O Rosário¹, no Brasil, é popularmente
conhecido como Terço, isso, porque na prática, reza-se apenas uma terceira
parte do Rosário [o Terço]. Quando se quer rezar o Rosário inteiro, reza-se, então, três Terços,
meditando sobre todos os 15 Mistérios que integram o Rosário. Pelos católicos o Terço é considerado uma
oração mariana. Em sua essência, ele é uma forma de meditação, e essa meditação
abrange tanto a vida de Maria, mãe de Jesus, como toda a Obra Salvadora de
Jesus Cristo.
Talvez por causa da desinformação ou do
preconceito assumido, existam pessoas que dão ao Terço pouco, ou nenhum valor,
ou, então, chegam a ponto de debochar dos indivíduos que o rezam.
Por outro lado, tem muita gente que gosta e “ama” rezar o Terço, tentando, dentro
das suas possibilidades, meditar, isto é, seguir a corrente de oração que os leva
ao encontro de Deus.
É óbvio que, também, existem pessoas que
“rezam” o Terço de forma totalmente superficial e mecânica, sem refletir ou
meditar coisa alguma.
Outras pessoas (e não são poucas)
atribuem ao Terço, como objeto, o sentido de amuleto ou de “objeto de sorte ou seguro”, ao qual
atribuem algum poder mágico ou simbólico.
Outras ainda, não se separam do Terço
simplesmente porque gostam de tê-lo sempre à sua disposição.
Então, como vemos, a questão do Terço
como oração é muito abrangente. Neste
contesto surgem as perguntas: Por que essas diversas opiniões? O que, nisso tudo,
realmente importa? Por que a meditação do Terço pode ser uma excelente forma de
oração? E quem não “consegue” rezar o
Terço – estaria errado? Quem deve, enfim, rezar esta oração? Todos estariam obrigados
a fazê-lo? Por que o respeito pelo jeito individual de cada uma das pessoas
seria suficiente para cessar toda a polêmica em relação ao Terço?
O texto abaixo, de autoria de Ferdinand
Krenzer², trata deste assunto com muita propriedade. A leitura é muito agradável e fácil.
Não deixe de ler.
WCejnog
[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema, é aconselhável ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 6 de julho de 2012: Reflexões sobre a oração)].
(7)
O Terço
O Terço
Existe mais
uma forma de oração, que é considerada
“tipicamente católica”, chamada ROSÁRIO. O que falamos até agora (nos textos
anteriores) vai ser reconhecido por qualquer pessoa religiosa. Mas – ouvimos
frequentemente – o Rosário é, no máximo, uma oração totalmente mecânica, é “a
oração de muita palavra”, e por isso não
merece nem o nome de oração. Ele lembra
as fórmulas de orações pagãs, usando ainda
um tipo de cordão mágico...
O Rosário é
hoje, sem dúvida, a forma de oração mais questionada. Muitas pessoas, sobretudo
os jovens católicos, não sabem nem como
se servir dele.
Reconheçamos,
que nem tudo pode agradar a todos.
Ademais, ninguém precisa escolher justamente esta forma de oração, se julgar que ela é inadequada para
ele. Devemos, porém, esclarecer aqui pelo menos alguns desentendimentos e
demonstrar o que realmente é correto. Por quê? Porque o Rosário é uma oração de reflexão,
é uma oração interior.
Como rezar o
Rosário? Ou melhor, como rezar o Terço? (Na prática, rezamos o Terço, e este é
o nome comumente usado para as orações e
reflexões que formam o Rosário).
Além de
algumas orações iniciais, o Terço é formado, basicamente, de cinco partes, que são formadas de um
Pai-Nosso e dez Ave-Marias, cada. Só que em cada “Ave-Maria” acrescenta-se uma
frase, que indica algum fato da vida de Jesus. Por exemplo: ... “e bendito é o Fruto do vosso ventre, Jesus,
que foi crucificado. Santa Maria, Mãe de
Deus...”.
Vemos aqui
claramente que o Terço é a oração dedicada a Cristo. No centro das reflexões
fica o Cristo, algum “mistério” da sua vida e morte. Justamente sobre esse
Mistério se faz uma reflexão durante as dez Ave-Marias. Não se pensa
nas frases da oração “Ave-Maria”, mas se medita sobre um acontecimento concreto da vida de Jesus.
Então, para
que essa quantidade de palavras, e esse cordão?
É que as
palavras piedosas de oração tornam-se como o leito de uma
correnteza, como num rio, em que é mais fácil se concentrar e ir prosseguindo para frente.
Algumas
pessoas, por exemplo, necessitam de um fundo musical baixinho para poderem se
concentrar. Um silêncio absoluto, às vezes, pode mais distrair alguém do que um
barulho monótono e tranquilo. Também tem pessoas que conseguem concentrar-se
melhor, quando andam de lá para lá, ida
e volta, sem prestar atenção para cada passo que dão, igualmente como quem reza
o Terço: não precisa prestar atenção para cada palavra que pronuncia. Justamente por isso as palavras são sempre as
mesmas, e sempre se repetem, para não
precisarmos prestar a atenção para elas.
Acontece
também, que se ficarmos submersos num silêncio prolongado e apenas mentalmente
fazendo a reflexão (apenas com o nosso espírito) – é muito fácil cairmos no
sono. As palavras da oração, no entanto, como a margem de um rio, ao qual
constantemente tocamos com os nossos pensamentos fugazes, para novamente
podermos entrar na correnteza central da
reflexão.
– Para isso
também serve o cordão de contas: a
contagem acontece mecanicamente, sem prestar nenhuma atenção para isso. Graças
a isso, porém, podemos concentrar a nossa atenção naquilo o que é essencial. As
contas maiores indicam que alguma parte terminou. O cordão – se podemos dizer
assim – traça uma linha aos nossos pensamentos. Se não ajuda mais nenhum jeito
para continuarmos concentrados, de repente sentimos em nossa mão uma conta
maior e, então, voltamos à oração.
Assim, o
Terço, na prática, é uma forma de meditação, adequada às pessoas que
dificilmente suportam o silêncio e tem dificuldade para a concentração. Para elas servem de ajuda essas
coisas externas, frequentemente desprezadas. Desta maneira pode-se fazer a
meditação também após um dia cansativo. Julgar isso pela aparência - talvez baseando-se nas falsas opiniões e
imaginações – não tem valor algum. O fato é que milhões de pessoas graças ao
Terço (Rosário) chegam a uma profunda e interna oração.
Por outro
lado, ninguém precisa sentir-se obrigado, ou forçado, para rezar o Terço, se
não sente afinidade para isso.
Quando se
alega que as formas parecidas também existem nos povos primitivos, na verdade
isso diz mais a favor do rosário, do que contra ele. O jeito de percepção é o
mesmo em todas as pessoas. Se as coisas externas nos ajudam na oração, por que
deveríamos rejeitá-las?
(KRENZER, F. Taka
jest nasza wiara, Paris, Éditions Du
Dialogue, 1981, p. 307-308)³
Continua...
___________________________________
¹ O Rosário é uma oração católica em honra da Santíssima Virgem Maria. Tradicionalmente, ele é formado por três terços. Cada terço compreende cinco mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. Os mistérios são formados basicamente por um Pai-Nosso e dez Ave-Marias. Cada mistério recorda uma passagem importante da história da salvação, segundo a doutrina católica, e cada terço é constituído por cinco mistérios.
Os mistérios do rosário:
Mistérios Gozosos
1. A Anunciação. Fruto do Mistério:
Humildade.
2.
A Visitação. Fruto do Mistério: Amor
pelos vizinhos.
3. A Natividade.
Fruto do Mistério: Desapego das coisas do mundo, desprezo as riquezas e amor
aos pobres.
4.
A Apresentação
de Jesus no Templo. Fruto do Mistério: Pureza, obediência.
5. O Encontro
do menino Jesus no templo. Fruto do Mistério: a verdadeira sabedoria e
conversão, piedade, alegria de encontrar Jesus.
Mistérios Dolorosos
1. A Agonia
no Horto das oliveiras. Fruto do
Mistério: contrição pelo pecado, uniformidade com a vontade de Deus.
2. A Flagelação
de Cristo. Fruto do Mistério: mortificação, pureza.
3. A Coroação
de Espinios. Fruto do Mistério: Desprezo do mundo, coragem.
4. O Transporte
da Cruz. Fruto do Mistério: Paciência.
5. A Crucificação. Fruto do Mistério: A
salvação, o perdão.
Mistérios Gloriosos
1. A Ressurreição.
Fruto do Mistério: Fé.
2. A Ascensão.
Fruto do Mistério: A esperança e o desejo de entrar no paraíso.
3. A Vinda
do Espírito Santo. Fruto do Mistério: Sabedoria divina para conhecer a
verdade e compartilhar com todos, caridade divina, culto ao Espírito Santo.
4. A Assunção de Maria. Fruto do Mistério:
Graça de uma morte feliz, verdadeira devoção a Maria.
5.
A Coroação
de Maria. Fruto do Mistério: Perseverança, confiança na intercessão de
Maria.
²
Ferdinand Krenzer foi um teólogo católico alemão, pastor, aposentado
e escritor.
³
Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples
e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé
cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são
tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma
polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”.
******************
Nenhum comentário:
Postar um comentário