Em
face da maior crise de imigração desde a Segunda Guerra Mundial, que hoje
sacode a Europa, multiplicam-se opiniões, apelos e reflexões sobre a questão
dos imigrantes. Muitas atitudes e discursos chegam a ser completamente opostos.
Algumas parecem exalar uma inocente ingenuidade ou a 'cegueira', outras – o extremo preconceito,
xenofobia e ódio. Todos se pronunciam. Muitas pessoas estão com medo do futuro.
Outras não sabem opinar.
Na
Polônia, por exemplo (e não só na Polônia), muitos argumentam a sua oposição
contra a aceitação de refugiados com o argumento de que trata-se, na verdade,
de uma grande “invasão do Islã” sobre a Europa e por isso precisa tratar esta questão como uma ameaça
aos “valores” cristãos das nações europeias. E muitos, obviamente, compartilham
desta opinião.
Outros,
pelo contrário, vão na direção do apelo do Papa Francisco, que convoca os
cristãos para estenderem a mão a essas
pessoas, que precisam de ajuda e solidariedade.
Na
minha opinião, a situação é realmente complexa e difícil, e certamente não é
fácil chegar a uma ação rápida e eficiente. Parece que não há, de fato, outro
jeito para isso, além de buscar e aplicar soluções via política e diplomacia da
parte dos países da Europa. E assim, ao meu ver, vai acontecer.
Mas,
na margem deste fenômeno de imigração, pelo menos três grandes indagações e
preocupações certamente merecem atenção, reflexão, respostas e a correção das atitudes e crenças errôneas. E
tudo isso pode ser doloroso e ferir como espinhos.
1)
Não seria hipocrisia insistir que os valores cristãos estão ameaçados, se são
esses próprios valores que, neste momento, impôem AMOR e MISERICÓRDIA para com todos,
especialmente para com as famílias e indivíduos que fogem da guerra, da
perseguição, da morte, da violência e
crueldade dos carrascos? Por acaso não é este o maior mandamento de Cristo? Não
é por isso que o papa Francisco pede aos cristãos para mostrarem na prática
esse AMOR e MISERICÓRDIA, que devem ser
o eixo principal da verdadeira fé cristã? ...
Ou
talvez o AMOR e MISERICÓRDIA hoje já são seletivos?... Talvez devam ser
oferecidos apenas para alguns?, só para os "nossos"?, apenas para a
gente amiga?
A
pergunta é: Será que deste jeito entendem os valores cristãos todos aqueles, que usam isso como argumento para
ser contra essas multidões de refugiados? ...
E mais uma pergunta: Será que hoje, de fato, a Europa ainda pode alegar
que os seus valores são cristãos?
Parece-me que diversas práticas e leis introduzidas nos tempos atuais na
Europa em nome da "liberdade e progresso" (por exemplo, as que dizem
respeito ao aborto, à eutanásia, ao descarte dos embriões humanos, etc.)
fornecem-nos sérias razões para pensar que a Europa hoje já não se importa nada
com os "valores cristãos".
2)
Será que os países da Europa hoje não são suficientemente fortes e inteligentes
a ponto de ser capazes de detectar e isolar os elementos que ameaçam a
segurança de suas sociedades? A tarefa não é fácil, mas é possível que seja
realizada com êxito. Esses países devem ser fortes! Eles, os países e nações do 'primeiro mundo',
que recebem imigrantes e refugiados, têm a oportunidade de mostrar sua força,
organização e determinação em cumprimento, por todos os seus cidadãos (e
não-cidadãos) das suas justas e transparentes leis (a menos, que essas leis não
sejam tão claras e fortes - o que seria
uma outra questão). Assim deve ser e agir o país verdadeiramente democrático.
Quem
vem "de fora" e é admitido para uma sociedade em qualquer um desses países certamente sabe
que ele há de se adaptar a um novo lugar e respeitar o que nele encontra, pois,
desta forma, ele ganhará respeito e será
respeitado por todos. E se, por acaso,
não souber, é óbvio que deve
ser informado a esse respeito. Portanto,
qualquer um que é recebido deve estar ciente de que chega à "casa dos
outros", em que pode viver junto com os moradores, ser bem tratado e ter
boas perspectivas para o futuro. Pode contar com AMOR e JUSTIÇA. E a gratidão deveria
ser a primeira e a maior característica de quem foi recebido e aceito.
Quanto
aos descontentes ou às pessoas que
chegam com outras intenções, o estado (país) deve ter os meios e
possibilidades de deportá-las de volta aos seus países. Sem dúvida, o direito para agir assim decorre do princípio da justiça e é
certamente uma condição necessária para garantir a soberania e a sua própria
segurança por países de acolhimento.
3)
É impossível não pensar sobre as causas desse
enorme "Êxodo". O mundo civilizado deve tomar rapidamente
medidas concretas e definitivas contra o
Estado Islâmico (ISIS) e contra
todas as outras facções e grupos extremistas, terrroristas e criminosas. Seus
crimes chocantes e bárbaros absolutamente não podem ser justificados. Eu sou da
opinião de que, neste caso, para o bem da humanidade, a única e radical solução
para o mundo civilizado do século XXI deve ser "TOLERÂNCIA ZERO".
Infelizmente, parece que não há nenhuma outra saída.
Sabe-se
também, que a principal causa desses
grandes conflitos, carregada de ódio fratricida e derramamento de sangue,
baseia-se nas interpretações extremas e patológicas de algumas doutrinas e dogmas religiosos. Será
que isso pode ser corrigido?
Alguns, defendendo a liberdade
religiosa, dizem que "religião não se discute". Mas, eu acho que não é bem assim. Acredito
que estas questões devem ser discutidas.
Sim, no caso, deve-se discutir também as religiões, se de fato por causa
de seus princípios, porventura, trazem
tais consequências, como estupro, violência
e morte. E quem deveria fazê-lo (discutir essas coisas) são exatamente
as próprias religiões. Só desta forma,
apontados e chamados pelo nome, todas as patologias têm chance de serem rejeitadas e deixar de existir..
A
frase bíblica "Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como
as pombas" (Mt 10,16), certamente
também nos dias de hoje, e especialmente em
face do fenômeno da imigração,
convida a todos para uma séria
reflexão. Em todas as opiniões e atitudes não pode faltar, acima de tudo, o bom
senso. Além disso, essencial aqui é empatia: "E se isso acontecesse comigo
e com a minha família? - ser capaz de se colocar no lugar dessas pessoas.
Enfim,
não posso deixar de colocar aqui, no meu
blog Indagações-Zapytania, um texto maravilhoso, de autoria de Asida Turawa*.
Este texto é uma postagem, qua a autora colocou no Facebook. Ele merece
reconhecimento e uma grande divulgação.
Da
minha parte, parabenizo a Asida pela iniciativa de compartilhar com os outros
as suas experiências e a sua visão sobre a questão de imigração.
Por Asida
Turawa
"Sou uma
imigrante. Mudei-me para a Polônia
do Cáucaso cerca de metade de uma vida atrás. Eu não sou católica. Fui
criada numa religião diferente, numa cultura diferente com outras tradições. Eu
era uma refugiada. Fugia da guerra e eu sei como é isso. A partir da autópsia.
Sou tolerante, eu estou longe de xenofobia ou nacionalismo, porque é de mim que
um xenófobo tem mais medo.
Eu
fugia da guerra com a minha mãe, minha tia e minhas duas irmãs. Sim, de barco,
eu me lembro como se fosse hoje.
Nosso
pai não estava com a gente, nem o tio, e
até mesmo nem o avô, porque o pai junto com os outros homens lutaram pelo seu,
pelo nosso país. Fugimos para a Rússia. Não havíamos escolhendo o país olhando
para a sua prosperidade ou oportunidades
que ele podia oferecer. Estávamos
fugindo para um local seguro mais próximo,
para ficar mais perto de meu pai e poder voltar para casa o mais rápido
possível. Nem todos estavam contentes que viemos para cá, de barco. Mas nós não pedimos nada,
e também nada esperávamos. Falamos russo e éramos culturais, educadas (até
exagero) e cheias de respeito com as pessoas que queriam nos ajudar. Até hoje
eu não sei bem como a minha mãe conseguiu cuidadr de tudo, para termos um lugar
para dormir, o que comer. Juntou-se às
pessoas odiadas por pessoas, chamados de
"especuladores" com as grandes sacos de plástico, que comercializavam
com que era possível sobre as ruínas da antiga União Soviética. Minha mãe – uma filóloga, uma música, uma
pianista.
Lembro-me
que nos acolheu por algum tempo um
sanatório para as crianças com doenças de pele. Estes não eram crianças com a
erupção habitual das crianças; havia ali
as doenças realmente assustadoras, as
crianças parecendo com os homens de 90 anos de idade ... Nós estávamos
aterrorizados, a primeira reação foi de rejeitar, mas os adultos rapidamente
explicaram-nos que aqui nós nos
precisamos adaptar, viver em seus
termos. Então, comemos com eles,quando eles comem, dormimos quando eles dormem,
assistimos a TV e nos divertimos junto
com eles, porque aqui somos convidados.
Cheguei
para Polônia. Depois disso, após anos, para a faculdade. Assumi como uma
questão de honra dominar o idioma
corretamente, sem sotaque, saber
conversar com os poloneses sobre os
temas, que estão próximos à Polônia e aos poloneses, sem perguntas "Está
gostando do nosso país", se este
passaria a ser também o meu país. Não se tratava de trair a minha própria cultura ou tradição, porque aprender
sobre outras culturas somente enriquece
a nossa própria, tratava-se do respeito pelas pessoas, com as quis eu convivo.
Junto
com os sogros eu comemoro as festas
católicas. Por amor à minha família, pelo respeito, pela polidez de
costume e, em fim, pela simples
cortesia. Ninguém me manda a ir para a comunhão, mas nada vai me acontecer se
eu me vestir bem e sento-me à mesa com boa educação. Visitando alguém em seu
país, no templo, na sua vou-me adaptar aos seus hábitos. Eu sou tolerante.
Muito. Sinto-me uma cidadã do mundo e
não espio a cama de ninguém - todas as cores de pele e de arco-íris para mim são valiosos do mesmo
jeito. Mas a tolerância não significa uma aceitação cega de tudo que aparece.
Talvez eu seja hipócrita, mas a minha tolerância é selectiva , porque eu não tolero o mal.
Não
tolero a agressão e a situação, em que é
praticado mal contra outra pessoa. Se a tradição pede mutilações, estupros, espancamentos, então a
minha tolerância não vai tão longe.
O
mundo não é só preto e branco. Entre "Eu digo sim" e "Eu digo
não" existe ainda um monte de meios-tons e nuances. Quando alguém chama as pessoas de
"selvagens" e "vagabundas" eu primeira
fico indignada, porque eu também
sou essa "selvagem", essa
"vagabunda", - olhem para mim,
eu vivo com vocês durante esses anos
todos. Vejam, entre essas pessoas pode
haver médicos, grandes talentos e pessoas
simplesmente abertas e bem educadas,
e elas não merecem para se ter medo delas. Quando alguém diz que não
vale a pena ajudar, porque nós mesmos temos muito pouco, eu não posso concordar. Mas as pessoas que
não têm respeito à comida, a ponto de chegar a
jogá-la fora, aparentemente, elas
não precisam dessa ajuda. Eu nunca vou esquecer o gosto nojento da sopa em pó,
que, como refugiados recebemos de
alguém, nós choramos comendo-a, porque uma necessidade real e verdadeira não
permite jogar alimentos fora.
Não
vou tomar uma posição sobre os refugiados, porque se eu machucar nem que seja
só uma pessoa que fugindo da guerra chega com humildade, respeito e gratidão,
não valerá a pena.
Tanto
mais, que o mesmo tinha acontecido um dia comigo e com a minha família. Só que
na minha história os homens jovens não abandonaram o seu país, a fim de ir para os países muito distantes tanto
geográfica como culturalmente, para
arremessar fezes contra os ônibus na fronteira, agarrar pelos cabelos as
mulheres para tirá-las do carro, espancá-las e chutar porque vestem
blusas decoltadas e, em seguida,
violentá-las para depois usar o mesmo decolte para desculpar o seu
comportamento. Alguém, que não respeita outra pessoa a ponto de se atrever a
levantar a mão contra ela, no país dela, no país que está oferecendo a ele o
asílo – esse não é refugiado, acreditem
em mim. E, por favor, não falem que eu não tenho direito de ter medo desse alguém, acusando-me que represento o nacionalismo, a xenofobia, o atraso e a
intolerância; estas coisas são estranhas
para mim, eu as abomino. Do mesmo jeito como eu abomino estupro e a
violência".
Źródło:Facebook
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* Asida Turawa
(Foto: Internet)