Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

terça-feira, 31 de julho de 2012

A questão de lixo urbano. Por que não apostar na solução radical?


Entre muitas questões importantes a respeito da preservação do nosso Meio Ambiente, existe uma que desafia a nossa responsabilidade. É a questão do lixo que produzimos diariamente aos milhares de toneladas. Esse é um fenômeno bastante comentado na sociedade e que gerou até agora muitas iniciativas, projetos e até programas para minimizar as suas conseqüências. Tudo isso é louvável, mas radicalmente insuficiente e insignificante, levando em conta que não atinge nem 10% de todo o lixo produzido, e por isso mesmo os outros 90% vão para aterros, causando graves danos ao Meio Ambiente.  Contentar-se com o sucesso de reciclar 10% de lixo é, no mínimo, uma brincadeira. Torna-se urgente, portanto, olhar para esta questão de frente e a enfrentar, ou então continuar a fingir que fazemos a nossa parte, tapando o sol com a peneira. Infelizmente, até agora, as autoridades que teriam poder para isso e também nós todos estamos com esta última opção.

Por que não optar por ‘tolerância zero’ em relação à poluição do Meio Ambiente pelo lixo urbano?  Não é utopia nem tampouco um sonho. Dependendo da vontade política dos órgãos responsáveis pelas cidades, poderia se optar pelo programa radical e integral de reciclagem e tratamento de todo o lixo produzido em cada cidade. O objetivo seria inverter a situação, destinando à incineração e ao aterro posterior no máximo 10% de lixo, quando for realmente impossível o seu reaproveitamento. Ao invés de repassar para cada cidadão e cidadã a culpa e responsabilidade pelo desastre ecológico produzido pela nossa civilização, fazendo de conta que está cumprindo o seu papel, que tal o estado, através das prefeituras de todas as nossas cidades, tomar uma decisão radical e transformar todo o lixo em matéria prima, que voltaria a servir para a produção de novos bens e até se tornaria uma fonte de renda e lucro para essas cidades? 

A proposta radical, da qual estou me referindo, envolve primeiramente um projeto corajoso e completo que  a contempla a possibilidade de coleta  de todo o lixo produzido numa cidade (essa etapa já existe), para ser encaminhado para  uma usina de lixo.  Compreendo pela usina de lixo um complexo de áreas e instalações, para onde seria levado todo o lixo da cidade, passando primeiramente por uma seleção geral, depois mais detalhada (pelas esteiras) e, em seguida encaminhado para diversos setores, de acordo com a natureza dele.  

A seleção de lixo consistiria em separação de todos os diferentes tipos de material descartado:
- madeira (para fins de artesanato, fábricas de derivados de madeira, etc)
- papel (matéria prima para celulose)
- plástico (matéria prima para indústria de plásticos)
- borracha/ pneu (para trituração e uso industrial)
- isopor
- metal (para siderúrgica)
- alumínio (para indústria)
- vidro (matéria prima para indústria de vidro)
- componentes eletro/eletrônicos  (seleção e tratamento específico)
- material e entulhos provindos de construção civil
- pilhas e baterias usadas (tratamento específico)
- óleo usado de cozinha (matéria prima para produzir biocombustível)
- toda matéria orgânica (adubo)
- lixo hospitalar (destinado à incineração)
- outros

Para cada uma dessas categorias de material destinado para reciclagem, já existe, às vezes pouco divulgada, uma possibilidade de encaminhá-lo para as fábricas ou empresas específicas.  A grande parte do lixo urbano, desse jeito, retornaria para as fábricas em forma de matéria prima, trazendo lucro para a cidade e vantagens para os fabricantes. 

Existiria a necessidade e possibilidade de estabelecer parcerias e contratos entre a cidade e diversas fábricas e indústrias, possíveis receptoras de matérias primas extraídas do lixo.
No caso de matéria orgânica, ela pode ser transformada em adubos naturais, posteriormente vendidos, trazendo mais renda para a cidade.

Alguns tipos de materiais que fazem parte do lixo urbano, p. ex. componentes eletro/eletrônicos, entulhos de construção civil, isopor, espuma, panos, podem encontrar ainda outras maneiras de reciclagem e reaproveitamento, contando  com a parceria de Centros de Pesquisa das Universidades. Afinal, esta sim, seria a contribuição principal das Universidades Públicas para o bem concreto (e maior!) da sociedade, do país e da própria vida.

Uma pequena parte do lixo urbano, que não serviria para ser reciclada, poderia ser incinerada, e apenas ela (cerca de 10% do total) destinada ao aterro em forma de cinzas. Para esses fins seriam instalados incineradores, com filtros eficientes, para proteger o Meio Ambiente da emissão de gases poluentes.

O Tratamento Integral de Lixo Urbano, quando desenvolvido e implantado com toda a responsabilidade política e social, poderá empregar vários especialistas, capacitados para garantir o sucesso do empreendimento. Mas não é só isso. Constituiria também um impulso concreto e constante para o desenvolvimento econômico das cidades, diminuindo o impacto de agressão ao Meio Ambiente. 

Ademais, seria uma possibilidade de gerar dezenas de empregos bem pagos, para a população pobre de rua, ajudando na solução desse problema gravíssimo das nossas cidades. Um emprego estável e definido, com a carteira assinada, garantindo condições seguras de trabalho (uniforme, botas, luvas, etc.) – seria uma maneira digna de transformar a vida dessa camada da população. A preferência seria dada a todas essas pessoas que hoje vivem da coleta de lixo seletivo e aos moradores de rua. Isso implicaria em planejamento e ação continuada envolvendo o Serviço Social das prefeituras. Trabalhando amplamente e com grande competência o problema de lixo urbano, seria possível ao mesmo tempo dar um tratamento adequado a esse problema social que envolve a população de rua, que marca tristemente a vida de nossas cidades. Nem se fosse todo esse empreendimento só para  custear o destino aproveitável do lixo, a proteção do Meio Ambiente e a solução para esses alguns graves problemas sociais das cidades, seria válido apostar numa solução como esta, aparentemente radical, mas viável e possível.

Tem se notícias de que já existem pelo mundo algumas iniciativas similares, transformando o lixo em ‘lucro’ para aquelas cidades que adotaram esse tipo de tratamento. Por que não fazer o mesmo, na grande escala? Mesmo se esta fosse uma iniciativa inédita valeria a pena optar por ela, sabendo que é um investimento importantíssimo para melhoria da nossa vida e uma obrigação moral e vital para com o nosso Meio Ambiente, que já agora podemos preservar para as futuras gerações.
Walenty Cejnog 


domingo, 29 de julho de 2012

A pergunta que não quer calar: Como salvar o nosso planeta?


O que fazemos a fim de parar com a depredação do Meio Ambiente?  – é uma pergunta que não quer calar.

Percebe-se que a questão do Meio Ambiente está cada vez mais presente na consciência do ser humano nos tempos atuais. O tema é discutido em debates e são elaborados projetos para difundir mais as questões ambientais e tornar amplamente conhecidos, na sociedade moderna, os riscos e as possíveis conseqüências da degradação ambiental. São fatos notáveis e inquestionáveis. Ainda poderia ser feito muito mais, com certeza, mas o importante é que o assunto está ocupando o espaço merecido e cada vez maior.

Há iniciativas, muito importantes e louváveis; que, nesta altura,  já tomaram caráter de programas, sendo realizadas em diversos setores da sociedade. Como exemplo, podemos citar a coleta seletiva de lixo, a coleta de pilhas e baterias descartadas, a coleta de óleo de cozinha usado, campanhas para não jogar lixo em qualquer lugar, campanhas para uso responsável de água potável, ações contra desmatamento irrestrito e irresponsável das áreas florestais, etc., etc. Tudo isso é muito importante e mostra que a sociedade não só está tomando  consciência diante da ameaça vinda das conseqüências da destruição do Meio Ambiente, mas está começando a reagir, através dessas muitas e diferentes ações individuais e  coletivas. Isso tudo é  óbvio e não se questiona.

O que se pode colocar em questão é que urgentemente devemos  incorporar às políticas já existentes alguns planos de ação muito mais amplos, corajosos e concretos, a respeito da defesa do Meio Ambiente e do combate aos efeitos nocivos originados da degradação ambiental. Esse é o grande desafio e o lance fundamental para podermos começar a enxergar um futuro muito mais positivo e otimista. Mas, não se pode mais  perder tempo! 

Como exemplo, uma das questões de alcance mundial é o uso de petróleo como combustível para a infinita frota de automóveis e máquinas no mundo inteiro, causando a poluição do nosso planeta, a diminuição da camada de ozônio na atmosfera, o aquecimento global e outras muitas complicações. Não só a nossa sociedade, mas a humanidade toda corre o risco, cada vez maior, de pagar um preço muito alto por tudo isso – é o que ouvimos dos cientistas e especialistas da área. É hora, então, de perguntar: Porque não se apressa o processo de substituir o petróleo por outras matérias primas que não poluem o Meio Ambiente, ou pelo uso de energia limpa, como solar ou elétrica? 

Interesses econômicos em jogo?  – é claro. Mas, mesmo assim, deveria  já agora acontecer uma pressão muito maior  da parte ‘consciente’ da humanidade, para que todos os países (especialmente os ricos) e todas as empresas gigantes  investissem ‘pesado’  em novas pesquisas e tecnologias, que permitiriam um planejamento concreto e dinâmico para,  no lugar do petróleo poluente,  oferecer um outro combustível limpo. Infelizmente, não existe nenhuma pressão desse tipo. E nós todos também ficamos sem tomar uma posição firme, ou talvez não tenhamos ainda a consciência disso? Vejamos, assistimos calados, muitas vezes admirados, à escalada cada vez maior da oferta de novos carros a gasolina, por trás da qual virá mais poluição e doença para o nosso planeta. Não paramos para ver a questão do ponto de vista da defesa do Meio Ambiente, apenas somos meros consumidores ou sonhamos com  consumir mais.

O Brasil acaba de tecer novos e grandiosos planos de ‘desenvolvimento’ apostando nas descobertas de novos poços de petróleo, vislumbrando mais progresso e bem estar para a população. Sabendo do estado ‘doentio’ da saúde em  nosso planeta, como conseqüência de tanto veneno no ar, nós estamos otimistas e felizes esperando pelo progresso que está por vir! Não é um paradoxo?! Não é hora de pensar mais sério, muito mais sério sobre o assunto, antes que seja tarde demais, cometendo os mesmos erros dos outros?  Esse é um problema mundial, complicado, mas nem por isso deve ser ignorado e tratado com indiferença.  Deve haver um jeito de ‘despertar’ a humanidade como tal para esse desafio, para podermos viver amanhã. Quanto antes, melhor. Essa questão deve ser levada em conta pelo poder mundial econômico e político, mas, sobretudo,  precisa se tornar presente na mente de cada ser humano, para que ele  se mobilize em favor de sua própria vida, da vida do planeta e contra o extermínio, a que estamos assistindo.  O nosso futuro e o futuro de nossos filhos e netos dependem disso.  Não é exagero. 

A pergunta que não pode calar e deve sempre ressoar em nossas mentes é essa: o que e como devemos fazer?  Podemos ficar calados e mudos e não fazer nada enquanto o estado de saúde da nossa Terra está seriamente ameaçado? Eis uma questão importante, que suplica pela coragem  para  que se tomem urgentemente as medidas corretas e necessárias.
Walenty Cejnóg

sábado, 28 de julho de 2012

Ex-padre ou padre casado? – Eis a questão.

Ao ler o  último número do Jornal Rumos¹, deparei-me com o artigo do Pe. Zezinho, SCJ,  sobre a questão dos ex- padres, ex-religiosos e ex-religiosas que um dia resolveram deixar o ministério, a vida religiosa ou monástica e optaram por outros caminhos. 

Não escondo o fato que o artigo me emocionou, por isso também decidi trazer este assunto para o blog Indagações. Qual é a diferença entre  o termo “ex-padre” e “padre casado”?  Por que, muitas vezes, esse assunto incomoda?

Para muita gente (não só entre os católicos) o padre que deixou o ministério e  não celebra mais a  Missa é um ex!  Ex-padre - quer dizer: “já  foi padre”. Para outros tantos – mesmo quando um padre sai  “para casar”, continua sendo padre e eles continuam tratando-o como tal.  Uma outra parcela dos católicos demonstra incerteza em relação a essa questão. Não sabe opinar.

Para a Igreja Católica, sobretudo para a hierarquia, a questão dos padres  que “saíram” sempre foi, e hoje ainda é, uma questão bastante incômoda e até constrangedora, da qual seria melhor não falar se isso fosse possível...

Para muitos de nós que deixamos de atuar como sacerdotes e exercer o ministério (uso “nós”, porque eu também sou um deles) essa questão de sermos “excluídos” ou chamados de “Ex-padres” tem um sabor de injustiça, incompreensão e marca a nossa vida. Tenho certeza que a mesma coisa ocorre também com a maioria das minhas irmãs e irmãos,  freiras e frades que um dia deixaram a vida no convento. 

“Saímos” do ministério, devido, na maioria dos casos,  a dois fatores:  um é a  decisão pessoal de cada um de nós de  optar pelo casamento e pela família, e outro – o afastamento automático que sofremos  da parte da Igreja, que aplica aqui a lei de exclusão (ou sacerdócio ou matrimônio)².  Esta é a causa principal e procedimento formal da Igreja Católica como Instituição, nos casos como nossos.  

À parte a dramaticidade da situação de “começar de novo”, fica a marca triste e negativa que é a falta de caridade da parte da Instituição e da parte de outros colegas que “continuam”, salvas algumas exceções.  A maioria - e esta  é triste realidade – faz questão de não querer saber da situação deles;  talvez, para não se sentirem obrigados a ajudá-los ... ?

A verdade é que para a  maioria de nós, sem dúvida, apesar de sofrermos o isolamento e a marginalização ostensiva da  parte da Igreja Instituição (temos menos “direitos” dentro da Igreja do que os  leigos), continuamos vivendo firmes na Fé, sem  nos afastarmos da Igreja de Jesus Cristo. Continuo convicto que o nosso chamado, a nossa vocação e o sacramento da Ordem Sacerdotal continuam válidos e continuam os mesmos na sua forma, porém impedidos e  paralisados por  tempo indeterminado pela lei humana.

O importante é que nós nos sentimos amados e amparados por Deus neste caminho da vida de cada um de nós, que não poucas vezes mostra-se muito difícil no sentido de garantir a  sobrevivência. 

Não gosto da expressão “ex-padre” porque não diz a verdade. Nós nos costumamos a chamar de padres casados ou de irmãos, e muitas pessoas hoje em dia também assim nos chamam.

Esse artigo do Pe. Zezinho citado acima, que na verdade é um depoimento amigo e fraterno de um irmão nosso que segue no ministério e continua realizando com firmeza - durante todos esses anos de sua carreira – um trabalho de evangelização verdadeiro e excepcional,  transmite-nos  solidariedade e sabedoria. Não pude não trazê-lo para este espaço. 
Não deixe de  ler.
WCejnog


EX-PADRES E EX-FREIRAS

Nós que prosseguimos, devemos a eles o respeito de irmãos e irmãs. Caminharam conosco por anos, sonhando os mesmos sonhos e sofrendo as mesmas dores do reino, até que para eles e elas ficou difícil continuar a servir a Deus dessa maneira. Não deu mais. Alguns podem ter perdido a fé e a perspectiva, mas a maioria continuou amando a Jesus e à Igreja e servindo o Senhor. Não perderam a vocação. Só não foi mais possível servir e amar num convento, no celibato ou no ministério. Para eles ficou difícil demais prosseguir naquele caminho de vida. Para não servirem a Deus infelizes e desajustados procuraram seu ajuste noutro caminho. Há quem os diminua por isso. Há quem fale em perda, fuga, infidelidade e fracasso; o que é injusto, porque há fracassados que continuam, mas servindo sem amor e há muitos deles que se tornaram pessoas melhores depois da mudança de vida. Cada caso é um caso!

Nós que ficamos nos conventos, nas paróquias, nas pastorais e achamos que podemos ir até o fim, temos  mais é que respeitá-los. Por um tempo conseguiram, cheios de zelo e amor ajudar  o povo de Deus como padres, freiras e irmãos. Foi vocação. Sentiram-se chamados. Houve um momento em que, ou não foi mais possível responder daquele jeito ou sentiram-se chamado a outro caminho. Pediram licença, fizeram tudo nos conformes. Mas, ficar não dava mais. Em nenhum momento quiseram desafiar a Igreja, mas o coração pedia um lar, um amor ou um outro caminho de serviço. Falo dos maduros. Sofreram e ainda sofrem bastante com suas opções.

Tenho vários amigos e amigas,  maravilhosos em tudo que já exerceram o ministério sacerdotal e já viveram  como religiosas. Aprendi e ainda  aprendo muito com eles. Nunca me achei melhor do que eles só porque continuo. Nem sei se os entendo, porque não passei pelo que eles passaram. Mas de ouvi-los, sei o quanto sofreram e ainda sofrem. Continuam companheiros. Alguns adorariam poder atuar, mas nossa Igreja ainda não tem esta opção. Enquanto isso, prosseguem com saudade, mas sem mágoa, na mesma direção do mesmo reino . Mudaram de veículo, mas não de destino. Nunca os chamo de ex padres ou ex freiras. Chamo-os de irmãos. É o que são.

Um dia nossa igreja saberá aproveitar melhor suas capacidades. Enquanto isso não acontece, que sejam vistos como servidores de Deus, lá onde agora estão, alguns mais, outros menos felizes, outros infelizes como antes. Julgá-los, nunca! Essas coisas do coração e da fé não podem ser medidas na base do era e não é mais. A maioria continua viajando na direção do mesmo infinito, amando como antes. Se você nunca viveu perto deles ou delas não terá uma idéia do quanto lhes dói a palavra ex. Não a use. Eles não a merecem.

Pe. Zezinho, SCJ
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¹  Jornal Rumos (Ano 30 /Nº 226 julho/agosto 2012).

²  Este critério, hoje em dia, é muito questionado: a punição que cai sobre o sacerdote que opta pelo matrimônio não tem base em delito algum, pois o sacramento do matrimônio não pode ser visto como delito. Será que o padre que casa, possa e deva ser penalizado por isso? Como se sabe, o matrimônio é um sacramento como os demais, não podendo, portanto, ser tratado como se fosse “inferior”,  ou pudesse prejudicar ou invalidar algum ato sagrado. 

 
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quarta-feira, 25 de julho de 2012

”Não sinto mais fé”- dizem muitos jovens. Por que essa crise de Fé?



A oração, nas suas diversas formas, permite ao ser humano a aproximar-se de Deus, falar com Ele e ouvir o que Ele lhe fala. Rezar, então, é como estabelecer uma conexão vital entre a criatura e o Criador, entre o ser humano e Deus.
Todos nós, certamente,  temos  momentos na  nossa vida, quando constatamos como  é importante e consolador poder  comunicar-se  com Deus , sabendo que Ele é nosso Pai/Mãe e nos ama incondicionalmente.  É, sobretudo,  nos momentos de grande aflição, de provas decisivas e nos limites, que  cada homem e mulher neste mundo experimenta a necessidade e o valor da oração, que, nessas circunstâncias, sai realmente de dentro do mais íntimo dos seus corações.

Talvez por isso, a aprendizagem e o costume de orar a Deus  deve ser, para cada um de nós, tão natural como o ar que respiramos, como a vida que há em nós.

Mas, nem sempre é fácil crer e orar. Muitas pessoas, de modo especial  adolescentes e jovens, às vezes, não sentem essa necessidade da fé e da oração, jogando-as  à margem da vida, se não tirando-as totalmente da lista dos valores. É compreensivo para nós, adultos, que na adolescência e na juventude, quando a vida manifesta-se de mil novas formas e com a maior intensidade possível – as pessoas jovens não dão atenção àquilo que, talvez,  para elas ainda não se manifestou como essencial  e necessário para a sua frágil existência (que  é de todo ser humano).  A emoção e “adrenalina” do momento e as novas descobertas e experiências  predominam em  tudo. Mas isso não significa que a  questão da fé e  da oração deve ser abandonada, esquecida ou, no melhor dos casos, deixada para depois. O que se pode fazer nessa situação? 

Não existe resposta pronta.  Talvez, primeiramente,  seja necessário lembrarmos do ditado latim:  verba docent, exempla trahunt – palavras ensinam mas só os  exemplos arrastam!, para  verificarmos se não são as  nossas faltas na educação que damos aos nossos filhos, que estão na base da questão em análise?  Mas, de modo  geral, levantar a questão já é um passo muito importante.  Enfim, é a vida dos nossos jovens que está em jogo e eles merecem que  lhes  seja mostrado o horizonte muito mais amplo, onde possam encontrar a  felicidade de fato.  Para nós, cristãos,  existe a certeza que tem um só verdadeiro Caminho, Verdade e Vida, que é Jesus Cristo; e só Ele pode levar a humanidade à verdadeira felicidade.

Para dar um enfoque maior a esse assunto, trago aqui um texto do saudoso Pe. José Avril, SVD, que ele um dia escreveu  para os alunos dum Colégio Católico. Mas a mensagem é para todos os adolescentes e jovens de hoje. Não deixe de ler.
WCejnog


“Não vou à igreja porque não sinto mais Fé”... 
Deus nunca se afasta de você.
Mesmo que você se afaste dele, Ele espera você voltar.

Mensagem para adolescentes e jovens

A suposta “Falta de Fé” de que os jovens se queixam, é o “início” da Fé.  Antes de tudo, a Fé não está no sentimento, está na sua mente.

Fé não é algo que se conquista para possuí-lo. Ela é atitude, é o que um amigo tem para com outro, um esposo para com a esposa, criança para com sua mãe: “Confiança e entrega”.  Saber-se nas mãos de Deus.  Sendo uma atitude, a Fé  tem altos e baixos, e tem dúvidas, o que é sinal de que há Fé.  São as crises que fazem a Fé crescer no amor, quando bem encaradas.

Amizade verdadeira se mostra na hora das dificuldades. O mesmo acontece com a Fé. Indo à igreja, embora você possa não sentir  aquela vontade, é sinal de Fé e vale muito. Experimente praticar a sua religião por um tempo, seriamente, e verá o  resultado.
“Não posso acreditar em certas passagens da Bíblia. Isto de Deus ter feito o homem de barro, a criação do mundo em 7 dias e outras coisas mais...”.

Resposta: muitas narrações da Bíblia tinham por fim transmitir ao povo judeu, que era muito simples naquela época, mensagens que ele não era capaz de compreender através de simples afirmações. Não há necessidade de se acreditar nestes fatos todos, mas nas mensagens. Aquela maneira de descrever  a  criação do primeiro homem era uma maneira de fazer compreender aos homens daquela  época, que ora usavam os homens como escravos, ora os adoravam, que o homem é muito mais que um animal de um lado,  e do outro,  que  o homem não é Deus.

O que é mais importante na religião?  É a sua adesão a Deus, sua confiança em Deus, e esforço para viver na sua vida o  mandamento principal, que Jesus nos deixou:  AMARMOS  A  DEUS  E  O PRÓXIMO COMO A NÓS MESMOS.

Verdadeiro amor ao próximo faz a pessoa respeitar automaticamente todos os outros mandamentos. Nenhum homem é “uma ilha”. Ele cresce pelo convívio com o próximo, ajudando, acertando, amando. Missa, Culto, Orações são manifestações da Fé. Dificilmente se conserva a Fé quando não  é demonstrada.

Com o que foi dito acima, já está refutada a afirmação que se ouve muitas vezes: “Não vou à igreja porque não sinto mais Fé”.  A igreja quer que procuremos a Deus uma vez por semana para demonstrarmos a nossa Fé; para nos lembrarmos do que é mais importante, a vida do nosso corpo e da alma;  e para colaborarmos com Deus,  pois  na Missa não só recebemos, mas damos também a nossa contribuição unindo-nos ao sacrifício do Cristo.

Corrija sua imagem infantil que você pode ter de Deus, imagem que está condicionada à imagem que tinha em criança, da sua família, do seu pai...  
“DEUS É PAI MATERNAL”, É AMIGO COMPREENSÍVO, AMIGO QUE ACEITA VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É.  Deus nunca se afasta de você. Mesmo que você se afaste dele, Ele espera você voltar. Nunca O olhe como Juiz, porque Ele nunca Ele está de mal com você. Este é o verdadeiro Deus.  Deus lhe quer imensamente bem.

VOCAÇÃO!  Cada um tem por vocação cristã, fazer com a sua vida, dando uma colaboração, para também os outros se aproximarem de Deus e entre si.
Alguns são chamados a se dedicarem ao serviço de Deus de modo particular, seja como padre, dispensador dos sacramentos, seja como religiosos ligados a uma congregação que Deus  despertou mediante um fundador para determinadas obras na Igreja, seja como missionário que leva o evangelho a quem não conhece ainda.

“Como sei que tenho vocação?”  A vocação germina no coração da pessoa, quando esta sente o desejo de trabalhar pelo Reino de Deus, quer ajudar o próximo e tem antes de tudo uma grande amizade por Cristo.

(Autoria: Pe. José Avril, SVD – in memoriam)

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terça-feira, 24 de julho de 2012

Orar no Espírito Santo

Uma das orações mais lindas e profundas que conhecemos, com certeza é a Seqüência ao Espírito Santo. O seu conteúdo é completo e maravilhoso, e perfeitamente expressa o que um ser humano poderia dirigir em prece a Deus.

Eis a oração:

- Espírito de Deus  enviai dos céus  um raio de luz!
- Vinde, Pai dos pobres,  daí aos corações vossos sete dons.
- Consolo que acalma, hóspede da  alma, doce alívio, vinde!
- No labor descanso, na aflição remanso,  no  calor aragem.
- Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!
- Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.
- Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente,
- Dobrai o que  é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.
- Daí à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sente dons.
- Daí em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna.
 Amém.

Refletindo sobre a oração e as suas formas (as postagens anteriores no blog INDAGAÇÕES), faz-se necessário abordar também o jeito “carismático” de rezar. Os grupos de oração, que formam o Movimento Carismático Católico,  valorizam muito as orações ao Espírito Santo e, voltando-se às práticas descritas nas Cartas de São Paulo, no Novo Testamento, criaram as dinâmicas próprias e específicas, de caráter fortemente individualista e intimista. O importante é que  muitas pessoas,  identificando-se com esse jeito de orar, encontraram a maneira que mais lhes agrada, para dirigir-se a Deus e O louvar.

O texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹,  refletindo sobre esse assunto, fecha o nosso bloco de  textos sobre o tema de oração.  Não  deixe de  ler.
WCejnog

[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema, é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 6 de julho de 2012: Reflexões sobre a oração)].

 

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Oração no Espírito Santo

Na Carta de São Paulo aos Romanos (8, 26) lemos: “Também o Espírito vem em auxílio de nossa fraqueza porque não sabemos pedir o que nos convém. O próprio Espírito é que advoga por nós com gemidos inefáveis, e aquele que esquadrinha os corações sabe qual o desejo do Espírito porque ele intercede pelos santos segundo Deus”.  Então, foi dito aqui que justamente na oração devemos contar com a ajuda do Espírito Divino. Sem ele nem sabemos como devemos rezar. Por isso também, na  Bíblia, por exemplo na Carta de São Judas lemos: “Vós, porém, caríssimos, edificando-vos pela vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna.” (Jd 20)

Ao começar qualquer oração deveríamos colocar um pedido ao Espírito Santo, para Ele conduzir a nossa oração e ajudar o nosso humano balbuciar,  a fim de transformá-lo em oração “em nome de Jesus”. Na verdade, toda a  oração deveria ser assim para merecer a ser ouvida (compare Jo 14, 13).

Não obstante, deveríamos também rezar ao Espírito Santo. Muitos cristãos dirigem-se, em oração, para Jesus Cristo ou para Deus Pai.  A oração ao Espírito Santo, sem a qual nada podemos, de modo geral é  negligenciada.

Hoje, em vários lugares no mundo, surgem na Igreja Católica os grupos de oração, que de modo particular  cultivam a oração ao Espírito Santo. A sua oração não segue preestabelecidas regras litúrgicas, e cada um participa delas do seu jeito espontâneo e pessoal, assim, como  lemos na 1ª Carta aos Coríntios: “Quando vos reunis, quem tiver um cântico, um ensinamento, uma revelação, um discurso em línguas, uma  interpretação a fazer – que o faça de modo a edificar...” (1Cor 14, 26 ss).
De fato, nesses grupos novamente tornam-se vivos os dons da Graça (os carismas – compare 1Cor 12, 1-11), por exemplo o dom da profecia, o dom das línguas (própria, para os outros incompreensível linguagem de oração). Muitos bispos e até o próprio papa alimentam a esperança de que esse “movimento carismático” apresente fortes estímulos para uma renovação da Igreja, se essa for mesmo a força do Espírito Santo.

Pai Nosso

Precisamos aqui, ainda, falar da oração, que é mais preciosa para todos os cristãos, porque foi o próprio Jesus Cristo que nos ensinou a rezar. “Rezai assim...” – convidou Ele os  seus discípulos e, em seguida,  ensinou-lhes  a oração “Pai Nosso”.    

Começa ela com as preces, que são, na verdade, a louvação a Deus. “Santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade...” – são muito mais que pedidos: significam o desejo de se unir com os planos e com a vontade de Deus, e o reconhecimento do domínio de Deus no mundo e em cada um de nós. 

Somente após elas seguem os pedidos na intenção de grandes necessidades da humanidade: o pão cotidiano – e sabemos logo, que o homem não vive só de pão “mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4); - o perdão dos pecados, e a libertação do mal – no mais largo e tudo abrangente sentido.

A finalização constitui um hino do louvor (doxologia), que não  é primitivo, mas já pela Igreja nos primeiros séculos era acrescentado às várias orações, e daqui entrou para alguns manuscritos do Novo Testamento como a finalização do Pai Nosso: “Porque o Vosso é o reino, o poder e a glória para sempre”.  Aqui, novamente, trata-se da idéia principal e refere-se ao Senhor, ao reino ou ao reinado de Deus.

Cada verso desta oração, Pai Nosso, tem um profundo conteúdo e serve para uma longa reflexão. Existem  vários e bons  livros dedicados exclusivamente à reflexão e à análise desta oração. Tomar em mãos um livro desses para aprofundar o conteúdo da oração Pai Nosso,  certamente,  é muito recomendado.

Cada oração termina  com a palavra “Amém”, o que, em hebraico  [אָמֵן] significa: Que assim seja.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 309-311)²
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¹  Krenzer Ferdinand - nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim (Taunus), foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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