“Dêem a
César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. (Mt 22,21) - "Poucas
palavras de Jesus foram tão citadas como estas. E nenhuma talvez mais
distorcida e manipulada a partir dos interesses muito alheios ao Profeta,
defensor dos pobres.” – afirma o autor.
Abaixo, uma reflexão bem concreta e muito atual do
padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola sobre o texto Mt 22,15-22 (o
tributo a César).
Penso que a leitura desse texto pode ser uma ótima oportunidade
para entendermos melhor a verdadeira
mensagem de Jesus Cristo.
O texto foi publicado no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler.
WCejnog
IHU - Notícias
Sexta, 17 de outubro de 2014
Os pobres são de Deus
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho
de Jesus Cristo segundo Mateus 22, 15-21 que corresponde ao
29º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Pelas costas de Jesus, os fariseus chegam a um
acordo para lhe preparar uma armadilha decisiva. Eles não vão
pessoalmente se encontrar com Jesus. Enviam discípulos acompanhados por alguns
partidários de Herodes Antipas. Talvez entre eles haja também poderosos
arrecadadores de tributos para Roma.
A armadilha está bem pensada: “É lícito pagar imposto a
César ou não?” Se ele responde negativamente podem acusá-lo de
rebelião contra Roma. Se ele legitima o pagamento dos tributos, ficará
desprestigiado diante dos pobres camponeses que vivem oprimidos pelos impostos
e são aqueles que ele ama e defende com todas as suas forças.
A resposta de Jesus foi resumida de forma lapidária ao
longo dos séculos nestes termos: “Dêem a César o que é de César, e a Deus o que
é de Deus”. Poucas palavras de Jesus foram tão citadas como estas. E nenhuma talvez
mais distorcida e manipulada a partir dos interesses muito alheios ao Profeta,
defensor dos pobres.
Jesus não está pensando em Deus e no Cesar de Roma como
dois poderes que podem exigir cada um deles, em seu próprio terreno, seus
direitos a seus súditos. Como todo fiel judeu, Jesus sabe que a Deus “pertence
a terra e tudo o que ela contém, o mundo e os que nele habitam”
(salmo 24). O que pode ser de César que não seja de Deus? Por acaso
os súditos do imperador não são filhos e filhas de Deus?
Jesus não se detém nas diferentes posições que enfrentam
naquela sociedade herodianos, saduceus ou fariseus sobre os tributos a
Roma e seu significado: se eles portam “a moeda do imposto” na sua sacola,
então que cumpram suas obrigações. Mas ele não vive a serviço do Império de Roma
senão abrindo caminhos ao reino de Deus e sua justiça.
Por isso lembra-lhes de algo que ninguém lhe perguntou:
“deem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Quer dizer, não dar
a nenhum César o que é de Deus: a vida de seus filhos e filhas. Como ele já tem
dito em outras oportunidades a seus seguidores, os pobres são de Deus, os
pequenos são seus prediletos, o reino de Deus lhes pertence. Ninguém
pode abusar deles.
Não se deve sacrificar a vida, a dignidade ou
a felicidade das pessoas a nenhum poder. E, sem dúvida, ninguém possa sacrificar
hoje mais vidas e ocasionar mais sofrimento, fome e destruição do que essa “ditadura de uma economia sem rosto e sem um
objetivo verdadeiramente humano” que, segundo o papa Francisco, conseguiram
impor os poderosos da Terra. Não podemos permanecer passivos e
indiferentes calando a voz de nossa consciência na prática religiosa.
Fonte: IHU - Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário