Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 21 de julho de 2012

O Terço como oração. È bom saber para não desprezar.



O Rosário¹, no Brasil, é popularmente conhecido como Terço, isso, porque na prática, reza-se apenas uma terceira parte do Rosário [o Terço]. Quando se quer rezar o Rosário  inteiro, reza-se, então, três Terços, meditando sobre todos os 15 Mistérios que integram o Rosário.  Pelos católicos o Terço é considerado uma oração mariana. Em sua essência, ele é uma forma de meditação, e essa meditação abrange tanto a vida de Maria, mãe de Jesus, como toda a Obra Salvadora de Jesus Cristo.

Talvez por causa da desinformação ou do preconceito assumido, existam pessoas que dão ao Terço pouco, ou nenhum valor, ou, então, chegam a ponto de debochar dos indivíduos que o rezam.
Por outro lado, tem muita gente que  gosta e “ama” rezar o Terço, tentando, dentro das suas possibilidades, meditar, isto é, seguir a corrente de oração que os leva ao encontro de Deus.
É óbvio que, também, existem pessoas que “rezam” o Terço de forma totalmente superficial e mecânica, sem refletir ou meditar coisa alguma.
Outras pessoas (e não são poucas) atribuem ao Terço, como objeto, o sentido de amuleto ou  de “objeto de sorte ou seguro”, ao qual atribuem algum poder mágico ou simbólico.
Outras ainda, não se separam do Terço simplesmente porque gostam de tê-lo sempre à sua disposição.

Então, como vemos, a questão do Terço como oração é muito abrangente.  Neste contesto surgem as perguntas: Por que essas diversas opiniões? O que, nisso tudo, realmente importa? Por que a meditação do Terço pode ser uma excelente forma de oração?  E quem não “consegue” rezar o Terço – estaria errado? Quem deve, enfim, rezar esta oração? Todos estariam obrigados a fazê-lo? Por que o respeito pelo jeito individual de cada uma das pessoas seria suficiente para cessar toda a polêmica em relação ao Terço?

O texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer², trata deste assunto com muita propriedade.  A leitura é muito agradável e fácil.
Não deixe de ler.
WCejnog

[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema, é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 6 de julho de 2012: Reflexões sobre a oração)].

 

 

(7)

O Terço

Existe mais uma forma de oração,  que é considerada “tipicamente católica”, chamada ROSÁRIO. O que falamos até agora (nos textos anteriores) vai ser reconhecido por qualquer pessoa religiosa. Mas – ouvimos frequentemente – o Rosário é, no máximo, uma oração totalmente mecânica, é “a oração de  muita palavra”, e por isso não merece nem o  nome de oração. Ele lembra as fórmulas de orações pagãs, usando ainda  um tipo de cordão mágico...
O Rosário é hoje, sem dúvida, a forma de oração mais questionada. Muitas pessoas, sobretudo os jovens católicos,  não sabem nem como se servir dele.
Reconheçamos, que nem  tudo pode agradar a todos. Ademais, ninguém precisa escolher justamente esta forma de  oração, se julgar que ela é inadequada para ele. Devemos, porém, esclarecer aqui pelo menos alguns desentendimentos e demonstrar o que realmente é correto. Por quê? Porque o Rosário é uma oração de reflexão,  é uma oração interior.

Como rezar o Rosário? Ou melhor, como rezar o Terço? (Na prática, rezamos o Terço, e este é o nome comumente usado para as orações  e reflexões que formam o Rosário).

Além de algumas orações iniciais, o Terço é formado, basicamente,  de cinco partes, que são formadas de um Pai-Nosso e dez Ave-Marias, cada. Só que em cada “Ave-Maria” acrescenta-se uma frase, que indica algum fato da vida de Jesus. Por exemplo: ...  “e bendito é o Fruto do vosso ventre, Jesus, que foi crucificado.  Santa Maria, Mãe de Deus...”.
Vemos aqui claramente que o Terço é a oração dedicada a Cristo. No centro das reflexões fica o Cristo, algum “mistério” da sua vida e morte. Justamente sobre esse Mistério se faz uma reflexão durante as dez Ave-Marias. Não se  pensa  nas frases da oração “Ave-Maria”, mas se medita sobre um  acontecimento concreto da vida de Jesus.

Então, para que essa quantidade de palavras, e esse cordão?
É que as palavras piedosas  de  oração tornam-se como o leito de uma correnteza, como num rio, em que é mais fácil se  concentrar e ir prosseguindo para frente.
Algumas pessoas, por exemplo, necessitam de um fundo musical baixinho para poderem se concentrar. Um silêncio absoluto, às vezes, pode mais distrair alguém do que um barulho monótono e tranquilo. Também tem pessoas que conseguem concentrar-se melhor, quando andam  de lá para lá, ida e volta, sem prestar atenção para cada passo que dão, igualmente como quem reza o Terço: não precisa prestar atenção para cada palavra que pronuncia.  Justamente por isso as palavras são sempre as mesmas, e sempre se  repetem, para não precisarmos prestar a atenção para elas.
Acontece também, que se ficarmos submersos num silêncio prolongado e apenas mentalmente fazendo a reflexão (apenas com o nosso espírito) – é muito fácil cairmos no sono. As palavras da oração, no entanto, como a margem de um rio, ao qual constantemente tocamos com os nossos pensamentos fugazes, para novamente podermos entrar na correnteza central da  reflexão.

– Para isso também serve o cordão de contas:  a contagem acontece mecanicamente, sem prestar nenhuma atenção para isso. Graças a isso, porém, podemos concentrar a nossa atenção naquilo o que é essencial. As contas maiores indicam que alguma parte terminou. O cordão – se podemos dizer assim – traça uma linha aos nossos pensamentos. Se não ajuda mais nenhum jeito para continuarmos concentrados, de repente sentimos em nossa mão uma conta maior e, então, voltamos à oração.

Assim, o Terço, na prática, é uma forma de meditação, adequada às pessoas que dificilmente suportam o silêncio e tem dificuldade para a  concentração. Para elas servem de ajuda essas coisas externas, frequentemente desprezadas. Desta maneira pode-se fazer a meditação também após um dia cansativo. Julgar isso pela aparência -  talvez baseando-se nas falsas opiniões e imaginações – não tem valor algum. O fato é que milhões de pessoas graças ao Terço (Rosário) chegam a uma profunda e interna oração.
Por outro lado, ninguém precisa sentir-se obrigado, ou forçado, para rezar o Terço, se não sente afinidade para isso.

Quando se alega que as formas parecidas também existem nos povos primitivos, na verdade isso diz mais a favor do rosário, do que contra ele. O jeito de percepção é o mesmo em todas as pessoas. Se as coisas externas nos ajudam na oração, por que deveríamos rejeitá-las?
 
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 307-308)³
Continua...
___________________________________

¹   O Rosário é uma oração católica em honra da Santíssima Virgem Maria.  Tradicionalmente, ele é formado por três terços. Cada terço compreende cinco mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. Os mistérios são formados basicamente por um Pai-Nosso  e dez Ave-Marias. Cada mistério recorda uma passagem importante da história da salvação, segundo a doutrina católica, e cada terço é constituído por cinco mistérios.

Os mistérios do rosário:

Mistérios Gozosos

1.  A   Anunciação. Fruto do Mistério: Humildade.
2.  A   Visitação. Fruto do Mistério: Amor pelos vizinhos.
3. A  Natividade. Fruto do Mistério: Desapego das coisas do mundo, desprezo as riquezas e amor aos     pobres.
4.  A  Apresentação de Jesus no Templo. Fruto do Mistério: Pureza, obediência.
5. O  Encontro do menino Jesus no templo. Fruto do Mistério: a verdadeira sabedoria e conversão, piedade, alegria de encontrar Jesus.

Mistérios Dolorosos

1. Agonia no Horto das oliveiras.  Fruto do Mistério: contrição pelo pecado, uniformidade com a vontade de Deus.
2.  A   Flagelação de Cristo. Fruto do Mistério: mortificação, pureza.
3.  A   Coroação de Espinios. Fruto do Mistério: Desprezo do mundo, coragem.
4.  O  Transporte da Cruz. Fruto do Mistério: Paciência.
5.  A   Crucificação. Fruto do Mistério: A salvação, o perdão.

Mistérios Gloriosos

1.  A  Ressurreição. Fruto do Mistério: Fé.
2.  A  Ascensão. Fruto do Mistério: A esperança e o desejo de entrar no paraíso.
3.  A  Vinda do Espírito Santo. Fruto do Mistério: Sabedoria divina para conhecer a verdade e compartilhar com todos, caridade divina, culto ao Espírito Santo.
4.   A   Assunção de Maria. Fruto do Mistério: Graça de uma morte feliz, verdadeira devoção a Maria.
5.   A  Coroação de Maria. Fruto do Mistério: Perseverança, confiança na intercessão de Maria.

²   Ferdinand Krenzer  foi um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

³  Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

******************

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário