar. E o problema da
violência nas escolas torna-se cada vez mais grave. As manchetes de jornais,
revistas e na TV frequentemente denunciam essa
situação.
Penso
que todos nós devemo-nos perguntar sobre
as causas desses problemas e procurar entender a situação. Mesmo quando o quadro
dessa questão nos parece muito confuso e indefinido, é importante exgir dos
governantes medidas acertadas e corajosas, que possam colocar o Brasil bem mais
para cima do ranking mundial quando se trata de Educação. Aliás, esta é uma questão que deveria ser bem
lembrada por eleitores neste período final das eleições no Brasil.
E
para falar dessa questão de Educação no Brasil, e sobretudo do problema da
violência nas escolas, trago para o blog Indagações-Zapytania uma interessante e
bem oportuna entrevista com Cristovão Buarque*, concedida à BBC Brasil em agosto
de 2014. Foi publicada também no site do
Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não
deixe de ler.
WCejnóg
IHU - Notícias
Sexta, 29 de agosto de 2014
Escola é violenta com aluno,
diz Cristovam Buarque.
Um dos
grandes defensores da educação como instrumento de transformação do Brasil, o
senador Cristovam
Buarque considera
que o problema da violência na rede pública de ensino do país é gerado
principalmente por causa da desvalorização da escola como instituição.
Em
entrevista exclusiva à BBC
Brasil, 28-08-2014, Cristovam afirma que a escola no Brasil
"está sem moral". "A escola desvalorizada gera violência, e a violência desmoraliza
ainda mais a escola. Os jovens sabem que saindo com o curso ou sem, de tão ruim
que são os cursos, não vai fazer diferença, porque o curso não agrega muito na
vida dele. Os alunos não vêem retorno na escola", explica.
O tema da
violência em sala de aula foi destacado por internautas ouvidos pela BBC Brasil como
um assunto que deveria receber mais atenção por parte dos candidatos
presidenciais e vem gerando acirrados debates em posts que publicamos nos
últimos dias nas nossas páginas de Clique
Facebook, Clique Twitter e Clique Google+.
Ministro
da Educação do governo Lula entre 2003 e 2004, Cristovam Buarque chegou a se candidatar à Presidência
em 2006 levantando como principal bandeira a "revolução na educação de
base". Ele acredita que só ela poderia resolver de vez o problema da
violência e fazer com que a escola voltasse a ser respeitada no país.
Eis
a entrevista.
Como
o senhor define o problema da violência nas escolas do Brasil? Por que ele
acontece?
A
sociedade brasileira é uma sociedade muito violenta hoje, então as pessoas se
sentem no direito de agir violentamente, às vezes, até não necessariamente com
agressão física, mas com palavras. As escolas estão rodeadas de traficantes, a
violência do meio influencia. O outro é o fato de que a escola não é uma
instituição valorizada e, ao não ser valorizada, as crianças também entram na
mesma onda da não valorização, se sentem no direito de quebrar os vidros, se
sentem no direito de levar as coisas pra fora.
Aqui
mesmo na UnB (Universidade de Brasília), eu vi a
enciclopédia britânica sendo rasgada, porque o aluno em vez de tirar o xérox da
folha que ele precisava, arrancou a página e levou. Os próprios professores são
tratados como seres sem importância, que ganham salários baixos. Além disso os
jovens sabem que saindo com o curso ou sem, de tão ruim que são os cursos, ele
sabe que não agrega muito na vida dele. Os alunos não veem retorno da escola.
Quais
as consequências da violência na escola para a educação no país?
A escola
desvalorizada gera violência, e a violência desmoraliza ainda mais a escola. Os
professores hoje estão fugindo, porque o salário é baixo e há muito desrespeito
com relação à profissão deles. Quando a gente analisa o concurso para entrar na
universidade, o vestibular, os últimos cursos na preferência dos vestibulandos
são pedagogia e licenciatura, isso gera um clima de desvalorização.
Para entrar em medicina são 50 por vaga, para pedagogia às vezes têm mais vagas que candidatos. Isso gera desvalorização. E aí as pessoas ficam quebrando as coisas, são violentas. Cria um ciclo vicioso. A desvalorização da escola aliada à violência do país induz à violência dentro da escola.
É preciso
ter disciplina na escola, mas para o professor ser agente da disciplina, ele
tem que ter moral. Só que a escola hoje está sem moral. Uma das coisas básicas
da disciplina é o aluno chegar na hora. Como chegar na hora se nem o professor
dele chega na hora? Se o professor dele ficou dois meses de greve? O professor
se vai um dia, não vai outro. A ausência do professor no Brasil é tão grande
quanto a do aluno. Eles faltam igualmente. Então está faltando moral na escola.
Quais
seriam as medidas a curto prazo para conter o problema?
Eu não
vejo como resolver isso no curto prazo, só se for atribuindo Valium (calmante)
para todo aluno, se colocarValium na
merenda. Brincadeira, mas é que é difícil ver uma solução a curto prazo. Qual o
caminho a médio e longo prazo? Valorizar a escola, hoje o salário médio do
professor na escola é R$ 2 mil, se você pagar menos do que paga para quem vai
ser engenheiro ou médico, os melhores não vêm, eles não vão querer ser
professores.
Você tem
que ter um salário compensador, eu calculo R$ 9.500. Só que para merecer esse
salário, tem que ter um processo muito rígido de seleção do aluno, para ver se
a pessoa tem vocação, tem que quebrar a estabilidade plena de que o professor
continue no cargo sem se aperfeiçoar, tem que ser uma estabilidade sujeita a
avaliações. Para a escola ser respeitada, o prédio tem que ser respeitado. As
pessoas não saem quebrando shopping, porque é um prédio bonito,
confortável. As crianças se sentem desconfortáveis na escola, por isso que elas
são violentas. A verdade é que a escola é mais violenta com o aluno do que o
aluno com ela. Ela obriga o aluno ficar sentado 6, 7 horas numa cadeira
desconfortável, num prédio feio e mal cuidado.
Como
fazer isso funcionar no Brasil a curto e médio prazo? Ir implantando isso por
cidade. Leva 20 anos no país todo, mas precisa de um ou dois anos para fazer em
uma cidade. E até lá, como faz? É o que estão fazendo, colocar polícia, bom
diretor. A polícia tem que ficar longe da escola, mas no longo prazo. No curto
prazo ela é uma necessidade, porque ela diminui a violência da sociedade que
está na escola. Além disso, é preciso identificar os alunos violentos. Um só
jovem faz uma violência que desmoraliza a escola inteira. Então identificando
os jovens que são agentes da violência você resolve o problema, levando ao
psicólogo, tratando esse jovem.
O
que o senhor acha do modelo de educação nas escolas de hoje?
Não dá
para seduzir uma criança com métodos seculares como quadro negro, tem que ser
computador, vídeo. O professor tem que ser capaz de cavalgar a tecnologia da
informação, de se comunicar com a criança usando o computador. E finalmente a
escola tem que ser 6h ou 7h por dia. O menino se comporta melhor na escola que
ele fica o dia inteiro porque ela passa a ser um pouco da casa dele, a escola
tem que ser a extensão da casa da criança.
Aprovou-se
no ano passado a medida de destinar 10% do PIB pra educação. Esse dinheiro é
suficiente? Então qual é o problema da educação hoje em dia (se não é
dinheiro)?
O
problema é dinheiro, mas não é só dinheiro. Se chover dinheiro no quintal da
escola, a primeira chuva vira lama. Se aumentar muito o salário do professor
agora, isso não vai mudar nada. Precisa de todas ações juntas, a revolução
mesmo da educação. Para pagar os R$ 9 mil (para os professores), para construir
as escolas novas, você precisa de 6,5% do PIB (na educação de base, sem contar
investimentos nas universidades).
Esse
negocio de 10% do PIB foi uma farsa. Por que não colocaram
10% da receita? Porque ao dizer que é do PIB,ninguém
sabe de onde vai sair o dinheiro. O PIB não existe, ele é um conceito abstrato
de estatística. Para fazer a revolução a qual eu me refiro, nós precisamos para
a educação de base R$ 441 bilhões em 20 anos, por isso que eu digo 6,4% do PIB. Se
supõe que pré-sal vai dar R$ 225 bi, ele poderia ser uma fonte desse dinheiro.
Eu peguei 15 fontes de onde a gente poderia conseguir esse dinheiro e com elas
a gente pode chegar a R$ 750 bi. (Quais fontes?) São várias, não vou citar
todas aqui. Mas por exemplo, quem vai querer um imposto sobre as grandes
fortunas, reduzir publicidade do governo, eliminar subsídio que se dá para
educação privada, porque se a pública vai ser boa, não precisa bancar a
privada, ou então voltar a CPMF (Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira), só que fazer ela ser toda destinada pra educação,
pegar 50% do lucro das estatais que vão pro governo, usar rentabilidade de
reservas?
Tudo isso
dá o dinheiro que a gente precisa. Não precisa dos 10% do PIB. Isso
não existe. Eu defendo a federalização das escolas para tornar o ensino público
uma referência no Brasil. Hoje, das 196 mil escolas públicas que nós temos,
pouco mais de 520 são federais e essas são boas. A seleção do professor é mais
cuidadosa, as instalações são melhores o regime de trabalho é melhor. Temos que
levar esse padrão para todas as outras.
Mas
o senhor tinha consciência disso quando entrou no Ministério? O que o senhor
fez pra mudar?
Eu sabia.
Essa ideia de implantar escolas boas por cidade, eu comecei. Escolhi 29 cidades
e comecei. Eu comecei a fazer isso nas cidades com dinheiro do MEC e
não sensibilizei o governo. Para fazer isso leva tempo, quando a gente
conseguiu aprovar, eu fui demitido. Mas o governo não tinha interesse em
investir em educação de base, como todos os outros, ele só queria investir em
universidade. Educação de base não dá voto, você fica na história, mas não fica
no governo. Universidade é imediato. Eu recebi 520 parlamentares em um ano que
fiquei lá no ministério, desses só um me pediu uma ajuda de investimento para
educação de base, um deputado da Bahia,
o resto, todos os outros queriam investimento para faculdade, ensino técnico,
ou regularizar faculdade particulares..
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* Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque (Recife, 20 de fevereiro de1944)
é um engenheiro mecânico, economista, educador, professor universitário e político brasileiro filiado
ao PDT.
É o criador da Bolsa-Escola, que foi implantada pela primeira
vez em seu governo no Distrito
Federal.
Foi reitor da Universidade de
Brasília de 1985 a
1989. Foi governador do Distrito
Federal de 1995 a
1998. Foi eleito senador pelo Distrito
Federal em 2002.
Foi Ministro da
Educação entre 2003 e
2004, no primeiro mandato de Lula. Foi reeleito nas eleições de 2010 para o Senado pelo Distrito Federal, com mandato até 2018.
É casado, tem duas filhas, duas netas
e um neto. [In:Wikipedia]
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