A situação de grave crise econômica e
política que hoje acomete o Brasil, faz com que o povo (que na democracia dá a
legitimidade aos ‘vencedores’ das
eleições) se torne alvo fácil de manobras e manipulações por parte das elites,
que buscam antes de mais nada preservar
e defender os seus próprios interesses.
Talvez uma grande parcela da sociedade,
levada pela ‘maré’ de revolta contra o atual governo e contra a corrupção, não
se dê conta de que possa ser usada e
enganada para apoiar e favorecer ações prejudiciais à democracia e ao próprio Brasil.
É importante lembrar que o desejo de “passar o Brasil a limpo” não pode significar voltar ao passado,
absolver os ‘antigos’ erros e abusos, e novamente colocar no poder as pessoas
ou partidos que no passado, não tão distante, demonstraram o seu fracasso. O lugar dos corruptos é na cadéia - isto é que precisa ser feito. Mas, trata-se de todos os corruptos (todos!) e não só dos denunciados por último. É importante
recuperar e/ou ‘refrescar’ a memôria!
Considero o artigo Misérias da elite brasileira, de Mauri Cruz, nesse período pelo
qual atravessa hoje o Brasil, um verdadeiro e importante alerta. Todos os
cidadãos precisam abrir os olhos e reexaminar as suas opiniões. Pode acontecer
que algumas dessas opiniões sejam nocivas ao futuro do nosso país!
O artigo foi publicado no Portal OUTRASPALAVRAS no mês de agosto
(2015).
Realmente vale a pena ler e dar atenção ao conteúdo
desse texto.
WCejnóg
Misérias da elite brasileira
Por Mauri Cruz
16/08/2015
Há um objetivo oculto nas ações dos que tentam
“impeachment”: acabar com Lava Jato e “passar a régua” nos casos de corrupção
empresarial, brandindo um bode expiatório
Mauri Cruz | Imagem: Hélio Carlos Melo
Para quem acompanha os noticiários, lê por entre as
linhas ou escuta por detrás das falas, está mais do que evidente que o
verdadeiro objetivo daqueles que querem o impedimento da Presidenta da
República é acabar com a Operação Lava-Jato e as demais investigações contra a
corrupção no Brasil. Isto porque, nestas operações, a lista de políticos dos
partidos tradicionais, entre eles, o PP e o próprio PMDB é extensa e envolve
nomes de peso que atualmente estão no centro do poder. As demais investigações
como, por exemplo, a Operação Zelotes e o Trensalão de São Paulo, pegam em cheio
os principais dirigentes do PSDB e seus aliados, dentre eles a Rede Globo e
afiliadas, inclusive a própria RBS.
Isso significa que, se os arautos da ética
conseguirem seu intento de derrubar a Presidenta do Brasil, ato contínuo irão
encerrar as investigações colocando tudo para debaixo do tapete. Aliás, assim
já estão fazendo com o denominado “Mensalão de Minas”, que, para guardar
simetria com o outro, deveria ser chamado de Mensalão do PSDB. Enquanto o Zé
Dirceu, estando preso, é preso novamente em horário nobre, os réus daquele
crime sequer estão sendo incomodados pelo Poder Judiciário e, como sabemos,
serão “inocentados” por decurso de prazo.
No entanto, depois de tentarem colocar o país
mobilizado contra a corrupção, única forma de pararem com as investigações
antes que elas resultem em sua própria prisão, os detentores do poder precisam
depor uma Presidenta legitimamente eleita, oferecendo sua cabeça como prêmio ao
país. Sem entregar à “opinião pública” um agente político da estatura da
Presidenta Dilma não será possível “aplacar a ira” criada contra a política e
os políticos nos últimos anos pela própria mídia corporativa.
Lembrem-se que isto assim já ocorreu. Em 1992,
passado o impedimento do Presidente Fernando Collor, praticamente todos os seus
aliados continuaram nos mesmos postos fazendo o que faziam antes. O próprio
Collor foi “absolvido” pelo Supremo Tribunal de Justiça por falta de provas. E,
frente a este absurdo jurídico, a mídia corporativa nada disse. Nada bradou.
Nada questionou. Evidente está que a cruzada pela ética na política, àquela
época como agora, serve apenas como fachada para manter tudo como estava.
A intenção é explícita. Criar um clima contra a
corrupção que seja capaz de justificar a deposição da Presidenta, para, a partir
daí, fazer justamente o contrário: manter a roubalheira como ela sempre
existiu. Por isso, Cunha e seus aliados tentaram barrar a indicação do
Procurador Geral, Rodrigo Janot. A tarefa dele é não deixar que a lista dos
denunciados com foro privilegiado vá para o fundo das gavetas, lista esta, como
já dito, que contém uma extensa maioria de políticos do PP, PMDB e PSDB. Neste
round perderam mais uma. A Presidenta Dilma não se intimidou: demonstrou que
vai até as últimas consequências e não teme o embate final.
Neste contexto, o que não consigo entender é como
algumas lideranças históricas da esquerda brasileira caem na cantilena da
direita de combate à corrupção. Não se trata, é óbvio, de defender a prática da
corrupção, seja ela qual for e onde estiver. Mas é evidente que as campanhas
nada sinceras em favor da moralidade pública nada têm a ver com sanar as contas
públicas e garantir que os recursos sejam destinados ao atendimento das
necessidades da maioria da população brasileira. É triste acompanhar militantes
de renome fazendo coro aos discursos falsamente honestos da mídia empresarial.
Aqueles que sonegam milhões de reais, apóiam e sempre apoiaram empresas,
empresários e políticos corruptos, assumem a bandeira da moralidade
administrativa somente para ferir de morte quem está combatendo,
verdadeiramente, a corrupção no país.
Soubessem as pessoas que a política por detrás das
mobilizações do dia 16 de agosto não visam ampliar direitos ou garantir
melhores políticas públicas e sociais para todas e todos, ninguém teria coragem
de defender ou aderir a essa falsa mobilização. Soubessem as pessoas que, caso
vença a manobra do impedimento da Presidenta, os verdadeiros corruptos e
corruptores continuarão com o controle do poder econômico, não iriam aderir a esta
triste mobilização.
Por sua vez, o governo federal precisa sair da
defensiva e de tentar, também ele, compor acordos com o grande capital. Não
será assim que consolidará uma resistência afirmativa do projeto que, apesar
dos problemas, vinha se mostrando vencedor. Como bem diz uma campanha veiculada
nas rádios de Porto Alegre: dinheiro não some, troca de mãos. Os dados
demonstram que, como resultado da pretensa crise econômica, a riqueza do povo
brasileiro está saindo da cadeia produtiva e retornando para as mãos dos bancos
e banqueiros de onde, por iniciativa da própria Presidenta Dilma, tinha sido
retirada. Prova disto é a divulgação do lucro de bilhões de reais anunciada
pelos bancos Itaú e Bradesco, dentre outros.
O Brasil é um país continental, com uma riqueza
ambiental maravilhosa, um povo trabalhador e solidário que é responsável por
uma das maiores economias do mundo. A luta popular tentou, por séculos, iniciar
um projeto verdadeiramente democrático e popular. Desde 2002, deu início a uma
longa e lenta transição democrática que, infelizmente, a miséria política e
intelectual da elite brasileira não enxerga porque nunca sonhou com um Brasil
verdadeiramente independente, livre e soberano. Espero que o povo brasileiro,
através de suas organizações e movimentos sociais, saiba pôr-se de pé e
impedir, com seu sangue se preciso, qualquer tentativa de retrocesso ou
rendição. Desta vez, não passarão.
Fonte: OUTRASPALAVRAS
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* Mauri Cruz é advogado socioambiental, especialista em direitos humanos, dirigente nacional da ABONG – Associação Brasileira de
ONGS e membro do Comitê de Apoio Local ao FSM. [In: portoimagem]
Foto - Fonte Google
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