Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A questão de imigração. Comovente e forte depoimento de uma imigrante. – Algumas considerações.




Em face da maior crise de imigração desde a Segunda Guerra Mundial, que hoje sacode a Europa, multiplicam-se opiniões, apelos e reflexões sobre a questão dos imigrantes. Muitas atitudes e discursos chegam a ser completamente opostos. Algumas parecem exalar uma inocente ingenuidade ou a  'cegueira', outras – o extremo preconceito, xenofobia e ódio. Todos se pronunciam. Muitas pessoas estão com medo do futuro. Outras não sabem opinar.

Na Polônia, por exemplo (e não só na Polônia), muitos argumentam a sua oposição contra a aceitação de refugiados com o argumento de que trata-se,  na verdade,  de uma grande “invasão do Islã” sobre a Europa e por isso  precisa tratar esta questão como uma ameaça aos “valores” cristãos das nações europeias. E muitos, obviamente, compartilham desta opinião.

Outros, pelo contrário, vão na direção do apelo do Papa Francisco, que convoca os cristãos  para estenderem a mão a essas pessoas, que precisam de ajuda e solidariedade.

Na minha opinião, a situação é realmente complexa e difícil, e certamente não é fácil chegar a uma ação rápida e eficiente. Parece que não há, de fato, outro jeito para isso, além de buscar e aplicar soluções via política e diplomacia da parte dos países da Europa. E assim, ao meu ver, vai acontecer.

Mas, na margem deste fenômeno de imigração, pelo menos três grandes indagações e preocupações certamente merecem atenção, reflexão, respostas e  a correção das atitudes e crenças errôneas. E tudo isso pode ser doloroso e ferir como espinhos.

1) Não seria hipocrisia insistir que os valores cristãos estão ameaçados, se são esses próprios valores que, neste momento, impôem  AMOR e MISERICÓRDIA para com todos, especialmente para com as famílias e indivíduos que fogem da guerra, da perseguição,  da morte, da violência e crueldade dos carrascos? Por acaso não é este o maior mandamento de Cristo? Não é por isso que o papa Francisco pede aos cristãos para mostrarem na prática esse AMOR e MISERICÓRDIA,  que devem ser o eixo principal da verdadeira fé cristã? ... 

Ou talvez o AMOR e MISERICÓRDIA hoje já são seletivos?... Talvez devam ser oferecidos apenas para alguns?, só para os "nossos"?, apenas para a gente amiga?

A pergunta é: Será que deste jeito entendem os valores cristãos todos  aqueles, que usam isso como argumento para ser contra essas multidões de refugiados? ...  E mais uma pergunta: Será que hoje, de fato, a Europa ainda pode alegar que os seus valores são cristãos?  Parece-me que diversas práticas e leis introduzidas nos tempos atuais na Europa em nome da "liberdade e progresso" (por exemplo, as que dizem respeito ao aborto, à eutanásia, ao descarte dos embriões humanos, etc.) fornecem-nos sérias razões para pensar que a Europa hoje já não se importa nada com os "valores cristãos".

2) Será que os países da Europa hoje não são suficientemente fortes e inteligentes a ponto de ser capazes de detectar e isolar os elementos que ameaçam a segurança de suas sociedades? A tarefa não é fácil, mas é possível que seja realizada com êxito. Esses países devem ser fortes!  Eles, os países e nações do 'primeiro mundo', que recebem imigrantes e refugiados, têm a oportunidade de mostrar sua força, organização e determinação em cumprimento, por todos os seus cidadãos (e não-cidadãos) das suas justas e transparentes leis (a menos, que essas leis não sejam tão claras e fortes -  o que seria uma outra questão). Assim deve ser e agir o país verdadeiramente democrático.

Quem vem "de fora" e é admitido para uma sociedade  em qualquer um desses países certamente sabe que ele há de se adaptar a um novo lugar e respeitar o que nele encontra, pois, desta forma, ele ganhará respeito e será  respeitado por todos. E se, por acaso,  não souber, é  óbvio que deve ser  informado a esse respeito. Portanto, qualquer um que é recebido deve estar ciente de que chega à "casa dos outros", em que pode viver junto com os moradores, ser bem tratado e ter boas perspectivas para o futuro. Pode contar com AMOR e JUSTIÇA. E a gratidão deveria ser a primeira e a maior característica de quem foi recebido e aceito.

Quanto aos descontentes ou às pessoas que  chegam com outras intenções, o estado (país) deve ter os meios e possibilidades de deportá-las de volta aos seus países.  Sem dúvida, o direito para agir assim  decorre do princípio da justiça e é certamente uma condição necessária para garantir a soberania e a sua própria segurança por países de acolhimento.

3) É impossível não pensar sobre as causas desse  enorme "Êxodo". O mundo civilizado deve tomar rapidamente medidas concretas e definitivas contra o  Estado Islâmico (ISIS) e  contra todas as outras facções e grupos extremistas, terrroristas  e criminosas. Seus crimes chocantes e bárbaros absolutamente não podem ser justificados. Eu sou da opinião de que, neste caso, para o bem da humanidade, a única e radical solução para o mundo civilizado do século XXI deve ser "TOLERÂNCIA ZERO".
Infelizmente,  parece que não há nenhuma outra saída.

Sabe-se também, que a  principal causa desses grandes conflitos, carregada de ódio fratricida e derramamento de sangue, baseia-se nas interpretações extremas e patológicas de  algumas doutrinas e dogmas religiosos. Será que isso pode ser corrigido?  Alguns,  defendendo a liberdade religiosa, dizem que "religião não se discute".  Mas, eu acho que não é bem assim. Acredito que estas questões devem ser discutidas.  Sim, no caso, deve-se discutir também as religiões, se de fato por causa de seus princípios, porventura,  trazem tais consequências, como estupro, violência  e morte. E quem deveria fazê-lo (discutir essas coisas) são exatamente as próprias  religiões. Só desta forma, apontados e chamados pelo nome, todas as patologias têm chance de serem  rejeitadas e deixar de existir..

A frase bíblica "Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas" (Mt 10,16),  certamente também nos dias de hoje, e especialmente em  face do fenômeno da imigração,  convida a todos para  uma séria reflexão. Em todas as opiniões e atitudes não pode faltar, acima de tudo, o bom senso. Além disso, essencial aqui é empatia: "E se isso acontecesse comigo e com a minha família? - ser capaz de se colocar no lugar dessas pessoas.

Enfim, não posso deixar de colocar  aqui, no meu blog Indagações-Zapytania, um texto maravilhoso, de autoria de Asida Turawa*. Este texto é uma postagem, qua a autora colocou no Facebook. Ele merece reconhecimento e  uma grande divulgação.

Da minha parte, parabenizo a Asida pela iniciativa de compartilhar com os outros as suas experiências e a sua visão sobre a questão de imigração.

WCejnóg




Por Asida Turawa

"Sou  uma  imigrante. Mudei-me para a Polônia  do Cáucaso cerca de metade de uma vida atrás. Eu não sou católica. Fui criada numa religião diferente, numa cultura diferente com outras tradições. Eu era uma refugiada. Fugia da guerra e eu sei como é isso. A partir da autópsia. Sou tolerante, eu estou longe de xenofobia ou nacionalismo, porque é de mim que um xenófobo  tem mais medo.

Eu fugia da guerra com a minha mãe, minha tia e minhas duas irmãs. Sim, de barco, eu me lembro como se fosse hoje.
Nosso pai não estava com  a gente, nem o tio, e até mesmo nem o avô, porque o pai junto com os outros homens lutaram pelo seu, pelo nosso país. Fugimos para a Rússia. Não havíamos escolhendo o país olhando para a sua  prosperidade ou oportunidades que ele podia oferecer.  Estávamos fugindo para um local seguro mais próximo,  para ficar mais perto de meu pai e poder voltar para casa o mais rápido possível. Nem todos estavam contentes que viemos  para cá, de barco. Mas nós não pedimos nada, e também nada esperávamos. Falamos russo e éramos culturais, educadas (até exagero) e cheias de respeito com as pessoas que queriam nos ajudar. Até hoje eu não sei bem como a minha mãe conseguiu cuidadr de tudo, para termos um lugar para dormir, o que comer.  Juntou-se às pessoas odiadas por pessoas, chamados  de "especuladores" com as grandes sacos de plástico, que comercializavam com que era possível sobre as ruínas da antiga União Soviética.  Minha mãe – uma filóloga, uma música, uma pianista.

Lembro-me que nos acolheu  por algum tempo um sanatório para as crianças com doenças de pele. Estes não eram crianças com a erupção habitual das crianças; havia  ali as doenças  realmente assustadoras, as crianças parecendo com os homens de 90 anos de idade ... Nós estávamos aterrorizados, a primeira reação foi de rejeitar, mas os adultos rapidamente explicaram-nos que aqui  nós nos precisamos adaptar, viver  em seus termos. Então, comemos com eles,quando eles comem, dormimos quando eles dormem, assistimos a  TV e nos divertimos junto com eles, porque aqui  somos convidados.

Cheguei para Polônia. Depois disso, após anos, para a faculdade. Assumi como uma questão de honra  dominar o idioma corretamente,  sem sotaque, saber conversar com os poloneses  sobre os temas, que estão próximos à Polônia e aos poloneses, sem perguntas "Está gostando do nosso país",  se este passaria a ser também o meu país. Não se tratava de trair a minha  própria cultura ou tradição, porque aprender sobre outras culturas  somente enriquece a nossa própria, tratava-se do respeito pelas pessoas, com as quis eu convivo.

Junto com os sogros eu comemoro  as festas católicas. Por amor à minha família, pelo respeito, pela polidez de costume  e, em fim, pela simples cortesia. Ninguém me manda a ir para a comunhão, mas nada vai me acontecer se eu me vestir bem e sento-me à mesa com boa educação. Visitando alguém em seu país, no templo, na sua vou-me adaptar aos seus hábitos. Eu sou tolerante. Muito. Sinto-me uma cidadã  do mundo e não espio a cama de ninguém - todas as cores de pele e de  arco-íris para mim são valiosos do mesmo jeito. Mas a tolerância não significa uma aceitação cega de tudo que aparece. Talvez eu seja hipócrita, mas a minha tolerância é selectiva , porque eu  não tolero o mal.

Não tolero  a agressão e a situação, em que é praticado mal contra  outra pessoa.  Se a tradição pede  mutilações, estupros, espancamentos, então a minha tolerância não vai  tão longe.


O mundo não é só preto e branco. Entre "Eu digo sim" e "Eu digo não" existe ainda um monte de meios-tons e nuances.  Quando alguém chama as pessoas de "selvagens" e "vagabundas" eu  primeira  fico  indignada, porque eu também sou essa  "selvagem", essa "vagabunda", - olhem  para mim, eu vivo com vocês durante esses anos  todos. Vejam, entre essas pessoas pode  haver  médicos,  grandes talentos e  pessoas  simplesmente abertas e bem educadas,  e elas não merecem para se ter medo delas. Quando alguém diz que não vale a pena ajudar, porque nós mesmos temos muito pouco,  eu não posso concordar. Mas as pessoas que não têm respeito à comida, a ponto de chegar a  jogá-la fora, aparentemente,  elas não precisam dessa ajuda. Eu nunca vou esquecer o gosto nojento da sopa em pó, que, como refugiados  recebemos de alguém, nós choramos  comendo-a,  porque uma necessidade real e verdadeira não permite jogar alimentos fora.

Não vou tomar uma posição sobre os refugiados, porque se eu machucar nem que seja só uma pessoa que fugindo da guerra chega com humildade, respeito e gratidão, não valerá  a pena.

Tanto mais, que o mesmo tinha acontecido um dia comigo e com a minha família. Só que na minha história os homens jovens não abandonaram  o seu país, a fim de ir  para os países muito distantes tanto geográfica  como culturalmente, para arremessar fezes contra os ônibus na fronteira, agarrar pelos cabelos as mulheres para tirá-las do carro, espancá-las e chutar  porque vestem  blusas decoltadas e, em seguida,  violentá-las para  depois  usar o mesmo decolte para desculpar o seu comportamento. Alguém, que não respeita outra pessoa a ponto de se atrever a levantar a mão contra ela, no país dela, no país que está oferecendo a ele o asílo – esse não é refugiado, acreditem  em mim. E, por favor, não falem que eu não tenho direito  de ter medo desse alguém,  acusando-me que represento o  nacionalismo, a xenofobia, o atraso e a intolerância;  estas coisas são estranhas para mim, eu as abomino. Do mesmo jeito como eu abomino estupro e a violência".

Źródło:Facebook


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*   Asida Turawa 
(Foto: Internet)












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