Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Na era da Discriminação Digital. – Artigo de Rafael Evangelista. É bom saber!


O artigo Na era da Discriminação Digital, de Rafael Evangelista*, é interessante e certamente pode servir de ajuda a quem quiser conhecer e/ou entender melhor o que existe por trás do uso da internet e da participação de redes sociais - fenômeno que hoje cada vez mais está incorporado na vida dos homens e das mulheres no mundo contemporâneo. Trata-se da questão da possível vigilância pessoal, que abre caminho até para a discriminação. Isso mesmo: mais uma premeditada e refinada forma de praticar a discriminação.

Podemos indagar: Como isso acontece? Será que é real? De que se trata, na verdade?

O texto foi publicado no Portal OUTRASPALAVRAS no mês de junho de 2015.
Para contribuir um pouco na sua divulgação, trago-o para o blog Indagações-Zapytania.

Vale a pena ler!


WCejnóg

Como sistema financeiro usa Facebook e outras redes para negar ou encarecer empréstimos a quem tem amigos pobres, usa remédios psiquiátricos ou comete outros “desvios”.


Artigo
Na era de Discriminação Digital

03/06/2015

Por Rafael Evangelista

Depois das revelações de Edward Snowden, ficou fácil demonstrar como as redes sociais e os serviços remotos na web (como os webmails e os aplicativos de escritório) podem ser utilizados como instrumentos de vigilância pessoal. Mas exemplificar os usos econômicos dessa máquina de vigilância é tarefa mais ingrata. Os dados pessoais e as informações produzidas pelos usuários em suas respectivas interações são usados para alimentar a força econômica das empresas, numa relação que não é transparente e que contém injustiças ainda difíceis de serem concretamente mapeadas, seja pelos movimentos sociais ou pelos pesquisadores da área.


A crescente e promíscua relação entre as empresas de finanças e as grandes companhias de tecnologia de informação e informática do Vale do Silício, na Califórnia, ajudam a deixar essa exploração mais clara. Estão surgindo com força empresas embrionárias (startups) que usam informações dos usuários obtidas nas redes sociais para elaborarem um número, um índice, que determinaria a capacidade de pagamento de um possível tomador de empréstimo. Com isso, as empresas teriam mais segurança sobre quem poderia dar calote e, em tese, poderiam oferecer taxas de juros menores para aqueles que fossem bem avaliados. Na prática, o que vem acontecendo são práticas discriminatórias justamente contra aqueles que mais precisam, os grupos sociais historicamente mais fragilizados: imigrantes, negros, mães solteiras, moradores de bairros pobres etc.

Uma reportagem recente da revista estadunidense The Nation entrevista vítimas do chamada “digital redlining”. O termo  redlining refere-se à linha vermelha imaginária feita pelos bancos em determinados bairros pobres, para marcar populações dentro de uma área geográfica e para as quais são praticadas taxas de juros mais altas. Essa exclusão e discriminação agora foi importada para o mundo digital, sendo desenhada não mais sobre um mapa, mas por um robô que integra dados importados, entre outros, de redes sociais. Este reúne a grande massa de dados de redes como o Facebook para determinar juros mais altos para certas pessoas.


Para o pobre, que mais precisa do empréstimo, não se trata de simplesmente estar fora das redes. Essa opção pode ser ainda pior, pois o sistema acaba entendendo a falta de dados como algo suspeito e aplicando as maiores tarifas ou negando transações.

Projetos como o Internet.org, voltados às populações mais pobres, colocam ainda mais pressão sobre as pessoas, forçando sua entrada na rede social e o compartilhamento de informações com as companhias. O Internet.org fornece acesso à internet gratuito, porém limitado a um conjunto de sites, sendo o principal deles o Facebook.

Uma das empresas parceiras do projeto é a Lenddo. O usuário que nela se cadastra e baixa o aplicativo no celular tem acesso a compras online, empréstimos e serviços de colocação profissional. Em troca, permite que suas atividades sejam monitoradas — ações como a interação ou amizade com certas pessoas — e que a partir desse monitoramento seja produzido um LenddoScore, um número que reflete o quanto o usuário é “confiável”.  A Lenddo já é oficialmente usada por financeiras das Filipinas para produzir perfis de pessoas que estão fora do sistema bancário. Também dá informações para que telefônicas neguem o acesso a planos de celular pós pagos e fornece informações a empregadores em busca de referências para possíveis trabalhadores.

As populações dos países periféricos, onde o Internet.org já atua, são particularmente vulneráveis, pois o sistema jurídico dá poucas garantias aos cidadãos quanto a abusos e discriminações. Quênia, Gana, Colômbia, Índia, Bangladesh, além das Filipinas, já estão nessa lista. Mas mesmos nos países ricos a complexidade técnica desses instrumentos de predição usando dados de navegação na internet torna difícil comprovar que, por exemplo, o fato de alguém buscar remédios psiquiátricos foi o fator preponderante para ter um financiamento negado.

A Lenddo é apenas um exemplo. Outras empresas de natureza semelhante já atuam, inclusive nos países ricos. Em um dos casos citados pela Nation, uma estudante em dívida com empréstimos educacionais torna-se alvo de crédito predatório a partir de dados coletados em sua atividade online.

A internet, ao mesmo tempo que ofereceu grandes oportunidades para a expansão da criatividade e da liberdade de comunicação, tornou-se um lugar propício para novas estratégias de revitalização do capitalismo, agora baseado na exploração informacional. Vamos passando de um sistema em que o mau pagador era punido para uma estrutura em que o castigo vem antes, pelo cálculo probabilístico do delito futuro. A desigualdade de forças, a assimetria no controle da infra-estrutura tecnológica, o grande poder econômico derivado do controle de grandes bancos de dados das populações são um terreno fértil para o aumento da exclusão e do controle.

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* Rafael Evangelista Doutor em antropologia social e professor do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural do IEL-Unicamp.






Fonte: 
OutrasPalavras



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