Abaixo, mais um texto que analisa a questão de liturgia no âmbito das celebrações na Igreja Católica. É de autoria de José Agustín Cabré*. Foi publicado no mês de julho (2015) no portal Religión Digital, e também, posteriormente, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Por achar interessantes e oportunas as ponderações
do autor, trago essa análise também para o blog Indagações-Zapytania.
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU - Notícias
Sexta, 31 de julho de 2015
Um problema: nossas liturgias
“Deverá passar ainda
muita água por debaixo da ponte antes que a liturgia católica se torne
compreensível, celebrativa, compartilhada, santificadora da vida. Estamos
falando da grande tarefa de evangelizar o século XXI, do compromisso com a
missão permanente, de falar uma linguagem de palavras e sinais compreensíveis
para o mundo de hoje. Mas não se nota nenhuma mudança pela frente; pelo
contrário, vê-se muitos retornos ao passado.”
A análise é de José
Agustín Cabré e publicada por Religión Digital,
29-07-2015. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
Boa parte dos católicos
que vão às igrejas aos domingos é idosa. Podem recordar, portanto, a surpresa e
o alívio que significou em sua experiência religiosa, há 50 anos, as mudanças
introduzidas pelo Concílio Vaticano II na
liturgia dos sacramentos e na missa: foram convidados a passarem de
“assistentes” a “participantes” nos ritos e no culto. Passou-se do tempo em que
se “ouvia missa” para o tempo em que se “celebra a missa”.
Com o passar do tempo,
foi possível comprovar que essas reformas não foram tão completas como se
esperava: os católicos continuam assistindo à missa como a um espetáculo onde
eles são o público e os atores são outros: o padre, os acólitos, os ministros,
os leitores, o coro... tudo distribuído em um espaço acomodado como um teatro:
um público que olha a certa distância a atuação de alguns disfarçados que estão
no palco.
Da Eucaristia, a grande
ação de graças a Deus pelo dom da vida, mediante a experiência humana de Jesus
de Nazaré, com sua vida, paixão, morte e ressurreição... resta, na realidade,
bem pouco.
Uma linguagem
desconhecida
Houve algumas mudanças,
é verdade: passou-se do latim – que ninguém entendia – ao idioma de cada país.
Mas não se mudou o nefasto sistema da leitura continuada da Bíblia. No afã de
que o povo escute alguma vez toda a Bíblia, mantiveram-se na missa as leituras
(Antigo e Novo Testamento, mais os Evangelhos), lendo, na sequência, do Gênesis
ao Apocalipse e em um período de três anos; a ideia, se alguma vez foi boa,
fracassou na prática. Com este sistema, o povo católico tem que escutar o que
cabe ler nesse dia, seja qual for a experiência vital que esteja vivendo.
Ainda são poucos os
pastores que abandonam esse sistema de preparação e se atrevem a buscar as
leituras mais apropriadas para cada ocasião; isto exige tempo de preparação,
bom critério de discernimento e capacidade de diálogo com as equipes de leigos.
Também pode exigir integridade para dar explicações ao bispo que,
necessariamente, defenderá o outro esquema imposto de Roma.
Mas não é a única
mudança para que a missa seja realmente Eucaristia. Se, como diz a catequese,
com mais poesia que segurança, se trata de uma comunidade a modo de família que
celebra sua fé, alimenta sua esperança e vive a caridade, a missa deveria
contar com um ambiente atraente e com sinais compreensíveis e didáticos.
Improvisações
Em um dos seus textos
incisivos, mas verazes, o jornalista Raúl Gutiérrez, que se
considera um cristão de base e de mentalidade ampla e pluralista, escreveu:
“A sensação que se tem
com frequência ao sair de alguma missa dominical é a improvisação, como se o
padre e os encarregados da cerimônia não estivessem muito convencidos da
importância e da solenidade do ato.
Em poucas igrejas os
fiéis são acolhidos na porta pelo padre ou por leigos que os saúdem e entreguem
uma folha com os textos bíblicos que serão lidos na celebração. Como a maioria
chega atrasada, é frequente que a missa inicie sem a presença de uma exígua
participação, que terminará engrossando apenas durante a homilia. A improvisação
da equipe encarregada da missa se percebe nos cochichos entre o dirigente e os
leitores, e inclusive entre o celebrante e seus acólitos, atitudes que, somadas
a deslocamentos nervosos e espalhafatosos deste pessoal em torno do altar e
para a sacristia, distraem a comunidade.
Deixando de lado toda
consideração ou exigência de caráter estético, cabe assinalar que a maioria dos
coros maneja um estilístico repertório de músicas litúrgicas, o que explica que
com frequência entoe algumas músicas que guardam pouca ou nenhuma relação com a
festa que se celebra ou com o ensinamento básico do Evangelho desse domingo.
Abandonar os coros, para chamá-los de alguma maneira piedosa, à boa vontade de
Deus, demonstra pouca compreensão do significado da música como meio universal
de comunicação, sobretudo no caso dos jovens.”
Uma liturgia que não
convence
As anotações do
jornalista são interessantes. Mas, lamentavelmente, deverá passar ainda muita
água por debaixo da ponte antes que a liturgia católica se torne compreensível,
celebrativa, compartilhada, santificadora da vida. Estamos falando da grande
tarefa de evangelizar o século XXI, do compromisso com a missão permanente, de
falar uma linguagem de palavras e sinais compreensíveis para o mundo de hoje. Mas não se nota nenhuma mudança pela
frente; pelo contrário, vê-se muitos retornos ao passado: alguns chegam à paranóia de querer voltar ao latim, de
colocar ainda mais penduricalhos nas vestimentas dos clérigos, de incorporar de
modo permanente o incenso nas liturgias...
O mundo do século XXI
olha para eles, ri-se e segue seu caminho buscando, quase desesperadamente,
quem o acompanhe em sua caminhada pela vida. Os grandes valores do Reino de Deus, aqueles que nos humanizam, seguem
sem ser descobertos, porque se quer colocar muitos trapos sobre ele.
Fonte: IHU - Notícias
______________________
* José
Agustín Cabré Rufatt (1940), jornalista e padre claretinao chileno nasceu em
Santiago do Chile. Foi ordenado sacerdote claretiano como religioso, em 1968.
Formado em jornalismo na Universidade Católica de Santiago, Chile, em 1976. Tem
escrito vários livros, entre eles "evangelizar de dois mundos", com
edições em Venezuela, Espanha, Argentina, Chile, México e Rússia; "A Cruz,
fogo e bandeiras"; "Mariano ou o poder de Deus"; "A palavra
de Deus não está presa"; "A história dos Claretianos no México",
"histórias curtas para manter a calma" ...
Atualmente
dirige Edições claretianos e Comunicações (ECCLA). Pertence à equipe da revista
Punto reflexão final e Libertação. Na sua vida pastoral ele foi pastor, vigário
episcopal de Arauco, e superior provincial dos Claretianos no Chile
(2001-2011). In:
Blogs.periodistadigital
Nenhum comentário:
Postar um comentário